quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Jamais apedreje seu destino

Abandonaria um pouco as metáforas. Seria mais direto. Direto como um não. Como uma recusa. Duas recusas, três, quatro recusas. No quarto a música preenchia o ambiente, por que o silêncio é amigo da dor e não, já não havia mais espaço para a dor. Já tinha dor demais, uma dor que enchia dois ou três ou treze copos de cerveja e descia congelando o que restara da sua esperança. Uma dor que em outras épocas arrasaria tudo o que conquistou, mas não, agora, Anatole, este puto onisciente era um puto forte. Um puto resistente.

Dizem que a esperança é a última que morre. Mas ninguém disse que ela é imortal. Um dia ela morre. Demora a morrer, mas morre. Vai morrendo a míngua, ou súbitamente estraçalhada pelos fatos. Sim, pelos fatos. A vontade move muita coisa, mas a vontade também esbarra no outro, na outra, no alheio; no que não é nosso(e nada, escute bem, nada é nosso além do próprio corpo e das próprias palavras - pois a propriedade como diria Proudhon é um roubo). Mas a esperança é uma fênix. A esperança não desiste. Por que o novo sempre brota das cinzas do velho.

No final das contas esse é o limite. O limite que é criado pela liberdade do indivíduo.

O sofrimento é inevitável, Anatole acreditava nisto, concordava neste ponto com os zen-budistas, os que vendiam incenso na esquina daquele mercadinho simpático onde comprava arruda e feijão, todavia esperava um pouco mais de misericórdia do destino. Palavras tinham poder e se são as armas que matam o corpo, são as palavras que chacinam o espírito. Na verdade é a incongruência entre ação e palavra que o irritava(mas todo mundo agia assim - havia um quê de perdão intríseco nas palavras). Preferia o não sincero, do que o sim hipócrita.

Construir tronos de pedra sob paredes de vidro não era lá um hobbie agradável.

Já não sabia mais quais eram realmente seus limites, isto por que as situações forçavam e tensionavam-os até um ponto insuportável. Sua mente era um campo de batalha. Seu corpo, uma armadilha. Um campo minado.

Sofrer é inevitável, dizia com os zen-budistas entre os dentes, cheirando molho de macarrão vegetariano, escutando Charles Mingus, mexendo a colher de pau suja de molho de tomate que parecia sangue e deixando a vida, e o cabelo crescerem diante de seus olhos... Mas ainda assim, percebia, e tinha realmente esta capacidade, de fazer do trivial um pedaço de luz, uma inspiração, percebia que apesar do otimismo que floreava em sua volta, ele daria mais algumas voltas para repensar o que achava que era meramente essencial(vindo da essência queria dizer).

Quase agradecia, mas não agradecia conquanto, portasse dentro de si uma tranquilidade que permitia a si mesmo, encontrar-se com o divino; não o divino do metafísico cristão, mas o divino do meta-physis grego, o divino era o tao, o divino era o encontro das redes, das conjecturas, dos paradoxos que se digladiavam por vitória e ainda assim se encontravam paralelamente no infinito.

Chamava este infinito de dor.

Dor.

O que era falso...

Nenhuma dor é infinita, portanto que se percebam as incongruências de Anatole. Ele era incongruente. Dizia odiar água gelada, mas abria exceções, dizia não comer palmitos; mas deliciara-se com as exceções num almoço pseudo-vegetariano. Anatole não era própriamente uma farsa, vide os seus atos demonstrarem que normalmente(e ele não sabia o que era normal - e o normal ele afirmava: "era o que você não é quando está com a auto-estima baixa, e o que você é quando está fudido com uma garrafa de vodka Bakunin entre os braços") era um bom sujeito; sim, um bom sujeito.

Não sabia exatamente, e foi descobrir isso, na terceira garfada daquele macarrão políticamente correto, por que abandonara a filosofia de botequim e começara a se concentrar na terapia, duas, três, quatro vezes por semana que se inscrevera num ano bissexto repleto de felicidade, de alegria e de decepção.

A memória voava e ele deveria registrar esse dia, por que dias específicos devem ser registrados. E ele conseguira se vencer. Parou. Conseguiu freiar seu ímpeto em dois ou três dias, e isto era um sinal de juventude ou de amadurecimento.

Anatole, subira a passarela, andara de metrô, vestira uma camisa branca, esbarrara em um, ou dois transeuntes... Lembrara dentro do metrô, quanto tempo leva-se a escrever uma carta de amor, e se isto, se este gesto, se este ato não conseguisse emocionar(palavra jargão - mas que podia ser livremente utilizada pelo seu espírito livre) ou tocar duas ou três pessoas, prefereria encerrar sua história por aqui(estória).

