sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Produzir essas merdas é fácil

Completava seis semanas de isolamento. Era hora de voltar para o Rio. Pegou a BR no dia doze, e pretendia voltar no dia 19, mais por contigências, por determinadas situações acabou ficando seis semanas. Seis longas semanas. Não sabia mais o que era. Tinha apenas uma ligeira impressão.

Amassou o cigarro na bota, fez sinal para o ônibus e partiu.

A janela do coletivo lhe deu boas impressões. O sereno firme, posterior chuva irritante, embaçava os vidros, tocava John Coltrane no fundo. Música ambiente. Tudo proporcionado pela empresa de ônibus.

Não havia mais jeito. Não havia mais fuga. Fugir era inútil. E agora ele sabia disto. O mundo era demasiadamente pequeno. Isto o irritava, por que um viciado pelo novo não conseguiria relaxar no Rio de Janeiro. A cidade inteira se conhecia. Cidade estressante. E era verdade. Não aguentava mais frequentar o velho. Arcos Velhos, festas velhas, pessoas velhas, velhas conhecidas. Antigos bares, festas e situações. Estava exausto disto tudo.

Não via mais honestidade nas pessoas, apenas promessas, teatros. Quando ele odiava odiava mesmo. Era difícil voltar atrás. Conhecia poucos casos onde conseguira voltar atrás.

Poucos mesmo. Mais que merda! Que merda! Gritou dentro do ônibus! Que merda de mundo! Caralho! Que teatrinho de merda! Vão pra puta que pariu! Desceu. Andou. Estava perto do caos. Pegou outra condução, foi para a rodoviária. Perambulou, comprou uma dose de menta, sentou, deitou, olhou as estrelas. Voltou pro apartamento vazio do centro. Abriu a porta. Acendeu um incenso, abriu a janela para entrar ar. O telefone tocou.

Pisou, esmigalhou com raiva e não satisfeito arrancou o fio que o prendia

Foi pra cozinha, colocou algo para cozinhar, comeu, engoliu, merda de alimentação. Abriu uma garrafa de vodka, espremeu alguns limões, tomou uma caipivodka escutando Coltrane novamente. Agora deliberadamente.

Percebeu um ou dois envelopes, por baixo da porta. Largou o copo, pegou-os, rasgou e começou a ler. Promoções, e uma conta de luz. Nada demais. Não era tão importante assim para receber cartas em casa. Chutou a porra dos envelopes.

Não tinha mais nada pra pensar. Dormiu abraçado com a vodka. Se alguém batesse na porta gritaria um foda-se já anteriormente ensaiado.

Mas que merda de dia misantropo, pensou antes de cochilar.

Um comentário:

JH disse...

rapaz...

se eu fosse filmar esse texto, botaria uma edição bem frenética, câmera nervosa, cortes rápidos...

de trilha sonora: be-bop.