sábado, 30 de junho de 2007

Conselhos próprios

O horizonte logo chegará. O céu obscuro, as nuvens carregadas, não impedem a chegada do novo, apenas o escondem.

Semana pesada. Dias pesados. Insônia, cansaço e decisões internas sendo paridas.

O instante da transformação não é percebido. Internamente as coisas caminham, por outro lado externamente a mudança não é sentida e nem pode ser avaliada. Não me conhecem. Não sabem por onde andei. Não podem ler minha mente. Podem apenas sugerir, adivinhar, arriscar algo que não conhecerão. Escutar-me. Sentir a pulsação. Cultivar o amor independe da doce solidão.

Ser completo. Não idealizar(algo delicioso no entanto), retirar-se, sentir o tempo, deixá-lo fluir.

À mediocridade apenas a indiferença. Gastar energia eliminando a mediocridade é esforço morto. À indiferença o destino. Ele se encarregará de tudo.

Trilhe seu caminho. Não vendo minha essência, não me rifo.

Por enquanto apenas busque paz e por favor, feche a maldita porta da geladeira da próxima vez.


sexta-feira, 29 de junho de 2007

Títulos bons para textos ruins

Eu pensei em tantas pessoas quanto pude lembrar ao escrever este conto. Foi um exercício. Talvez tenha esquecido de muitos. E também é muito provável que vocês estejam aqui. MUITO MESMO. Há tantas pessoas quanto as partes que vivem em mim. Procure-se aqui, deixe seu nome e identifique-se com os fragmentos CITADOS nos comentários, verei o quão oracular posso ser.

___________________________________________

Estávamos lá. Nos encarando. Você cultivava seu orgulho e eu minha fé no desastre.

Não era tão fácil quanto apertar botões do acaso e aguardar algo chegar, era apenas algumas metas pessimistas chegando. Era suicídio parcelado. Você me falou que eu era um errático. Eu lhe respondi que você já tinha tomado a pílula da consciência. Consciência traz iluminação, não felicidade. São coisas distintas.

O soluço de morte que nos venderam tinha nomes bem definidos, mas a única coisa que eu conseguia pensar era sobre problemas que eram só seus, só seus. Visitar terapeutas nos finais de semana, apertar parafusos nos intervalos e avaliar quem era você entre tudo isto.

Quando você consumia demais eu lhe pedi para parar. Você continou por orgulho. Apesar de sua inteligência emocional avançada, você era um pouco xiita.

Odiava interpelações, por que era uma viva. Racional demais para eu amar. E muito arriscada para eu prosseguir em minha auto-flagelação. Você era estranha.

Em alguns momentos eu me sentia centrado como um espírito de um mosteiro. Isso no entanto, não me fazia feliz. Álcool era mais apropriado para eu me esquecer da política de auto-destruição inconsciente que eu encomendei há alguns dias atrás.

E mesmo assim, as coisas iam queimando ao nosso redor e eu assistia o par de valetes esvaírem-se em fogueiras frente aos possíveis e impossíveis desejos, liberais e liberados, eram desejos que nos consumiam. Era a sinceridade que nos consumia.

Deste parágrafo em diante eu só pensava em você. Verdadeiramente, em você. Por que só você correspondia às minhas tristes idealizações.

E doía. Doía tão rápido e intensamente quanto meus acasos, quanto meus casos, que eu costumeiramente ia chafurdando em minha lama emocional. Por isso me evitavam.

Mesmo sob as pupilas, a luz perspassava meus sonhos. Eu tinha grandes desafios, grandes desejos e grandes abismos por caminhar.

Abri a janela, por meras conveniências gramaticais; era um estilo próprio. Outra corrida e eu chegaria no alto das estrelas.

Amanhã sobreviverei como todos vocês, apesar do que, não há idade para morrer ou viver sob o céu ou o brilho de estrelas que cartesianamente já estão mortas.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Da Reader Digest Colections

"A insônia pode ter causas orgânicas e psíquicas. Pesquisas apontam a produção inadequada de serotonina pelo organismo e o estresse provocado pelo desgaste quotidiano ou por situações-limite como causas mais importantes."

-Há. Fala sério. Onde está lendo isto?

- Numa reader digest.. seleções...

- Reader digest! É claro...! Este tipo de lixo é vendido em clínicas de eutanásia e assinada por aspirantes a suicidas... você deveria se envergonhar...

- Isso é muito consolador. Você já tomou chá preto?

- Chá-preto? Em uma semana ruim. Achei que conseguiria trocar a vodka por essa bosta, mas não foi possível a longo prazo, expirou Vasili a fumaça.

