sexta-feira, 30 de março de 2007

Os dias atípicos de Anatole

Onde ele foi?

Não sei merda. Eu não sei caralho!

Diz logo filha da puta!

Vai pra puta que te pariu seu bosta! Não vou dizer nunca!!! Nunca entendeu!

Uma cusparada rasgou o céu, a cara de Anatole encheu-se de ódio e saliva! Nojo! Raiva!

E Anatole! O velho Anatole! O doce e tranquilo Anatole! Jamais Brigara com Ninguém!

Que merda! Anatole imaginou-se no Tibet, na França de novo, no raio que o parta, na puta que pariu, na manifestação do passe livre. Anatole bateu. Socou, não sabe como, de que jeito, de que forma, qual o braço acertou primeiro, como derrubou o puto no chão, como socou a cara do pulha no paralelepípedo, como pensou nas coesões anafóricas enquanto esmurrava o maldito com os cotovelos, com a cabeça, com o joelho, com a raiva!!!

No primeiro momento ele tentou reagir, a camisa de Anatole rasgara-se, o cordão quebrou-se em pedaços, um soco na costela não o afetou, whatever, ele continou, continou, a raiva o dominou, não era mais Anatole lá, estava na lua, era algúem, algo superior ou inferior, que socava não com os punhos, mas com o passado.

Não batia para provocar a dor. Batia para tornar aquele pedaço de vida um algo inanimado, um pedaço de carne no chão. Lembrou de algumas parábolas. Parafraseou um jesus histórico indecente, enquanto tentavam lhe segurar. Não tinha mais vida ali. Eram só ossos, sangue, cartilagens e mentiras.

A poça de sangue tomara o lugar. O pedaço de granito manchado de vida rolou, as garrafas de cerveja caíram e quebraram com um tempero de sangue.

Me soltem! Me soltem!

O bar parou. O pequeno mundo de Anatole parou. O lugar esvaziou-se de atenção. Pela primeira vez, Anatole tinha toda a atenção. Ele pegou sua mochila. Olhou a todos. Seu lábio sangrava. Sua camisa estava rasgada e seus joelhos sujos. O corpo do maldito jazia no chão, olhos abertos, roxo, muito roxo, sangue espalhado nas pedras portugesas.

Anatole engoliu a cerveja com raiva. Bateu o copo na mesa. E partiu.

Precisava encontrar Vasilli.

sábado, 24 de março de 2007

Apertando os parafusos

Minha vida frouxa
Que frouxa, como desliza, corre
Não aperta, não se estabiliza, não conduz
Apenas seduz
Apenas reduz
Deitado o novo
Clareia um bom dia
Estapeia um alento
Enforca um talento
Só na medida do contrário
Do desespero agregário
Empurra os formosos passos
Ao empuxo das cores
Das dores
Das flores

Bêbados

Ao estar bêbado, somos poéticos. Então, lembrarei de Vasilli e de Laura, ainda ruiva de metáforas e envergonhada por não saber qual ônibus tomar nestas noites tão perfeitamentes meio-totalmente outonos.

Carpe diem e Bis Bald meus caros.

sexta-feira, 23 de março de 2007

As pazes de Terturiano

Terturiano cortava cenouras.
E resolveu cortar Márcia um dia
A delegacia de mulheres não gostou
E resolveram cortar Terturiano da sociedade
Jogaram-lhe numa cela, com dezesseis Terturianos
Para cinco metros quadrados
Enquanto o juiz resolvia quem iria cortar desta vez

Numa briga na penitenciária
Cortaram Terturiano com quatro iguais facas opostas.
E cortaram Terturiano em nove pedaços indefectíveis.
Márcia, no canal onze, assistiu a rebelião com suas quatorze cicatrizes.
E acendeu seis velas de sete dias para agradecer os cinco palmos de terra rasa
Que deus no nono dia de descanso lhe reservou

quarta-feira, 21 de março de 2007

Recuperando rascunhos antigos...

Acordei meio indisposto. Peguei o telefone e tentei falar com Laura, mas como de costume ela não atendia pela manhã. Ela precisava escutar o sonho que eu tive, eu sabia que não ia ter a surpresa desagradável de encontrar Vasilli atendendo o telefone, por que às quartas-feiras ele estava sempre mais preocupado em encontrar alguma utilidade para seus empreendimentos solitários.

