sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Pausa para descanso


Aproveite o recesso de fim de ano...

E quem disse que eu consigo... O tédio mata... Prefiro o tédio coletivo ou o tédio com paixão. Mas como tédio coletivo é cada vez mais raro nesses tempos onde precisamos agendar por msn com os vizinhos uma simples visita e o tédio com paixão, este sim, é mais raro ainda, andei sublimando tudo, agitando algumas coisas políticamente(citar a palavra"políticamente" torna metade do texto chato e a outra metade desinteressante).

Tentei pensar no próximo ano, mas não dá. Só se pensa caminhando, eu aqui parado mal consigo pensar. Sonhar eu consigo, sonho bastante, demoro a tomar atitudes, prefiro ficar no zero a zero, sem complicar as coisas... mas as pessoas gostam de coisas/pessoas complicadas.

Então, boa sorte. Prefiro não entrar/aprofundar nesse assunto, só quero ficar aqui, sentado neste banco, deixando as idéias fluírem, por que a solidão pode até ser algo ruim para uma sociedade que caracteriza a si mesmo como barulho/neon/luzes coloridas, mas foi na solidão que eu consegui realmente encontrar a porta do meu inconsciente. Não é uma boa viagem, mas é melhor do que nunca ter viajado... muito melhor... Eu não fiz nada de muito interessante entre segunda-feira e sexta-feira. Um espaço grande, mas eu fui obrigado a parar. E parar requer auto-controle quando se está acelerado.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Se jesus tivesse nascido hoje

Se jesus nascesse hoje, nasceria num assentamento rural, numa ocupação urbana, numa comunidade Zapatista, num squat anarquista na europa, numa favela da zona sul do Rio de Janeiro, numa comunidade indígena expropriada pelas multinacionais da celulose. Se jesus tivesse nascido hoje, nasceria negro, pobre, indígena, sem-teto, sem-terra, ecologista, anarquista, magónista, desempregado, zapatista, libertário, piquetero, quilombola, squatter, anti-capitalista.

Sem consumo não há cidadão no capitalismo. O capitalismo constrói sua cidadania baseada no poder de compra, no capital investido, na soma adquirida.

Se jesus tivesse nascido hoje, teria sido assassinado pela fome, pela desnutrição, pela miséria, pelo desemprego, pela falta de saúde, de remédio, de casa, de educação. Teria sido assassinado, pela falta de água, pela falta de recursos básicos. Teria sido assassinado pelas milícias paramilitares, pelo BOPE, pela polícia, pela política institucional.

Se jesus tivesse nascido hoje, provávelmente ele choraria... Choraria....

E não comemoraria este natal do consumo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Sobre o desafio

Realmente não consegui completar o desafio de escrever 21 contos / poesias, até o dia 21 de dezembro. Mas convenhamos que eu me esforcei, aliás fiquei uns 3 ou 4 dias sem internet, e eu só funciono bem quando escrevo on-line na maioria das vezes. Apesar disso, extendo o desafio até o dia 31, afinal esta fase produtiva é realmente motivadora.

Sobre os aniversários


Ruiva, escrevo em tom de cansaço. Em tom de cansaço, por que(e não usarei "de certa forma" antes desta frase ou antes do por que, ou antes dos subsequentes parágrafos) você é a primeira e a última pessoa que eu posso conversar. Todos, todas falharam, e você sabe que eu não sou tão perfeccionista assim. Sabe também que neste "todos" há pequenas exceções, pequenas grandes exceções para pessoas muito especiais; conquanto, pessoas especiais precisam provar que realmente são especiais, e isto não se faz com um, ou dois quartos de século ruiva, isto se faz diáriamente, isto se faz cotidianamente.

É difícil ser especial, eu admito. Na verdade na maioria das vezes acham realmente que eu, eu, o pseudo-ruivo, proto-moreno ruiva, ou incorporo metade daquele irritante joguete do "aceito qualquer coisa" , como um falso Gandhi ruiva, e Gandhi não aceitaria qualquer coisa, ou apenas tenho uma capacidade extrema de não me importar, não me importar como um beatnik sulamericano, de perdoar, de perdoar ruiva, de perdoar com todas as minhas artérias, sem que para isto eu realmente precisasse de sangue correndo em minha veias; e para quem não quer suportar mais nada emocionalmente tão exasperado, eu não tenho sangue correndo nas minhas veias ruiva, não, não tenho.

Não depois de você ter me feito de palhaço ruiva, um palhacito ruiva, um palhaço indisponível, um palhaço desprezívelmente raso, razoável.

Mas faz parte ruiva, faz parte do meu metafísico destino, um destino previsível, não pelo que eu construí, mas pelo que ele efetivamente constrói, mesmo não me imaginando tão determinista, é um fato concreto, de que este destino de merda, constrói-se a si próprio, a mim próprio, num casulo de previsibilidade tão constante, que vez ou outra eu me pego perguntando-me se há solução para este paradoxo.

Não há. Não há solução. A solução é eu me completar. Mas isto trairia todos os meus princípios, pois não há completude no alheio, segundo meus princípios ruiva, princípios tão bonitinhos ruiva, tão belos, tão obesamente preenchidos de vigor, são tão belos, são verdadeiramente lindos! Lindos ruiva! Do tipo em que se aperta e não se enxergam defeitos!

Mas ruiva, há os poréns, e os poréns normalmente enterram, mesmo que seja em breves segundos tudo o que é bom e perfeito ruiva. É no porém que se enterram mundos, é na vírgula que se enforcam princípios e embalsamam-se eras. É na incompletude das brevidades que se assiste o fim de ciclos, ciclos movidos a cachorro quente sem salsichas, sem carne ruiva, na esquina da avenida Mem de Sá. Eu pareço(e sempre tive este talento) estar sempre imerso em determinadas atividades ruivas tão intensas, tão recheadas de vida, de clamor, de emoções, de histórias que se desdobram em mesas de bar, em copos vazios, em encontros casuais ou em carteiras vazias, mas a verdade ruiva, é que meu talento é apenas esmiuçar das letras algo que valha a pena, é enforcar a monotonia da rotina neste balé literário gramatical; o que causa a impressão de que a cada carta que eu escrevo a você(s) há uma supernova em explosão, há um vulcão enterrando civilizações emocionais, há um genocídio literário autorizado, quando na verdade é mero balé ruiva, é mera capoeira, é mero gingar de corpos, digo na verdade, de frases.

Sou talentoso com letras(um complexo psíquico autônomo insiste o contrário), não com pessoas. Devo todas as minhas condolências a Kafka, Oscar Wilde, Clarice Lispector, Cortázar, Lima Barreto, João do Rio e diversos amigos ilustres, e não-ilustres(os não-ilustres são os que mais me inspiram). Prefiro não morrer de tuberculose, apesar do que tenho a incrível habilidade de me resfriar, e me adoecer sempre em datas importantes.

