Abril é o mês! Nunca escrevi tanto! É o lodo da terapia subindo... hahahaha!
quarta-feira, 30 de abril de 2008
A arte do desesquecer
Lembrar é fácil. Desesquecer é difícil. Antes que apontem o erro, devo diferenciar. Esquecer pode ser até mais conveniente, mas não funciona.
A arte do desesquecimento nunca foi passada para os ocidentais.
É por isso que todos esquecem. Esquecem e recalcam monstros, alimentam-os no recanto mais escuro de suas almas e inconscientes de sua presença, nos momentos de comoção nacional, quando matam uma menina a pedradas ou um garoto classe média executa a família a golpe de machadinhas e o pilar da falsa normalidade da sociedade parece ruir, conseguem então, por acaso das notícias e dos jornais ensaguentados enxergar o lado obscuro com maior nitidez.
No entanto, desapercebidos de suas próprias constituições psíquicas, o inferno passa a tomar conta do outro e não de si mesmo. Expiando o mal do outro, expia-se o próprio e assim a sociedade cristã e capitalista, termos que para Cristo pareceriam-lhe contraditórios, caso decidisse andar pelas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro ou nos guetos de Gaza, próximo a Hebron, fecha seu próprio ciclo e nega o que sempre existiu em si mesma.
Na verdade, a arte do desesquecimento era uma arte relativamente difundida; e diziam os antigos gritos, que todo ser humano conseguia desesquecer, o que significava, reduzir a um ponto abstrato uma memória concreta e significava literalmente "apagar" e não "esconder".
Há muitas teorias, e não me alongarei sobre nenhuma, mas o desaparecimento do desesquecer se deu segundo os relatos mais confiáveis que tive, em uma tarde de sol forte, num continente que já fora chamado de Australis incógnito pelos mais ambiciosos.
Quando a civilização e as forças reais da coroa britânica chegaram, o evenenamento de crianças e mulheres com Arsênio tornou-se comum e a caça de animais era um diversão secundária comparada a caça de seres humanos. As mulheres violadas e as aldeias queimadas, deram lugar ao sequestro de crianças e ao trabalho semi-servil. Era Deus chegando ao lugar, na presença da senhora majestade da Inglaterra. Contudo, um velho aborígene, o mais velho ancião da tribo, resolveu guardar o maior segredo daquele continente perdido num vaso de barro.
Enquanto um grupo de britânicos, fuzilava os homens e pisoteava as mulheres, o velho escondeu o desesquecimento, para que nenhum britânico revelasse aquela arte para o restante do globo...
E mesmo que todos tentassem esquecer aquelas atrocidades, elas ainda ficariam guardadas num lado escuro, dentro de todos nós.
A arte do desesquecimento nunca foi passada para os ocidentais.
É por isso que todos esquecem. Esquecem e recalcam monstros, alimentam-os no recanto mais escuro de suas almas e inconscientes de sua presença, nos momentos de comoção nacional, quando matam uma menina a pedradas ou um garoto classe média executa a família a golpe de machadinhas e o pilar da falsa normalidade da sociedade parece ruir, conseguem então, por acaso das notícias e dos jornais ensaguentados enxergar o lado obscuro com maior nitidez.
No entanto, desapercebidos de suas próprias constituições psíquicas, o inferno passa a tomar conta do outro e não de si mesmo. Expiando o mal do outro, expia-se o próprio e assim a sociedade cristã e capitalista, termos que para Cristo pareceriam-lhe contraditórios, caso decidisse andar pelas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro ou nos guetos de Gaza, próximo a Hebron, fecha seu próprio ciclo e nega o que sempre existiu em si mesma.
Na verdade, a arte do desesquecimento era uma arte relativamente difundida; e diziam os antigos gritos, que todo ser humano conseguia desesquecer, o que significava, reduzir a um ponto abstrato uma memória concreta e significava literalmente "apagar" e não "esconder".
Há muitas teorias, e não me alongarei sobre nenhuma, mas o desaparecimento do desesquecer se deu segundo os relatos mais confiáveis que tive, em uma tarde de sol forte, num continente que já fora chamado de Australis incógnito pelos mais ambiciosos.
Quando a civilização e as forças reais da coroa britânica chegaram, o evenenamento de crianças e mulheres com Arsênio tornou-se comum e a caça de animais era um diversão secundária comparada a caça de seres humanos. As mulheres violadas e as aldeias queimadas, deram lugar ao sequestro de crianças e ao trabalho semi-servil. Era Deus chegando ao lugar, na presença da senhora majestade da Inglaterra. Contudo, um velho aborígene, o mais velho ancião da tribo, resolveu guardar o maior segredo daquele continente perdido num vaso de barro.
Enquanto um grupo de britânicos, fuzilava os homens e pisoteava as mulheres, o velho escondeu o desesquecimento, para que nenhum britânico revelasse aquela arte para o restante do globo...
E mesmo que todos tentassem esquecer aquelas atrocidades, elas ainda ficariam guardadas num lado escuro, dentro de todos nós.
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segunda-feira, 28 de abril de 2008
Miguéis
Miguel gostava de transbordar todo singular em plural.
Quando lhe desejavam boa noite, ele respondia, boas noites, por que uma noite boa, não é de modo algum, suficiente para uma vida toda.
Seus amigos já conheciam esta obsessão, e não o incomodavam mais; decerto estranhavam, quando ao no final das conversas, diziam "vá com deus", Miguel os corrigia, por que um deus só, nunca é suficiente; e era melhor ter a proteção de vários, para agradar todas as religiões, mesmo as panteístas.
Para alguns, Miguel aparentaria ser um sistêmico, mas quando sentava no bar, jamais se contentava em pedir uma cerveja, quando diziam, "traz uma cerveja" aos garçons, ele imediatamente os corrigia, e aí a noite acabava como sempre, estatelada na singularidade de seus amigos e na pluralidade de Miguel.
Uma vez num comício quase apanhou; político safado não; políticos safados; e foi o suficiente para arrancar aplausos populares, latas voando e pescotapas de leões de chácara contratados por excusos e distintos candidatos.
Era tão polêmico quão, quando em sua habitual conversa de esquina com seus amigos, afirmava que não havia um ser humano e sim seres humanos.