Não tinha muito a escrever, já tinha cozinhado parte de suas decepções junto com aquele macarrão simplório que insistia em sofisticar parte de sua vida, de sua dor, quando Vasilli, chegou...

- Animação meu amigo. Trouxe metade de uma vodka, trouxe chimarrão para amanhã, depois da ressaca... e adivinhe? Trouxe um livro de poesias!

- Imagino que o livro não seja seu, decerto...

- Não. É nosso.

Disse Vasilli, com força, com raiva, repousando a garrafa bruscamente na mesa de vidro. Não era Vodka, era licor de menta. Por detrás da satisfação de Anatole, havia uma caixa de cervejas geladas, repousada próximo a porta daquele apartamento cansativo. Limpo, o que cansava Vasilli. Sofás de couro sintético, quadros de pintores, filósofos e outros pulhas que Vasilli costumava esbanjar ou ridicularizar em público nas sextas-feiras... E ainda assim, Anatole, mesmo no pior de seus momento, conseguia pormenorizar sua dor.

Nato! - gritou Vasilli. Você precisa de uma boa dose de futuro. Passado já há demais.

O telefone tocou, interrompendo os dois, faces distintas de um vazio futuro. E sim, o vazio podia ser o futuro e o futuro podia ser o vazio.

Vasilli...

- Diga Nato. Respondeu Vasilli com uma tragada corajosa.

Quando a ruiva vem?

Ela não vem Nato.

A ruiva morreu?

- Morreu porra. Morreu junto com uma parte boa da gente.Justify Full


Agenda de Sonhos

Sonhei que estava numa mesa, com representantes de diversos países do mundo. O mundo estava num colapso global. Cada vez que algum representante de algum país falava eu procurava na minha carteira uma nota de dinheiro do respectivo país. Logo depois, eu sonhei que estava no metrô de são paulo, e era o último metrô. Os assentos eram laranjas e eu não sabia muito bem onde descer. Na descida eu conversava com um menino negro, de pés descalços, com roupas esfarrapadas e que ganhava a vida com pequenos furtos, ele conversou comigo durante algum tempo, assaltou um pedestre que passava, e eu convencia o pedestre de que aquilo era inevitável.

Depois eu sonhei que atravessava uma avenida bem larga, estava tudo muito escuro. Eu entrava por um portão, num lugar muito esquisito, entrei numa espécie de templo, casebre de madeira, onde lá dentro um sábio, guru oriental falava para uma pequena platéia. A decoração e o ambiente eram bem soturnos.

Após isto, sonhei que estava no meio desta grande guerra. Eu estava situado no alto de um prédio todo destruído. Eu ia descendo pela escadas, e encontrava um rifle para me defender. Eu me agarrava no beiral(numa atitude extremamente corajosa), descia para o outro andar, até que resolvi entrar no prédio, ao invés de ficar na parte externa.

Lá, eu descia e esbarrava com alguns soldados, e fugia destes. Com o rifle nas mãos eu descia até o térreo do prédio(ou subsolo - não sei bem). Onde estava se desenrolando uma luta entre dois exércitos inimigos. Eu atirava nos dois de longe, derrubava alguns, mas não eram própriamente humanos, eram como máquinas, bonecos. Eu fugia do prédio e bem, acho que foi isso.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Eu Nunca Guardei Rebanhos

Esse sou eu. Agora, por Alberto Caeiro...

Alberto Caeiro
I - Eu Nunca Guardei Rebanhos
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

De quando leu Zaratrusta

Vasilli, pobre Vasilli, perdido entre as fendas das ruas, costumava a demorar mais do que quinze minutos compreendendo seu tolo papel no jogo. Vasilli, pobre Vasilli, esgueirando-se como quem súbitamente começasse um jogo de gato e rato pelas ruas do centro da cidade, onde na verdade, desempenhava ambas as funções. Era um predador de si mesmo, mas não percebia, e preferia ter de se forçar a meditar uma ou duas vezes por semana, ou participar de um campeonato de sinuca mal sucedido para entender definitivamente que as questões colocadas estavam em torno de suas parcas percepções. Percepções que se confundiam dentre este insistente jogo de imaginação ativa que deixara levar-se. Levava-se como quem carrega um mosaico à espera do manual de instruções; sim, mas outrora enganado podia habituar-se a repetir as mesmas palavras de encanto que o preenchiam, mas desta vez não, desta vez, Vasilli, o bobo Vasilli, sabia, tinha real ciência de que seu mosaico(como todos os mosaicos) não tinha quaisquer manuais de instrução.