Termino a carta imaginando se um dia será possível, olhar para trás, cinquenta anos atrás, não como meu 1/4 de século ruiva, mas como uma metade de século e tentar enxergar algo ou profético ou nostálgico nisto tudo ruiva. Será possível?

Talvez ruiva, talvez, falei exasperadamente de mim, de minha pessoa, mas devo dizer no finalzinho da conversa e da carta(já que o papel está acabando), que você e seus malditos jogos de xadrez emocional não irão me vencer.

Quem topar o desafio(e para isto deverá comer argumentos de ruivas no café da manhã), me ganha.

Não tenho talento para troféu; mas posso tentar me vestir de dourado.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um preâmbulo de um pequeno desastre

Quando eu fui buscar aquelas cartas, eu já sabia, já tinha total certeza, toda completude moral, de que você não iria mais me escutar, mesmo eu tendo designado metade do meu tempo na terça-feira a noite para esculpir desculpas para ti.

Eu falhei, é vero. Gostei e tive ainda mais certeza, quando eu percebi que você não me chamava mais impessoalmente. E me chamar impessoalmente era algo tão íntimo, mas você resolveu me chamar pelo meu nome, e isto era um mau sinal, sim era um mau sinal. Um tremendo desastre particular.

Você já me ignorava há algumas semanas, e o fato de não responder minhas cartas, já indicava de certa forma que estava curada.

Sim, curada. Do ponto de vista médico-amoroso, você já podia fazer noventa ou noventa e cinco de suas atividades habituais sem pensar em mim, eu não estava mais nos seus sonhos, não aparecia dentro dos seus pensamentos perdidos no domingo a tarde e muito menos acabava com algum final de semana seu. Eu já era e já tinha sido realmente. Falimos(fui eu que fali na verdade) emocionalmente, e você é claro, percebeu da forma mais cruel e terrível o quanto foi possível.

Cruel por que sabia que esta era uma bela faca de dois gumes, e que eu ia demorar no mínimo de duas a seis vezes o que você demorou para esquecer. Ignorando todas as expectativas dos meus amigos temporários, amigos porções únicas, eu voltei a lhe escrever após saber que já era parte do seu passado, eles aconselharam, comentaram, e até me ignoraram demasiadamente, antes de nós, eu digo nós, termos conseguido chegar ao ponto preciso em que alguém deve perder.

E é claro que fui eu. Não que o amor seja um jogo de competição, pois eu particularmente odeio, aqueles que fazem do amor, um simples jogo de domínio ou poder...

O amor ultrapassa toda as fronteiras, mas ele é cruel demasiadamente com pessoas indecisas. Por que para o amor não há indecisão, e isto é por demais totalitário, mas de certa forma faz sentido no final de tudo, e de todos.

Faz mais sentido diante meus sonhos estranhos. Sonhei que a antiga casa da minha avó pegava fogo. Eu salvava minha mochila, mas só depois dos bombeiros chegarem, eu consegui apagar o incêndio todo. Gostaria que fosse assim todo o momento. Não foi tão fácil, mas o caminho estava lá.

Por enquanto encerrarei, até por que tenho uma meta a cumprir.

Vejo-lhe nos sonhos e nas minhas memórias.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Bruxos - volume 01

Ontem ele deu um grande passo na sua jornada, na sua vida. E foi aí, depois do sétimo dia, que a magia surgiu e que ele virou um bruxo. Um botão de flor foi capturado, a lua se escondeu atrás das nuvens e ele percebeu que sua magia poderia realmente funcionar. Mas falar de magia num mundo cinzento não era algo de gente sã. Gente sã quer medidas não-radicais. Gente sã gosta de economia no café da manhã e dirige carros movidos a diesel por auto-estradas de fim de semana.

Gente sã compra carne de vitela, uma espécie de jesus cristo dos animais e se masturba assistindo a tv digital.

Ele andava a passos curtos. Pequenos passos para um homem, para um bruxo, mas um grande passo para o inconsciente, para a teia do universo, para a magia em si.

Demorou a dormir, por que foi o preço a se pagar, um preço visívelmente estúpido, mediante todo o processo desencadeado.

Jorrou recordações em doses grandes e geladas; como agua límpida e gelada, afinal as memórias ruins normalmente são claras, límpidas e frias. A bruxaria não; é quente, calorosa e turva, como a rebeldia e a revolta tem de ser.

Caminhou bastante, caminhou bastante, enchendo a semana de sentido, para ver as lembranças se aglutinarem. Está tudo muito límpido para o bruxo.

Límpido de sentido: se há algo escondido, é por que realmente ele acha que precisa estar lá.

Talvez fique por toda sua vida.

Um pequeno insight causou um verdadeiro efeito dominó, pequenos desastres cotidianos, derrubar café na mesa, cair açúcar no tapete, deixar as moedas fugirem pela estação do metrô, mas que cena patética; não esqueça o troco da condução bruxo, o troco da condução, pegue aquela moeda lá, aproveite que a falsa-ruiva da esquerda não está olhando bruxo, aproveite que o senhor de terno laranja parou de jogar malabares em frente a máquina de refrigerantes.

Acionou mecanismos secretos e trouxe à tona os fragmentos que considerava separados; estes cacos polidos de emoções, segredos, revelações, disposições, complexos psicológicos autônomos, que emergem(e emergiram) com força, e é com força que eles reclamarão cada um por vez, sua parte no bolo: um verdadeiro banquete. O bruxo não vai poder dançar sobre os cacos, vai ter de se adaptar, entender, e parar de fazer bruxarias levianas, vai ter de crescer, ganhar responsabilidades e parar de se enfeitiçar deste forma. Vai ter de abandonar o misticismo para vender escravos na bolsa de valores, ou então viver como um vira-latas errante, sem um puto para comprar uma latinha de refrigerantes; mas bruxos, bruxos libertários não bebem refrigerantes; não gostam de vender escravos(já que espiritualmente não se pode diferenciar o escravo do senhor).

Bruxos tem capacidade de consumo limitada, muito limitada. Isto não os torna bruxos, é algo mais é claro, mais é um voto de silêncio, um voto de silêncio que faz parte dos rituais.

Bruxarias levianas, disse sua maga preferida, são só para bruxinhos recalcados(era uma noite sensual e ela estava bêbada, como poderia acreditar realmente que com aquela cinta-liga vermelha e depois de sete ou oito garrafas de cerveja ela diria a verdade?).

O bruxo dançou desajeitadamente no último sábado, lançou magias baratas de sedução(contrariando a maga ruiva, a ruiva maga), bebeu cerveja até as oito da manhã, contou estórias de fadas e encantos célticos à beira de um prostíbulo plástico, um prostíbulo a céu aberto, de consumo, de falsa diversão e de ficções sociais regado à cerveja e música cyberpunk: bruxaria new wave, oh sim!

