quinta-feira, 29 de maio de 2008

E hoje ele falou tudo

E foi aí Ruiva, que eu virei a esquina com uma das mãos e o pensamento nus, com uma lata de cerveja no final e encontrei cinco ou seis meninos pseudo-suicidas, brincando de antagonismo.

Era um antagonismo estético, pelo menos aparentemente.

Um bebia vodka, sentado num banco de madeira, cabelos espetados, roupa preta, muitos piercings pelo corpo; conversavam em grupo, ligeiramente agitado, ligeiramentes circunspecto, ainda que o significado da palavra não dê conta do que estava realmente acontecendo por ali, e nunca dá.

Não me dei conta que havia uma discussão em torno da decadência. Sim, não é preciso ser genial para perceber até onde vai a decadência deste mundinho, falsamente moderno.

Não sei exatamente até onde vão as cores do meu mundo ruiva, não sei até quando conseguirei manter este diálogo inexistente, na verdade unilateral com você; as luzes, a ribalta, a terapia, tudo estilhaçado procurando sentido, num mundo vazio, vazio, perdido, ainda assim agradável de se observar, de se cheirar, de catar afeto; não, catar afeto nunca é legal ruiva.

E eu cheguei num ponto, quer dizer, posso ver de longe, e talvez até tentar retornar, mas sei que isto não vai ser possível, desde aquele dia maldito que você mostrou sua existência, com dois cigarros acesos, num ponto limite ruiva. Caso eu ultrapasse, talvez nunca mais consiga realizar determinadas coisas, como isto aqui.

Talvez. Eu me sinto culpado, me sinto culpado quando rifo meus princípios em troca de iluminação, mas eu já cansei deste ascetismo bobo, e realmente prefiro ter tendinite a dor nos calcanhares; sim, é uma contradição.

Digo que um escritor medíocre é aquele que não conseguiu matar seu censor interno, e sim, nunca conseguimos, até o momento em que perdemos não tudo, por que nunca se perde tudo, mas quando perdemos aquele instinto básico de sobrevivência que impede o clique da 45, o despencar do abismo ou simplesmente a resignação cínica. O conhecimento ruiva é um veneno. Depende da dose é claro. Excessivamente degenera nosso presente, nosso passado e nosso futuro. Não há mais salvação dentro desse tipo de estrutura, de compartimento hermético que assassinou, sodomizou a melhor parte da nossa espontâneidade, que tende a se retorcer em espasmos e talvez consiga recuperar-se com oito ou nove anos de terapia.

Não quero mais ir lá ruiva, ele quer lhe assassinar, ele quer me refazer tomar o controle; mas como diria Cecília Meirelles nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Estou com medo, medo como nunca tive(você já deve ter percebido este meu tom dramático-excessivo).

Vamos aos fatos: cansei dos ascéticos, dos que esperam a mudança no futuro. Cansei dos libertinos, que esperam a mudança no presente. Cansei dos cínicos que não esperam nada. Cansei dos hipócritas, que fingem não poder desejarem mudanças. Cansei de mim mesmo, ascético, libertino, hipócrita e cínico. Cansei de poder perceber isso. Cansei de cansar. Cansei de escrever isto aqui.

Talvez não esteja tão cansado, mas estou.


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