Miguel e sua pluralidade, era motivo, digo, motivos de discussões, mas permanecia sobretudo singular quando lhe afirmavam que "tinham que lutar sozinhos por uma vida melhor para si", e aí afirmava sem vacilos, que tínhamos que lutar juntos por vidas melhores para todos."
Quando lhe desejavam boa noite, ele respondia, boas noites, por que uma noite boa, não é de modo algum, suficiente para uma vida toda.
Seus amigos já conheciam esta obsessão, e não o incomodavam mais; decerto estranhavam, quando ao no final das conversas, diziam "vá com deus", Miguel os corrigia, por que um deus só, nunca é suficiente; e era melhor ter a proteção de vários, para agradar todas as religiões, mesmo as panteístas.
Para alguns, Miguel aparentaria ser um sistêmico, mas quando sentava no bar, jamais se contentava em pedir uma cerveja, quando diziam, "traz uma cerveja" aos garçons, ele imediatamente os corrigia, e aí a noite acabava como sempre, estatelada na singularidade de seus amigos e na pluralidade de Miguel.
Uma vez num comício quase apanhou; político safado não; políticos safados; e foi o suficiente para arrancar aplausos populares, latas voando e pescotapas de leões de chácara contratados por excusos e distintos candidatos.
Era tão polêmico quão, quando em sua habitual conversa de esquina com seus amigos, afirmava que não havia um ser humano e sim seres humanos.
Miguel e sua pluralidade, era motivo, digo, motivos de discussões, mas permanecia sobretudo singular quando lhe afirmavam que "tinham que lutar sozinhos por uma vida melhor para si", e aí afirmava sem vacilos, que tínhamos que lutar juntos por vidas melhores para todos."
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domingo, 27 de abril de 2008
Matheus e o criador
Matheus, um jovem sem dúvida não tão normal, mas não tão diferente, em uma de suas viagens oníricas e sempre tinha grandes e enebriantes viagens oníricas, topou com o todo criador em suas andanças.
Inicialmente perguntou: Por que você me fode tanto?!
- Mentira! Eu não te fodo tanto! Você é um origami.
Acordou com um mau humor naquele dia que o café não fora habilidoso o suficiente para desarmar.
Nas semanas subsequentes, no transcorrer dos sonhos, outros avisos apareceram de maneira esporádica.
- Você é um origami, mas tem gente que é um cubo mágico!
- Cubo mágico? Como você pode ser tão mal com as pessoas... Eu achava que você existia para nos proteger!
- Do que você tá reclamando seu maldito origami! Gritou deus, com insatisfação, brandindo seu cajado, sua barba branca e seu saiote ridículo. Mais uma destas e eu te transformo num jogo de armar entendeu?! Num jogo de armar!
Eram oito e trinta e cinco, a irritação com o todo poderoso durou cerca de doze horas, até o fim do expediente; ensacava livros num departamento de exportação de uma editora, aquele filho da puta era realmente um puto de um cínico! Mortes, destruição, assassinato em série! Se deus existia, e ele viu que o puto existia, era sim um belo de um hipócrita!
Resolvera anotar o que iria dizer para jeová. Anotou antes de deitar, já vestido de pijama, desta vez o velho iria escutar uma daquelas.
- Me explica essa parada de origami. E como assim jogo de armar? Qual a diferença?
- Olha só garoto, você é um origami, eu só te dobro quando eu to entediado, mas apesar dos vincos eu ainda consigo te dobrar infinitamente. Pensa bem, tem gente que eu faço jogo de armar, castelo de cartas... Já brincou de pega vareta?
- Já.
- Pois é. Então, imagina ser desconstruído quase toda a semana? Deve ser uma bosta não?
- Muito... mas que deus é você que brinca de poesia com as pessoas! Caralho, você deveria nos ajudar! Salvar o mundo!
- Poesia? Literatura é só para o final de semana meu garoto... Você já ficou entediado, como na fila de espera em clínicas dentárias?
- Sim, várias vezes.
- E já digamos, jogou algum passatempo ridículo nestes momentos?
- Como sudoku ou palavras cruzadas?
- Exato. Já?
- Já. Muitas vezes.
Pois então. Digamos que você pertence a esta categoria.
Inicialmente perguntou: Por que você me fode tanto?!
- Mentira! Eu não te fodo tanto! Você é um origami.
Acordou com um mau humor naquele dia que o café não fora habilidoso o suficiente para desarmar.
Nas semanas subsequentes, no transcorrer dos sonhos, outros avisos apareceram de maneira esporádica.
- Você é um origami, mas tem gente que é um cubo mágico!
- Cubo mágico? Como você pode ser tão mal com as pessoas... Eu achava que você existia para nos proteger!
- Do que você tá reclamando seu maldito origami! Gritou deus, com insatisfação, brandindo seu cajado, sua barba branca e seu saiote ridículo. Mais uma destas e eu te transformo num jogo de armar entendeu?! Num jogo de armar!
Eram oito e trinta e cinco, a irritação com o todo poderoso durou cerca de doze horas, até o fim do expediente; ensacava livros num departamento de exportação de uma editora, aquele filho da puta era realmente um puto de um cínico! Mortes, destruição, assassinato em série! Se deus existia, e ele viu que o puto existia, era sim um belo de um hipócrita!
Resolvera anotar o que iria dizer para jeová. Anotou antes de deitar, já vestido de pijama, desta vez o velho iria escutar uma daquelas.
- Me explica essa parada de origami. E como assim jogo de armar? Qual a diferença?
- Olha só garoto, você é um origami, eu só te dobro quando eu to entediado, mas apesar dos vincos eu ainda consigo te dobrar infinitamente. Pensa bem, tem gente que eu faço jogo de armar, castelo de cartas... Já brincou de pega vareta?
- Já.
- Pois é. Então, imagina ser desconstruído quase toda a semana? Deve ser uma bosta não?
- Muito... mas que deus é você que brinca de poesia com as pessoas! Caralho, você deveria nos ajudar! Salvar o mundo!
- Poesia? Literatura é só para o final de semana meu garoto... Você já ficou entediado, como na fila de espera em clínicas dentárias?
- Sim, várias vezes.
- E já digamos, jogou algum passatempo ridículo nestes momentos?
- Como sudoku ou palavras cruzadas?
- Exato. Já?
- Já. Muitas vezes.
Pois então. Digamos que você pertence a esta categoria.
sábado, 26 de abril de 2008
Diferença
Gil queria ser diferente. Tornou-se igual à Roberto.