Lançou sigilos, que funcionaram, claro, sempre funcionam. Basta concentração. Era fácil encantar as filhas e filhos do mundo de silício.

Resolveu não abrir baús. Davam trabalho demais. Mexeu a água com a ponta dos dedos, a diferença de temperatura era brutal, que água gelada, que água gelada.

Quando você for me visitar novamente ruiva, não me leve mais a morte para meus sonhos, por que brincar com a morte é algo efetivamente sério, é algo que não pode ser irresponsávelmente manipulado à distância com sua magia barata! Traga me flores e bombons na próxima vez! E nunca mais tente se cortar na minha frente ouviu bem? Não descerei catacumbas tentando lhe esquecer, hoje faço isso sem ter de sair de casa! Você não pode chegar ruidosamente assim deste jeito, peça licença, entre na fila, jogue seus feitiços de maneira mais apropriada! (bruxos também não se entendiam vez ou outra)

Farei um sigilo, um sigilo novo, um sigilo que despertará a rebeldia em níveis mais apropriados(a cafeteira tinha quebrado novamente).

Crowley era uma escoteira de final de semana, agora as coisas vão ficar certas; um Ravachol anarco-pagão não precisa de falsos líderes, pois todo líder é um sintoma de uma energia espiritual aprisionada em receptáculos errados. Bruxos conduzem a liberdade pelas vias erradas, mas do jeito certo!

Tudo pode ser usado como um medalhão. Um pente, um abridor de garrafas ou uma modem ethernet por exemplo; basta usar o focus, basta fluir por entre as ondas/partículas, partículas/ondas e iniciar o feitiço apropriado do não-agir agindo(redundante ou contraditório, mas fácil de ser entendido se não se vive numa sociedade de silício ou se procura entrar em contato com algo subcutâneo e subterrâneo a isto).

Bruxos tem princípios definidos. Druidas consertam estragos. Bruxos o fazem. Estragos necessários. Políticos se previnem de câncer de próstata. Bruxos andam sob tiroteio cerrado. Cardeais da economia tomam prozak, bruxos bebem vinho até o amanhecer. Bispos da burocracia lêem livros de auto-ajuda no final de semana, bruxo fazem amor durante todo o sábado(na verdade é o amor que os faz).

Matar o deus-silício é uma necessidade de todo praticante de bruxaria. Peixe e serpente não podem conviver juntos e todo bruxo sabe disto. A morte dos bruxos e do deus-silício estão íntimamente ligados. A diferença é que enquanto um evita, o outro atrai, um defende o outro ataca, não necessáriamente nesta ordem e os bruxos no final das contas são maravilhosas estrelas dançarinas, cujo ponto final não está encrustado em nichos de mercado estabelecidos em datas de consumo acelerada e muito menos em mortes parceladas em boates coloridas: bruxos só morrem quando a chama da rebeldia se apaga dentro de seus corações.

Bruxo lembrou-se da maga, esta pagã ingovernável, filha da lua avermelhada, dos rituais pagãos temporários em que se podia mover metade do mundo com uma alavanca...

Lembrou-se da época em que o deus-silício não era tão forte, apesar de não ter vivido materialmente, físicamente naquele tempo pretérito. Lembrou da água límpida. Da floresta susurrando... E viu...

E sentiu... E observou... e percebeu que os bruxos libertários estarão sempre destinados a enxergar a vida de uma forma meio mágica, meio diferente, apesar do silício, apesar do maldito e do vingativo deus-silício...

sábado, 15 de dezembro de 2007

De como eu pintei uma porca de barro e criei um totem de guerra

Hoje ruiva, eu consegui rasgar uma foto sua. Não imagine a cena, por que é geralmente mais patético do que você pode imaginar. Além disto, consegui(falhas de memória) encontrar soluções para todas as coisas que diretamente lembram você. Não eu não vou dinamitar ou dinamizar nada, muito menos queimar cartões-postais, fato é que preciso cada vez mais dormir até mais tarde. Estou de férias ruiva; foi difícil, eu sublimei tudo por você, digo, eu sublimei você por tudo, e deu certo. Cumpri todos os meus compromissos políticos e profissionais(como se houvessem compromissos que não são políticos e tomara que existam), me dei extremamente bem em todas as atividades intelectuais que me envolvi e até vejamos, consegui pintar a porca de barro de vermelho e preto. Estou realmente me organizando, coisa que você sempre achou impossível de ocorrer.

Paralelamente a isto, há dois fatos ocorrendo com maior ou menor amplitude ruiva. Na verdade são mais do que dois fatos, mas não conseguirei sistematizar nada(deixo isso para uma monografia estéril de gaveta de universidade) com cerveja preta nos córneos(usei esta palava nesta carta por que sei que ela causa invariávelmente uma sensação suja que remete às pornochanchadas da década de 70).

Minha porca está vestida para a guerra, de preto e vermelho, prepara-se como uma aborígene(eurocentrismo latente) para um confronto. E realmente ruiva, haverá um confronto, quer dizer, já está havendo ruiva, este combate se iniciou há algum tempo.
Primeiro que está chovendo há dois ou três dias consecutivamente(mas esta não é verdadeiramente a questão). Segundo, que há uma tentativa interior realmente fracionária, fracionada, de me monopolizar emocionalmente, e você faz parte de um dos complôs internos. Dominar-me furiosamente, eis a questão.

Acho que não estou tão triste como poderia estar(mais a frente você verá que isto não é verdade). Isto também passa por uma ligação intríseca com o Nato Ruiva, você sabe. Há um equilíbrio esquisito em toda a nossa trajetória, e eu tenho que me manter forte enquanto ele se ferra e vice-versa.

A outra parte realmente importante em toda esta conversa, é que na maioria das vezes a sobriedade atrapalha as convicções e as reflexões, mas é um fato a dizer, digamos que por consenso, que não consigo mais olhar para nenhuma mulher como olhava para você ruiva. E quando vejo uma ruiva em potencial, exponencialmente sou desprezado, por mim mesmo na maioria das vezes.

Para que você não ache que eu estou tornado toda a discussão uma questão boba de gênero, acho que o inverso também é verdadeiro, há muita gente boa querendo se encontrar, mas a vida, é a arte dos desencontros(isto aqui eu roubei do Fernando Sabino ruiva, mas é tão bom que não consegui evitar).

Pois bem ruiva, ruiva lembra rubro, lembra rojo(vermelho), lembra a cor que eu pintei minha porca de cerâmica, vermelho e negra. Vermelho paixão, preto mistério, soma de cores, e de humores. Lembra guerra. Guerra declarada, guerra interna. Uma batalha surda, silenciosa, que ninguém vê ruiva, é verdade, ninguém vê. Como eu disse anteriormente, fingir confiança dá confiança ao mundo, mesmo que o castelo interno de cartas esteja desmoronando é preciso não entupir as pessoas de problemas alheios para resolver(ser você mesmo já é um baita problema - imagine ser outras pessoas por pouco tempo).