Caixas herméticas o sufocavam, e vez ou outra percebia a expressão alheia em algumas faces mais receptivas, quase uma égide de conforto, um conforto subjetivamente deslocado do tempo, mas que inevitávelmente lhe trazia um espelho de si mesmo, emoldurado nos transeuntes intuitivos; descartáveis amizades de diálogos corporais que se confrontavam no espaço da urbe, que se encontravamem algum momento, sem necessáriamente compartilharem (ou perderem) tempo para com as habituais estradas que levam a estes momentos intrísecos.

Esforçava-se para construir, com verdadeiro esmero, um caminho habituável, honesto, e por que não dizer, cantarolar, trovejar uma historieta encantadora, um mito que perspassasse sua tola percepção finita e temporalmente situada, determinada talvez pelas condições históricas(talvez - afirmava a Anatole com um cigarro e sarcasmo entre os dentes, talvez Anatole...) e que conseguisse dar conta de seu sentimento (poder-se-ia chamar de megalomaníaco - se não fosse seu hábito disciplinar de manter seu ego devidamente aquietado) tão peculiar.

Mas ele sabia, e soube bem, da última vez em que tentou se esconder por detrás de meia garrafa de vodka, que as opções estavam em aberto como quem queima haxixe no sábado a tarde, mas que aquietar algo não é exatamente o melhor meio de equilibrar-se por detrás de um gangorra dúbia, uma faca de dois gumes, um eclipse parcial, um copo meio cheio e meio vazio, que clamava não por uma necessidade súbita de exposição, mas sim de que verdadeiramente falando, e da maneira mais popular que encontrava: ou se usa calça de veludo ou se coloca a bunda de fora.

Não era simplesmente uma metáfora elaborada, do jeito que agradaria intelectuais pré-sorbonne, e muito menos demonstraria um gosto estético, um meta-discurso avançado, mas o fato é que entre a terceira e a quarta garfada de uma comida vegetariana desprezível, num dia chuvoso, meio nublado, meio londrino, Vasilli teve uma ligeira impressão de que havia um ponto em aberto, um baú de utilidades (e talvez de desgraças) que permanecia aguardando atenção.

Zaratrusta era mais honesto e muito mais efetivo em distribuir conselhos aos outros e a si mesmo, era por isso que Vasilli só lera até a página 83, por que sabia que não conseguiria conviver com alguém que pudesse dar melhores conselhos para si mesmo.

Quanto ao baú, a capacidade inerente de transformar vidas comuns em situações pretensamente mágicas era uma capacidade que poucos tinham, é verdade, mas em seu caso, aquela sensação de cinismo se avolumava com sua incapacidade constante de prover a rotina de pontos vívidos de tensão ou que se adequavam a imagem perturbada, beatnik, nietzschiana, morelliana que costumava a dar a si mesmo(e admitir isso era um ritual próprio dos escritores que admitia inferioridade perante alguns gênios).

Tentar o melhor é bom o suficiente, e ele sabia disto, tanto é que não se importava em coroar cinco ou seis palavras com acentos circunflexos e pontos de exclamação nos lugares errados, por que deveria se manter antes de tudo como um "espírito livre".

Sabia disto, mesmo esparramado a caminho de casa, largado num banco no assento traseiro de seu ônibus mais odiado, quando assistia a miséria de perto, assistia, por que quando as articulações permitiam, deixava-se envolver, e permitia-se avaliar sua própria miséria, espiritual, não tão excessiva, mas de certo modo conectada com as misérias materiais que envolviam aquele mundinho decadente, pós, pús, moderno, que costumeiramente treinava em odiar.

Voltara ao centro da cidade, para comprar aquela máquina de escrever que tanto desejara, uma dor de garganta o incomodava, incomodava também, não saber como fugir daquele circuito bairro-dormitório, centro da cidade, bairro-dormitório, também o incomodava não conseguir terminar satisfatóriamente os contos que iniciava.

Tocava um soul music interessante no rádio, seu humor já animara-se(era parte da tolice este procedimento padrão de resgate de auto-estima vasilliano), já podia acender aquele cigarro mentolado, escutar um Johnny Cash sem lembrar de pequenos desastres e por fim, conseguia retomar o assunto inicial que estava no início do conto, no início de seus passos no centro-circuito da cidade, e que ele jamais conseguia se lembrar.... Qual era mesmo? Espíritos livres... tstststs...





sábado, 23 de fevereiro de 2008

Cachorro quente de esquina

Cachorro quente de esquina nunca é legal. Nunca é legal quando se mistura solidão com ketchup. Era isso que Inácio sentia. A maionese da sua vida era insosa, tão insosa, que ele vez ou outra tomava um refrigerante de indecisões no ponto de ônibus antes de ir para casa e também para tornar o paladar de suas escolhas mais saboroso.