Roberto apreciava bandas britânicas e gostava de usar roupas com losangos vermelhos.
Roberto era igual a todo mundo, nunca desejou ser diferente. Seu mundo era Júlia, Ricardo e Elaine. Júlia, Ricardo e Elaine também gostavam de losangos vermelhos e bandas britânicas.
Gil agora, fazia parte do time; dos diferentes.
Roberto apreciava bandas britânicas e gostava de usar roupas com losangos vermelhos.
Roberto era igual a todo mundo, nunca desejou ser diferente. Seu mundo era Júlia, Ricardo e Elaine. Júlia, Ricardo e Elaine também gostavam de losangos vermelhos e bandas britânicas.
Gil agora, fazia parte do time; dos diferentes.
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sexta-feira, 25 de abril de 2008
Passivo espectador
Meu quarto, geladeira e fogão podem até não produzir minhas idéias.
Mas que me dão tranquilidade para parí-las isto sim dão. E como.
E como bastante, há noite, claro...
Desta tranquilidade podem vir as coisas mais abstratas, absurdas, abscenas; posso a partir daí simplesmente me acomodar com o controle nas mãos; o da tv, não da vida e por fim renunciar aos problemas com um toque de teclas.
Acessar a informação com um clique e descobrir por exemplo, que a abscena é um dos neologismos possíveis de serem gerados a partir do casamento do senhor obsceno com a senhora barriga cheia.
Mas que me dão tranquilidade para parí-las isto sim dão. E como.
E como bastante, há noite, claro...
Desta tranquilidade podem vir as coisas mais abstratas, absurdas, abscenas; posso a partir daí simplesmente me acomodar com o controle nas mãos; o da tv, não da vida e por fim renunciar aos problemas com um toque de teclas.
Acessar a informação com um clique e descobrir por exemplo, que a abscena é um dos neologismos possíveis de serem gerados a partir do casamento do senhor obsceno com a senhora barriga cheia.
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quinta-feira, 24 de abril de 2008
Endocardite Infecciosa
Quando morri de Endocardite Infecciosa
E que enterro lindo; com flores e lágrimas abundantes...
Perguntaram-me apenas no óbito
Se a doença se escrevia com letra maiúscula ou não.
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O desleixado
Não queria beber mas acabei bebendo.
Não queria sofrer mas acabei sofrendo.
Não queria pegar o ônibus errado, mas acabei pegando.
Não queria voltar pra casa sóbrio e acabei voltando.
Não queria fazer listas do que eu não queria fazer.
E eu consigo sentir apenas a minha respiração?
Não queria sofrer mas acabei sofrendo.
Não queria pegar o ônibus errado, mas acabei pegando.
Não queria voltar pra casa sóbrio e acabei voltando.
Não queria fazer listas do que eu não queria fazer.
E eu consigo sentir apenas a minha respiração?
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quarta-feira, 23 de abril de 2008
Idéias na madrugada
As idéias fervilham e me mantém acordado às quatro da manhã. Lembro-me de uma discussão típica dos cursos de graduação: A idéia é determinada pelas condições econômicas? Ou subsiste independente destas?
Enquanto procuram o ovo ou a galinha, eu me sinto um privilegiado, por que ser acordado por idéias ainda é muito melhor do que pela fome.
Enquanto procuram o ovo ou a galinha, eu me sinto um privilegiado, por que ser acordado por idéias ainda é muito melhor do que pela fome.
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Perguntas aos socialistas - parte I
Perguntei aos meus amigos socialistas, por que eles lutavam.
- Porque é a coisa certa a se fazer.
- Por que sem isto não viveria tranquilamente.
- Por que esta forma de organização social está profundamente equivocada.
- Por que entre o conformismo generalizado e a luta, escolhi a segunda.
Perguntei aos meus amigos socialistas, o que fariam depois da revolução, caso pudessem vivenciá-la e no mais geral respondiam: - Nunca parei para pensar nisto.
- Porque é a coisa certa a se fazer.
- Por que sem isto não viveria tranquilamente.
- Por que esta forma de organização social está profundamente equivocada.
- Por que entre o conformismo generalizado e a luta, escolhi a segunda.
Perguntei aos meus amigos socialistas, o que fariam depois da revolução, caso pudessem vivenciá-la e no mais geral respondiam: - Nunca parei para pensar nisto.
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terça-feira, 22 de abril de 2008
A assembléia I
Gastão falava com emoção. A sinceridade brilhava nos seus olhos, nos seus gestos, em sua voz. O chão de cimento batido, crespo abrigava o povo sentado, reunido; era sua vez de falar e todos ouviam com atenção. Fora das frágeis paredes de madeira, chuva, ladeira e ruas e vielas escuras: um bairro abandonado pelo deus das missas e das hipocrisias de final de semana, fazia frio, e aqueles homens e mulheres ali, debatendo.
- É preciso que nos organizemos companheiros. Um passo após o outro; e em breve uma longa jornada.
Não acreditavam em partidos; seus políticos eram alvos dos intervalos e das piadas. Marcaram outra assembléia, nos apertos de mão, esperança.
Todos ouviam Gastão com atenção, por que acreditavam em si próprios e era sua vez de falar.
- É preciso que nos organizemos companheiros. Um passo após o outro; e em breve uma longa jornada.
Não acreditavam em partidos; seus políticos eram alvos dos intervalos e das piadas. Marcaram outra assembléia, nos apertos de mão, esperança.
Todos ouviam Gastão com atenção, por que acreditavam em si próprios e era sua vez de falar.
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As ruas do centro da cidade - II
O tédio invade a face infantil de um filho de um vendedor ambulante. Sobre a banca, frutas, legumes e esperança. Há um aroma de carinho, em torno das frutas e da relação entre pai e filho. A cidade é paisagem, e aquela cena, a moldura.
Ninguém presta atenção nas molduras.
Ninguém presta atenção nas molduras.
As ruas do centro da cidade
No centro da cidade, à tarde, um homem dorme profundamente. Sua cama é um papelão, o seu travesseiro uma mochila, o seu quarto é o chão. Como consegue dormir nessa situação?
Na zona norte da cidade, a noite, eu me lembro da cena e não durmo.