Hoje eu pensei novamente em fazer algum tipo de terapia, pintar porcelanas não é suficiente, escrever, agir intelectualmente, tudo isto pode ser tão motivador, mas há uma lacuna não preenchida, que simplesmente não consegue, não consegue(lacunas na memória)...

Eu queria fugir logo ruiva. Voltar logo para o Uruguai. Talvez até a Argentina e quem sabe, Lima, quem sabe...

Pausa para o jazz(algo meio nervoso diga-se de passagem).

Zorrita. Este é o nome da porca ruiva, zorrita. Vingadora. Olho para a vingadora, pintada de vermelho e negra, camuflada entre a escuridão desse meu quarto pequeno, pequeno e espúrio, o que me causa a sensação de que talvez não conseguiria abandoná-lo sem recriar outro ambiente igualmente introspectivo(sem pagar 200 ou 300 paus por isso).

No fundo há um cd de jazz, não é tão glorioso escutar jazz com tanta regularidade mediante dias como este, mas ainda assim é excessivamente, geralmente, reconfortante. Talvez deveria fazer isso daqui a vinte ou trinta anos, mas não posso; para quem não acredita em muitos anos posteriores de vida, há de se fazer tudo o que sempre quis intensamente, o que me gusta ruiva, o que me gusta.

Morrer numa banheira com os pulsos cortados ou sumir pela américa central, tanto faz para uma vida de niilismo. Mas eu não sou um niilista ruiva, eu até brinco de niilista, como toda alma adolescente resolve brincar em finais de semana, mas eu não tenho vocação para isto, você sabe.

O grande dilema é saber o que se gosta. O que realmente é aprazível dentro desse joguete de morde-assopra.

Daqui a pouco ruiva, eu descerei para comprar algumas cervejas no posto de esquina, aquele 24h(já desci, voltei ruiva), em que todos parávamos como se celebrássemos algum solstício de verão(solstícios próximos do meu primeiro cumpleaños pós-ruiva), animados pela fúria juvenil armazenada. E eu me lembro de você ruiva, sorrindo tão liberta, com expressões, tão tão, extremo-orientais? E eu nunca fui tão longe ruiva, apesar de você assumir tantas formas, múltiplas formas, isto significa paixão, ou não significa amor, ou nada ruiva, nada destas linhas podem significar algo necessáriamente, além de catarse, catarse vergonhosa é verdade. Não acredite muito em mim ruiva. Não acredite. (me arrependerei provávelmente)

Eu posso morrer fazendo isso ruiva. Talvez isto seja uma síndrome do pânico prematura ou apenas uma intuição que quebra o efeito causal-linear da história, do tempo, e toda esta coisa jungiana que me invade em momentos de euforia.

Eu achei que esta carta seria boa ruiva, mas esta carta foi a mais medíocre de todas. Eu gostaria de expor esta carta como eu nunca fiz com todas as anteriores, gostaria de expor como um animal sacrificado num ritual aborígene(sem eurocentrismos) de deixá-la como um símbolo, como um totem de um momento particularmente interessante em todos os sentidos, pois sei realmente, e é a única coisa que eu sei, e que sinto, e a partir desta vírgula não estou mais me importando com os altruísmos, com as batalhas que eu assumo, que eu mesmo travei, anti-egocêntristas; voltando ao assunto principal, e é bom pontuar um foda-se neste momento, nesta parte, somente para lembrarmos de onde falamos(um cara arruinado e etceteras são falhas de memória!)

Chega de ruiva, chega da porra toda, chega dessa merda sem sentido. O fato caralho, e o caralho também é um falo, digo um fato, é que merda ruiva, merda, está difícil me sair como uma pessoa normal. Entenda normal, no melhor sentido. Eu digo, desejo, e desejo bastante ruiva, beber meia dúzia de cervejas dentro de um bar vazio, eu desejo, ruiva, dançar despreocupado sem a opressão, e isto vai ficando mais claro para mim ruiva, a opressão de não conseguir filtrar, isto cega demasiadamente.

Ruiva eu preciso de uma boa dose de normalidade. Sem músicas tristes, sem religiões. Não quero me religar a nada ruiva. Não quero me religar a nada. Quero me desligar de um monte de coisa. Dividir pesos. Dividir problemas, conversar, rir de verdade ruiva. Rir de verdade. Eu não quero mais sentir aquele medo ruiva, aquele peso, aquela dificuldade de respirar em lugares muito cheios.

Rir e sofrer sozinho já perdeu a graça.

Eu quero você de volta. Querer é necessitar? Talvez seja ruiva. Talvez stirner esteja certo.

Talvez.

Goethe é mais fatalista é verdade, Stirner e Nietzsche muito mais orgulhosos. Eu? Eu me enquadro no time do meio. Meio orgulhoso, meio fatalista. Mas acho que em todos estes estereótiois, há o vício em questão, o vício, seja objeto, seja sujeito, estamos todos dentro do furacão. Do furacão-deus ruiva.

Resumindo a porra toda, sem eufemismos poéticos ruiva.

Tive vontade de me contar(era me cortar, mas o tal infinito em sua sabedoria transladou apropriadamente), de me matar em parcelas, por que matar-se de uma vez só exige coragem, coragem que eu não tenho, tive vontade de me queimar ruiva(falhas de memória), de encarar um panzer, de explodir um fascista, de voltar no tempo e matar fascistas, de explodir pontes alemãs em meio à resistência francesa, resistência espanhola, e tentar quem sabe, quem sabe, dar sentido a uma vida, mesmo ideológicamente interessante, mas monótona, monótona, pois é a era das depressões, espirituais, e morais.

Chega ruiva... chega... de aniversário(cumpleaños) eu quero lâminas de barbear de presente. Só para lembrar que apesar do pessimismo, da contradição inerente, que me faz agir, mover-me, enfrentar as engrenagens mórbidas do poder, eu nunca vou desistir, mesmo com as ferramentas erradas na mão.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Qual é a questão?

Ceder meu orgulho
Não está em questão

Quem sabe uma dose de chá
Um encontro casual
Numa terça-feira ensolarada

Mas ceder meu orgulho, não
Isto não está em questão

Um passeio no centro da cidade
Um bom copo de cerveja à tarde
Um livro que não li

E você nas minhas memórias
Percorrendo as páginas
Com meu marcador de textos
Com meu marcador de emoções...

