Ia ser um conto, mas por minha preguiça e inabilidade, transmutou-se em uma poesia; sinceramente pensei umas nove vezes antes de publicá-la. Agradeço a inspiração do último comentário do meu homônimo. Tentarei fazer um conto. Prometo. A poesia é meio parodiada, é claro.
Acabou a cerveja.
Acabou a criatividade.
Acabou a música.
E agora Charles?
A história acabou.
O muro caiu.
A poesia morreu.
O partido foi pro buraco.
O moderno te corrompeu.
Os futuristas estão no parque brincando.
E agora Charles, digo José.
O pós-modernismo ganhou.
Até a poesia, na labuta, nãO fez se ouvir
Com O maiúsculo.
José, digo Charles!
Vai ver televisão!
terça-feira, 27 de novembro de 2007
domingo, 25 de novembro de 2007
Como se fosse possível articular algo além da solidão
Eu fiquei no meio do caminho. Tri-partido num pedaço de rua, ainda não esquartejado emocionalmente, mas sinceramente esperando algo de relevante acontecer. Olhando velhas ausências acenarem, rodopiando em meio à lugares outrora mágicos, deliciosamente envolvido pelo ritmo da música. Enquanto as pessoas iam, voltavam e iam novamente, eu percebi que a solidão pode ser o real caminho, o caminho real, real no sentido de monarquia, "o estado sou eu", "a solidão sou eu" (palmas para os risos em auditórios, pessoas se levantam em tom absolutista com sorrisos artificiais em volta a cenários de isopor e neon dos anos 80, há algum tipo de música decadente dinamizando todo o ambiente).
Construí os mesmos desafios e repeti as mesmas indagações intencionando criar um drama pessoal. O que fazer com um mundo vazio além de colorí-lo ou transformá-lo em algo surpreendente? (o apresentador sorri e roda os cartões entre os dedos, talvez tenha gordura nas mãos... ou seja esperma seco)
Apesar disso a obviedade está em todos os lugares.
Não há mais surpresa no óbvio. Por que do óbvio nada se espera. Do óbvio só se tiram velhas lições. E de velhas lições, o mundo já está cheio. Surpreendentemente cheio. Como as velhas lições podem oferecer(cherrleaders fictícias, feitas de isopor dançam ao som de músicas copiadas de um filme pornô dos anos 80).
E foi pensando nisto, que resolvi me afastar do óbvio, de ignorar a obviedade alheia e de ficar vagando no centro da cidade. Por que vaguear, vadiar, ou flanear utilizando um velho conceito do célebre João do Rio, é uma necessidade dos desesperados; desespero dissimulado, até por que quem vaguearia com um belo par de olhos ao lado? Vaguea-se, flanea-se a procura de um ponto fixo, de uma barra que como diz algum cientista cartesiano, "moverá o mundo"(o apresentador é enforcado numa figueira de três metros e sessenta e sete centímetros - as pessoas rodam em volta sem saber que não há uma única verdade).
E andei. E andei. Andei sem pontos de finais ou interrogações. Andei pensando em explodir meu diafragma de cansaço. Mas cansaços, e canções não enchem diafragmas, nada enche diafragmas além de um pouco de esperança emoldurada em serrotes emocionais. Serrotes emocionais eu disse.
Há uma parte espalhada de mim temperando você nos finais de semana. Há uma opinião vice-versa. Há um verso estruturado sobre falsos versos, sobre certos caminhos. Há caminhos.
Cerveja no chão do quarto, ao lado de deus e das caixinhas, das latinhas, da falsas, das farsas espinhas, das perdidas acracias.
Explodir, andar, caminhar, pesar, chorar. Cá estou eu!
Perdido! Com pianos vendidos! Com sangue nos dentes, com emoções crescendo sobre os cabelos!
Há neon, apresentadores dos anos 80. Há algumas farsas. Há falsas criatividades. Há um cheiro de morte, rondando a carência, toda a carência, no ar.
Construí os mesmos desafios e repeti as mesmas indagações intencionando criar um drama pessoal. O que fazer com um mundo vazio além de colorí-lo ou transformá-lo em algo surpreendente? (o apresentador sorri e roda os cartões entre os dedos, talvez tenha gordura nas mãos... ou seja esperma seco)
Apesar disso a obviedade está em todos os lugares.