Não havia mais fé. Havia o fluxo. As coisas, caminhando.

sábado, 17 de março de 2007

Da porca de barro que guardava idéias

Simplesmente fenomenal. A chuva, que bela chuva! Fenomenal. Eu andei, olhei para as calçadas portuguesas, digo pedrinhas portuguesas, construídas sob suor, sob o sol, mas o sol ali não estava, talvez a lua, mas o sol... quem dirá, o sol.

Quando eu precisava conversar ela sempre aparecia. Quando nada mais me dava atenção, um brilho surgia, um caos dançava dentro de mim e eu conseguia olhar no reflexo do espelho, enquanto escutava a voz, as vozes, encerrarem ritos.

Reclamavam da vida, o vagão-trator-vagão, petrificava os problemas, engessava e reduzia os transeuntes a um pó de vida-morte, morte-vida-pó, um quê de cousas sem identificação, que no final das contas, eram puros backgrounds, efeitos. Quando me perguntavam como eu encarava a dor, eu respondia que escrevia contos e bebia cervejas. Ninguém entendia. Achavam-me idiota ou sarcástico, talvez seja uma defesa que eu assumi. Alguns começavam a rir ou permaneciam calados em tom de respeito.

Mas o inconsciente fazia planos. E eu os desconhecia. Queria conversar, mas era difícil, conselhos eram desnecessários; só queria ser escutado(ela sussurrava que tudo era um devir... até mesmo ela). Ninguém entendia Laura.

Eu escrevia sobre e para ela. Ela também escrevia, mas era difícil conviver com as dúvidas que as pessoas encaminhavam sobre seu comportamento, sobre meu comportamento.

Foi num dia de verão que eu resolvi comprar uma porca de barro, estava alegre, juntaria não dinheiro, como a maioria, mas juntaria idéias. Cada momento de lucidez e de loucura, seria uma idéia colocada na porca. Poemas, contos, haikais, teorias, cartas de amor com destinatário ou sem destinatário, crônicas, catarses, fotografias dobradas, tudo seria colocado na porca de barro. Uma grande porca marrom(ou seria laranja...), vendida nos sinais, era a porca das idéias. Depois quebraria tudo e veria o que restou.

Pensei em quebrá-la várias vezes. Mas em todos os momentos ela me olhou e pediu clemência de uma maneira tão estática, que eu a poupei.

Laura me provocava. Dizia que eu não teria coragem, que eu me apeguei. Que a porca era um totem e totens não podiam ser destruídos, matem o séquito, mas os totens vivem, re-vivem.

Ela brincava de um jogo esquisito comigo, era uma provocação explícita. "A porca ou eu", dizia em momentos de raiva. Tudo para me testar. Cofre de sonhos. Isto era o que era a porca. Meu cofre de sonhos.

Laura quase atirara a porca mas eu a detive e neste dia, nos beijamos tão intensamente, que a porca repousou sobre o edredon da cama tão plácidamente, que quando abri meus olhos a vi de olhos abertos dizendo: "obrigado. obrigado".

Deixe-me falar sobre alguns dias específicos. A porca entrara em meus sonhos dizendo que teria de falar por metáforas durante anos, toda uma vida, pois quem guarda segredos, mesmo que inofensivos ou desejos, é um escravo. Um verdadeiro escravo. E escravos mandam pombos ou porcas-correio ao invés de se exporem. Por que a exposição traz alguns pedaços de morte.

E a porca não queria morrer.

A capacidade de criação aumentava. As coisas tornavam-se extremamente cíclicas e aí resolvi encontrar Justine, Justine, era doce, tinha seus próprios problemas. Seu problema chamava-se Nicolas. Era seu edema pessoal.

Nos encontramos no bar, eu e Justine. Resolvi falar do sumiço de Laura e ela do aparecimento de Nicolas. O papo teve alguns eixos temáticos, mas básicamente era o clássico "minha vida é irônica, deus joga dados e eu fumei Haxixe semana passada com um casal de argentinos". Eu só falei da porca e de Laura. Justine achou engraçado, por que ela movia os olhos e o cigarro de forma característica, então eu já sabia que ela iria sorrir depois desse padrão frenético de ironia.