Na zona norte da cidade, a noite, eu me lembro da cena e não durmo.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Revolver
Acendi a luz, só para ver as teclas da máquina de escrever; enquanto observava a nuvem esconder a lua, uma nuvem rosada como meu senso de auto-preservação, e surgiu em mim uma série de reflexões, reflexões não tão glamourosas, que por princípio preencheram parte do que eu desejava preencher, mas que na verdade, atentavam para a possibilidade desta ser uma noite muito original.
A luz parecia então suficiente; e foi assim,. que ignorei a lua e comecei a me concentrar na maldita máquina de escrever, e como um autômato incontrolável, perseguia cada tecla como se estivesse dominado pelo ódio, mas na verdade, apenas descarregara, parte da tensão acumulada, sobre um dia, ou dois, de luas, nuvens rosadas e princípios, em factíveis teclas de uma velha máquina de escrever.
E cá estava, fingindo equilíbrio, mas de certa maneira eu achava e sentia que estava realmente equilibrado. Eram quatro ou cinco da manhã, mas enquanto eu ajeitava o relógio biológico, e tentava escapar da insônia crônica que eu resolvi adotar como filha, parte, um pequena parcela de mim, infrigia as regras préviamente estabelecidas e resolvera recordar, recordar com a extremidade dos pulmões ou o fôlego dado aos poetas e vencidos.
Eu não podia mais fantasiar minha atual situação. O que eu queria era apenas esperar, esperar como todos os ansiolíticos aguardam algum tempo para agirem. Gostaria de esperar e saber realmente o que iria acontecer daqui para frente.
Por conta resolvi apenas desesperar-me em lembranças; em pedaços de investigação amnesíaca.
Por fim, transpareço uma calma e sernidade, que ainda, eu disse ainda, não são minhas...
A luz parecia então suficiente; e foi assim,. que ignorei a lua e comecei a me concentrar na maldita máquina de escrever, e como um autômato incontrolável, perseguia cada tecla como se estivesse dominado pelo ódio, mas na verdade, apenas descarregara, parte da tensão acumulada, sobre um dia, ou dois, de luas, nuvens rosadas e princípios, em factíveis teclas de uma velha máquina de escrever.
E cá estava, fingindo equilíbrio, mas de certa maneira eu achava e sentia que estava realmente equilibrado. Eram quatro ou cinco da manhã, mas enquanto eu ajeitava o relógio biológico, e tentava escapar da insônia crônica que eu resolvi adotar como filha, parte, um pequena parcela de mim, infrigia as regras préviamente estabelecidas e resolvera recordar, recordar com a extremidade dos pulmões ou o fôlego dado aos poetas e vencidos.
Eu não podia mais fantasiar minha atual situação. O que eu queria era apenas esperar, esperar como todos os ansiolíticos aguardam algum tempo para agirem. Gostaria de esperar e saber realmente o que iria acontecer daqui para frente.
Por conta resolvi apenas desesperar-me em lembranças; em pedaços de investigação amnesíaca.
Por fim, transpareço uma calma e sernidade, que ainda, eu disse ainda, não são minhas...
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Fugazes amores de verão
E como se não bastasse o que restou
Você me tomou em tuas dúvidas
Tomou e levou, parte do que podia
Ainda, ser distribuído a outras
A Outrém caberia apenas
Confeccionar desculpas
Mas você foi além...
E afogou parte da esperança
Nas pausas para o jantar
Havia envelopes coloridos, beijos no canto da boca
E livros do Neruda no entremeio das férias
Mas você decidiu fazer jus aos sentidos
E matar o sagrado no canto da boca
Conquanto no mundo cínico - os que acreditam
No inédito, pelo inédito morrerão
Eu não poderia saber bem
O quão ávido em tua presença
Esculpiria mais uma história de amor
Fracassada!
Da próxima vez...
E lembre-se bem, nunca há próxima vez
Deixe ao menos o dinheiro para a terapia!!!
Você me tomou em tuas dúvidas
Tomou e levou, parte do que podia
Ainda, ser distribuído a outras
A Outrém caberia apenas
Confeccionar desculpas
Mas você foi além...
E afogou parte da esperança
Nas pausas para o jantar
Havia envelopes coloridos, beijos no canto da boca
E livros do Neruda no entremeio das férias
Mas você decidiu fazer jus aos sentidos
E matar o sagrado no canto da boca
Conquanto no mundo cínico - os que acreditam
No inédito, pelo inédito morrerão
Eu não poderia saber bem
O quão ávido em tua presença
Esculpiria mais uma história de amor
Fracassada!
Da próxima vez...
E lembre-se bem, nunca há próxima vez
Deixe ao menos o dinheiro para a terapia!!!
quarta-feira, 16 de abril de 2008
terça-feira, 15 de abril de 2008
Projeto para este mês
Reunir todos os contos; compilar tudo. Corrigir e cortar gordura. Tentar escolher os menos piores.
Vai dar trabalho...
Vai dar trabalho...
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Inoportunas notícias
Semanas corridas. Atividades demasiadamente cansativas.
Há um conto velho sendo parido, com cheiro de novo... aguardem...
Há um conto velho sendo parido, com cheiro de novo... aguardem...
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domingo, 13 de abril de 2008
Verde e Vermelho para sempre
O vermelho (do latim vermillus – "vermezinho": a cochonilha) é a cor do sangue, sita no limite do visível do espectro luminoso (abaixo deste comprimento de ondas, o infravermelho, não é mais perceptível pela visão humana). Também é conhecida como escarlate ou encarnado. É cor-luz primária e cor-pigmento secundária, resultante da mistura de amarelo e magenta.
* O prefixo grego para vermelho é Eritro-.
O verde é uma cor-luz primária e uma cor-pigmento secundária composta pelo ciano e amarelo. Está aproximadamente na faixa de freqüência 550 nm do espectro de cores visíveis.
Verde também representa a luta no mundo de movimentos de proteção ao meio-ambiente.
Retirado da wikipedia.
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sábado, 12 de abril de 2008
Roberto Cardoso não acredita na raça humana
Falam que beber sozinho é ruim. Falam que beber sozinho é sinal de alcoolismo. Que só se bebe para socializar com outros humanóides.
Pois bem, meu nome é Roberto Cardoso. E eu não bebo para me socializar com ninguém.
Até por que não acredito mais na raça humana. Tem gente que me chama de niilista. Mas eu também não gosto de filosofia. Pau no cú dos filósofos. E aí me chamam de sexista.