Enquanto a ruiva ia marcando o jogo de palavras cruzadas sob a luz furtada que iluminava o carpete da mesa de sinuca, Vasili ia simulando aproximações sinuosas, tomava tragos de cerveja, e parecia rabugento, mas estava feliz por passar aquele final de semana com a ruiva, esbanjando serotonina, trocando suor, saliva, e deixando-se seduzir por toda a imagem de vida selvagem e uma "freak" cidadania urbana que ambos se esmeraravam a construir.

Tempos bons.

Sentado no sofá, pensava que não havia muito sentido em permanecer por mais tempo na espelunca que ele chamava de lar, de templo.

A ruiva se foi. Eu já encomendei meu recomeço, e parte deste lugar está infestado de pó de estrela vermelho. Não é justo.

O fantasma da ruiva ainda caminhava por entre os quartos, enquanto Vasili lutava para não deixar a idade mascarar sua covardia.

- Você é auto-destrutivo.

-O que disse
Anatole?

- Auto-destrutivo. Não como um masoquista. Mas você clama por auto-destruição.

-Sério
? Perguntou nos dias de melhores ingenuidades.

-Sério.

Anatole, profuso e confuso Anatole, mestre das retiradas estratégicas, fundamentalmente uma boa companhia, mas um homem que não sabia usar pontos e vírgulas, ou era muito seco ou demasiadamente esquivo, normalmente contrariando o que a situação exigia, certamente.

-Estou com problemas de respiração Vasili.

-Como assim? Rinite?

- Não sei, não consegui entrar no banco semana passada. Travei na porta giratória. Passei mal. Não foi algo como a claustrofobia, por que mesmo após caminhar uns 50 metros até a estação do metrô, eu não consegui parar de respirar.

- Fume charutos. Resolverão seu problema.

Foi grosseiro o comentário dos charutos, mas eu estava tentando animar o velho "Tole". Ele ria das piores situações. Por que chegaria a fazer como a ruiva, sumir
?

Sinto saudades daquele puto.

Sinto amplas saudades como o mesmo brincava com a ruiva. Era um trio perfeito. Mas por que diabos ele resolveu amá-la. Eram problemas demais. A situação não permitia naquele momento um maldito caso de amor livre. Era arriscado e perigoso demais.

Um karma. Nós tentamos Tole... tentamos...

Abriu a geladeira, só haviam cervejas, uma tônica pela metade e umas maçãs desintegrando-se na gaveta inferior.

- Pela metade. Você faz as coisas pela metade Anatole.

- E o que isso tem haver com ser auto-destrutivo me diga
?

Ah... tem haver, escapou Vasili usando o abridor com destreza. Você não se formou, jamais terminou nenhum de seus, quantos mesmo
?, treze livros?, e além de tudo escuta meus cds de jazz pela metade.

Isso não é verdade... russo maldito.., protestou Anatole, com um pseudo-banho de cerveja no casaco marrom de Vasili.

- Sabe Anatole...

- Diz merda.

- A vida é algo muito esquisito. Um grande banco de dados de clichês.

- Aliás, pegue outra cerveja que hoje eu vou tentar dormir.

- Eu juro. Pensar enloquece.


quarta-feira, 20 de junho de 2007

Fechado para balanço


Por um tempo a definir.







A definir.

Caminha, não pára


Empreendi um novo rumo
Cataclisma emocional comedido
Um novo rumo
Sem teus baques, obrigado
Não haveriam meus caminhos
Apenas uma cadeira
Plantada no meio da sala

domingo, 17 de junho de 2007

"Se Não posso dançar não é minha revolução." (Emma Goldman)


Três pedras nas mãos. E ela caminhou por entre os armazéns do cais do porto pedindo por um encontro.

Estava cheia desse machismo, dessa agressividade dos símios, dos brutais machos envaidecidos por um pedaço de músculo entre as pernas. Se algum deles se atrevesse, já saberia o que fazer. Iria apedrejá-lo até a morte. Revidando as brutais agressões das mulheres muçulmanas condenadas por adultério.

Mas depois de quinze minutos, achou que era um morte muito brutal. Só mataria por legítima defesa. E foi assim que pensou durante os próximos minutos.

Caminhou com a raiva entre os dentes. Que mundo machista! Como era viver em meio à opressão de gênero, à ditadura do hormônio masculino, que lixo era pensar que o capital tinha sexo, sexo masculino, patriarcal, opressor, desigual, mantenedor muito além das estruturas de classe, mas das estruturas cotidianas de desigualdade.