Lapidar um poema velho
Pintar a casa no final do ano
Fazer um castelo de cartas
Num sábado de ócio
Cozinhar ao som do silêncio
Enquanto o sol ferve lá fora

Mas perder para você
Simplesmente, não está
Em questão

Caminhar desajeitadamente
No aguardar de situações limites

Situações, objetos, cheiros
E emoções
Todas cúmplices da tua presença invencível

Perseguindo-me no assento
De um ônibus vazio
Na madrugada áspera
De um feriado vazio

Nas entrelinhas de uma conversa
De segunda-feira tão triste
Deus, tão triste

Rosas no meu quarto
Perdidas na austeridade
Do meu amor-próprio austero
Austero e burro

E eu jogado esperando um golpe de sorte
Afastar você longe de mim
Como se fosse possível...

Pois perder para você, não!
Isto não está em questão...

E qual é a questão afinal?
Você me pergunta
Ansiosa e linda
No meio da sala

A questão é que eu te amo, sua boba

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cabelos Rosas passeando na rua

Desceu do carro meio desajeitado, desceu com calma, apesar dos conselhos do taxista de que iria chover(e taxistas são excelentes meteorologistas) não se preocupou com possíveis chuvas repentinas.

A chave do apartamento estava no bolso esquerdo, mas ele não sabia; isto o fez revirar a mochila por duas vezes. Objetos parecem ganhar vida em determinados momentos. As nuvens estavam com matizes que variavam do preto ao cinza claro, havia um pouco de pressão sob a cabeça das pessoas que fugiam rápidamente, antecedendo o clima ruim.

Apesar da acidez das chuvas das grandes cidades ele não ligava para a chuva. Molhar-se naquela ocasião seria uma moldura perfeita para um quadro incompleto, que ele tinha pintado há exatos 13 meses. Desceu a rua, a loja árabe ainda estava aberta, o que indicava que ainda era cedo.

Cedo para o que, ele não sabia.

A menina de cabelos de pontas rosas passeava por entre a quarta esquina do boulervad de terceiro mundo do bairro decadente em que se metera. Próximo ao curso de inglês. Pessoas interessantes estão a léguas de distância de quaisquer aproximações. É quase uma lei da física; sem o Newton é claro.

Ela era bonita. Mas as pontadas no estômago não.

Estas o perseguiam; (estômago é um órgão e uma metáfora barata de escritores medíocres) era uma dor, uma agulhada rápida, um ímpeto fugaz que lembrava os sonhos da noite passada, que lembrava algum problema mal resolvido, uma configuração aberta, uma forma destoante.

Algo estava desajustadamente aprisionado numa caixinha em formato de coração.

Pronunciar desejo em espanhol é muito mais chique. Dezerrrro.

O Desejo batia no teto, um teto baixo, bem limitado, contorcendo-se. Era um mecanismo de defesa muito eficaz; punir o corpo/mente, jogar descargas de adrenalina, tudo fazia parte do plano secreto do tal destino.

Não era tão confortável e ele não sabia própriamente se teria de romper com aquilo à força. Era muito mais seguro permanecer naquele jogo limitado de impressões sociais vazias de sentido, fingir estar feliz para encher todos ao seu redor de confiança e satisfação, fingir estar triste para produzir respostas para si mesmo, fingir estar confiante para distribuir confiança ao mundo; deus! Que manipulador!

Passavam na rua; mãos dadas.

Joyce amava João, que não amava ninguém.

Joguinho engraçado.

E andam como um casal de apaixonados... A paixão é tudo, menos um roteiro de novela das oito, assim não funciona.

No outono as coisas vão melhorar. Além da falta de calor excessivo, esta estação propicia um contato maior com uma parte de si negada. Queimaduras de cigarro estão proibidas em 2008. Em 2020 e 2056 também.

Voltando ao bairro, a ruiva, digo, a de cabelos com pontas rosas, as eventuais obsessões, ao curso frustrado de espanhol(te quiero!), a viagem que ainda fará ao uruguai, ao neo-paganismo, ao ocaso, a sabotagem do inconsciente, enfim, toda esta luta inerte e aparentemente ineficaz contra uma depressão que como uma caixa d'água aguardando uma gota, como uma rachadura esperando um abalo sísmico, como uma bomba relógio aguardando um segundo, se esparrama e se intensifica mediante velhas novas impressões, sem que para isto necessáriamente conseguisse trazer de volta aqueles velhos rituais punitivos patéticos de gente mórbida que pensa dar sentido a vida no eu me odeio e quero morrer. Por favor. Cianureto não necessita de guardanapos.

Há problemas. Há grandes problemas. Grandes demais para ele sentir-se no direito de dobrar a esquina e encontrar a falsa ruiva de pontas de cabelos rosas. Falsa demais.

Estes mesmos grandes problemas, o impelem a desencontrar-se em plena crise de pânico, de correlação de forças, de muita coisa muito junta, muito separada.

Achou a chave, achou a fechadura. E não choveu no caminho. No terceiro degrau, no degrau três, aquele sujo de tinta guache, das crianças que brincam no prédio, ele subiu e a chuva caiu. Sem tinta, sem chuva, sem criatividade, ele só desejava um cantinho geográfico essencialmente/isoladamente feliz. Talvez seus desejos tornem-se realidade. É uma pena que estes tenham sua própria dinâmica. E que esta dinâmica diga novamente todos os dias: lute contra quem lhe aprisiona em caixinhas ao invés de fingir piedade.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Depois de um testemunho surgiu-me a inspiração

Eu sou um bruxo. É verdade. Um bruxo. Chamem o bruxo, me de bruxo - falaram uma vez. Não há motivos em me chamar quando não posso voar. Voarei por cima dos sonhos alheios. Voarei por cima da ruiva, do ruivo, do francês, do não francês. Pegarei o metrô em paris. Mas isto é um sonho. Paris, e a Torre Eiffel e um idiota de camisa verde colocando moedas num telescópio fazem parte de um sonho. É bruxaria. Queimem os bruxos! É bruxaria.

Fazer planos(correr, fugir).

síndrome do pânico [muita gente].

Momentos em euforia[pouca gente].

Além
disso.

Há carência. Carentes, em filas, exterminados sistemáticamente de forma industrial. Na verdade. Os exterminados são os exterminadores, licença poética a parte. À parte. Por que aos fascistas nem água! Nem água! Exterminadores são exterminados. Exterminam-se. Matam parte de si. Matam-se inteiros. Matam a parte humana da humanidade; e isto dolorosamente não é redundante. Hiroshima e alguns dias depois, e serão nestes dias que teremos esta prova, provarão, redundarão neologismos, e teorias em pseuo-poemas.

Con
Cre
Ta
Men
TE

Mente! Mente!

Mente poema! Tu mente! Usted! Mentes!

Menta. Menta planta-se. Ouviu? Planta-se.

Planta-se como sonhos, sementes oníricas, que percorrem cervejas sem álcool. Faltam poucos dias para acabar o tal ano velho.

Faltam poucos dias, poucas horas que parecem eternidades.