Não há mais surpresa no óbvio. Por que do óbvio nada se espera. Do óbvio só se tiram velhas lições. E de velhas lições, o mundo já está cheio. Surpreendentemente cheio. Como as velhas lições podem oferecer(cherrleaders fictícias, feitas de isopor dançam ao som de músicas copiadas de um filme pornô dos anos 80).
E foi pensando nisto, que resolvi me afastar do óbvio, de ignorar a obviedade alheia e de ficar vagando no centro da cidade. Por que vaguear, vadiar, ou flanear utilizando um velho conceito do célebre João do Rio, é uma necessidade dos desesperados; desespero dissimulado, até por que quem vaguearia com um belo par de olhos ao lado? Vaguea-se, flanea-se a procura de um ponto fixo, de uma barra que como diz algum cientista cartesiano, "moverá o mundo"(o apresentador é enforcado numa figueira de três metros e sessenta e sete centímetros - as pessoas rodam em volta sem saber que não há uma única verdade).
E andei. E andei. Andei sem pontos de finais ou interrogações. Andei pensando em explodir meu diafragma de cansaço. Mas cansaços, e canções não enchem diafragmas, nada enche diafragmas além de um pouco de esperança emoldurada em serrotes emocionais. Serrotes emocionais eu disse.
Há uma parte espalhada de mim temperando você nos finais de semana. Há uma opinião vice-versa. Há um verso estruturado sobre falsos versos, sobre certos caminhos. Há caminhos.
Cerveja no chão do quarto, ao lado de deus e das caixinhas, das latinhas, da falsas, das farsas espinhas, das perdidas acracias.
Explodir, andar, caminhar, pesar, chorar. Cá estou eu!
Perdido! Com pianos vendidos! Com sangue nos dentes, com emoções crescendo sobre os cabelos!
Há neon, apresentadores dos anos 80. Há algumas farsas. Há falsas criatividades. Há um cheiro de morte, rondando a carência, toda a carência, no ar.
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sobre efeito leve de cerveja,
sobre efeito moderado de cerveja
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
10 dicas para o pseudo-escritor
1 -Torne uma rotina
Mesmo que não tenha nada própriamente para ser escrito. Aguçará sua criatividade. Isto no mínimo lhe deixará apto a utilizá-la em quaisquer momentos, de alta ou baixa criatividade.
2 - Não desperdice boas idéias
Elas vem e vão, mas podem se perder caso você não anote, não repita para si mesmo, ou não aproveite este delírio dionisíaco ESCREVENDO. Não deixe para depois, mesmo que isso lhe faça escrever em guardanapos, panfletos, jornais, etc. Você pode ficar com fama de esquizofrênico, mas lembre-se, situações deste tipo são fartos materiais literários! Quanto a esse papo de "depois eu lembro" simplesmente não vai funcionar.
3 - Tente variar
Haikai's, poesias, contos, crônicas, letras de música, pintura a óleo, etc. Descobrirá que pode ser muito bom em determinada categoria e extremamente medíocre em outras.
4 - Leia, leia muito
De preferência os clássicos, mas contemporâneos com talento também são bem vindos. Leia os anônimos, leia o que seus amigos escrevem, conhecidos, lhe dará mais idéias, lhe mostrará sua distinção, sua paridade, etc. E também lhe ajudarão a não excrever açin.
5 - Utilize o instrumental que tiver
Papel, máquina de escrever, computador ou o que quer que seja, use! Utilize o equipamento da maneira que lhe aprouver. Há pessoas que funcionam muito bem com o computador, mas simplesmente travam com uma caneta na mão. O inverso também pode ser verdadeiro.
6 - Conheça seus mecanismos indutores
Você precisa saber em quais momentos consegue escrever melhor e em quais geralmente não dá certo. Drogas que afetam a percepção podem ser bem vindas, desde que isto, a longo prazo não condicione seu poder de escrita à este tipo de percepção alterada(ou acabe com seu fígado em troca de um livro que meia dúzia de pessoas irá realmente se interessar). Qualquer coisa que altere sua percepção(como um dia extremamente ruim ou o contrário) pode ser uma boa forma de mecanismo indutor da escrita.