Apedrejar alguém era medieval. Lembrou-se disto quando relacionou tal ato com o fato do machismo, do patriarcado ser medieval.

Raspara o cabelo para escapar do estereótipo feminino, mas até onde foi? Até onde foi, se queria apenas ser ela própria?

Ao caminhar, sentiu pena de um mundo que a obrigava a modificar sua essência por meio da antítese. Um estalo surgira. Não precisava explicitar a antítese. Bastava ser apenas ela. Chega de antíteses construídas exatamente para dividir. Dividir para conquistar. Não precisava disto.

"A rebeldia não está na imagem, está em meu sangue, em meu coração".

E por que tentou se adaptar a uma antítese construída pelas classes dominantes? Um estereótipo?

Serei apenas eu. Gritarei aleluia em tom de deboche! Aos padres! Aos "curas", aos conservadores de plantão emitirei sonoras risadas, sonoros sorrisos!

Aos que me pedirem castidade, os acusarei de estupro hormonal. Algo está errado no mundo.

Às revistas que suplicam por substituir o opressor masculino pelo feminino denunciarei-as, ridiculizarei-as. Opressores ou opressoras... De que me importa? São todos iguais!

O amor era livre até criarem servas e escravas, servos e escravos. Até criarem latifundiários e camponeses, patrões e operários.

A maior greve da história, a grande greve de 17 foi feita por mulheres. Na linha de frente, nas ocupações, nos despejos, no primeiro de maio, na guerra civil espanhola, na denúncia da opressão leninista/ stalinista na rússia, pelos direitos, sempre estão lá! Mulheres!

O amor é um pégasus. Ele voa sobre uma lua que pede por permanência.

O amor é algo recíproco. Algo que pede por contribuição! Por apoio e amor mútuo!

As pedras estão no bolso, mas só serão usadas quando a besta-fera machista ousar levantar-se.

Um golpe de ironia e sarcasmo. Uma dose de realidade e diálogo podem convencer muito mais do que pedras. As pedras são necessárias. Rochas, sólidas como princípios. Terei a inteligência para usá-las em momentos certos. Cada arma para seu momento.

O ponto de ônibus chegou. Não citarei o machismo da linguagem. Linguagem exclusiva.

Deixo para depois. Por enquanto há uma lua feminina clamando por permanência.

Farei ela ficar no céu agora. Sem pedras desta vez. Argumentos me bastam.




sábado, 16 de junho de 2007

Retrospectos

Fazendo um retrospecto, percebi que 90% dos últimos posts tem haver com a ruiva e que este assunto já deve ter saturado a minha legião de meia dúzia de leitores. Porém antes disto, eu já tinha me saturado de escrever sobre ela também. Não que eu tenha cansado de escrever sobre isso. O fato é que os últimos textos foram medíocres, pensando da forma mais utilitarista que eu posso pensar. E se a dor não produz algo belo poéticamente, ela não serve, recicle-a.

Mudemos então, a partir desta constatação a fonte da criação. Ruiva, desculpe, você caiu do cavalo, não me incentiva a ponto de conseguir escrever coisas tão belas. Sei que você vai me dizer que isso é culpa da minha inabilidade poética, tudo bem, eu posso até aceitar este argumento a princípio, mas é o combustível o que faz com que o poeta/escritor/fingidor consiga fazer algo de que valha a pena ser lembrado.

Portanto, a dor da ruiva já expirou. Prazo de validade esgotado. É a poesia que precede a dor, não o contrário. A poesia é mais importante. Portanto, se a dor não produz algo de tão interessante assim, sofra de outra forma!

Algo como o que falou o grande Fernando Pessoa:

"Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se.
E se ele me disser que o seu figado sofre com isso respondo: o que é o seu figado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto." (Fernando Pessoa)

Estou sendo sarcástico é claro. É bom ter alguns momentos de lucidez.

Mais legal ainda seria ser cult, isso daria uma dor de cabeça de verdade.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O Desabafo de Anatole

..
A RUIVA EXISTE CARALHO!!!!

Ela existe!!!!

Hahahahahaassahahahaa..

Bêbado, vodka, nada.