Esta terça não importa. estarei num lugar espiritual.

Pois é tudo meio de esquerda, meio farsante.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Jurado de Morte

Sereno, ele sabia que não podia vacilar. Esquecer aquela mochila foi a coisa mais estúpida que ela já tinha feito em todos os anos que trabalhou para a "firma". Trabalhar como mula não é algo fácil, os riscos são altos demais, mas a grana compensa, além disso, se você souber disfarçar sua capacidade de consumo, conseguirá ir bem longe na profissão.

Ele nunca tinha sido pego, uma vez encarou uma blitz, mas com documentos certos e uma frieza ímpar tudo ficara resolvido. Por isso era um dos melhores. E melhores não erram.

Mas ele errou. Alguém, algum filho da p#$@, conseguiu pegar a mercadoria antes de mim, se eu não encontrá-la antes das 18h ficarei jurado de morte. Se não encontrá-la até as 22h, é bom providenciar uma passagem pra bem longe, talvez pro Uruguai, ou pra Costa Rica. Nesta vida, ninguém esquece. Eles não vão esquecer. Ninguém confia em ninguém nesse meio. A palavra só vale quando o compromisso é cumprido. No seu caso, o compromisso poderia estar no fundo do rio ou nas mãos de algum amador ambicioso.

Voltaria para a rodoviária, foi lá que tudo começou. Contaria seus passos. Imaginaria todo o processo. Talvez alguém tivesse pego o pacote por engano.

Resolveu ligar para Pablo, não estava, deixou recado, pegou um táxi. Entrou em casa correndo. A casa estava toda revirada. Merda.

Sai dái seu imbecil. Foge.

Saiu apressado, esbarrou com o porteiro. Sai da minha frente!!!

Corre cara, corre. Correu. Pegou o primeiro ônibus, as pessoas estranharam seu comportamento.

Resolveu descer perto do shopping, procuraria Pablo, Pablo tem a resposta.

Ligou para o celular dessa vez.

- Pablo? Pablo.

Esta não era sua voz.

- Dieguito, mataremos toda a p#$%@ da tua família e desse teu amigo filho da p$#@ se você não nos entregar a merda da mercadoria! Compreendeu cábron?

Mesmo se quisesse dizer algo, mesmo se tivesse tempo, mesmo se tivesse pensado em algo, não daria, de qualquer forma, não daria. O telefone desligou. Resolveu pegar um táxi.

Encontraria Pablo na casa de Rose. Era o melhor lugar para se esconder.

Em cinco minutos estava lá. Bateu, Rose não atendeu, parecia não ter ninguém em casa. Deu a volta nos fundos e encontrou Pablo com uma pistola alemã em uma das mãos. O que houve?

O que houve cara$#@!! Os filhos da mãe chegaram mais cedo.

Mercedita está morta. Juan também, vou para o Brasil amanhã, não há mais como ficar aqui. Te aconselho a fazer o mesmo. O apartamento foi revirado.

Eu sei, eu vi merda!

Se tu quiser pode pegar umas roupas minhas que estão na Rose, parte amanhã comigo, eu te dou uma carona.

Pablo, não estou entendendo! O que houve afinal, por que os caras partiram pra cima de nós desse jeito!

Não sei também, mas vou descobrir. Talvez o González tenha falado merda. Me segue.

Foi na frente, entrou no quarto que Pablo indicara, deparou-se com o espelho, e a imagem deu lugar a um misto de frustração, arrependimento e indignação.

Pablo, pablito, su pablito, apontando a arma para seus pulmões...

Morreu com três tiros... um na nuca...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Histórias do condomínio

Plaft. Jazia a melancia no playground, estatelada mórbidamente pelo desastrado Alberto.

Quinto andar. Poderia ter matado alguém lá embaixo.

O murmúrio aumentou, a história se alastrou e o síndico por fim ouviu.

Abriu-se então uma sindicância, sindicância condominial da melancia.

Todos gostaram do nome.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Deixa-me, Deixa-nos

Vai, deixa eu jogar tudo pra fora
Vomitar minhas letras pútridas
Em cima do conforto cínico dos contentes
Caminhar por entre os trilhos firmes
De velhos expoentes

Deixa eu cair por entre as fendas da vida, escorregar
Fazer sorrir e chorar, sem me aproveitar do torpe presente

Deixa eu me aquietecer escondido por aí
Deixa eu me livrar da tua rotina insensível rotina
Deixa eu me entristecer no fio da palavra
Esconder-me no não me cala!
No não me puna!
No não me falha
Dessa gente que não cansa!


Deixa eu soltar palavrões
Eufemizados por vãs expressões
Até que me partam os princípios
Nos instantes insípidos...

Deixa eu partir como sem memória
Traído por um momento de glória
Enrijecido por tristes histórias
De um alguém que já não sabe mais
Onde plantar suas tristes vitórias

Deixe-me acreditar na utopia
Palavra forte que me guia
Que me aquece, que me afia

Deixa eu me largar por entre os becos
Da vida parida; parida entre os dentes
De um sorriso amarelo

Deixa-me sonhar com o que não vem
Deixa-me flutuar com quem nada têm

Para trilhar sonhos puros, coletivos
Derrubar os falsos muros

E guiar a estrela vívida
De uma nova sociedade

Rumo ao encantamento
Rumo ao destino
Rumo à inexorável esperança
De alguéns que sonham juntos
Com a liberdade

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Das pequenas vinganças


Está chovendo, eu encontro a garota oriental na esquina, e ela me leva até a casa dela, aquele bairro vazio, que exala cheiro de chuva dos paralelepípedos e repleto de casas pequenas, de casas antigas. As velhas vilas operárias, com seus portões curtos, atarracados, com sobras de ladrilhos decorando calçadas. O silêncio é total, e só se quebra com os respingos batendo nas telhas de amianto da rua.

O bairro é um bairro fantasma, eu entro na casa e percebo a cilada. Será que a garota armou pra mim?

Do quintal eu vejo um pqueno grupo do outro lado do rio, um rio não, um valão fundo, imprensado por grandes paredes de concreto e com a água lamacenta da chuva alterando seu cheiro e sua cor.

Sob uma árvore eles já me esperavam.

Pode ter sido coincidência, talvez ela não tenha armado uma pra mim. De qualquer forma agora já era. Eu reconheço o líder do grupo, é um sujeito desprezível, não é o mais forte dentre eles, mas definitivamente é o que sabe bater melhor. Tem um sujeito grande que também me amedronta, mas esses tipos idiotas caem no primeiro minuto de briga.