Custava 1 real. Custava apenas 1 real deixar Inácio a mercê do destino.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O retorno ao primitivo

Às vezes lhe batia uma tristeza. Não era bem tristeza e não era muito específico. Deveria ter um outro nome para uma tristeza coletiva. Coletiva é, por que aflige a todos. E de certo modo também individual, por que se aflige a todos, está sim incluído. Abandonou a aula de lógica booleana e resolveu concentrar-se na chuva, uma chuva fina, dirigia, e odiava dirigir, enquanto o pára-brisa e aquele movimento contínuo lhe provocava uma pré-tensão, algo que iria explodir a qualquer momento, que o obrigava a tomar medidas sinceras e inertes para esconder o futuro momento de angústia. Resolveu desembaçar o pára-brisa com uma flanela velha, mas a chuva, e a pré-tensão, já quase tensão neste momento, aumentava; algo o obrigava a parar. Mas aonde? Era um br longa, mal tinha um acostamento, o mato e as cercas dominavam a paisagem. Bem vindo ao brasil pensou. Terra de latifúndios. Latifúndios de miséria. Miséria física e espiritual.

Mesmo atordoado, suas lembranças críticas tentavam trazê-lo ao chão: era inútil. Enfrentava-se, acelerava o carro, passava a marcha, mas não era ele que guiava a si mesmo, o carro não o levava, o carro levava um dilema, digladiando-se internamente, uma luta contínua, um homem a beira de um abismo que tinha apenas como fundo uma música clichê dos anos 90 e uma longa, uma longa e previsível estrada. Resolveu parar. Inventou uns seis motivos diferentes para fazer isso, mas no final já tinha abandonado as razões: "Que se foda. - pensou"

Saiu do carro. Abriu a porta, respirou fundo, não aguentava mais, a pressão tornava-se insuportável. O barulho da chuva tornara-se mais nítido. Nenhum carro a vista, ninguém, apenas mato alto, mato molhado, como sua roupa, sua calça jeans, sua vida, derrapando numa estrada previsível, desejava apenas uma curva, um caminho diferente, antes que o motor esquentasse.

Completamente molhado ergueu as mãos para cima num gesto patético de integração com a natureza. "Jogando toneladas de carbono por duzentos kilômetros, não há como falar em retorno ao primitivo - refletiu."

Tirara a jaqueta, apoiara em cima do banco, atravessou a estrada para o outro lado, desceu o acostamento, mas não atrevera-se a enfentar o mato, voltou ao carro. Acelerou molhado, completamente molhado, acelerou mais, e encontrou um velho ponto de ônibus, de madeira, uma meia choupana improvisada, com um recuo perfeito para encostar o carro por detrás e se secar ou molhar-se ainda mais.

Chutou uma lata abandonada na beira da estrada. Largou o carro. Largou o ponto. Caminhou sozinho, não fazia sentido, não aquilo não era racional, andou, o carro foi diminuíndo, vez ou outra olhava para trás(lembrava-se de uma parábola da bíblia, a do deus sanguinário, que mataria viajantes que olhassem para trás - zombou de deus)... Começou a rir, um riso descontrolado, fervendo histeria, o carro já sumira no horizonte, pela frente estrada, cimento, estrada...

Depois do terceiro relampejar, veio o choro, um choro desassistido, um choro veemente, firme, um choro honesto que não pedia licença! Chorou, entrou em prantos, a chuva caía, ela não ligava. As lágrimas, as gotas, o cabelo, a camisa molhada, e a lama próximo ao asfalto, formavam um todo. Ele já não se importava mais com as dúvidas.

Era o seu próprio destino.

Quando começaram a lhe deixar em paz

A cidade era a mesma de sempre. E isso já o deixava angustiado o suficiente para se permitir uma mudança. Habitualmente lhe traziam sempre uma demanda muito acima do que podemos chamar de normalidade, de problemas, problemas que não eram seus. Vez ou outra chovia, vez ou outra fazia sol, e entre as mudanças, surgiam esses problemas, dilemas, impecilhos internos, que não eram por suposto seus.

Disso decorriam algumas hipóteses iniciais não necessáriamente complementares nem excludentes que ele vinha por formular já há alguns meses, entre uma chícara de café adoçado e o balançar leve e tedioso do vagão do metrô . A primeira era que podiam o considerar um bom formulador de soluções, sua clareza convencia ou indicava as pessoas algum ponto de resolução.