Amanhã ruiva talvez eu lhe veja. Talvez. Eu não gosto de lhe ver sempre. Nem gosto de escrever isso aqui e muito menos poucos gostam de ler esta porcaria. O fato é que no mundo dos normais. pouca coisa foge da rotina. Há a vodka. Hoje eu bebi muita vodka e pensei em me afastar de muita coisa. Por que quando eu tento dormir eu sinto dificuldade de me entregar aos sonhos. Eu me sinto um merda quando eu choro por você, por que há muitos racionais gritando aleluia por aí. E não há nada muito novo. Por que eu só escrevo sobre você e as pessoas que lêem isso aqui, no caso eu e minha multidão de vozes mais um algoritmo que soma mais 1 no final da linha estão realmente entediados com tanta falta de criatividade. Os poetas são fingidores. Eu não sou poeta e muito menos fingidor. Querem criatividade? Contratem publicitários. Por aqui só há um ócio criminoso reclamando fama.

Eu me programava antigamente. Agora eu me sigo pelos instintos. Está difícil permanecer como uma linha constante se eu nem consigo pensar direito sobre tudo isto. Estou me adaptando. Em um processo de adaptação desprezívelmente anti-poético.

Há um eletromagnetismo nisto tudo e uma lua pedindo por permanência. Não há como colocar colheres em equilíbrio nisto tudo. O que era novo agora espalha-se pútridamente pelo chão, pela terra. É um adubo novo. Um adubo novo. Parte do meu coração fechou-se como adubo.

Tudo é meio jargão. O sofrimento é algo tão comum, que já semeou metade deste latifúndio. Nem saberemos quem está realmente falando a verdade. É patético demais. Você sabe disto.

Não precisa provar o que sente. Só deslize e queime alguns ícones vez ou outra; chegamos então no final da totalidade.

Totalidade eu usei para lhe impressionar. Brincadeira. Não há uso. Apenas problemas mal resolvidos. Eu te amo. Quantas garrafas de vodka terei de beber para convencer este duende que corre em frente a mim?

A vodka é uma invenção russa. Ainda bem que você não é. Você é alemã. Consulados malditos.

Há metade de mim espalhado pelo quarto. Não dói tanto quanto aparenta doer. Mas faz todo o teatro parecer mais viral do que realmente é. Há parte do meu coração espalhado no que escrevi. Poucos ligam. Dinâmica homo-sapiens. Pedir esmolas emocionais é contrário tudo o que eu acredito. E eu finjo sentir que isto é em suma, verdade.


Não há sentido. Apenas partes espalhadas como disse anteriormente.

Prefiro acabar ruiva.

Mas por favor: fale isso para meu coração.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Da inteligência do cotidiano

Já faziam três dias que ele não conseguia sonhar direito. Muito menos dormir. Levantou da cama e tateou a mesinha de mogno. Achou as chaves da casa e duas latas de cerveja antes de pegar os cigarros. Sentou na cama, sacou o isqueiro e acendeu-os vislumbrando a janela. Pensou o quão suja estava, e o quão suja era toda aquela pós-modernidade pútrida que o visitava naquele ambiente tão falseado. O mundo não era tão pós-moderno assim. Bastava acordar às sete da manhã e ir comprar pão, que veria o quão clássico era tudo aquilo. Os sorrisos, o padeiro, as notas amassadas no caixa. Não havia muitos cigarros, nem músicas demodé e nem musas de cabelos vermelhos comprando pão naquele horário.

Mas ainda eram 3:40. Mais um sonho incompleto. Pegou a chave e ficou rodando-a, ignorando o tempo, a situação desconfortável. Resolveu levantar e tomar uma cerveja; fudido, fudido e meio, refletiu. Abriu o frigobar, pegou a penúltima lata, pensou que teria de comprar mais cervejas amanhã. Malditos supermercados, suas filas, seu ambiente de neón, sua maldita assepsia. Ambientes de plástico que não o agradavam. A imperfeição é parte do desastre, por que contê-la? Deixe que o caos fale por si e será agradável de certa forma.

Levantou e abriu a janela, que emitiu um ruído que lhe era agradável, talvez por isso não tenha pensado em ajeitar tudo aquilo. Debruçou-se e prosperou a fumar. Gostava da idéia de fazer situações absurdas em momento semânticamente contrários.

A rua estava vazia... mas havia um vulto esgueirando-se por entre as lixeiras da "Bread & Milk". Sim era uma padaria latino-americana. Americanizada. Ou melhor estadosunidensezada. Tudo igual.

Vestia um gorro engraçado, que lhe tapava as orelhas mas deixava seu cabelo grisalho à mostra.

O vulto fuçava algumas latas de lixo, mexia algo no bolso que Vasili não conseguia enxergar.

Continuou a observar a criatura noturna, e por um momento uma identificação fortíssima lhe acometeu: eram irmãos gemêos da mesma desgraça, em graus diferentes é claro.