Eu não fujo, ela percebe a tensão e eu procuro uma arma branca para me defender, nos fundos da casa. A garota sabe que não há volta, ela iniciou o bailé, agora terá de assistir o espetáculo até o fim. O grandão como esperado, é o primeiro a se atrever ao embate, azar o dele, meu pedaço de cano de 30mm já está o aguardando com fome de justiça. Ele parte meio desajeitado, eu me lembro do Tao do Jet Kun Do, seja duro com o suave e suave com o duro, a mesa vira um obstáculo para o brutamontes, ele demora muito a pensar e eu o derrubo com uma sequência curta que não me faz nem começar a soar. Ele cai no valão, é o seu destino. Eles passam um por vez, o segundo não tem as mesmas chances, me acerta sem vontade e depois de uma joelhada nada elegante, resolve ir se esgueirar em direção ao canto do tanque de cimento da casa. O soco na face esquerda é quase como uma sequência de frustrações acumuladas que eu irrompo com energia.

O atrevido chega mais rápido do que pensei, este sabe bater. E durante vinte ou trinta segundos, o enfrentamento é equilibrado. A garota se afasta, e eu sei que a hora de acabar com aquilo é agora. Um chute que me dói algumas costelas mal dado; pois bem, é o preço da vitória, é o aceno dele sonhar com os peixes, boa viagem, mão esquerda firme, mão direita como alavanca, perna esquerda calçada e um apenas leve inclinar de forças corporais, o leva aonde eu queria: vai pro fundo do rio seu animal. Não há tempo pra saborear a vitória, isto não é um filme oriental. A única oriental já se encontra fora da casa e eu tenho de alcançá-la. Ela está com um guarda chuva.

Eu não sabia de nada ela diz. Fingirei que acredito, apesar de ver sinceridade na cor de seus olhos. Eu me despeço, e digo pra ela esperar em outro lugar. Os idiotas vão voltar.

Ela diz que nunca gostou mesmo daquela vila. Conservadora demais.

Eu falo que tenho que passar no apartamento. Tem gente me esperando lá.

A garota acena com a mão esquerda enquanto a chuva desce pelo bueiro semi-entupido. Não há muita troca de expressões, não há muito o que dizer, apenas que minhas costelas dóem e eu tenho de chegar ao apartamento para recuperar minha bolsa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Das vezes em que se meteu com cerveja preta

- Anatole...

- Diga, Vasilli.

- Deixarei meu cabelo crescer...

- E o que tem isso de importância? O que tem, isto de importância perante esta lua. Esta lua linda.

- Nada porra. Reflete apenas falta de compromisso Nato.

- Com o quê Vasilli?

- Com a vida Anatole. Com a porra da vida!

(chega de travessões)

Olha pra praia soltou o russo. Olha pro céu, pro horizonte, e pra lua. Ah! Pra lua você já olhou. Seu cínico! Olhaste pra lua antes de me convencer de alguma coisa. Golpe baixo Nato.

Golpe muito baixo,(expulsou Vasilli) antes de tragar a longneck, ou grande-nariz perante uma tradução chula que insistia em manter; na verdade nunca tinha pensado no longo nariz... longo nariz....

Nato, em algum lugar do inferno há Eric Clapton e Velvet Underground tocando...

Tem o Buckley Vasilli. Deixa de ser anti-intelectual. Tem a porra do Buckley. Tem o Ian Curtis, tem o pop do Cobain tentando convencer a quadrilha de seatle a escutar o Thom Yorke... Tem tudo Vasili. É a igreja do diabo. Escutaremos os anos 90 como se fosse woodstock Vasilli, seremos os mártires do fodase, seremos os provos, a bicicleta branca, a contra-cultura renovada.

Deixaremos de ser os irmão do meio.

É verdade Nato, resmungou Vasilli antes de virar meia long-neck, meio nariz, longo nariz, completo nariz de cerveja; sujo de espuma.

E cerveja preta, pensou Vasilli, cadê a porra da cerveja preta??

Está caída, pensou Nato, pensou também Anatole. Mas não se comunicaram. Não conscientemente. Mas estava lá. O diálogo existia inconscientemente, mas nunca saberiam. A ciência nunca saberia.

Subjetivismos não fazem parte do ocidente, nem da ciência, nem de vagões de metrô ou jogos de futebol.

- Nato, ontem tive sonhos realmente impressionantes.

- Entrava num bunker. Escadas. Lembro-me do cartão. Das pessoas correndo. Lembro-me da bicicleta no pântano, de combates pseudo-medievais, lembro me do céu nato, do céu, virando noite muito rápido(as expressões corporais de Vasilli segundo Anatole pareciam muito, muito infantis), me lembro de me esconder atrás de muros de pedras, muros de pedras frágeis, frágeis como minhas repetições, frágeis como o meu eu Vasilli(e bateu no peito como king kong, o que tornou a cena mais patética do que já era).

- E como você se sentiu(Vasilli aprendera pseudo-psicologia no Discovery Channel)?

- Bem gringo. Até escutei aquela bossinha que você me passou.

- Tá. Tá Vasilli(Anatole começara a ficar realmente bêbado).

- Nato...

- Diga Vasilli vazio....

- Deixarei meu cabelo crescer.

- Fútil... Futilidade (em tom de desdenho).

- Em tom de desdenho Vasilli. Deshhhdenho...

- Tá bem. Chama a ruiva, grita ela, que eu não tô em condições. Grita ela Nato, grita ela que nós vamos juntos pra casa.

Acabara o álcool de Anatole. Precisava resgatar Vasilli. Precisava. Ele está no fundo.... Não há mais chance. Ele chegou ao fundo. É hora de resgatá-lo. Há imagens demasiadas.

O russo enlouqueceu, particularmente.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Fingir Estabilidade

Estava aqui jogado, enquanto ela me buscou. Tudo a lembrava. E o fato de eu não usar "maldita" após o último verbo já indicava uma esperança, uma esperança crônica que me consumia, que me consumia com os cabelos amarelos cheios de tinta. E eu prometi, prometi a mim mesmo que deixaria meus cabelos crescerem junto com meu orgulho e minha resistência ao fracasso, somente para observar o retorno de algo que já tinha terminado no verão do ano passado.

Com cabelos amarelos ou não, com não-ditos, ou com misericórdias embaladas para finais de semana, eu me esforçaria para não tornar tudo mais patético do que já era.

Desperdicei. Matei metade da minha vida procurando e esperando. Foram vinte nove anos esperando você ruiva. Foram vinte e nove anos, esperando algo, ou alguém, que não conseguisse terminar com metade do meu tédio, metade do meu tédio repetido ruiva, como seus cabelos vermelhos repetidos, sorrindo, como você sorrindo, e bailando bêbada, perdida, um tanto quanto suicida, um tanto quanto irresponsável, enquanto eu me dirigia, me dirigia por palavras repetidas, e preciso repetir quantas vezes for necessário para que você entenda, para que você entenda, que há um pedaço de caos, de liberdade ruiva. De cabelos vermelhos dentro de mim.

