Nada naquele quarto era seu. A mobília, a mesinha de cabiceira, a cama de casal. A sala, a cozinha, o banheiro, seguiam a tendência natural do quarto. Nada era seu. Até mesmo o (pouco) que tinha comprado com seus recursos, nem mesmo aquilo era seu. Nada era seu. Eram objetos estranhos à sua pessoa, estranhos à sua essência. E mesmo que não houvesse uma essência, mas se decerto em algum momento acreditasse que existia uma, aquela não seria a sua, aquele quarto, aqueles móveis opressores, aquela decoração sufocante, estranha a si mesmo, não, não seria sua.
Conquanto tivesse que conviver obstinadamente com aquela decoração, com aquele cheiro de ordem, de casa arrumada, de micro-fascismo controlado, seu comportamento era uma antítese, digamos nada mais do que natural, àquele processo homogeinizador, uniformizante, que se dava embaixo de um teto. Um teto óbviamente que não era seu.
A disposição dos objetos deveria seguir um rito, a arrumação, a presença linear dos enfeites, dos adornos(lembrou de Frankfurt - e sim, era uma piada sem graça), das espécimes novas adoradas num tipo de rito antropofágico, onde se engoliam as pessoas que viviam ali, em detrimento de um cuneiforme comportamento, que se repetia, se repetia, se repetia, em torno da mesma obstinação: manter os objetos alinhados, manter a casa arrumada, limpa, manter tudo em ordem. Ordem é a palavra. Ordem e controle.
Seu dito comportamento simplório, dava lugar a um esvaziamento de si, uma onda de introspecção violenta, que o emergia de dentro para fora violentamente, junto com um mr. Hyde de quinta, produzindo comportamentos reflexivos vísivelmente desleixados. Barba por fazer, cabelos grandes, desleixo casual, louças sujas, canecas vazias; formas homeostáticas do próprio corpo em resistir ao fascismo sub-reptício que se desenrolava de maneira desonesta dentro daquele cômodo sudorento, daquela gaiola classe-média em forma de casebre-casarão.
As metáforas não davam mais conta em implodir os efeitos daquele facho(feixe) de ignorância, de paranóia, psicose social degenerativa que o obrigava a circundar seu eu em torno de si mesmo, obrigando-o a dar as mesmas respostas, nas mesmas situações, de forma compulsiva-obsessiva.
As metáforas se cansaram de dar respostas. Eram meros placebos. A situação pedia medidas mais radicais.
Jesus cristo não teria a mesma paciência, nem Gandhi, nem Buda, nem o raio que o parta. E bem que um raio num dia infestado de pingos de chuva raivosos poderia partir esta casa ao meio, e mostrar bem ao centro, mostrar a epiderme do fascismo, a sua origem, que o material não faz este mundo, este mundo é partícula e onda ao mesmo tempo, e o material é um efêmero vazio, um vazio cheio de rosas negras, rosas que não existem concretamente, mas estão cá na imaginação de quem agora lê e de quem antes escreve. O material é húmus. O material é o transitório. O concreto, o permanente, o invencível, o imovível, era um pesadelo, um pesadelo, como aqueles móveis, tão seguros de si, seguros de sua presença, como se desafiassem o humor de quem os encarava, como se dissessem ao mundo, ao quarto, a aquela casa, que ficariam lá, permaneceriam prostados como um acinte, uma ofensa obstinada, uma coação necessária, que não saíriam, e quem não estivesse satisfeito que se retirasse ante a presença deles, os semi-deuses do mogno e da madeira serrada, os titâs da cerâmica, do gesso fresco, do plástico contemporâneo!
Conquanto tivesse que conviver obstinadamente com aquela decoração, com aquele cheiro de ordem, de casa arrumada, de micro-fascismo controlado, seu comportamento era uma antítese, digamos nada mais do que natural, àquele processo homogeinizador, uniformizante, que se dava embaixo de um teto. Um teto óbviamente que não era seu.
A disposição dos objetos deveria seguir um rito, a arrumação, a presença linear dos enfeites, dos adornos(lembrou de Frankfurt - e sim, era uma piada sem graça), das espécimes novas adoradas num tipo de rito antropofágico, onde se engoliam as pessoas que viviam ali, em detrimento de um cuneiforme comportamento, que se repetia, se repetia, se repetia, em torno da mesma obstinação: manter os objetos alinhados, manter a casa arrumada, limpa, manter tudo em ordem. Ordem é a palavra. Ordem e controle.
Seu dito comportamento simplório, dava lugar a um esvaziamento de si, uma onda de introspecção violenta, que o emergia de dentro para fora violentamente, junto com um mr. Hyde de quinta, produzindo comportamentos reflexivos vísivelmente desleixados. Barba por fazer, cabelos grandes, desleixo casual, louças sujas, canecas vazias; formas homeostáticas do próprio corpo em resistir ao fascismo sub-reptício que se desenrolava de maneira desonesta dentro daquele cômodo sudorento, daquela gaiola classe-média em forma de casebre-casarão.
As metáforas não davam mais conta em implodir os efeitos daquele facho(feixe) de ignorância, de paranóia, psicose social degenerativa que o obrigava a circundar seu eu em torno de si mesmo, obrigando-o a dar as mesmas respostas, nas mesmas situações, de forma compulsiva-obsessiva.
As metáforas se cansaram de dar respostas. Eram meros placebos. A situação pedia medidas mais radicais.
Jesus cristo não teria a mesma paciência, nem Gandhi, nem Buda, nem o raio que o parta. E bem que um raio num dia infestado de pingos de chuva raivosos poderia partir esta casa ao meio, e mostrar bem ao centro, mostrar a epiderme do fascismo, a sua origem, que o material não faz este mundo, este mundo é partícula e onda ao mesmo tempo, e o material é um efêmero vazio, um vazio cheio de rosas negras, rosas que não existem concretamente, mas estão cá na imaginação de quem agora lê e de quem antes escreve. O material é húmus. O material é o transitório. O concreto, o permanente, o invencível, o imovível, era um pesadelo, um pesadelo, como aqueles móveis, tão seguros de si, seguros de sua presença, como se desafiassem o humor de quem os encarava, como se dissessem ao mundo, ao quarto, a aquela casa, que ficariam lá, permaneceriam prostados como um acinte, uma ofensa obstinada, uma coação necessária, que não saíriam, e quem não estivesse satisfeito que se retirasse ante a presença deles, os semi-deuses do mogno e da madeira serrada, os titâs da cerâmica, do gesso fresco, do plástico contemporâneo!
Pegou a garrafa de álcool com pressa; já estava embaixo da cama há cinco semanas. Salpicou nos móveis como em uma oração, acendeu o isqueiro Zippo saboreando cada segundo, largou-o naquele miserável piso de marfim perolado que particularmente odiava com mais intensidade e assistiu tudo queimar.
Sorriu frente ao frenesi de labaredas e alaridos semi-silenciosos do fogo consumindo, consumindo... Seu sono. Um sono e um sonho ruim.
A casa continuava não-sua. A cama, os móveis, a estante marrom, não, agora branca; o armário fascista, sim, fascista.
E o que sobrara para si?
O seu era o nada, apenas o nada.
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