Na verdade era mero discurso, ou melhor, firmeza no discurso, que transformava coisas idiotas ou filosofias de botequim em verdadeiras máximas morais. Esta clareza, convertia-o em um pólo aglutinador, um ponto de apoio de ajuda para resolução de problemas, não os dele é claro, estes nunca conseguia resolver.

A segunda hipótese era a de que seu espírito, já tão acostumado a flutuar sobre terrenas realidades, desprendendo-se de suas próprias dificuldades pessoais, e abandonando um pouco de ego, travando-se perto de um altruísmo não tão objetivo, mas por ocasião desse desprendimento, dessa terrível situação em ater-se a macro soluções e a idéias(adorava idéias) conseguia suportar alguns problemas alheios, já que os seus já tinha préviamente resolvido por meio da limitação prévia de objetivos puramente pessoais.

A última hipótese era mais simples, talvez conseguisse escutar mais do que a regra geral conseguia, e por fim, numa sociedade mecanizada, automatizada, um diálogo é na verdade uma conversa com os próprios complexos de personalidade autônomos que cada um carrega dentro de si.

Entender isso é a principal regra para conseguir viver em uma sociedade pós-industrial. Veja o exemplo da tecnologia ele observava. As intimidades, as confissões, as revelações, adotam o espaço do privado no meio público que é a tecnologia das redes de comunicação.

Não iria perder-se elucubrando novas teorias. Já havia papel demais produzido pela academia, pela inteligentsia das famintas universidades, antros de simulações e realizações pessoais.

Não queria, na verdade, em grande parte da vida nunca quis, a rotina do consumo. De que valeria sua pobre vida se vivesse para adquirir uma certa cota de consumo mensal. Não perderia muito tempo para construir essa cota, não fazia sentido perder grande parte de seu tempo, de sua vida para conseguir atingir esta cota mensal, ao qual chamam carinhosamente de "carreira".

Os problemas continuavam chegando, vez ou outra ele não suportava a imensa quantidade, vez ou outra tudo mudava, e quando tudo muda há um cheiro de mágica no ar.

As coisas começaram a ficar silenciosas, as pessoas começaram a sumir, e os problemas desapareceram e ele teve de se enfrentar, teve de olhar para o fundo de seus próprios abismos por que não sobrara muita coisa para fazer. Compreendia que o movimento e o não-movimento tem enfim, um sentido intríseco, o agir e o não-agir estão inevitávelmente interligados.

A presença e a ausência não são oponentes, mas sim companheiras de jornada....

Ele agora compreendiam por que o deixavam em paz. Por que tudo ficara mais silencioso e por que caminhava pela praia, a noite, esbarrando nas partículas de rocha(outrora estrelas - pó de estrelas) constituindo-se em meio àquela desintregração. Não obstante o desejo de permanecer tão perto, entendia o porquê do sentir tanta saudade.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Histórias de luta...

Ontem, eu fui num acampamento do MTD(Movimento dos Trabalhadores Desempregados). O acampamento situa-se num plateau, em cima de um morro.

Um ermo, que foi transformado em moradia, pela força e disposição de homens e mulheres; guerreiros, lutadoras, pessoas que estão acostumadas a transformar as ruínas em esperança.

Lá em cima, o vento é forte, já até carregou barracos e lonas inteiras, mas a coragem e determinação desse povo valente e guerreiro, consegue vencer quaisquer desafios, até mesmo da natureza. A maioria do acampamento é composto por negros, mas há brancos também e mulatos, apesar da pobreza ser majoritáriamente negra(antes senzala, agora favela), a situação de necessidade é igual para todos/as que ali residem.

Há uma pequena escola, onde aulas de alfabetização são ministradas, muitos moradores do acampamento aprenderam a ler e escrever, pelas mãos e mentes de seus próprios vizinhos. A água foi conseguida a partir da luta coletiva concretizada pelos mutirões; que também providenciaram iluminação elétrica. A presença grande das crianças, não deixa esconder, que ainda faltam muitas coisas, as casas são todas de madeira, barracos sem muita estrutura, a água só chega durante a noite, e não há próximo nenhuma presença de um posto médico ou escola.

É impressionante como meus problemas tornam-se ínfimos quando conheço histórias de luta como estas. A capacidade de organização dos mais explorados cresce proporcionalmente a estupidez retumbante de uma classe-média cada vez mais em estado apático, onde o consumo é a força motriz de uma psicopatia(ausência de sentimento pelo outro, pela outra) de massas.

Como diria Eduardo Galleano, retomando uma pixação anônima na bolívia em 1808: "Temos guardado um silêncio muito parecido com a estupidez..."