Alguns falam que eu sou misantropo. Fui procurar no dicionário, era algo que dizia alguma coisa parecida com o que eu sou.
Na verdade, eu não gosto muito de beber com ninguém, por que as pessoas resolvem ser o que elas verdadeiramente são, e um pouco de hipocrisia é bom, por que ninguém que se preza, se revela com cinco cervejas na mesa.
Gosto do mistério, do não descoberto. Na verdade... Eu não gosto é de perder tempo tentando revelar ninguém.
Eu prefiro me enclausurar no meu próprio caminho. Gosto sim, de tomar cerveja sozinho, por que só tenho de aturar eu mesmo; e isso já é suficiente demais...
É suficiente, por que eu sinceramente não me adapto. E tem gente que diz que todo mundo se adapta. Mas estas pessoas, estes humanóides, não se recordam de que tem gente que não se adapta nunca. Falam para eu ter esperança e dizem que a esperança é a última a morrer.
Mas ninguém disse que ela não morre! A esperança morre merda, demora a morrer, mas morre!
E aí, só me sobram sete cervejas, num final de semana perdido. Perdido para quem? Para quê?
Meu nome é Roberto Cardoso. E eu não bebo para me socializar com ninguém.
Pois bem, meu nome é Roberto Cardoso. E eu não bebo para me socializar com ninguém.
Até por que não acredito mais na raça humana. Tem gente que me chama de niilista. Mas eu também não gosto de filosofia. Pau no cú dos filósofos. E aí me chamam de sexista.
Alguns falam que eu sou misantropo. Fui procurar no dicionário, era algo que dizia alguma coisa parecida com o que eu sou.
Na verdade, eu não gosto muito de beber com ninguém, por que as pessoas resolvem ser o que elas verdadeiramente são, e um pouco de hipocrisia é bom, por que ninguém que se preza, se revela com cinco cervejas na mesa.
Gosto do mistério, do não descoberto. Na verdade... Eu não gosto é de perder tempo tentando revelar ninguém.
Eu prefiro me enclausurar no meu próprio caminho. Gosto sim, de tomar cerveja sozinho, por que só tenho de aturar eu mesmo; e isso já é suficiente demais...
É suficiente, por que eu sinceramente não me adapto. E tem gente que diz que todo mundo se adapta. Mas estas pessoas, estes humanóides, não se recordam de que tem gente que não se adapta nunca. Falam para eu ter esperança e dizem que a esperança é a última a morrer.
Mas ninguém disse que ela não morre! A esperança morre merda, demora a morrer, mas morre!
E aí, só me sobram sete cervejas, num final de semana perdido. Perdido para quem? Para quê?
Meu nome é Roberto Cardoso. E eu não bebo para me socializar com ninguém.
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sexta-feira, 11 de abril de 2008
Escutando chorinho e tomando café
Sou um filho do cansaço. Mas quem diria, um cansaço feliz. Por que quando a mente está forte, o cansaço físico é um amigo, não um persecutor.
Andei contando todas as atividades que eu faço. Me assustei. São muitas, em alguns momentos mais do que consigo suportar. Como consigo fazer tanta coisa? Nem eu sei. Talvez vontade. Vontade de me mudar, de mudar o mundo. De não parar jamais. De lutar contra a engrenagem devoradora de gente até o último segundo. Não há como me resignar frente ao cinismo ou a comodidade. Olho para a frente e só vejo terra batida.
É preciso construir... trilhar caminhos... aglutinar-me.
Mas quando a cabeça vai mal, o corpo padece. E sim, há um preço a se pagar. O jeito é tentar me equilibrar. E saber quando golpear e como golpear. Afetivamente há uma lacuna não preenchida.
Mas descobri nos pequenos prazeres cotidianos um mundo que se descortinou. E isso por enquanto me basta.
Viver é delicioso. É como tomar uma chícara de café durante o tempo frio. É como refrescar-se com um banho de cachoeira no calor. E é isto, e é muito mais do que posso metaforizar. E é um dia após o outro.
Tomar decisões não é difícil. Difícil é cumprí-las. Mas atualmente ando fiel às minhas promessas.
Até demasiadamente.
Preciso absorver menos. Vá com calma. Há muito a fazer, muito a construir, mas... relaxe... você está acelerado.
A mente ocupada mata o passado, mas também pode matar o presente. Eis o futuro! Passou, ninguém viu! Estou mais feliz. Mais do que semana passada. Ainda não durmo muito bem. Um dia eu chego lá...
Sonhos e projetos à vista. Vire o barco à esquerda timoneiro, cuidado com aquela pedra, desvie do coral, ajeite a proa, sim, vamos velejar. E espero que semana que vem eu consiga tirar alguns dias para me curtir.
Esvaziar-se é preciso.
obs: depois de algumas noites mal dormidas, algumas catarses interiores e sistematizações de memórias pretéritas(não tão pretéritas - ainda sinto-as reverberarem tão próximas como a dois dias e meio de viagem), em breve sairá um pseudo-conto sobre isto. Meu senso de humor voltou.
Andei contando todas as atividades que eu faço. Me assustei. São muitas, em alguns momentos mais do que consigo suportar. Como consigo fazer tanta coisa? Nem eu sei. Talvez vontade. Vontade de me mudar, de mudar o mundo. De não parar jamais. De lutar contra a engrenagem devoradora de gente até o último segundo. Não há como me resignar frente ao cinismo ou a comodidade. Olho para a frente e só vejo terra batida.
É preciso construir... trilhar caminhos... aglutinar-me.
Mas quando a cabeça vai mal, o corpo padece. E sim, há um preço a se pagar. O jeito é tentar me equilibrar. E saber quando golpear e como golpear. Afetivamente há uma lacuna não preenchida.
Mas descobri nos pequenos prazeres cotidianos um mundo que se descortinou. E isso por enquanto me basta.
Viver é delicioso. É como tomar uma chícara de café durante o tempo frio. É como refrescar-se com um banho de cachoeira no calor. E é isto, e é muito mais do que posso metaforizar. E é um dia após o outro.
Tomar decisões não é difícil. Difícil é cumprí-las. Mas atualmente ando fiel às minhas promessas.
Até demasiadamente.
Preciso absorver menos. Vá com calma. Há muito a fazer, muito a construir, mas... relaxe... você está acelerado.