Ela olhou nos meus olhos e perguntou como estava. Eu disse que não muito bem, e ela tragou mais um pouco do cigarro, antes de me fazer um cafuné-placebo e eu com aquela cara de tédio tradicional, que me impelia a esperar os primeiros passos.

Conversamos sobre livros que já tínhamos lidos, frases clichês e derrotas, parecia que Justine por um momento poderia ser uma boa companheira de final de semana, mas havia alguma barreira metafísica, que nos dizia mútuamente, que o maior contato que teríamos era o de contar frustrações e desenhar balões de tristeza no alto de algum morro.

-Tenho medo que você se suicide, ela falou.

-Não vou me suicidar. De onde tirou essa idéia?

-Ela veio falar comigo. Disse que você está estranho últimamente.

-Deve ser a porca, eu respondi, se é por ela... saiba que...

Ela me interrompeu. Disse que eu não podia mais ter este tipo de atitude.

-Como assim Justine?

-Simples. Você já superou todos os padrões. Já não é um há muito tempo. Não chega a ser um übermensch mas sobreviveu e eu te admiro por isso seu filho da puta.

-Prossiga.

-Caso você se mate, vai jogar parte da merda onde ela tem que ficar: na merda. Contudo você é um puto transgressor. E eu acredito na essência disso, seu grande filho da puta. Você vai assistir sua própria decadência. É homem o suficiente para isto.

-Você é uma merda de um exemplo. Um exemplo ruim. Tem de se manter vivo. A decadência, a derrota, deve se refletir. Você sabe disto.

-Sim, eu sei. Mas não tenho vocação de mártir. E todo suicida é um egoísta. No fundo é o ego, o eu, que manda e diz: "filho da puta, não sofra mais por eles". O altruísta, como disse Stirner, como disse o filho da puta de bigode grande, é o pior dos egoístas.

Ela sorriu, foi uma piada desigual, fora de foco, de hora. E eu já havia me cansado daquilo tudo.

-Responda-me, sem hesitação... Quantas pessoas lêem o que você escreve, ela me perguntou.

-Hum... Seis, em dias bons.

-E quantas se importam?

-Talvez nenhuma.

-E a importância não vem da perda? Da maldita perda?

-Pense?! É um belo prato de macarrão. É tentador viver na morte não? É o que fazem os malditos, os tuberculosos e os suicidas.

Uma longa pausa ocorreu. Eu bebi minha cerveja e olhei para o vazio. Justine sorriu e começou a falar de futilidades, do livro do Korczak, da pedagogia, das aulas de alemão, e eu esqueci que tudo aquilo poderia não ser real.

Aí eu entornei meu copo de cerveja, fechei meu casaco de flanela, me lembrei dos edemas provocados pela bebida e resolvi voltar pra casa. Justine me acompanhou, por que acreditava que cantar "las barricadas" durante o caminho do bar à minha casa poderia me ajudar a não morrer naquele dia.

Mal sabia que eu já estava morto. A porca sobrevivera, mas eu... eu era um triste pedaço de morte.

Este texto pode ser reproduzido para fins-não comerciais, desde que citada a fonte original(http://pseudocontos.blogspot.com/) e esta nota incluída.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Alegria

Cartola

Composição: Cartola

Alegria,
Era o que faltava em mim,
Uma esperança vaga,
Eu já encontrei,
Pelos carinhos que me faz,
Me deixa em paz,
Não te quero ver,
Para nunca mais.

Eu sei,
Que teus beijos e abraços,
Tudo isso não passa,
De pura hipocrisia,
Já que tu não és sincera,
Eu vou te abandonar,
Um dia.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Considerações

Então já que aconteceu toda esta confusão sobre posts copiados, mas que na verdade não foram copiados, não foram devidamente citados... eu vou falar sobre copyleft e a questão da informação na internet, da degradação, num próximo post(eu prometo).

É bom, por que a internet é um mar de coisas não-confiáveis. Posso escrever um texto e assinar com qualquer nome, difundí-lo por email e assistir a confusão por camarote. Isso pode ser extremamente positivo para desestabilizar determinados jornalistas mal intencionados ou regimes de manipulação de massa, mas muitas coisas ruins surgem destas questões também.