Mas mesmo assim, há gente que se organiza, que sonha e que luta!!!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Meditações

Hoje, resolveram me acordar cedo. Recebi um telefonema de madrugada, uma amiga sofreu um acidente, nada grave, mas tive de resolver um problema às 4h da madrugada. Quando tentei voltar a dormir, inevitávelmente não consegui de imediato, o que me fez ter de relaxar. E quando minha mente está muito acelerada/confusa eu tento meditar. Eu disse tento, por que esta mente ocidental-cristã está demasiadamente acostumada com o caos. É difícil parar. A meditação de certa forma lhe força a esvaziar-se. E isto não é fácil para quem enxerga(mesmo que inconscientemente) o estado de vigília da mente como um estado "natural".

Não sou um especialista sobre o assunto(estou bem longe disso); mas sento na posição mais confortável(em semi-lótus normalmente), tento relaxar o corpo. No início é complicado, por que o corpo não relaxa, uso a técnica de "perceber" minha respiração(foi a técnica mais adequada que consegui encontrar até hoje), e fico com os olhos semi-abertos ou fechados(seguindo algumas técnicas sufi). Um bom caminho, é respirar profundamente e naturalmente, perceber o descompasso(ou compasso) da respiração, esvaziar o pensamento(esta é a parte mais difícil) e relaxar os músculos sempre no movimento de expiração. As costas começam a doer de imediato, o corpo tenta se ajeitar, mas é na verdade a mente que dá as cartas no jogo. Após os primeiro minutos de desconforto inicial, em que os pensamentos começam a fluir aceleradamente(e que a mente reluta a aceitar o encontro ao vazio interior), o corpo começa a relaxar. Os músculos se desenrijecem, a mente se aquieta mais(alguns entoam mantras para facilitar - não é meu caso).

Há um momento de paz interior que começa a se delinear; é claro que nunca fui tão longe, minha mente está totalmente condicionada ao barulho, a profusão de pensamentos: como toda mente sob o signo da era moderna, presa nas expectativas do futuro e nos fatos do passado.

Mas há um momento interessante, em que o corpo relaxa mais profundamente, a mente desacelera... Sinto até uma tontura, quando vou mais longe, sinto-me fora daquele espaço físico, a mente gira, é uma sensação interessante.

Após, estou completamente relaxado e consigo dormir com mais facilidade. Não chega a ser uma experiência mística, mas é um calmante natural, que todos nós poderíamos desenvolver se para isso nos dedicássemos. Evitaríamos prozaks, fluoexitinas, e outros ansiolíticos e remédios produzidos pelas indústria$ da "felicidade".


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sobre os dias de calor

O calor estava infernal, desceu com a mochila cheia, carregava uma caixa de papelão nas mãos, que não estava tão vazia, mas também não estava tão cheia; um porta-retrato velho, alguns enfeites de mesa, umas fotos, cartas recebidas, alguns livros de cabeceira, os preferidos e um ou outro material de escritório.

O sol provocativo, fazia-o repensar sua estratégia. Deveria ter saído mais cedo. Mas mais cedo quando? Sempre está quente esta época do ano. Não importa o horário. Ou calor ou inferno, nada muda muito por aqui.

Saudades do tempo em que sentiu frio. Quer dizer, vez ou outra sentia frio, mas não o frio físico, mas um incômodo emocional, uma sensação de desconforto ocasional, que podia ser rápidamente resolvida, ou com 1/10 de uma garrafa de vodka(má solução) ou nos momentos atuais(soluções boas), com um leve passeio, uma caneta e duas folhas de papel.

Em dias bons conseguia produzir cinco ou seis contos sem importância, nos dias ruins, apenas idéias escassas, nem sempre conseguia organizar sua própria inspiração, e é claro, ninguém consegue.

Doravante resolveu não permanecer nos mesmos círculos, literatos falidos, poetas amadores, beatniks de final de semana, isso tudo nunca na verdade lhe interessou; não institivamente.

Preenchia com letras as palavras, com palavras as frases, dava forma, reescrevia sua própria vida, sem medo? Sem risco? Tinha mais medo do que risco. Seus riscos eram fictícios. Na verdade, encarava-se vez ou outra no espelho e via realmente que teorizava sempre sob seus medos, não sob seus anseios. Mas fazem isso o tempo todo. Comportamento normal(o normal sempre é o que nós somos ou estamos - o diferente é o que não somos ou o que não estamos). E não era sobre isso que realmente importava. Os mecanismos que impediam toda a magia, que impediam as cores de retomarem seu ciclo, isto sim importava. Faltava paixão, vigor, amor, liberdade e alegria no mundo. Além disso faltava pão, escola, carinho, teto enquanto sobrava egoísmo, acumulação, hipocrisia, lucro e violência.