A mente ocupada mata o passado, mas também pode matar o presente. Eis o futuro! Passou, ninguém viu! Estou mais feliz. Mais do que semana passada. Ainda não durmo muito bem. Um dia eu chego lá...
Sonhos e projetos à vista. Vire o barco à esquerda timoneiro, cuidado com aquela pedra, desvie do coral, ajeite a proa, sim, vamos velejar. E espero que semana que vem eu consiga tirar alguns dias para me curtir.
Esvaziar-se é preciso.
obs: depois de algumas noites mal dormidas, algumas catarses interiores e sistematizações de memórias pretéritas(não tão pretéritas - ainda sinto-as reverberarem tão próximas como a dois dias e meio de viagem), em breve sairá um pseudo-conto sobre isto. Meu senso de humor voltou.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Um doido e alguns pingos de chuva
Falta mistério ao mundo.
Hoje fiquei observando os pingos de chuva enquanto voltava para casa, há dias chove, e há dias comecei a observar os pingos de chuva. Mantive-me fascinado: como era belo aquele momento, trivial, mas único. O legal é que você olha de longe da luz, e vê os pingos caindo perpendicularmente ao solo ou como seguissem uma trajetória reta, mas não... se você se aproximar e ficar embaixo da luz do poste, e esticar bem o pescoço para cima, olhando os pingos de baixo para cima o máximo que puder, vai ver que os pingos caem aleatóriamente, sambam e flutuam ao sabor do vento sem nenhuma direção apenas caem.
É a aleatoriedade caótica daqueles milhares de pingos, que dá a falsa sensação de linearidade ou seria nosso olhar cartesiano que está condicionado? Reflexões filosóficas a parte, pouco importa.
Pelo senso comum, por um breve momento de chuva, sou um doido varrido. Pois é. Cada um constrói os conceitos que quiser. Aliás realmente é preciso classificar a loucura, enquadrá-la; isto protege a identidade, o mundo dado(ou como diriam em linguagem mais acadêmica "reificado") e não ameaça nossas certezas. Convicções arraigadas necessitam ser mantidas. Abismos são perigosos, dúvidas mais ainda! E um doido olhando para a chuva? Por que se comporta assim? Por que usa o cabelo daquele jeito? Por que é diferente de mim? E por que eu sou diferente dele? Por que age daquela maneira? Por que me deixa com dúvidas acerca do meu comportamento, do que eu sou, da minha identidade tão pronta, tão acabada? Por que não segue a corrente? Por que vai no fluxo errado? E eu? Não! Preciso me proteger! Estou no fluxo CERTO, ele é o doido!
Como as pessoas estão pragmáticas, objetivas, perdendo-se em coisas óbvias...
Acabou o mistério de se redescobrir o mundo. E aliás, para quê? Se já está tudo PRETENSAMENTE descoberto... com a internet, com a tv a cabo e a revista de final de semana eu já sei tudo o que se passa... não há um pequeno grande mundo a se descobrir, repleto de detalhes, de infinitos que vão se descortinando diante o cotidiano. Há apenas fórmulas, explicações técnicas, expicações científicas, a modernidade negando o desconhecido apenas por capricho e oni(pre)potência.
Estão negando o mistério, matando-o. Falta mistério, falta sensação...
E bem que eu queria compartilhar mais pingos de chuvas, mas no momento, os relacionamentos(das pretensas amizades aos pretensos relacionamentos amorosos) parecem mais acordos empresariais do que própriamente relacionamentos(avalia-se os riscos ou os lucros e ponto final chega-se a um acordo).
Que cada um cave um pouco mais de mistério em si mesmo e no mundo e talvez daí possamos começar a compartilhar pingos de chuva.
Hoje fiquei observando os pingos de chuva enquanto voltava para casa, há dias chove, e há dias comecei a observar os pingos de chuva. Mantive-me fascinado: como era belo aquele momento, trivial, mas único. O legal é que você olha de longe da luz, e vê os pingos caindo perpendicularmente ao solo ou como seguissem uma trajetória reta, mas não... se você se aproximar e ficar embaixo da luz do poste, e esticar bem o pescoço para cima, olhando os pingos de baixo para cima o máximo que puder, vai ver que os pingos caem aleatóriamente, sambam e flutuam ao sabor do vento sem nenhuma direção apenas caem.
É a aleatoriedade caótica daqueles milhares de pingos, que dá a falsa sensação de linearidade ou seria nosso olhar cartesiano que está condicionado? Reflexões filosóficas a parte, pouco importa.
Pelo senso comum, por um breve momento de chuva, sou um doido varrido. Pois é. Cada um constrói os conceitos que quiser. Aliás realmente é preciso classificar a loucura, enquadrá-la; isto protege a identidade, o mundo dado(ou como diriam em linguagem mais acadêmica "reificado") e não ameaça nossas certezas. Convicções arraigadas necessitam ser mantidas. Abismos são perigosos, dúvidas mais ainda! E um doido olhando para a chuva? Por que se comporta assim? Por que usa o cabelo daquele jeito? Por que é diferente de mim? E por que eu sou diferente dele? Por que age daquela maneira? Por que me deixa com dúvidas acerca do meu comportamento, do que eu sou, da minha identidade tão pronta, tão acabada? Por que não segue a corrente? Por que vai no fluxo errado? E eu? Não! Preciso me proteger! Estou no fluxo CERTO, ele é o doido!
Como as pessoas estão pragmáticas, objetivas, perdendo-se em coisas óbvias...
Acabou o mistério de se redescobrir o mundo. E aliás, para quê? Se já está tudo PRETENSAMENTE descoberto... com a internet, com a tv a cabo e a revista de final de semana eu já sei tudo o que se passa... não há um pequeno grande mundo a se descobrir, repleto de detalhes, de infinitos que vão se descortinando diante o cotidiano. Há apenas fórmulas, explicações técnicas, expicações científicas, a modernidade negando o desconhecido apenas por capricho e oni(pre)potência.
Estão negando o mistério, matando-o. Falta mistério, falta sensação...
E bem que eu queria compartilhar mais pingos de chuvas, mas no momento, os relacionamentos(das pretensas amizades aos pretensos relacionamentos amorosos) parecem mais acordos empresariais do que própriamente relacionamentos(avalia-se os riscos ou os lucros e ponto final chega-se a um acordo).