7 - Não racionalize o que escreve
Escreva catárticamente. Isto inclui não ligar para erros gramaticais e para jogadas de estilo. Você pode corrigir tudo depois de terminar; ás vezes é importante apenas seguir a onda, se esperar muito você pode simplesmente "travar". Não racionalize sua escrita. Deslizar inclui, escrever sem medo. E escrever sem medo passa por não escrever para construir uma bela vitrine, mas para colocar esses seus fantasmas para fora.
8 - Não fique num tablado, muito menos numa caverna
A arrogância e os elogios matam um pseudo-escritor. Ou ele se envolve tanto com os elogios, que tenta "repetir" o que agradou, ou se acha tão medíocre a ponto de desmerecer tudo o que escreveu(a falta de confiança e de auto-estima mata quaisquer futuros brilhantes). O primeiro caso é apenas o segundo sem máscaras, mas brincadeiras a parte, os elogios podem matar um bom escritor, que tentará sem sucesso repetir fórmulas de sucesso, que invariávelmente o levarão a bancarrota criativa. Se quer prejudicar alguém, elogie-a demasiadamente. Se quer terminar com quaisquer estímulos, o leve a um sarau organizado por estudantes de Letras.
9 - Envolva-se com material literário vivo
Isto inclui situações das mais variadas. A literatura pobre é aquela que se origina de um escritor com uma vida medíocre, isto inclui pessoas que só conseguem escrever livros de auto-ajuda ou best-sellers de administração de empresas. Um escritor mediano, é alguém que tem mais do que contar sobre sua própria vida do que própriamente a escrever. A experiência do escritor é o seu melhor material literário. A diferença entre escritores e os egocêntricos, é que os segundos escrevem auto-biografias, os primeiros, "disfarçam" e chamam de literatura.
10 - Esqueça os manuais
Alguém que precisa ler manuais para escrever, definitivamente ficará ad infinitun na condição de pseudo-escritor. Mas e quem liga, não é mesmo? Consumimos muita arte por que produzimos pouca arte. E isto também inclui a literatura.
Mesmo que não tenha nada própriamente para ser escrito. Aguçará sua criatividade. Isto no mínimo lhe deixará apto a utilizá-la em quaisquer momentos, de alta ou baixa criatividade.
2 - Não desperdice boas idéias
Elas vem e vão, mas podem se perder caso você não anote, não repita para si mesmo, ou não aproveite este delírio dionisíaco ESCREVENDO. Não deixe para depois, mesmo que isso lhe faça escrever em guardanapos, panfletos, jornais, etc. Você pode ficar com fama de esquizofrênico, mas lembre-se, situações deste tipo são fartos materiais literários! Quanto a esse papo de "depois eu lembro" simplesmente não vai funcionar.
3 - Tente variar
Haikai's, poesias, contos, crônicas, letras de música, pintura a óleo, etc. Descobrirá que pode ser muito bom em determinada categoria e extremamente medíocre em outras.
4 - Leia, leia muito
De preferência os clássicos, mas contemporâneos com talento também são bem vindos. Leia os anônimos, leia o que seus amigos escrevem, conhecidos, lhe dará mais idéias, lhe mostrará sua distinção, sua paridade, etc. E também lhe ajudarão a não excrever açin.
5 - Utilize o instrumental que tiver
Papel, máquina de escrever, computador ou o que quer que seja, use! Utilize o equipamento da maneira que lhe aprouver. Há pessoas que funcionam muito bem com o computador, mas simplesmente travam com uma caneta na mão. O inverso também pode ser verdadeiro.
6 - Conheça seus mecanismos indutores
Você precisa saber em quais momentos consegue escrever melhor e em quais geralmente não dá certo. Drogas que afetam a percepção podem ser bem vindas, desde que isto, a longo prazo não condicione seu poder de escrita à este tipo de percepção alterada(ou acabe com seu fígado em troca de um livro que meia dúzia de pessoas irá realmente se interessar). Qualquer coisa que altere sua percepção(como um dia extremamente ruim ou o contrário) pode ser uma boa forma de mecanismo indutor da escrita.
7 - Não racionalize o que escreve
Escreva catárticamente. Isto inclui não ligar para erros gramaticais e para jogadas de estilo. Você pode corrigir tudo depois de terminar; ás vezes é importante apenas seguir a onda, se esperar muito você pode simplesmente "travar". Não racionalize sua escrita. Deslizar inclui, escrever sem medo. E escrever sem medo passa por não escrever para construir uma bela vitrine, mas para colocar esses seus fantasmas para fora.