É uma faca de dois gumes.

Este texto é livre de ser reproduzido para fins não-comerciais, desde que citada a fonte original e esta nota seja incluída.

copyleft

Breves histórias

Vasilli em seu jogo de cartas semanal, no truco filosófico que mantinha com Anatole, e impreterívelmente Laura costumava aparecer, não para ganhar, mas para fazer com que
alguma graça surgisse além da praticidade mórbida daquele ritual de fim de semana, costumava digitar oralmente algumas histórias(ou seriam estórias) interessantes, que faziam Anatole revisar o que era realmente mais importante; aprender Fitche ou Shopenhauer ou viver intensamente relações sociais.

Vasilli sempre assobiava e completava com uns trocos de música, quando uma rodada estava a seu favor, versos batidos, "alegria era o que faltava em mim", assobiava Cartola em tom de sarcasmo, era um recado para Anatole. Uma crítica clara, direta. Como era vil quando conseguia. Ele sempre fazia algo do tipo, percebia que Anatole costumava abaixar as sombrancelhas em tom de protesto, perder não era um bom negócio claro, e o que era um jogo transmutava-se numa batalha campal de filosofia e sarcasmo; Anatole sempre encerrara tais situações com olhares deprimidos ou comentários polêmicos sobre algum livro que Vasilli celebrara.

Bati!, gritou Vasilli... Hahá! Par de ases!

Anatole, recolheu as cartas, e embaralhou mecânicamente os valetes, os reis e as damas, enquanto Laura, movia-se frenéticamente até a geladeira, daquele cômodo sujo, um carpete marrom que negava a modernidade, tufos de cabelo e pedaços de papel no chão constrastavam com a louça suja, um macarrão a alho e óleo que Vasilli tão hipócritamente cozinhara para todos.

Era a raiva que o dominava...

Bebeu o copo de contini com força. E na ausência de Laura, que se jogara no colchão rasgado e sujo ao lado da garrafa de vodka que na sua metade, desafiava os que ali estavam a assassinar aquele indecente caminho para as portas da percepção, continuou a embaralhar as cartas. Vasilli, segurou suas mãos e disse: "acabou companheiro. acabou."

Olhou nos seus olhos e disse: "O homem sagrado não compete, por isso ninguém pode competir com ele".

Anatole, esperava mais. Mais as rosas não falam. E as de plástico, emolduradas, entorpecidas pelo ambiente, aquela luz, aquela lâmpada de 60 watts, que iluminava pendurada num bocal sinuoso e problemático, traduziam a noite.

Laura, doce laura, perfume que dominava o ambiente, de bruços, com sua calça jeans negra, seu tênis amarelado, do brechó de algum jardim, de algum pseudo-jardim, da lapa, dos arcos, de santa teresa, de algum convento, de alguma igreja do subúrbio, eram tantas versões, que exalavam todo o perfume doce de Laura. Seus cabelos curtos, olhos de amêndoa, moderna e tão ultrapassada, assim era Laura, enquanto o caos rodopiava sob seus olhos, ela simplesmente dormia.

O que você disse?

Que acabou.

Acenou com a cabeça. Despejou o baralho sobre a toalha de mesa e incitou Vasilli a ficar bêbado naquela noite: "outra cerveja Gaijin."

Vasilli foi submisso a idéia.

Enquanto tirava a chapinha com um pedaço improvisado de faca, que usava como abridor, a porta anunciava algum viajante. Batiam na porta com virulência, violência. Vasilli sorriu, transparecia uma felicidade mórbida, o coração de Anatole preocupou-se com a semi-automática dentro da gaveta, quando Vasilli trouxera os pacotes de alho; emudeceu, tomou mais contini e preocupou-se com aquele momento.

Vasilli caminhou até a porta com um casco nas mãos e abriu a porta sem nenhum pudor. Apenas a cerveja e o sarcasmo eram suas armas naquele momento. Era o fim da noite.

O sr. Fitche chegara, não em pessoa, mas em idéias. Pizza.

Comeram pizza de mussarela, e falaram da morte de animais, abatedouros e dormiram como pedras pomes até o sumiço do russo.