Que cada um cave um pouco mais de mistério em si mesmo e no mundo e talvez daí possamos começar a compartilhar pingos de chuva.
domingo, 6 de abril de 2008
O dionisíaco por Eduardo Galeano
"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca."
(Eduardo Galeano)
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca."
(Eduardo Galeano)
sábado, 5 de abril de 2008
Tudo é quente em Nurenberg
Havia pedaços de papéis espalhados sobre a mesa, alguém andara brincando com alguma tesoura, ou enviando cartas-ameaças anônimas para alguém. Sobrava insônia e faltava prazer, como denunciavam as pilhas de livros não-lidos, as folhas e folhas corridas meio-dobradas, meio jogadas, que ele teria de revisar. Quem mandou. Ser escritor não é fácil. Um escritor simplório e medíocre, pior ainda. Ocupar-se de revisões e outras burocracias linguísticas não era muito o que sonhara para si, mas era o que tinha de mais concreto naquele momento. E por um breve instante, resolvera abandonar o concreto de suas obrigações para tentar dormir, em vão. Acordado, seria mais útil reconstruindo o concreto, mas preferiu ficar no abstrato e tentou(ensaiou), uns contos concretistas que sua inconsciência guardara dentro de si durante duas semanas.
A maioria calava-se. Alguns poucos, diziam que escrevia muito. E menos ainda, elogiavam. Kafka morreu pobre, Jesus foi crucificado e uns outros tantos, faleceram com tuberculose.
O mal da vez era a dengue hemorrágica, nem de doenças literárias podia morrer. Estava malfadado ao sucesso neste sentido. E que bom...
Assim poderia repetir fórmulas gastas, reinventar neologismos inacabados, e reunir setenta e seis palavras num domingo à noite repleto de nostalgia.
Fazia parte. E ele sabia que seu único remédio(além do álcool), era catarsiar-se, destrinchar-se, cortar nervo por nervo, alimentar com sangue, suor, com tesão e ataques aleatórios no sistema nervoso, as letras. Letras sim, geridas num útero de angústia, e para angústia mal-curada receita-se escrever de cinco a seis vezes por quinzena; abandonando os solstícios, que são datas específicamente relevantes para falsos ensaios acadêmicos.
No outono pediam-lhe mais vigor. No verão, enchiam-lhe de desprezo. Fazia parte da vitrine. E uma vitrine tosca; parecia mais calmo. Não sabia realmente se pelos dois dedos de whisky, ou pela escrita intempestuosa e libertina que se permitiu a fazer às quatro e seis da manhã.
Xingava e falava sozinho, com seus cigarros e com seu cinzeiro; abafava o grito endossado pelas linhas pretéritas com a tensão de suas próprias reservas. As reservas impostas à escrita, incentivavam-o a escrever sem reservas. Plagiador do bom não se nota.
E passa assim. Desapercebido, como uma esquina de carros virados em algum maio de Paris.
Resolveu imprimir uma apostila aos poucos, lia todos os dias antes de dormir. Imprimia algumas páginas, lia um pouco, dormia. No dia seguinte, fazia a mesma coisa. Era como cozinhar. Nunca sabia realmente qual era o diâmetro exato de sua fome; por letras ou por alimento.
Então, pensava, hoje serão dez, amanhã talvez vinte. Às vezes lia noventa por cento. Mas frequentemente ia até o final; odiava desperdícios. Desperdícios de letras, de poemas, de recursos, e principalmente de afetos.
Era sim um balde de afeto desperdiçado. Normalmente desperdiçava pela amanhã. Quando acordava, jogava as duas mãos para os lados, como em um movimento pendular de um relógio. E a cama, prostava-se vazia. Vazia.
E ele não ligava. Apenas ria. Era um ritual engraçado. E sentia graça mesmo. Chegava a rir de si mesmo. E ele lá. Cá dizia. Cheio de afeto e amor para dar. Rimando só para se sentir mais importante.
E nada acontecia. Então, era afeto desperdiçado. E ria novamente, só para ter a certeza de que não perdera o bom humor; e sim, isto sim não tinha desperdiçado.
Às vezes fazia-se de sério, ou jurava a si mesmo que seu estado civil era: desinteressado. Mas a quem iria mentir? A si mesmo? Sim. E desta vez, com convicção. Pois sabia que uma mentira repetida mil vezes, virava verdade. Paráfrase aludida aos malditos nazistas. Que repetiam jargões, incessantemente e convenceram metade do mundo, com panzers e canhões diga-se de passagem.
Não sabia bem por que incluiu os nazistas no texto. Mas logo após, num instante tão curto como uma vírgula, recordou-se vívidamente: pela manhã, sim, aconteceu pela manhã, pois sim, escritores amadores acordam cedo de vez em quando, pela manhã ele já não suportava a si mesmo quanto mais o mundo.
Mas o mundo, o mundo ao seu redor(e os malditos nazistas), movia-se frenéticamente. Num desses flancos, em que a dignidade e o cinismo insistem em conviver juntos, esbarra com uma mulher, mãe e negra, segurando carinhosamente seu filho no colo, o mundo parecia não existir ao seu redor; estava sentada num meio fio sujo, numa rua suja, ao lado de pessoas limpas(sujas).
Nazistas...
Faz frio em Nurenberg. No Rio de Janeiro tudo é quente, exceto Nurenberg.
No tribunal de Nurenberg, a palavra era: diga que cumpriu ordens.
Na av. presidente vargas, são mais econômicos. Falam apenas com o corpo.
O mundo não fala. Está calado, vencido, perdeu a si próprio em seu próprio Füher mercado. E ainda havia amor. Diante da pobreza. Havia amor, de uma mãe, para um filho. Sim, havia amor, cercado, sufocado no entorno do tribunal de Nurenberg.
O fato é que este falso poeta despejou algumas lágrimas no canto esquerdo do olho e do ônibus...
Era um completo louco. Seu doido varrido! Quem chora por desconhecidos às dez da manhã?!
Pois é!
A maioria calava-se. Alguns poucos, diziam que escrevia muito. E menos ainda, elogiavam. Kafka morreu pobre, Jesus foi crucificado e uns outros tantos, faleceram com tuberculose.
O mal da vez era a dengue hemorrágica, nem de doenças literárias podia morrer. Estava malfadado ao sucesso neste sentido. E que bom...