8 - Não fique num tablado, muito menos numa caverna
A arrogância e os elogios matam um pseudo-escritor. Ou ele se envolve tanto com os elogios, que tenta "repetir" o que agradou, ou se acha tão medíocre a ponto de desmerecer tudo o que escreveu(a falta de confiança e de auto-estima mata quaisquer futuros brilhantes). O primeiro caso é apenas o segundo sem máscaras, mas brincadeiras a parte, os elogios podem matar um bom escritor, que tentará sem sucesso repetir fórmulas de sucesso, que invariávelmente o levarão a bancarrota criativa. Se quer prejudicar alguém, elogie-a demasiadamente. Se quer terminar com quaisquer estímulos, o leve a um sarau organizado por estudantes de Letras.
9 - Envolva-se com material literário vivo
Isto inclui situações das mais variadas. A literatura pobre é aquela que se origina de um escritor com uma vida medíocre, isto inclui pessoas que só conseguem escrever livros de auto-ajuda ou best-sellers de administração de empresas. Um escritor mediano, é alguém que tem mais do que contar sobre sua própria vida do que própriamente a escrever. A experiência do escritor é o seu melhor material literário. A diferença entre escritores e os egocêntricos, é que os segundos escrevem auto-biografias, os primeiros, "disfarçam" e chamam de literatura.
10 - Esqueça os manuais
Alguém que precisa ler manuais para escrever, definitivamente ficará ad infinitun na condição de pseudo-escritor. Mas e quem liga, não é mesmo? Consumimos muita arte por que produzimos pouca arte. E isto também inclui a literatura.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Da Tristeza de Vasilli
Anatole certa vez, injuriado com Vasilli, resolveu lhe interpelar numa quarta-feira de madrugada, que própriamente já era uma quinta, sobre algumas questões de cunho existencial.
- Vá aproveitar a vida, que ela não te persegue ainda que fosse a contento!
- Estranho-te. Abandona este ar parnasiano e fala como um pós-moderno imprestável que sempre foi.
Anatole gargalhou, era uma boa entrada antes do assunto principal. Resolveu animar Vasilli com mais uma de suas interpelações. Tirou o chapéu panamenho que estava utilizando, subiu em um dos sofás de Vasilli, numa interpretação um tanto quanto pitoresca e disse: - Vasilli, você simplesmente está definhando, enquanto ela está livre meu amigo. Livre como um pássaro. Livre como Quetzal. Larga os cabelos vermelhos, os cabelos cor de ferrugem e vem pra realidade meu amigo! Vem pra realidade que a realidade é tua melhor companheira!
Vasilli, ajeitava alguns livros, colocava-os em uma pilha, no canto da sala como um autômato. Parecia que os seus gestos, seu corpo, traduziam uma agressão à felicidade inconveniente de Anatole.
- Não há verdade mais odiosa do que conceitos absolutos sobre a liberdade meu caro. Enquanto o outro extremo também é verdadeiro, eu devo assumir que por diversos meses eu assumi uma postura complacente com tudo isto. É como se o mundo girasse e fizesse as pessoas ao meu redor rodopiarem, enquanto eu continuei neste balé profano. Faz sentido para você? Preciso ser mais claro, meu bom "Bon Vivant". Vasilli, ressaltou o bon vivant com um ar de ironia que Anatole já conhecia desde sempre.
Adotando um tom mais sério, Anatole resolve contra-atacar:
- Vasilli, não se trata disso. Trata-se de felicidade. Você pode ser feliz com o que quiser, desde que consiga enterrar tudo isto de uma vez por todas.
- Cada um tem seu próprio combustível. Mas sabia que esta luz que você exala como indispensável pode lá ter suas matizes e eu bem escolho o que é felicidade para mim meu amigo. E sua felicidade me parece mais agradável para um apresentador de paródias televisivas. Gente que faz comercial de sabão em pó. Essa felicidade artificial, fingida, forçada que pede clemência e resposta a cada esquina, que sobrevive por repetição. Gente feliz por obrigação. Se é esta merda de felicidade que você me empurra, pode dar a volta, fechar a porta e me mandar cartões com frases cristãs no natal. Será mais honesto. Além disso, luz demais cega. Estar inadaptável não é negativo desde que se encontre seu próprio eixo. E se meu eixo é meio nebuloso, vai lá, por fim cheguei a alguma conclusão.
