terça-feira, 8 de abril de 2008

Um doido e alguns pingos de chuva

Falta mistério ao mundo.

Hoje fiquei observando os pingos de chuva enquanto voltava para casa, há dias chove, e há dias comecei a observar os pingos de chuva. Mantive-me fascinado: como era belo aquele momento, trivial, mas único. O legal é que você olha de longe da luz, e vê os pingos caindo perpendicularmente ao solo ou como seguissem uma trajetória reta, mas não... se você se aproximar e ficar embaixo da luz do poste, e esticar bem o pescoço para cima, olhando os pingos de baixo para cima o máximo que puder, vai ver que os pingos caem aleatóriamente, sambam e flutuam ao sabor do vento sem nenhuma direção apenas caem.

É a aleatoriedade caótica daqueles milhares de pingos, que dá a falsa sensação de linearidade ou seria nosso olhar cartesiano que está condicionado? Reflexões filosóficas a parte, pouco importa.

Pelo senso comum, por um breve momento de chuva, sou um doido varrido. Pois é. Cada um constrói os conceitos que quiser. Aliás realmente é preciso classificar a loucura, enquadrá-la; isto protege a identidade, o mundo dado(ou como diriam em linguagem mais acadêmica "reificado") e não ameaça nossas certezas. Convicções arraigadas necessitam ser mantidas. Abismos são perigosos, dúvidas mais ainda! E um doido olhando para a chuva? Por que se comporta assim? Por que usa o cabelo daquele jeito? Por que é diferente de mim? E por que eu sou diferente dele? Por que age daquela maneira? Por que me deixa com dúvidas acerca do meu comportamento, do que eu sou, da minha identidade tão pronta, tão acabada? Por que não segue a corrente? Por que vai no fluxo errado? E eu? Não! Preciso me proteger! Estou no fluxo CERTO, ele é o doido!

Como as pessoas estão pragmáticas, objetivas, perdendo-se em coisas óbvias...

Acabou o mistério de se redescobrir o mundo. E aliás, para quê? Se já está tudo PRETENSAMENTE descoberto... com a internet, com a tv a cabo e a revista de final de semana eu já sei tudo o que se passa... não há um pequeno grande mundo a se descobrir, repleto de detalhes, de infinitos que vão se descortinando diante o cotidiano. Há apenas fórmulas, explicações técnicas, expicações científicas, a modernidade negando o desconhecido apenas por capricho e oni(pre)potência.

Estão negando o mistério, matando-o. Falta mistério, falta sensação...

E bem que eu queria compartilhar mais pingos de chuvas, mas no momento, os relacionamentos(das pretensas amizades aos pretensos relacionamentos amorosos) parecem mais acordos empresariais do que própriamente relacionamentos(avalia-se os riscos ou os lucros e ponto final chega-se a um acordo).

Que cada um cave um pouco mais de mistério em si mesmo e no mundo e talvez daí possamos começar a compartilhar pingos de chuva.

Um comentário:

Anônimo disse...

O caos pode ser a resposta.
Por falta de descobertas exteriores, buscamos "descobertas" interiores que muitas vezes não passam de criação de nossas mentes.