Estava enredado, enredado em todo o mecanismo. Era o que podemos chamar, de sua situação, condição de classe. Lembrava-se dela ao pegar ônibus, ao comprar leite(é mentira, ele detestava leite), no aumento da passagem, no aumento do pão.

Policiais para todo o lado, muito controle, e ele desfilava vez ou outra, pensando furtivamente(ainda não era crime pensar), cuidado sou perigoso... um dia haverá a justiça(vingança?).

Não era justo. Esperava no ponto de ônibus, perdera mais um. Caminhou 20 minutos(morava numa ladeira). O cabelo estava maior(dois salões faliram semana passada), o atrevimento também, o método inexistia! Para que método! Brainstorm. Escreva o que vier, como vier, quando vier. E quando puder não. Mesmo se não puder, escreva! É assim que funciona! Mesmo mentalmente, escreva mentalmente porra! Na fila do banco, no banco do metrô, na terceira colherada do almoço. Escreve gaijin.

Comeu um biscoito da sorte. Nada lhe disse de importante. Bebeu suco de maçã, óbviamente um comportamento pequeneníssimo-burguês. Ligou o ventilador de teto, escutou música clássica(no rádio), fez café, sentiu fome, estava sem dinheiro(ainda assim comportava-se como se tivesse algum - crise de identidade de classe).

Relaxou lá depois do décimo e segundo parágrafo, começou a rir, meio compulsivamente(ele era exagerado no que escrevia não no que fazia...) e pensou que se tudo desse certo escreveria romances, belos romances, talvez até um best-seller, uma apresentação em algum talk-show, se desse errado, bem... se desse errado voltaria a copiar os beatniks...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fogo Bravo II

Nada naquele quarto era seu. A mobília, a mesinha de cabiceira, a cama de casal. A sala, a cozinha, o banheiro, seguiam a tendência natural do quarto. Nada era seu. Até mesmo o (pouco) que tinha comprado com seus recursos, nem mesmo aquilo era seu. Nada era seu. Eram objetos estranhos à sua pessoa, estranhos à sua essência. E mesmo que não houvesse uma essência, mas se decerto em algum momento acreditasse que existia uma, aquela não seria a sua, aquele quarto, aqueles móveis opressores, aquela decoração sufocante, estranha a si mesmo, não, não seria sua.

Conquanto tivesse que conviver obstinadamente com aquela decoração, com aquele cheiro de ordem, de casa arrumada, de micro-fascismo controlado, seu comportamento era uma antítese, digamos nada mais do que natural, àquele processo homogeinizador, uniformizante, que se dava embaixo de um teto. Um teto óbviamente que não era seu.

A disposição dos objetos deveria seguir um rito, a arrumação, a presença linear dos enfeites, dos adornos(lembrou de Frankfurt - e sim, era uma piada sem graça), das espécimes novas adoradas num tipo de rito antropofágico, onde se engoliam as pessoas que viviam ali, em detrimento de um cuneiforme comportamento, que se repetia, se repetia, se repetia, em torno da mesma obstinação: manter os objetos alinhados, manter a casa arrumada, limpa, manter tudo em ordem. Ordem é a palavra. Ordem e controle.

Seu dito comportamento simplório, dava lugar a um esvaziamento de si, uma onda de introspecção violenta, que o emergia de dentro para fora violentamente, junto com um mr. Hyde de quinta, produzindo comportamentos reflexivos vísivelmente desleixados. Barba por fazer, cabelos grandes, desleixo casual, louças sujas, canecas vazias; formas homeostáticas do próprio corpo em resistir ao fascismo sub-reptício que se desenrolava de maneira desonesta dentro daquele cômodo sudorento, daquela gaiola classe-média em forma de casebre-casarão.

As metáforas não davam mais conta em implodir os efeitos daquele facho(feixe) de ignorância, de paranóia, psicose social degenerativa que o obrigava a circundar seu eu em torno de si mesmo, obrigando-o a dar as mesmas respostas, nas mesmas situações, de forma compulsiva-obsessiva.

As metáforas se cansaram de dar respostas. Eram meros placebos. A situação pedia medidas mais radicais.

