Vasilli, pobre Vasilli, perdido entre as fendas das ruas, costumava a demorar mais do que quinze minutos compreendendo seu tolo papel no jogo. Vasilli, pobre Vasilli, esgueirando-se como quem súbitamente começasse um jogo de gato e rato pelas ruas do centro da cidade, onde na verdade, desempenhava ambas as funções. Era um predador de si mesmo, mas não percebia, e preferia ter de se forçar a meditar uma ou duas vezes por semana, ou participar de um campeonato de sinuca mal sucedido para entender definitivamente que as questões colocadas estavam em torno de suas parcas percepções. Percepções que se confundiam dentre este insistente jogo de imaginação ativa que deixara levar-se. Levava-se como quem carrega um mosaico à espera do manual de instruções; sim, mas outrora enganado podia habituar-se a repetir as mesmas palavras de encanto que o preenchiam, mas desta vez não, desta vez, Vasilli, o bobo Vasilli, sabia, tinha real ciência de que seu mosaico(como todos os mosaicos) não tinha quaisquer manuais de instrução.
Caixas herméticas o sufocavam, e vez ou outra percebia a expressão alheia em algumas faces mais receptivas, quase uma égide de conforto, um conforto subjetivamente deslocado do tempo, mas que inevitávelmente lhe trazia um espelho de si mesmo, emoldurado nos transeuntes intuitivos; descartáveis amizades de diálogos corporais que se confrontavam no espaço da urbe, que se encontravamem algum momento, sem necessáriamente compartilharem (ou perderem) tempo para com as habituais estradas que levam a estes momentos intrísecos.
Esforçava-se para construir, com verdadeiro esmero, um caminho habituável, honesto, e por que não dizer, cantarolar, trovejar uma historieta encantadora, um mito que perspassasse sua tola percepção finita e temporalmente situada, determinada talvez pelas condições históricas(talvez - afirmava a Anatole com um cigarro e sarcasmo entre os dentes, talvez Anatole...) e que conseguisse dar conta de seu sentimento (poder-se-ia chamar de megalomaníaco - se não fosse seu hábito disciplinar de manter seu ego devidamente aquietado) tão peculiar.
Mas ele sabia, e soube bem, da última vez em que tentou se esconder por detrás de meia garrafa de vodka, que as opções estavam em aberto como quem queima haxixe no sábado a tarde, mas que aquietar algo não é exatamente o melhor meio de equilibrar-se por detrás de um gangorra dúbia, uma faca de dois gumes, um eclipse parcial, um copo meio cheio e meio vazio, que clamava não por uma necessidade súbita de exposição, mas sim de que verdadeiramente falando, e da maneira mais popular que encontrava: ou se usa calça de veludo ou se coloca a bunda de fora.
Não era simplesmente uma metáfora elaborada, do jeito que agradaria intelectuais pré-sorbonne, e muito menos demonstraria um gosto estético, um meta-discurso avançado, mas o fato é que entre a terceira e a quarta garfada de uma comida vegetariana desprezível, num dia chuvoso, meio nublado, meio londrino, Vasilli teve uma ligeira impressão de que havia um ponto em aberto, um baú de utilidades (e talvez de desgraças) que permanecia aguardando atenção.
Zaratrusta era mais honesto e muito mais efetivo em distribuir conselhos aos outros e a si mesmo, era por isso que Vasilli só lera até a página 83, por que sabia que não conseguiria conviver com alguém que pudesse dar melhores conselhos para si mesmo.
Quanto ao baú, a capacidade inerente de transformar vidas comuns em situações pretensamente mágicas era uma capacidade que poucos tinham, é verdade, mas em seu caso, aquela sensação de cinismo se avolumava com sua incapacidade constante de prover a rotina de pontos vívidos de tensão ou que se adequavam a imagem perturbada, beatnik, nietzschiana, morelliana que costumava a dar a si mesmo(e admitir isso era um ritual próprio dos escritores que admitia inferioridade perante alguns gênios).
Tentar o melhor é bom o suficiente, e ele sabia disto, tanto é que não se importava em coroar cinco ou seis palavras com acentos circunflexos e pontos de exclamação nos lugares errados, por que deveria se manter antes de tudo como um "espírito livre".
Sabia disto, mesmo esparramado a caminho de casa, largado num banco no assento traseiro de seu ônibus mais odiado, quando assistia a miséria de perto, assistia, por que quando as articulações permitiam, deixava-se envolver, e permitia-se avaliar sua própria miséria, espiritual, não tão excessiva, mas de certo modo conectada com as misérias materiais que envolviam aquele mundinho decadente, pós, pús, moderno, que costumeiramente treinava em odiar.
Voltara ao centro da cidade, para comprar aquela máquina de escrever que tanto desejara, uma dor de garganta o incomodava, incomodava também, não saber como fugir daquele circuito bairro-dormitório, centro da cidade, bairro-dormitório, também o incomodava não conseguir terminar satisfatóriamente os contos que iniciava.