- Teimoso, como sempre. Além disto continua a racionalizar teus sentimentos com essa teoria de beira de esquina, completou Anatole, antes de acender o cigarro e guardar o isqueiro no casaco de couro sintético, professando oracularmente as últimas palavras inteligíveis para Vasilli.
Anatole, foi a cozinha, buscou uma caixa de papelão que parecia estar ligeiramente pesada; com os pés, livrou-se do banco de madeira que atravancava sua passagem e largou a caixa em cima da mesinha de centro.
- Toma Anatole. Guarda na sua casa então. Guarda toda essa merda na sua casa.
Não fora preciso olhar para dentro da caixa para concluir que eram coisas da ruiva. Anatole, resolveu não prosseguir na provocação. Aquilo já tinha ido longe demais e dado frutos suficientes. Tinha conseguido provocar o russo. Anatole apagou o cigarro no cinzeiro da sala. Mas o que era um cigarro para um acontecimento tão importante como aquele, apenas um cigarro, ora bolas!
- Esse é o caminho meu camarada, esse é o caminho. Livra-te dessa poeira cósmica! Hora de parir um novo mundo!
Parecendo não ter escutado as últimas palavras de Anatole, Vasilli prossegue: - Nato, leva pra tua casa, cuida bem das coisas dela. Pode me recriminar, mas talvez ela volte, ou peça as coisas dela de algum vilarejo da Nicarágua por correio. Sei lá.
- Pode deixar russo, ficarão comigo, bem guardadas. Saiba que isso é um grande passo. Como diria aquele ditado... Vasilli o interrompeu com um acenar de dedo, quase um "chega", beiravam nesse momento, limítrofes emocionais. Anatole resolveu não prosseguir, entendia o recado. Já tinha conseguido o que queria: reavivá-lo. "Pelo menos ele reagiu", pensou.
- Vai agora francês. Talvez te encontre pelos corredores do centro nesta sexta.
- Au-revoir!
- Até.
Anatole fechou a porta. Desceu as escadas. Foi necessário fazer aquilo. Sabia que teria de ser impiedoso. Era pelo bem de Vasilli. Nada seria como antes, mas ele demoraria a entender, o que era compreensívelmente natural. Mas já fazia tempo demais. Ela não iria voltar.
Ele não acreditava nisto; se Vasilli acreditava, tinha lá seus motivos. Mas bem, a ruiva não iria voltar. Ruivas não voltam. Simplesmente não retornam.
Enquanto isso, Vasilli recolhia, de maneira sugestivamente patética, alguns cartões postais soltos, enviados em tempos áureos, tempos onde se podia tomar banho de chuva de janeiro a março à espera de situações limites. Eram dores verdadeiras pelo menos. Dores verdadeiras.
Uma nostalgia o invadiu, mas quem vive de nostalgias... deus... já está perto dos pontos finais.
Enquanto cozinhava um macarrão, o pensamento Vasilliano ia fluíndo...
"Associar melancolia e tristeza com algo ruim é uma prática ocidental. Há um limite muito pequeno dentre estas práticas. O ocidental relaciona aparentemente extroversão com alegria. O oposto, seria a introversão, como algo ruim, além deste parâmetro, atividades ditas introvertidas e que não conduzem o indivíduo a um estado semelhante a de um palhaço no auge de seu espetáculo tornam-se repugantes. Remédios, noites vazias e metade da civilização ocidental está fundada para afugentar este espectro. Até a geografia urbana. Os letreiros coloridos, as ruas iluminadas, o barulho, parte disto tudo."
Teorizava demais. Até mesmo com a segunda ou terceira garfada de macarrão e uma música não tão decadente dos anos 90 no fundo. Era a era dos macacos indo, dos macados vindo, dos macacos que ficavam parados, enquanto Vasilli, não relacionava o fato de apertar botões com o fato da música continuar porque precisava continuar, continuar, enquanto a cerveja preta ia descendo sem vírgulas, sem vírgulas, sem, as, malditas, vírgulas; Cantava alto, esparramado sobre os cartões postais, chorando por cima das folhas de papel soltas, a barba por fazer(não iria fazer), os malditos nostálgicos voando por sua cabeça. As malditas ruivas. Multiplicando-se, e as caixas de papelão no fundo do terceiro armário da cozinha.