"Ainda tenho minha cerveja, uma cama, e um quarto sujo, aliás essa mesa de mogno é um insulto. E esse quarto fede a mofo. " Pensou. Mas não posso trocá-la! Seria uma heresia com meu dia anti-pós-moderno(parecia bêbado).

E o que ele tem? Somos dois fudidos em graus diferentes. O mesmo mecanismo. É uma porra de um suicídio coletivo.

Tragava o cigarro e observava o homem remexer as latas de lixo, as caixas de papelão...

Talvez ele tenha sorte.

Não se sabe por que impulso, resolveu assobiar. O homem demorou a perceber o assobio. Tateou suas caixas de papelão como se ignorasse a suposta afronta. Por um momento demonstrou despreocupação e até mesmo ignorância perceptiva sobre o local exato do princípio do assobio.

Após a segunda ou terceira tragada do cigarro, surpreendentemente, caminhou com as mãos para dentro do paletó marrom, sim era marrom e agora dava para ver nítidamente um dos bolsos rasgados, poídos, e pegou uma outra caixa. Do outro lado da rua. Do lado do apart-hotel-pulgueiro em que Vasili encontrava-se instalado, e jogou uma guimba na calçada e olhando para baixo para enxergar o andarilho.

Deve estar pensando que estou querendo repreendê-lo...

Saiu da janela... Pegou mais uns cigarros, colocou no bolso, remexeu embaixo da cama a procura daquela garrafa de vodka russa que Anatole comprara no duty-free shopping em sua viagem, meio burguês, é verdade. Contradições. Parte da modernidade.

Abriu sua porta, o prédio calava-se, desceu as escadas rápidamente, estava frio, era um acaso estar de casaco. Abriu a porta... Caminhou até o portão destravou a fechadura... saiu... acendeu o cigarro... o homem ainda mexia nas caixas de papelão, desta vez num ritmo frenético, quase um trabalho fabril, de desmontar e guardar os pedaços num carrinho de supermercado enferrujado, do qual Vasili não tomara conhecimento desde a primeira visão.

Gaijin. Comentou alto.

Os olhos do andarilho fixaram-se com prontidão na figura de Vasili. Com uma ênfase especial na garrafa de vodka. Bebe comigo?

Ele continou caminhando no ritmo desmonte-caixa / encha o carrinho. Contudo por um momento interrompeu bruscamente a dança e resolveu encarar Vasili. Vodka?

Sim, Vodka.

Tem um cigarro? Perguntou.

Claro, tome, respondeu Vasili.

Está frio, resmungou acendendo o cigarro no isqueiro de metal de Vasili.

Sim... Frio... Mas não é como na Rússia...

Você é russo?

Não... Quer dizer... meio eslavo...

O homem riu. Uma risada roca, a simpatia brilhava nos seus olhos. Era uma boa companhia. Definitivamente uma boa companhia. Sua intuição falava assim e Vasili seguia sua intuição, por que normalmente dava certo.

Você mora aqui?

Moro por enquanto. Essa merda é um pulgueiro.

Ah rapaz, dá um pulo na sé. Lá tem pulgueiros melhores que esse.

Riu novamente... Um sorriso amarelo e uma risada rouca, forte, que abafava Vasili.

Sentaram e começaram a falar do mercado do papelão. Ele vendia, percorria a cidade, vendia, percorria a cidade. Era um ciclo eterno. Fabril. Da sua família, dos problemas, GRANDES problemas. Do governo, da polícia, da repressão, dos golpes, dos amigos mortos. Das drogas. As drogas da pós-modernidade.

Vasili ao contrário falara da ruiva metade do tempo, quão pequeneníssimo burguês tinha se tornado. Partes diferentes e semelhantes de um mesmo problema. No início achou que Gérson só queria a vodka russa. Mas ele era tão atencioso que o desconcertou; acabou que Vasili lhe deu cigarros e algum dinheiro para o almoço de amanhã.

Seus problemas lhe pareciam tão pequenos. Ínfimos. Existiam, mas eram pequenos.

Você tem problemas maiores que eu. Pensou. Não falou. Era óbvio demais. Falar... nem pensar!

Fumaram alguns cigarros. Não vá se perder por aí, apontou Vasili.

Pode deixar. E olha só Vazilo, tudo tem um propósito, quando não tem a gente inventa um cara...

Vasili gargalhou antes de fechar a portaria, e subiu as escadas. Caminhou até o apartamento, escutando o ranger das rodas do velho carrinho enferrujado de compras de Gérson, o "Fuligem". Gérson-fuligem... Parte das cinzas, parte deste mundinho pós-moderno, que tanto os nega, que tanto nos nega, afirmou.