Do caos, da espuma, e do pó, surgiram atores, surgiram alter-egos, surgiram frases. Surgiram pedaços de coisas, de emoções esquartejadas, de falsos riscos, enquanto eu via você bailar.

No censo da perfeição, você ocupa o primeiro lugar, o primeiro lugar, antes que eu conseguisse olhar em seus olhos, olhos amendoados que exalavam desculpas. Enquanto isso, naquele dia, perto do aquário artificial, perto do aquário à luz do dia eu fingia estabilidade. Eu fingia certezas. Quando na verdade, exalava dúvida. Quando no entanto, exportava insegurança.

Não haverá fim. Por que exatamente, não há fim em crônicas ruins.

Em crônicas ruins, só se pode exigir sinceridade, dor, e algo parcelado emocionalmente entre tudo isto.

Entre tudo isto. Repeti, repetimos, enquanto eu sonhava com bicicletas. Bicicletas repetitivas ruiva. Repetitivas.


sábado, 1 de dezembro de 2007

Crise de Produtividade / Desafio de Dezembro / Mêcanica da introspecção

A idéia surgiu há exatos 30 segundos. Tentarei escrever 21 contos/crônicas/micro-contos no mês de dezembro.

Crise de produtividade.

Até a data do meu aniversário, serão 21 contos(valem micro-contos) escritos. Contando a partir do dia 1º de Dezembro. Inauguro com o Poliedro Infinito que os srs. podem saborear logo abaixo.

Talvez eu me arrependa, e apague este arremedo de promessa.

Poliedro Infinito

-Como está?

-Bem. Tirando alguns anos de idade, um pouco de cafeína no estômago e uma ligeira melancolia pré-dominical, é claro.

- Quanto custou?

- 60 pilas, sem troco para a cerveja.

- Pode ficar. A única coisa que eu guardo são as mágoas.

Despediu-se.

Estava muito ruim.

Frase excessivamente clichê. Vanessa não gostou. Amassou outra folha. Aquele diálogo era uma verdadeira porcaria. Quando enfim conseguiria escrever algo realmente interessante? Pensou em passear pelo bairro, mas já eram duas da madrugada. Seus cabelos longos, encaracolados, negros como o pulmão de Jonas. Seu vizinho nicotinomaníaco. Talvez colocar aquele velho cd de jazz meio arranhado, meio funcionado. Talvez. Talvez...

- Não. Se isso é o máximo que "usted puede escribir... no tengo la idea de cuál és su mejor!", gritou o espanhol, espanhol não, sou basco filha da puta, eu sou basco, hablo espanhol e portunhol para vocês me entenderem, pensou, e se é o máximo... Eu não quero.

Socou a mesa.

Rodolfo saiu decepcionado. Foram três meses descrevendo Vanessa. Sua compulsão por anfetaminas, sua cafeteira quebrada, seu pedaço de arremedo em forma de poesia. Mas não era suficientemente bom. Não tinha a assinatura dos gigantes, dos gênios, dos que comem e bebem o sangue de amadores no final de semana.

Amadores, enfileirados, enfileirados como Rodolfo. Canetas secas nas mãos, canetas falhando. Mas canetas não falham, elas quebram, dão defeito. "Falhar" é um eufemismo, uma verdadeira proteção para um instrumento supostamente sagrado. Canetas são perfeitas. Funcionam muito bem. Aparentemente de uma proporção até maior do que propulsores de foguetes. Mas na verdade nós sabemos, que as canetas falham como qualquer um, como qualquer escritor, como qualquer objeto mórbido, elas falham. Falam. São tecnologias. E tecnologias morrem, nascem, morrem. Isto daria um bom texto. Desenvolverei o carcamano, trabalharei os alemães, o mito das nacões, o espanhol que na verdade é basco e Rodolfo o escritor que na verdade é poeta.

Rodolfo não sabe, mas morrerá atropelado no penúltimo capítulo. Talvez por um ônibus. Ou por uma bicicleta, é mais irônico, sim, sorriu, é mais irônico.

Encheu o copo de cerveja, apagou as luzes do quarto e acendeu a luminária de centro. A porca de barro estava lá o olhando. Usava uma bermuda verde ridícula, nada nada pós, pús-moderno. Nem estética existencialista tem. Escritor de merda. Rodolfo é minha cria. Um mero marionete. Pule Rodolfo! Pule seu maldito! Morra atropelado por uma bicicleta agora! Agora não! Somente no próximo capítulo! No próximo capítulo!


Em algum lugar, fora e dentro dos capítulos, mais exatamente num poliedro, espreitava Alcindo. Sim, seu nome era um tanto ridículo. Mas Alcindo era bom com as letras. Seu personagem era anônimo. sem estética existencialista, meio esquizofrênico, e de uns tempos para cá isolacionista. Sim, isolacionista. Este texto tinha ficado bom. Alcindo gostou. Gostou da forma com que encaixou as luzes do quarto, a porca de barro.

Estava tudo lá.

Alcindo...

Quem escolhe um nome ridículo deste? Meio parágrafo. Não lerei a tempo. Não entregarei, suspirou Carlos. Alcindo a esta hora estava sendo lido dentro de uma condução, a caminho da biblioteca municipal. Papel reciclado. Texto de seis ou sete páginas.

Multas de bibliotecas são formas explícitas de punição intelectual?

Alguém deve ter jogado isso fora. Está no mundo das idéias platonianas. Era o velho Morel. Sim, o velho Morel. Sua perspicaz barba cinza, o fazia escrever sete ou doze palavras e ser aclamado num velho jornal de poesia. "Meio parágrafo. Não entrego a tempo. Não entregarei, suspirou Carlos. " Cunhou com cuidado. Num dia de chuva, comendo amendoins chineses.

Saíra no número dezessete, rendera duas dúzias de comentários elogiosos. Era um novo record. Morel espreguiçava-se às 8h da manhã, mamão papaya na mesa, cigarro e o jornal de centro-esquerda local. Foi um bom artigo, um bom artigo, pensou Morel, este jornal sempre me surpreende. Morel não tinha filhos, a propósito.

Poliédricamente, no final da corda, alguém resolveu se manter anônimo. O espelho dentro do espelho, foi chamado de poliedro. O ruim era descobrir-se dentro de um conto. Toda vez que alguém o lia, achava-se, meio perdido, meio encontrado. Não sabiam quem exatamente acusar, ou elogiar. O ruim, era ver que eram pontos sem nós ou melhor dizendo, com múltiplos nós. O ponto final sempre se perdia dentro da multiplicidade espelhada do próprio e abandonado conto, que afinal não tinha mais dono, tinha sim multiplicidades fracticidas. Identidades fluidas, perdidas. Tinha rostos infinitos, infinitos, que não sabiam bem aonde terminava a criatura e começava o criador.

Pois ninguém sabia decerto, quem era o autor daquele maldito poliedro infinito.