Jesus cristo não teria a mesma paciência, nem Gandhi, nem Buda, nem o raio que o parta. E bem que um raio num dia infestado de pingos de chuva raivosos poderia partir esta casa ao meio, e mostrar bem ao centro, mostrar a epiderme do fascismo, a sua origem, que o material não faz este mundo, este mundo é partícula e onda ao mesmo tempo, e o material é um efêmero vazio, um vazio cheio de rosas negras, rosas que não existem concretamente, mas estão cá na imaginação de quem agora lê e de quem antes escreve. O material é húmus. O material é o transitório. O concreto, o permanente, o invencível, o imovível, era um pesadelo, um pesadelo, como aqueles móveis, tão seguros de si, seguros de sua presença, como se desafiassem o humor de quem os encarava, como se dissessem ao mundo, ao quarto, a aquela casa, que ficariam lá, permaneceriam prostados como um acinte, uma ofensa obstinada, uma coação necessária, que não saíriam, e quem não estivesse satisfeito que se retirasse ante a presença deles, os semi-deuses do mogno e da madeira serrada, os titâs da cerâmica, do gesso fresco, do plástico contemporâneo!

Pegou a garrafa de álcool com pressa; já estava embaixo da cama há cinco semanas. Salpicou nos móveis como em uma oração, acendeu o isqueiro Zippo saboreando cada segundo, largou-o naquele miserável piso de marfim perolado que particularmente odiava com mais intensidade e assistiu tudo queimar.

Sorriu frente ao frenesi de labaredas e alaridos semi-silenciosos do fogo consumindo, consumindo... Seu sono. Um sono e um sonho ruim.

A casa continuava não-sua. A cama, os móveis, a estante marrom, não, agora branca; o armário fascista, sim, fascista.

E o que sobrara para si?

O seu era o nada, apenas o nada.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Reflexões de Anatole

Acendeu um cigarro pra clarear as idéias e enegrecer o pulmão. Mundinho junkie aquele. Eram 15h da tarde e ele nem tinha acendido um baseado; estava num tédio que não dava chance para o humor. Pior que o tédio era o remorso. Remorso do quê? De si próprio. Conviver consigo mesmo não era uma tarefa das mais fáceis. E quem conseguia?

Não se enterra parte de si mesmo de uma só vez. Conviver com as partes que lutam por controle não era uma tarefa fácil, mas ignorá-las não era o caminho, definitivamente não era o caminho.

Escrever estava fora de cogitação. Sua máquina de escrever velha, estava lá, convidativa, mas aquela tragada semi-feliz já denunciava: nada de pseudo-lamentos ou proto-depressões, o que estragava o momento, era a angústia, angústia não, sejamos sinceros, era mera ansiedade.

Ansiedadezinha sem importância(se tivesse tanta importância, algo teria escrito com certeza), sem jeito, que o incomodava progressivamente, mas sem desafiar quaisquer limites que poriam todo o jogo em risco.

Resolveu fazer café, na falta de cerveja, chá-preto ou café serviriam.

O pó estava escasso no fundo do pote, raspou e conseguiu o suficiente. Esquentou a água, e seu humor. Já esbanjava um sorriso, lembrou de uma piada antiga, que piada horrível, mas aí residia a graça. Era essa a graça.

Marasmo produtivo? Digamos... mangas no quintal...

Volto quando puder. As mangas não param de cair.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cartas sobre a mesa

Em algum não tão longínquo passado, criei três personagens, Anatole, Vasilli e a Ruiva. Partes fragmentárias de mim mesmo? Provávelmente... A idéia objetiva era um livro... a subjetiva era a individuação...

Interagir caminhando, interagir sim, rumo a individuação(a do Jung). Usar os pseudo-contos para o crescimento. Mas no meio do caminho, minha mandala quebrou(e as mandalas são concretizações objetivas do auto-conhecimento, da individuação). Quebrou, por que eu não preciso mais delas. Não pessoalmente, agora há um novo significado...

Consultei minha cartomante, me consultei também, e acho que estou preparado. Bem, mais forte. Emocionalmente mais preparado. Para o quê? Para a vida! Para exercer a potência da vida... A potência do viver.

Quanto a ruiva, minha querida anima; infelizmente minhas energias me guiaram(sem as projeções habituais) para digamos, uma mulher mais concreta.

Isto é outro assunto. Um assunto contráriamente pretérito, um assunto que se constrói. E não quero construí-lo agora. Quero que tudo se construa espontâneamente. Portanto, verão poucos Vasillis, Ruivas e Anatoles de agora em diante, finalmente posso dizer...

Um ciclo se encerra. Um novo ciclo se inicia.

Caminhemos, caminhemos. Caminhemos viajante... caminhemos ao sabor das letras... doces ou amargas, são sim, peculiares e peculiares letras...

São letras da vida! Letras da vida!!!