Abriu a porta de casa(se é que poderia se chamar aquele little chiqueiro de casa) e fechou a janela, Gérson já tinha desaparecido na fuligem da noite. O pós-modernismo foi com ele. Teoria não há com barriga vazia, pensou.

E quando não houver um propósito. Invente um.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sirva seus servos

Eu adorava dormir com a ruiva. E olha que eu já dormi com muita gente. Mas a ruiva era realmente especial. Eu gostava de boa parte do metodismo dela quando ela estava com sono. Por que eu só via a ruiva metódica nesses momentos, quando ela dormia. E então deus falou que isso era bom, no sétimo dia, digo segundo mês. O meu deus é meio preguiçoso. Até para me ajudar. Foi por isso que virei ateu. Até o segundo ano do segundo grau. Depois resolvi ser um agnóstico espiritual por que sem dúvida nenhuma era muito mais charmoso.

Mas quando eu falo dormir, as pessoas relacionam com sexo. Não é isso. Não que o sexo com a ruiva tenha sido ruim. Pelo contrário. Era sublime. Mas não é disso o que eu falo. Falo de dormir, sonhar ao lado dela, com um pouco de pó de estrela na cabeça. Eu nunca soube o que é paixão própriamente.

Eu achava que era apaixonado por uma meia dúzia de pessoas. Eu me enganei. Fui em graus distintos. Mas que se foda a razão. Estar apaixonado é estar sem razão e que se fodam os racionais que vão analisar isso aqui da maneira mais chata possível. Eles(libertários ou não) só sabem ver as coisas por esse ângulo. Apaixonem-se e verão o que estou falando. Se nunca se apaixonaram não é problema meu, a paixão precede todas as ideologias.

A paixão faz você botar a porra da cabeça no travesseiro numa segunda-feira pós-feriado e faz você sentir falta da ruiva, mesmo lutando racionalmente para que isso não aconteça, mas você sente falta da ruiva, sente mesmo e tenta entender a porra dos mecanismos primitivos(??) que te fazem agir desta forma. Ela está lá, e às vezes visita seus sonhos. A paixão faz isso com você. E é pior que a carência. Muito mais, por que na carência, você joga seus doces emocionais avanço e qualquer cozinheira consegue agarrar os quitutes, mas a paixão não te dá oportunidade Não há muitas escolhas.

Eu gostava de ver a ruiva dormir, mas eu adorava mesmo assistir ela acordando. Era lindo!

O rosto que ela fazia, o cabelo desgrenhado, mas tão sexy, o esforço por permanecer sóbria, tudo isso me contagiava. Na verdade não consigo descrever exatamente, por que a paixão também faz isso com você, ela te faz ficar acordado até as 5 da manhã rodopiando com um caos dançarino dentro de si. Te faz escrever, escutar e reagir de maneiras que você não gostaria. Te faz.

É difícil, por que você não faz força, nem sentido. Quando escrever torna-se(te) difícil levanta-te no outro dia caralho!

Eu só queria que ela falasse comigo. Da forma que ela falava antes. Com seus cabelos vermelhos. Eu queria não estar passando por isso, que não-é-porra-nenhuma diante do sofrimento do mundo, global. Mas está aqui. É algo concreto.

Vou tentar dormir. Cobrir-me, e afundar-me em alguns abismos introspectivos. Talvez eles me salvem.

Sangue novo na praça!

A divulgação vale a pena. Isso aqui vai dar o que falar realmente. Pelo menos entre nós três...

http://dedoscruzados.blogspot.com/

Um pseudo-historiador, um pseudo-cientista social e um pseudo-psicólogo se reúnem para formar a escola deIsabel-furt(contemporânea da escolinha de Frankfurt do titio Adorno e Marcuse).

Algo de genial deve sair disso tudo. Afinal nossas cervejas sempre nos proporcionaram coisas proto-geniais. E algumas análises bem interessantes.

Voilá, que post arrogante.

domingo, 3 de junho de 2007

Dos seus Abismos Oceânicos

E eu fui só até o limite. Por que até o limite é uma coisa boa disse no primeiro dia. Antes de ultrapassá-lo eu consegui respirar forte. E estava na direção correta, rumo ao fim do oceano. Oceano de memórias, fragmentos. Eu nado em busca do horizonte , do horizonte de, da verdade. Mas o horizonte é infinito, infinito. Eu descubro após me cansar. O mar é azul, de longe parece verde. Parece estar verde.