Tocava um soul music interessante no rádio, seu humor já animara-se(era parte da tolice este procedimento padrão de resgate de auto-estima vasilliano), já podia acender aquele cigarro mentolado, escutar um Johnny Cash sem lembrar de pequenos desastres e por fim, conseguia retomar o assunto inicial que estava no início do conto, no início de seus passos no centro-circuito da cidade, e que ele jamais conseguia se lembrar.... Qual era mesmo? Espíritos livres... tstststs...
Caixas herméticas o sufocavam, e vez ou outra percebia a expressão alheia em algumas faces mais receptivas, quase uma égide de conforto, um conforto subjetivamente deslocado do tempo, mas que inevitávelmente lhe trazia um espelho de si mesmo, emoldurado nos transeuntes intuitivos; descartáveis amizades de diálogos corporais que se confrontavam no espaço da urbe, que se encontravamem algum momento, sem necessáriamente compartilharem (ou perderem) tempo para com as habituais estradas que levam a estes momentos intrísecos.
Esforçava-se para construir, com verdadeiro esmero, um caminho habituável, honesto, e por que não dizer, cantarolar, trovejar uma historieta encantadora, um mito que perspassasse sua tola percepção finita e temporalmente situada, determinada talvez pelas condições históricas(talvez - afirmava a Anatole com um cigarro e sarcasmo entre os dentes, talvez Anatole...) e que conseguisse dar conta de seu sentimento (poder-se-ia chamar de megalomaníaco - se não fosse seu hábito disciplinar de manter seu ego devidamente aquietado) tão peculiar.
Mas ele sabia, e soube bem, da última vez em que tentou se esconder por detrás de meia garrafa de vodka, que as opções estavam em aberto como quem queima haxixe no sábado a tarde, mas que aquietar algo não é exatamente o melhor meio de equilibrar-se por detrás de um gangorra dúbia, uma faca de dois gumes, um eclipse parcial, um copo meio cheio e meio vazio, que clamava não por uma necessidade súbita de exposição, mas sim de que verdadeiramente falando, e da maneira mais popular que encontrava: ou se usa calça de veludo ou se coloca a bunda de fora.
Não era simplesmente uma metáfora elaborada, do jeito que agradaria intelectuais pré-sorbonne, e muito menos demonstraria um gosto estético, um meta-discurso avançado, mas o fato é que entre a terceira e a quarta garfada de uma comida vegetariana desprezível, num dia chuvoso, meio nublado, meio londrino, Vasilli teve uma ligeira impressão de que havia um ponto em aberto, um baú de utilidades (e talvez de desgraças) que permanecia aguardando atenção.
Zaratrusta era mais honesto e muito mais efetivo em distribuir conselhos aos outros e a si mesmo, era por isso que Vasilli só lera até a página 83, por que sabia que não conseguiria conviver com alguém que pudesse dar melhores conselhos para si mesmo.
Quanto ao baú, a capacidade inerente de transformar vidas comuns em situações pretensamente mágicas era uma capacidade que poucos tinham, é verdade, mas em seu caso, aquela sensação de cinismo se avolumava com sua incapacidade constante de prover a rotina de pontos vívidos de tensão ou que se adequavam a imagem perturbada, beatnik, nietzschiana, morelliana que costumava a dar a si mesmo(e admitir isso era um ritual próprio dos escritores que admitia inferioridade perante alguns gênios).
Tentar o melhor é bom o suficiente, e ele sabia disto, tanto é que não se importava em coroar cinco ou seis palavras com acentos circunflexos e pontos de exclamação nos lugares errados, por que deveria se manter antes de tudo como um "espírito livre".
Sabia disto, mesmo esparramado a caminho de casa, largado num banco no assento traseiro de seu ônibus mais odiado, quando assistia a miséria de perto, assistia, por que quando as articulações permitiam, deixava-se envolver, e permitia-se avaliar sua própria miséria, espiritual, não tão excessiva, mas de certo modo conectada com as misérias materiais que envolviam aquele mundinho decadente, pós, pús, moderno, que costumeiramente treinava em odiar.
Voltara ao centro da cidade, para comprar aquela máquina de escrever que tanto desejara, uma dor de garganta o incomodava, incomodava também, não saber como fugir daquele circuito bairro-dormitório, centro da cidade, bairro-dormitório, também o incomodava não conseguir terminar satisfatóriamente os contos que iniciava.
Tocava um soul music interessante no rádio, seu humor já animara-se(era parte da tolice este procedimento padrão de resgate de auto-estima vasilliano), já podia acender aquele cigarro mentolado, escutar um Johnny Cash sem lembrar de pequenos desastres e por fim, conseguia retomar o assunto inicial que estava no início do conto, no início de seus passos no centro-circuito da cidade, e que ele jamais conseguia se lembrar.... Qual era mesmo? Espíritos livres... tstststs...
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