Caso amasse e amassasse a folha num surto impetuoso de vergonha, ainda um quase-bobo, recostado sem pressa no banco da praça, dispensaria as flores, e retomaria a escrita sem desistir, pois da janela e do ridículo só lhe cabiam eram poemas.
Enfiaria-se nos sebos da cidade, atrás do Neruda, um Neruda só para ela. Aquele de capa azul e de beijo de língua quando dado. Um Neruda com um tesão guardado na página dezessete, um Neruda com um sexo apressado, num quarto vazio, num vazio paulista, espreitado pelos possíveis voyeurs, um Neruda demasiadamente idealizado diga-se de passagem.
Mas convenhamos; o melhor Neruda que ele já leu.
Em dias de calor passearia pelo seu corpo com uma pedra de gelo, beijaria-a na nuca e por todo o corpo deslizaria sua volúpia já verão e tardia diante da primavera perdida. Apaixonariam-se, mútuamente, não só.
Ele pintaria; e pinta mal, mas dos elogios dela não escaparia. Pois não se escapa do amor, pois o amor mata e morre impiedosamente, e a neutralidade no amor é uma quimera feia, incapacitada e que não existe de verdade.
Ele pintaria o quarto todo, antes do aniversário dela, das trocas de anos, pintaria e mandaria cartões cuidadosamente recortados por ele, um tanto sem didática, mas convidaria-a a bailar entre os corações tortos que ele, o torto, resolveu desenhar e recortar, num sábado a noite sozinho, pensando e recortando ela própria, com a cartolina vermelha nas mãos e em seu coração.
Faria brigadeiro no sábado frio e ele nem gosta tanto de brigadeiro. Mas o roçar de corpos, o sorriso no apartamento do Catete e o próprio ritual despretensioso de caminharem juntos dentro do supermercado, um ritual inútil para as rotinas mas não para o amor, lhe convenciam que o brigadeiro era sim a melhor sobremesa do bairro, do estado, e do mundo.
Escreveria cartas, e com esmero, tentaria sempre surpreendê-la, por que é deste jeito que este homem funciona, é deste jeito que caminha sem olhar para as tragédias alheias sem desanimar, é deste jeito que ele produz sorrisos às duas, às três e às onze e cinquenta da manhã; quando ela acorda e se ajeita por entre seus cabelos negros, quando ela se ajeita e mordisca-o, e ele provocado, acaba atacando-a com declarações de amor em forma de cócegas.
Enfiaria-se nos sebos da cidade, atrás do Neruda, um Neruda só para ela. Aquele de capa azul e de beijo de língua quando dado. Um Neruda com um tesão guardado na página dezessete, um Neruda com um sexo apressado, num quarto vazio, num vazio paulista, espreitado pelos possíveis voyeurs, um Neruda demasiadamente idealizado diga-se de passagem.
Mas convenhamos; o melhor Neruda que ele já leu.
Em dias de calor passearia pelo seu corpo com uma pedra de gelo, beijaria-a na nuca e por todo o corpo deslizaria sua volúpia já verão e tardia diante da primavera perdida. Apaixonariam-se, mútuamente, não só.
Ele pintaria; e pinta mal, mas dos elogios dela não escaparia. Pois não se escapa do amor, pois o amor mata e morre impiedosamente, e a neutralidade no amor é uma quimera feia, incapacitada e que não existe de verdade.
Ele pintaria o quarto todo, antes do aniversário dela, das trocas de anos, pintaria e mandaria cartões cuidadosamente recortados por ele, um tanto sem didática, mas convidaria-a a bailar entre os corações tortos que ele, o torto, resolveu desenhar e recortar, num sábado a noite sozinho, pensando e recortando ela própria, com a cartolina vermelha nas mãos e em seu coração.
Faria brigadeiro no sábado frio e ele nem gosta tanto de brigadeiro. Mas o roçar de corpos, o sorriso no apartamento do Catete e o próprio ritual despretensioso de caminharem juntos dentro do supermercado, um ritual inútil para as rotinas mas não para o amor, lhe convenciam que o brigadeiro era sim a melhor sobremesa do bairro, do estado, e do mundo.
Escreveria cartas, e com esmero, tentaria sempre surpreendê-la, por que é deste jeito que este homem funciona, é deste jeito que caminha sem olhar para as tragédias alheias sem desanimar, é deste jeito que ele produz sorrisos às duas, às três e às onze e cinquenta da manhã; quando ela acorda e se ajeita por entre seus cabelos negros, quando ela se ajeita e mordisca-o, e ele provocado, acaba atacando-a com declarações de amor em forma de cócegas.
Ele esquivaria-se, e brincariam como duas crianças, antes do sexo, antes de cochilarem ao som daquela música francesa e antes de brigarem como duas crianças, apenas para saborearem o tempero da divergência e do ciúme, tolo ciúme.
Ele lembraria dela, uma, duas ou três vezes no instante decalcado do tempo, e no banho quando esquecesse, ela perguntaria o porquê daquele olhar tão distante, que distante dela apenas buscou em si mesmo uma outra forma mais criativa de agradá-la, e por fim de criar e recriá-la através de um sorriso lindo: era aí, exatamente neste ponto, que os dois se abraçariam por sob as gotas de água e fariam poesia apenas com os corpos.
E quando cansassem, apenas esgotariam suas próprias liberdades, apenas as esgotariam, e quando voltassem cheios de si próprios, beijariam os lábios, e caminhariam por entre os paralelepípedos de mãos dadas respondendo a terrível pergunta: "onde está o amor, onde está o amor?"
Dariam vexames, e vexames dos mais livres, por que costumavam ignorar parte do mundo enquanto estavam sozinhos consigo mesmos. E sorririam, adorariam-se sem possuir um ao outro, e assim recordariam seus melhores momentos da forma mais exigente possível: vivendo.
Ele faria, faria isto tudo. Faria sem pestanejar, faria sem enquadrá-la nos horizontes de expectativa ou nos passados que sobredeterminavam a vida dos frouxos ou dos temerosos. Faria isto tudo, amaria como uma dinamite, sem nenhum senão, sem nenhum porquê...
Amaria-a, assim como escreveu, amaria-a intensamente, se houvesse algo além do que ele próprio esculpia. Amaria intensamente e faria tudo como assim descreveu, se ela realmente existisse, esta personagem de conto, de sonho, da idealização.
Por enquanto, jogava gamão e escrevia, com a cerveja, a música francesa e a imaginação; fria como um arrabalde emocional; assim, sempre esquecido.
Por enquanto, jogava gamão e escrevia, com a cerveja, a música francesa e a imaginação; fria como um arrabalde emocional; assim, sempre esquecido.
8 comentários:
Linnnnnnnnndo, lindo-lindo, na maior e mais simples acepção da palavra. Thaís=)
Antes do fim eu pensei que vc voce tivesse mudado seu estilo. Achei cafona. Mas como sempre surpreendeu. O final não poderia ser obra de outro. Só sua.
Confesso que prefiro os contos que vc adicionou mais veneno e desgosto. Mas esse tb me agrada.
:) bjk
Este conto só deixou mais forte a sua versátilidade.Paranés!
piegas e cafona, mas delicioso.
E nem Jesus agradou todo mundo. rs
fantástico.
.noooooooossa.
Me agradou muito.
Postar um comentário