Meu rosto está molhado de sol, de sal. Eu nado com o vermelho dos olhos, antes de pensar se voltar a superfície foi realmente uma boa idéia.

Eu sinto vontade de voltar ao fundo. Por que o fundo é reconfortante, apesar de desfocado e confuso como toda profundidade normalmente é.

A superfície não me encanta. São os oceanos, suas cavernas, sua escuridão, que me seduzem. Eu continuo a nadar, mais meus braços dóem. Vejo um barco contornar o horizonte. Eu grito. Agito braços, pernas, em vão. Está desfocado, longe da visão. As velas tem ligeiros traços amarelos, mas eu nunca saberei de verdade qual cor realmente é. Não importa. Eu observo sua trajetória, ele contorna o horizonte, o oceano e desaparece... Eu fico boiando. O sol tosta minha derme, não há mais esperança, apenas ilusão, algumas nuvens cobrem o astro-rei, rei do quê? Um rei sem súditos não é rei, é um vassalo corrupto.

Eu busco uma ilha. Mas não há nenhuma no horizonte. As nuvens cobrem o céu de piedade, e eu caço desenhos no alto, procuro padrões enquanto a noite não chega.

Eu me canso... As nuvens se enegrecem. A chuva cai. E com ela parte da superfície. A superfícia agita-se e eu resolvo deixar-me levar. Primeiro é a mente que decide. Os membros obedecem contraditóriamente a necessidade intríseca de sobreviver. É o instinto de conservação.

Eu bebo água salgada. Uma das mãos estica-se. O oceano vai me consumindo, me engolindo lentamente. A digestão é calma, tranquila. Eu afundo. A superfície torna-se cada vez mais distante. O sol desfoca-se pela lente da superfície, o sorriso é interno, a queda ao fundo, reconfortante. As trevas internas consomem-me, o fundo está mais próximo, o sol me dá adeus, as cavernas do desconhecido aguardam-me. Está mais escuro. Mais frio. E muito reconfortante...

sábado, 2 de junho de 2007

Do último sonho, do último porre

Sem poesias. Vamos aos fatos agora.

Tudo começou como um sonho. Vamos ao sonho:

Um acidente de ônibus. Micro-ônibus. O micro-ônibus tomba, as pessoas saem, ninguém se fere, eu estou fora, assisto a tudo. Meu pai vai chamar ajuda. Eu vejo um ambulância chegar atrasada, todos estão bem, ninguém se fere. Eu caminho. Vejo meu bolo de morango(*), mas (até) no sonho eu me confundo. É uma pessoa parecida(guarde este trecho iremos para a realidade com ele mais a frente), mas não é ela. Eu caminho. Fim da parte A.

Estou no prédio da minha faculdade(eu sinto que é, mas na verdade não é o prédio...).

Eu entro numa sala que está interditada. É o instituto de física. Eu abro a porta, invado o local. Todo o chão é de madeira, placas de madeira. Há um cômodo, com janelas, portas, todas lacradas com madeira, eu vou para outro cômodo, quando piso no chão deste cômodo algumas madeiras do chão rangem, quebram, eu quase caio lá embaixo e vejo que há um outro cômodo secreto debaixo deste piso desta sala. Tenho medo de cair, volto a outra sala do cômodo, abro algumas janelas, portas(na verdade elas se descortinam), vejo pessoas lá fora. A sensação é de estar num castelo. Tento fechar tais portas, tais janelas, mas elas não fecham. As madeiras que a escoram caem, nada se encaixa novamente no lugar. Eu volto para o ambiente dois, o ambiente onde o piso cai, e eu desco para o ambiente, me jogo pelo buraco criado no piso. E vou para outro lugar.

Um lugar secreto, nos subterrâneos da minha faculdade(ou seria da minha mente?).

Eu desco. Vou andando. É um galpão. Enorme. Ninguém. Eu me esgueiro pelas colunas que sustentam o teto, desco até o chão acho uma pequena escada, subo, e vejo um teto suspenso, um piso suspenso neste galpão, neste piso, milhões de brinquedos de criança(minha infância armazenada? escondida?), tem muitos bichos de pelúcia, em sacos plásticos, gigantes, eu me impressiono com tudo aquilo. Alguém está roubando a infância de alguém? Estão em bom estado. Mostram organização. A infância guardada, organizada, escondida. Dois duendes passam por mim. Não são duendes. Eu acho que são crianças, mas me lembro no sonho o trecho do poema do Nietzsche: "... este duende que corre entre vós...".