Dia eventual, que deixou Anatole, finalmente sozinho com Laura.

Mas isso é uma outra questão.




sábado, 10 de março de 2007

Da salvação da ruiva


Quando ele se decidiu a participar do jogo não imaginava que tantas coisas ruins poderiam acontecer. Tudo era simples, precisávamos de apenas cinco minutos para entrar e sair, apontar as pistolas para o lugar certo, cada jogador no seu lugar, cada peão movendo-se como combinado, cada comprador assustado no seu exato lugar, os móveis, a mobília, as malditas jóias, o dinheiro, não ferir funcionários, fora o combinado, fuder o patrão era um bônus game, mas a intenção era simplesmente mudar as coisas de lugar, não destruir pessoas, pessoas não estavam na lista. O plano era abalar posições, não ferir pessoas.

Suas mãos tremiam. Acendeu um cigarro, apoiou-o no cinzeiro, e desengatilhou sua clock, tirando o pente, recolocou, apertou a pistola na cintura e fez sentir-se patético por ainda precisar estar usando este tipo de ferramenta. Era como um violino. Mas sempre há um dia ruim. Ele nunca confiou na sorte. Coincidências, azares cotidianos acontecem ora bolas, nos viramos com o fato, não com as possibilidades anteriores; o que vale é o a posteriori, o a priori é merda, é adubo metafísico, meditou.

Ele era um defensor da propriedade privada, mas deus, maldito deus, eu nunca me insurgi contra a humanidade, uma longa discussão sobre o pacifismo de Gandhi me levara a xingar Anatole em francês durante vinte segundos, mas isto era diferente, eram posições a serem quebradas, retorcidas. Ele tombou por defendê-la, sussurrava como autoconfiança.

Tudo caminhava bem, a ruiva dava conta do serviço, e era mais enérgica do que precisaríamos ser, sua frieza contrastava com o reluzente brilho das jóias, espalhadas no balcão, era simples, enchíamos os sacos, obrigávamos o gerente a mostrar a grana, não éramos sádicos, simplesmente acontecia naturalmente, o curso nos guiava, embalávamos o dinheiro, íamos embora de van, deixávamos tickets, provas falsas, e outras miscelâneas para trás. A comemoração vinha depois. O destino da grana era escolhido em futuras reuniões, nove dias após os eventos. Sempre em 9 dias, em horários determinados. Não havia muitas regras, mas as que existiam bastavam. Mas desta vez era diferente, era preciso uma exceção. Era preciso que todos nós nos encontremos antes do previsto.

Quando ele tentou acertar a ruiva, eu o matei, tive que fazer, e fiz com uma certa dose de raiva misturada a satisfação de não vê-la estirada naquele carpete vermelho. Maldito segurança. E se voltasse atrás faria novamente. Está feito. Era uma deriva perigosa.

Pensou em ligar para ela, mas era inútil, saberia que a ruiva não atenderia, estaria mais preocupada em raciocinar sobre o fato e acumular axiomas para o próximo encontro.

Não tento mais reagir à dor. Chorou um pouco, não talvez pelo segurança abatido, mas pelo que ele representava dento do jogo contraditório do maldito sistema de controle.

Socialismo ou barbárie comentou a si mesmo, reproduzindo talvez algum muro pichado de 1968.

Aliás pixar é com X ou com Ch? Não importa.

E ainda estamos na barbárie. Raciocinou, antes de abrir a geladeira e emendar umas três cervejas em tom de revolta: onde está a conjuntura? Aqui está. Eu a criei. É bom que o mundo se entenda.

Não leu Kurz naquele dia.


terça-feira, 6 de março de 2007

pseudocoitos

Pule, coma isso. Não há sentido. Sem tido. Sem haver alho. Algo eu quis

dizer. Sem sódio. Ou lítio ou você. Bugalhos, sem ódios, não fazem

parnasianísticos rimadores de academia.

Ia. Eu ia sem ir. Eu ia sem mia, sem ria, pensei não sendo, o zacarias,

não vinha, tantas vinhas, uvas tangerínicamente trangênicas.

Pátios proto-físicos.

Sonhos, som, herdando sonhos e felicidade.

Bela poesia. Bela.