Assim poderia repetir fórmulas gastas, reinventar neologismos inacabados, e reunir setenta e seis palavras num domingo à noite repleto de nostalgia.
Fazia parte. E ele sabia que seu único remédio(além do álcool), era catarsiar-se, destrinchar-se, cortar nervo por nervo, alimentar com sangue, suor, com tesão e ataques aleatórios no sistema nervoso, as letras. Letras sim, geridas num útero de angústia, e para angústia mal-curada receita-se escrever de cinco a seis vezes por quinzena; abandonando os solstícios, que são datas específicamente relevantes para falsos ensaios acadêmicos.
No outono pediam-lhe mais vigor. No verão, enchiam-lhe de desprezo. Fazia parte da vitrine. E uma vitrine tosca; parecia mais calmo. Não sabia realmente se pelos dois dedos de whisky, ou pela escrita intempestuosa e libertina que se permitiu a fazer às quatro e seis da manhã.
Xingava e falava sozinho, com seus cigarros e com seu cinzeiro; abafava o grito endossado pelas linhas pretéritas com a tensão de suas próprias reservas. As reservas impostas à escrita, incentivavam-o a escrever sem reservas. Plagiador do bom não se nota.
E passa assim. Desapercebido, como uma esquina de carros virados em algum maio de Paris.
Resolveu imprimir uma apostila aos poucos, lia todos os dias antes de dormir. Imprimia algumas páginas, lia um pouco, dormia. No dia seguinte, fazia a mesma coisa. Era como cozinhar. Nunca sabia realmente qual era o diâmetro exato de sua fome; por letras ou por alimento.
Então, pensava, hoje serão dez, amanhã talvez vinte. Às vezes lia noventa por cento. Mas frequentemente ia até o final; odiava desperdícios. Desperdícios de letras, de poemas, de recursos, e principalmente de afetos.
Era sim um balde de afeto desperdiçado. Normalmente desperdiçava pela amanhã. Quando acordava, jogava as duas mãos para os lados, como em um movimento pendular de um relógio. E a cama, prostava-se vazia. Vazia.
E ele não ligava. Apenas ria. Era um ritual engraçado. E sentia graça mesmo. Chegava a rir de si mesmo. E ele lá. Cá dizia. Cheio de afeto e amor para dar. Rimando só para se sentir mais importante.
E nada acontecia. Então, era afeto desperdiçado. E ria novamente, só para ter a certeza de que não perdera o bom humor; e sim, isto sim não tinha desperdiçado.
Às vezes fazia-se de sério, ou jurava a si mesmo que seu estado civil era: desinteressado. Mas a quem iria mentir? A si mesmo? Sim. E desta vez, com convicção. Pois sabia que uma mentira repetida mil vezes, virava verdade. Paráfrase aludida aos malditos nazistas. Que repetiam jargões, incessantemente e convenceram metade do mundo, com panzers e canhões diga-se de passagem.
Não sabia bem por que incluiu os nazistas no texto. Mas logo após, num instante tão curto como uma vírgula, recordou-se vívidamente: pela manhã, sim, aconteceu pela manhã, pois sim, escritores amadores acordam cedo de vez em quando, pela manhã ele já não suportava a si mesmo quanto mais o mundo.
Mas o mundo, o mundo ao seu redor(e os malditos nazistas), movia-se frenéticamente. Num desses flancos, em que a dignidade e o cinismo insistem em conviver juntos, esbarra com uma mulher, mãe e negra, segurando carinhosamente seu filho no colo, o mundo parecia não existir ao seu redor; estava sentada num meio fio sujo, numa rua suja, ao lado de pessoas limpas(sujas).
Nazistas...
Faz frio em Nurenberg. No Rio de Janeiro tudo é quente, exceto Nurenberg.
No tribunal de Nurenberg, a palavra era: diga que cumpriu ordens.
Na av. presidente vargas, são mais econômicos. Falam apenas com o corpo.
O mundo não fala. Está calado, vencido, perdeu a si próprio em seu próprio Füher mercado. E ainda havia amor. Diante da pobreza. Havia amor, de uma mãe, para um filho. Sim, havia amor, cercado, sufocado no entorno do tribunal de Nurenberg.
O fato é que este falso poeta despejou algumas lágrimas no canto esquerdo do olho e do ônibus...
Era um completo louco. Seu doido varrido! Quem chora por desconhecidos às dez da manhã?!
Pois é!
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quinta-feira, 3 de abril de 2008
Lúcia e Roberto: um casal agradável
(Roberto e Lúcia deitados num colchão, três da manhã, apartamento vazio no catete, geladeira com cerveja e alface.)
- Qual é a constituição do amor, da paixão Roberto?
- Não sei Lúcia, mas o tempo ajuda a constituí-los, não, este tempo nosso, mas um tempo bonito, um tempo subjetivado pelas nossas próprias sensações e emoções.
- Você me ama Roberto?
- Lúcia... minha querida Lúcia... se eu te dissesse que sim, seria óbvio demais... e o amor odeia obviedades...
- Você é um puto esquivo Roberto. Você me entendia.
- Lúcia...
- Diga.
- Busca uma cerveja pra mim.
- Vai pra merda Roberto. Que machismo.
- Machismo nada, eu busquei as últimas cinco, é sua vez.
- Estou falando do amor Roberto, tem como ser mais romântico?
- Claro.
- Então, pronto porra!, por que me pediu pra pegar mais cervejas?
- Por que preciso de mais romantismo. Pega mais pra mim por favor, tá atrás da garrafa de água amarela.
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quarta-feira, 2 de abril de 2008
Yin x Yang
Sempre acreditar. Olhar para frente. Encher os pulmões de utopia, cavar pequenas soluções. Usar o pessimismo para construir alternativas. Rezar não ao metafísico, mas ao equilíbrio. Juntar forças, reunir idéias, cavar soluções. Plantar e distribuir liberdade. Chorar, perder, recomeçar.
Sorrir. Reagir!
Ser contraditório faz parte, não há vida sem contradição mas é na ação que há o maravilhoso desejo de mudança. E como dizem em 68, "Ser realista, exigir o impossível."
Sorrir. Reagir!
Ser contraditório faz parte, não há vida sem contradição mas é na ação que há o maravilhoso desejo de mudança. E como dizem em 68, "Ser realista, exigir o impossível."
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