Não são duendes. Eu agarro um deles. São bonecos, bonecas de criança que andam, mexem os olhos, quando eu agarro um deles, ele(ou ela) simplesmente permanece parad@ como algo inanimado, mas o outro corre no meio do piso elevado do galpão. Duas pessoas neste momento passam na parte de baixo do galpão. Eu me escondo atrás da parede onde se escondem os brinquedos. Uma ruiva passa pelo galpão. Cabelos vermelhos longos e uma outra mulher que não me recordo a aparência. Um dos duendes joga um dos bichos de pelúcia nas duas mulheres, nas ruivas. Joga vários. Eu jogo também alguns eu acho. A ruiva e a outra mulher olham, ficam assustadas, procuram os autores do golpe. Correm... Eu pulo o tal muro. Corro atrás delas. Os duendes ficam. Eu corro atravesso o galpão para um lugar muito maior. Elas estão bem mais a frente, eu me lembro que tento alcançá-las para explicar que foram os duendes e não eu os que atiraram os bichos de pelúcia.

Enquanto eu corro em direção a elas, dois homens vem em direção a mim. Eles gritam, me avisam, "o que está fazendo", acho que vão me agredir, um mal entendido. Eu alcanço a ruiva, seguro ela, mas os dois homens, rapazes, vem em direção a mim. Eu explico, tento explicar tudo. Dou um mortal com o corpo para trás. Uns passos de capoeira, uma estrela no ar. E as coisas se explicam. Eles não me agridem.

Eu acordo. E só me lembro disso até agora.

Na realidade. Encontro uma ruiva. E um simulacro de ruiva(o trecho que eu pedi para guardar). As coisas vão se encaixando. A noite cai. Cai e eu fico sozinho, no ponto de ônibus. A falsa ruiva vai embora muito cedo. Ela não é tão ruiva quanto eu pensei. Estou vendo a ruiva em todos os lugares eu imaginei. E é verdade.

A noite não cai, desaba. A lua está bonita, apesar de tudo escuro. Ainda rolam algumas cervejas, uma música triste e uma plena capacidade de escrever isso tudo.

Aqui.


sexta-feira, 1 de junho de 2007

Das carcaças do desagravo

Maldito vinho seco. Chagas emocionais! Malditas sejam. Maldita seja a semiótica, a linguística e os professores de língua portuguesa. Maldito sejam os duendes de jardim e os onanistas intelectuais. E antes que eu transforme isso num pobre manifesto eu preciso partir para outros estágios da percepção. Depois do segundo gole é perfeito.

Teorize. Teorize seu merda. Teorize sobre suas, nossas, vossas, aftas emocionais! Teorize! Teorizar lhe dá uma robustez intelectual medíocre! Medíocre esté me entendendo? No natal você se lembra? No natal? O parto, a vitória e você lá, esparramado como se não ligasse para o amigo oculto, para a ceia, para o frango repleto de hormônios estatelado sobre a mesa seu niilista de merda! Seu pedaço de entulho poético mal acabado!

Quando crescer me chame para eu carregar seu caixão de neon; esdrúxulo perdido.

Continuar? Não? Diga alguma coisa. Como se arqueja e estrebucha como um símio, caricato, imitando o pai, a mãe e os parentes no dia de ação de graças. Mas graças ao que? Se não há similaridade no torto, no feio... Na conta não paga e no tropeção que derruba o rádio da mamãe.

Quando você dançar para o rádio novamente eu vou fazer café, servido? Servido seu filho da puta? Quer café? Tome café! Tome seu maldito! Tome! Vou esparramar café sobre sua corcunda maldita! Maldita! Como se regorzija, comendo empadas, pastéis e risolhes de deboche!

Eu te reconheceria há léguas de distância, léguas, com seu cheiro pútrido infeccionar nossa festa. Nossa família. Nossa honra, nossa tradição! Você é uma mácula sombria dentro de nossa árvore genealógica. Um pútrida, um espúrio! Um poço de fezes! Uma aberração sombria que insiste em manter-se vivo para nos atormentar! Canalha! Cachorro! Fedido! Ferrado! Judas! Mendigo! Tu é um abissal a procura de um buraco imundo! Chagas nojentas tu se alimenta! Atroz imundície tu representa, a procura de uma carcaça para destilar teus vermes corporais!!!

Morre maldito! Morre encarnação da desgraça, da desonra e da devassidão! Morre de vez!!!!!!

Só por que quebrei o aparelho de som da mamãe irmão?

É estrupício! SÓ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!