Às vezes lhe batia uma tristeza. Não era bem tristeza e não era muito específico. Deveria ter um outro nome para uma tristeza coletiva. Coletiva é, por que aflige a todos. E de certo modo também individual, por que se aflige a todos, está sim incluído. Abandonou a aula de lógica booleana e resolveu concentrar-se na chuva, uma chuva fina, dirigia, e odiava dirigir, enquanto o pára-brisa e aquele movimento contínuo lhe provocava uma pré-tensão, algo que iria explodir a qualquer momento, que o obrigava a tomar medidas sinceras e inertes para esconder o futuro momento de angústia. Resolveu desembaçar o pára-brisa com uma flanela velha, mas a chuva, e a pré-tensão, já quase tensão neste momento, aumentava; algo o obrigava a parar. Mas aonde? Era um br longa, mal tinha um acostamento, o mato e as cercas dominavam a paisagem. Bem vindo ao brasil pensou. Terra de latifúndios. Latifúndios de miséria. Miséria física e espiritual.
Mesmo atordoado, suas lembranças críticas tentavam trazê-lo ao chão: era inútil. Enfrentava-se, acelerava o carro, passava a marcha, mas não era ele que guiava a si mesmo, o carro não o levava, o carro levava um dilema, digladiando-se internamente, uma luta contínua, um homem a beira de um abismo que tinha apenas como fundo uma música clichê dos anos 90 e uma longa, uma longa e previsível estrada. Resolveu parar. Inventou uns seis motivos diferentes para fazer isso, mas no final já tinha abandonado as razões: "Que se foda. - pensou"
Saiu do carro. Abriu a porta, respirou fundo, não aguentava mais, a pressão tornava-se insuportável. O barulho da chuva tornara-se mais nítido. Nenhum carro a vista, ninguém, apenas mato alto, mato molhado, como sua roupa, sua calça jeans, sua vida, derrapando numa estrada previsível, desejava apenas uma curva, um caminho diferente, antes que o motor esquentasse.
Completamente molhado ergueu as mãos para cima num gesto patético de integração com a natureza. "Jogando toneladas de carbono por duzentos kilômetros, não há como falar em retorno ao primitivo - refletiu."
Tirara a jaqueta, apoiara em cima do banco, atravessou a estrada para o outro lado, desceu o acostamento, mas não atrevera-se a enfentar o mato, voltou ao carro. Acelerou molhado, completamente molhado, acelerou mais, e encontrou um velho ponto de ônibus, de madeira, uma meia choupana improvisada, com um recuo perfeito para encostar o carro por detrás e se secar ou molhar-se ainda mais.
Chutou uma lata abandonada na beira da estrada. Largou o carro. Largou o ponto. Caminhou sozinho, não fazia sentido, não aquilo não era racional, andou, o carro foi diminuíndo, vez ou outra olhava para trás(lembrava-se de uma parábola da bíblia, a do deus sanguinário, que mataria viajantes que olhassem para trás - zombou de deus)... Começou a rir, um riso descontrolado, fervendo histeria, o carro já sumira no horizonte, pela frente estrada, cimento, estrada...
Depois do terceiro relampejar, veio o choro, um choro desassistido, um choro veemente, firme, um choro honesto que não pedia licença! Chorou, entrou em prantos, a chuva caía, ela não ligava. As lágrimas, as gotas, o cabelo, a camisa molhada, e a lama próximo ao asfalto, formavam um todo. Ele já não se importava mais com as dúvidas.
Era o seu próprio destino.
Mesmo atordoado, suas lembranças críticas tentavam trazê-lo ao chão: era inútil. Enfrentava-se, acelerava o carro, passava a marcha, mas não era ele que guiava a si mesmo, o carro não o levava, o carro levava um dilema, digladiando-se internamente, uma luta contínua, um homem a beira de um abismo que tinha apenas como fundo uma música clichê dos anos 90 e uma longa, uma longa e previsível estrada. Resolveu parar. Inventou uns seis motivos diferentes para fazer isso, mas no final já tinha abandonado as razões: "Que se foda. - pensou"
Saiu do carro. Abriu a porta, respirou fundo, não aguentava mais, a pressão tornava-se insuportável. O barulho da chuva tornara-se mais nítido. Nenhum carro a vista, ninguém, apenas mato alto, mato molhado, como sua roupa, sua calça jeans, sua vida, derrapando numa estrada previsível, desejava apenas uma curva, um caminho diferente, antes que o motor esquentasse.
Completamente molhado ergueu as mãos para cima num gesto patético de integração com a natureza. "Jogando toneladas de carbono por duzentos kilômetros, não há como falar em retorno ao primitivo - refletiu."
Tirara a jaqueta, apoiara em cima do banco, atravessou a estrada para o outro lado, desceu o acostamento, mas não atrevera-se a enfentar o mato, voltou ao carro. Acelerou molhado, completamente molhado, acelerou mais, e encontrou um velho ponto de ônibus, de madeira, uma meia choupana improvisada, com um recuo perfeito para encostar o carro por detrás e se secar ou molhar-se ainda mais.
Chutou uma lata abandonada na beira da estrada. Largou o carro. Largou o ponto. Caminhou sozinho, não fazia sentido, não aquilo não era racional, andou, o carro foi diminuíndo, vez ou outra olhava para trás(lembrava-se de uma parábola da bíblia, a do deus sanguinário, que mataria viajantes que olhassem para trás - zombou de deus)... Começou a rir, um riso descontrolado, fervendo histeria, o carro já sumira no horizonte, pela frente estrada, cimento, estrada...
Depois do terceiro relampejar, veio o choro, um choro desassistido, um choro veemente, firme, um choro honesto que não pedia licença! Chorou, entrou em prantos, a chuva caía, ela não ligava. As lágrimas, as gotas, o cabelo, a camisa molhada, e a lama próximo ao asfalto, formavam um todo. Ele já não se importava mais com as dúvidas.
Era o seu próprio destino.
Um comentário:
Gostei, muito libertário.
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