A chuva tinha dilacerado parte do que sobrara de si mesmo. Os solavancos do ônibus, a água escorrendo pelos vidros laterais e as pessoas estáticas, um bom fim de noite pelo menos.
Anatole, apoiava a caixa em uma das mãos, e com a outra brincava de desembaçar o vidro do ônibus, desenhando sorrisos estáticos. Estáticos.
Pensava em Vasilli. Sentira pena do russo inicialmente. Era um confuso sentimento de pena e decepção. Onde escondera-se seu ímpeto de reação? Desceu, com a caixa na mão, a chuva molhava seu casaco, protegia a caixa como se fosse o próprio Vasilli, mas que situação patética.
Entrou no apartamento, guardou-as coisas da ruiva com carinho, trocou a roupa e resolveu tomar um banho cantando alguma música da Sr. Madeleine Peyroux.
Os vizinhos como de praxe, escutavam.
- Vá aproveitar a vida, que ela não te persegue ainda que fosse a contento!
- Estranho-te. Abandona este ar parnasiano e fala como um pós-moderno imprestável que sempre foi.
Anatole gargalhou, era uma boa entrada antes do assunto principal. Resolveu animar Vasilli com mais uma de suas interpelações. Tirou o chapéu panamenho que estava utilizando, subiu em um dos sofás de Vasilli, numa interpretação um tanto quanto pitoresca e disse: - Vasilli, você simplesmente está definhando, enquanto ela está livre meu amigo. Livre como um pássaro. Livre como Quetzal. Larga os cabelos vermelhos, os cabelos cor de ferrugem e vem pra realidade meu amigo! Vem pra realidade que a realidade é tua melhor companheira!
Vasilli, ajeitava alguns livros, colocava-os em uma pilha, no canto da sala como um autômato. Parecia que os seus gestos, seu corpo, traduziam uma agressão à felicidade inconveniente de Anatole.
- Não há verdade mais odiosa do que conceitos absolutos sobre a liberdade meu caro. Enquanto o outro extremo também é verdadeiro, eu devo assumir que por diversos meses eu assumi uma postura complacente com tudo isto. É como se o mundo girasse e fizesse as pessoas ao meu redor rodopiarem, enquanto eu continuei neste balé profano. Faz sentido para você? Preciso ser mais claro, meu bom "Bon Vivant". Vasilli, ressaltou o bon vivant com um ar de ironia que Anatole já conhecia desde sempre.
Adotando um tom mais sério, Anatole resolve contra-atacar:
- Vasilli, não se trata disso. Trata-se de felicidade. Você pode ser feliz com o que quiser, desde que consiga enterrar tudo isto de uma vez por todas.
- Cada um tem seu próprio combustível. Mas sabia que esta luz que você exala como indispensável pode lá ter suas matizes e eu bem escolho o que é felicidade para mim meu amigo. E sua felicidade me parece mais agradável para um apresentador de paródias televisivas. Gente que faz comercial de sabão em pó. Essa felicidade artificial, fingida, forçada que pede clemência e resposta a cada esquina, que sobrevive por repetição. Gente feliz por obrigação. Se é esta merda de felicidade que você me empurra, pode dar a volta, fechar a porta e me mandar cartões com frases cristãs no natal. Será mais honesto. Além disso, luz demais cega. Estar inadaptável não é negativo desde que se encontre seu próprio eixo. E se meu eixo é meio nebuloso, vai lá, por fim cheguei a alguma conclusão.
- Teimoso, como sempre. Além disto continua a racionalizar teus sentimentos com essa teoria de beira de esquina, completou Anatole, antes de acender o cigarro e guardar o isqueiro no casaco de couro sintético, professando oracularmente as últimas palavras inteligíveis para Vasilli.
Anatole, foi a cozinha, buscou uma caixa de papelão que parecia estar ligeiramente pesada; com os pés, livrou-se do banco de madeira que atravancava sua passagem e largou a caixa em cima da mesinha de centro.
- Toma Anatole. Guarda na sua casa então. Guarda toda essa merda na sua casa.