Do teste de amor

E usam a internet para isso?

- Usam é verdade. Virtual.

Porra, é virtual. Comentários não enchem a alma.

Entschuldigung!

Saúde.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Da série: ficção e realidade

O método era científico. Consistia em apertar alguns parafusos emocionais, beber meia dúzia de cervejas e esperar que ela chegasse. Uma película amarelada, o ônibus cruzava a avenida Brasil, antes, porém, tudo fora muito mais real.

Domingo. Nunca imaginei que poderia ver ruas tão vazias. Ruas cariocas vazias. Tudo bem que da Lapa à cinelândia era apenas uma questão de puro pragmatismo, alguns passos fortes e eu podia ver a estação de metrô fechada; lembrei-me do consulado americano, das passeatas, e de mais alguma coisa que não me recordo. Apertei o passo, cruzei umas ruas até o largo da carioca, os prédios cinzas estavam bonitos, não havia ninguém; ninguém mesmo, além de uma cabine distante da polícia militar e o clássico ponteiro do relógio, histórico do largo da carioca. Senti-me um personagem vivo, de algum conto do ano passado, antes de entrar na rua da carioca. Passei em frente a um caixa eletrônico e as idéias insurrecionistas me acometeram de coragem, mas que cidade, que cidade, seguranças discretos, eram os olhares, e não estávamos ainda sob as asas do "grande irmão". Minha mente ocidental, repleta de vícios, e eu ainda estava galgando estágios, me descondicionando, quando eu olhei para o belo eclipse lunar da noite anterior. De tão simples, o caminho, o curso revelou-me minha própria natureza. Uma árvore no quintal me deu explicações bem melhores do que meus sete ou nove livros de psicologia em cima da estante.

Horas antes, eu passava no Museu de Arte moderna, no Flamengo, com um amigo meu, bons papos, apesar de curtos, não assisti os filmes neo-realistas, mas consegui voltar e olhar para aquela fonte de água, era o curso/caminho se revelando novamente, tão suscinto, sempre esteve aqui, e acolá, como se desejasse me surpreender. Eu tentei escrever durante toda semana, mas me senti vigiado, observado. A tecnologia eliminou toda privacidade. Tudo tem de ser compartilhado, vigiado. Talvez seja o momento de colocar o velho plano da reclusão em prática. Do desapego, da transitoriedade. Podendo entender o vazio, o cheio, esta independência se revela muito mais confortante. As respostas que eu não encontrei na ação, mas na não-ação. Um amigo para cada fase. Eu estou muito inclinado a tomar medidas radicais, mas sempre pensei no equilíbrio como uma forma polida de comunicar-me com o mundo e dizer "está tudo bem". É pura política no final das contas. Da última vez que senti sua presença, ela me encheu de medo. Eu escrevia, e ela me olhava no fundo do quarto(a parede da esquerda ainda não era verde). Eu pirei naquele dia.

Que me mandasse mensagens pelos sonhos; assim era assustador demais. Comecei a sentir medo, quando pensei na possibilidade de poder enjoar em transformar minha própria vida em letras, contos, letras. Os desastres não chegavam, e não dava a possibilidade de argumentar, embasar boa parte de toda a figuração dramática que eu tão bem encenava. Eu não conseguia mais compartilhar a indefinição com ninguém. O caminho tornou-se muito complexo, a ponto, de eu desistir sistemáticamente a me expor sempre que assim a vontade me toma. É um caminho inverso. A introversão virou extroversão e agora reclama sua natureza novamente, está voltando. Efeito bumerangue, em breve, terei de resolver todos os problemas internos completamente só, a estrada é uma preparação. É bom se preparar garoto. Quando Laura chegar, ela vai pedir o que lhe é devido. E é bom estar preparado. Você fala muito no passado, ouvi ela me dizer, chegarei nos seus sonhos, por que apesar de irreal, eu estou mais presente do que todas já estiveram. Você pode fazer sexo de olhos fechados e acender um cigarro num sábado a noite, mas saiba que quando eu lhe domino, nem seus dedos conseguem saber exatamente o caminho a tomar. Amanhã conversamos melhor.

Tá bem. Apesar de incompleto e prematuro. Estava tudo bem... tudo bem..