Não fora preciso olhar para dentro da caixa para concluir que eram coisas da ruiva. Anatole, resolveu não prosseguir na provocação. Aquilo já tinha ido longe demais e dado frutos suficientes. Tinha conseguido provocar o russo. Anatole apagou o cigarro no cinzeiro da sala. Mas o que era um cigarro para um acontecimento tão importante como aquele, apenas um cigarro, ora bolas!
- Esse é o caminho meu camarada, esse é o caminho. Livra-te dessa poeira cósmica! Hora de parir um novo mundo!
Parecendo não ter escutado as últimas palavras de Anatole, Vasilli prossegue: - Nato, leva pra tua casa, cuida bem das coisas dela. Pode me recriminar, mas talvez ela volte, ou peça as coisas dela de algum vilarejo da Nicarágua por correio. Sei lá.
- Pode deixar russo, ficarão comigo, bem guardadas. Saiba que isso é um grande passo. Como diria aquele ditado... Vasilli o interrompeu com um acenar de dedo, quase um "chega", beiravam nesse momento, limítrofes emocionais. Anatole resolveu não prosseguir, entendia o recado. Já tinha conseguido o que queria: reavivá-lo. "Pelo menos ele reagiu", pensou.
- Vai agora francês. Talvez te encontre pelos corredores do centro nesta sexta.
- Au-revoir!
- Até.
Anatole fechou a porta. Desceu as escadas. Foi necessário fazer aquilo. Sabia que teria de ser impiedoso. Era pelo bem de Vasilli. Nada seria como antes, mas ele demoraria a entender, o que era compreensívelmente natural. Mas já fazia tempo demais. Ela não iria voltar.
Ele não acreditava nisto; se Vasilli acreditava, tinha lá seus motivos. Mas bem, a ruiva não iria voltar. Ruivas não voltam. Simplesmente não retornam.
Enquanto isso, Vasilli recolhia, de maneira sugestivamente patética, alguns cartões postais soltos, enviados em tempos áureos, tempos onde se podia tomar banho de chuva de janeiro a março à espera de situações limites. Eram dores verdadeiras pelo menos. Dores verdadeiras.
Uma nostalgia o invadiu, mas quem vive de nostalgias... deus... já está perto dos pontos finais.
Enquanto cozinhava um macarrão, o pensamento Vasilliano ia fluíndo...
"Associar melancolia e tristeza com algo ruim é uma prática ocidental. Há um limite muito pequeno dentre estas práticas. O ocidental relaciona aparentemente extroversão com alegria. O oposto, seria a introversão, como algo ruim, além deste parâmetro, atividades ditas introvertidas e que não conduzem o indivíduo a um estado semelhante a de um palhaço no auge de seu espetáculo tornam-se repugantes. Remédios, noites vazias e metade da civilização ocidental está fundada para afugentar este espectro. Até a geografia urbana. Os letreiros coloridos, as ruas iluminadas, o barulho, parte disto tudo."
Teorizava demais. Até mesmo com a segunda ou terceira garfada de macarrão e uma música não tão decadente dos anos 90 no fundo. Era a era dos macacos indo, dos macados vindo, dos macacos que ficavam parados, enquanto Vasilli, não relacionava o fato de apertar botões com o fato da música continuar porque precisava continuar, continuar, enquanto a cerveja preta ia descendo sem vírgulas, sem vírgulas, sem, as, malditas, vírgulas; Cantava alto, esparramado sobre os cartões postais, chorando por cima das folhas de papel soltas, a barba por fazer(não iria fazer), os malditos nostálgicos voando por sua cabeça. As malditas ruivas. Multiplicando-se, e as caixas de papelão no fundo do terceiro armário da cozinha.
A chuva tinha dilacerado parte do que sobrara de si mesmo. Os solavancos do ônibus, a água escorrendo pelos vidros laterais e as pessoas estáticas, um bom fim de noite pelo menos.
Anatole, apoiava a caixa em uma das mãos, e com a outra brincava de desembaçar o vidro do ônibus, desenhando sorrisos estáticos. Estáticos.
Pensava em Vasilli. Sentira pena do russo inicialmente. Era um confuso sentimento de pena e decepção. Onde escondera-se seu ímpeto de reação? Desceu, com a caixa na mão, a chuva molhava seu casaco, protegia a caixa como se fosse o próprio Vasilli, mas que situação patética.
Entrou no apartamento, guardou-as coisas da ruiva com carinho, trocou a roupa e resolveu tomar um banho cantando alguma música da Sr. Madeleine Peyroux.
Os vizinhos como de praxe, escutavam.
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sábado, 10 de novembro de 2007
Hierárquicos Sofrimentos
Acordei com vontade de chorar
De comer lágrimas às pausas sôfregas do dia
Sem que mesmo para isto eu merecesse
Por que eu não mereço. Veja bem
Eu não mereço
Quem merece chorar não chora.
Apenas ri
Apenas canta
Dança e faz de seu dia uma batalha diária
Contra a solidão
Nas favelas, beiras de esquina, nas pontes
E nas praças abandonadas não há lagrimas
Sem motivos que as justifiquem
Eu não mereço parir as lágrimas que me espreitam
Já me falaram que cada sofrimento é um sofrimento
E que sem hierarquias
Todos os sofrimentos seriam iguais
Mas há sofrimentos que não são sofrimentos
São apenas lástimas ou caprichos mesquinhos
E com estes não há condescendência
Muito menos condescendentes
Envergonho me do meu sofrimento
Sofrimento pequeno
Insignificante e miúdo
Mas só eu sei
Repito, só eu
Sei realmente sua imensidão
Como nas trevas despedaçados
E interligados pela dor
Hoje vejo
Que todos os sofrimentos são iguais
Por que há então
Um motivo comum
Que odiosamente
Os unem
De comer lágrimas às pausas sôfregas do dia
Sem que mesmo para isto eu merecesse
Por que eu não mereço. Veja bem
Eu não mereço
Quem merece chorar não chora.
Apenas ri
Apenas canta
Dança e faz de seu dia uma batalha diária
Contra a solidão
Nas favelas, beiras de esquina, nas pontes
E nas praças abandonadas não há lagrimas
Sem motivos que as justifiquem
Eu não mereço parir as lágrimas que me espreitam
Já me falaram que cada sofrimento é um sofrimento
E que sem hierarquias
Todos os sofrimentos seriam iguais
Mas há sofrimentos que não são sofrimentos
São apenas lástimas ou caprichos mesquinhos
E com estes não há condescendência
Muito menos condescendentes
Envergonho me do meu sofrimento
Sofrimento pequeno
Insignificante e miúdo
Mas só eu sei
Repito, só eu
Sei realmente sua imensidão
Como nas trevas despedaçados
E interligados pela dor
Hoje vejo
Que todos os sofrimentos são iguais
Por que há então
Um motivo comum
Que odiosamente
Os unem
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quinta-feira, 8 de novembro de 2007
São setores Urbanos
Vasilli precisava parar. Respirar. Sentir o oxigênio invadir seus pulmões com força. Precisava de anestésicos naturais, de ansiolíticos homeopáticos, ao invés de álcool barato, mas ainda não se "iluminara" suficientemente.
Cruzara a Gomes Freire com a esquina da Mem de Sá, desviando-se de calçadas ruidosas e pedestres silenciosos que contornavam os carros estacionados, contornavam a si mesmos já vencidos pelo fazer-se pragmático e prático dos atores urbanos.
"Velhos problemas, velhas soluções", comentou consigo mesmo em tom fatalista.
O nome do bar era "Casa da Cachaça", históricamente falando tinha lá sua importância, tal como a Rua Tonelleros; e qualquer merda de rua possue importância se algum burocrata do MEC ou da prefeitura entram em conluio, assim como a rua Carlos Lacerda, aquele filho da puta de extrema direita, de extrema direita sim, que Vasilli era obrigado a passar próximo às terças e quintas.
O mais importante no entanto, era realmente poder sentar nas fronteiras da Lapa, na parte externa ainda sem glamour, ainda não revitalizada(e que bom) sem ser importunado por meia dúzia de conhecidos, o que particularmente costumava detestar quando desejava a paz. A ansiedade lhe corroía, e isso pareceu atrair rápidamente o garçom; e seja como for que realmente tenha acontecido, o fato importante é que pediu uma cachaça de maçã: "pra aquietar o espírito" brincou em um tom simpático e jocoso que poderia ter sido proferido por alguém, no mesmo bar, há sessenta anos atrás.
Era uma frase senso comum, corrigia-se segundo este racionalismo chato que o atacava vez ou outra, que transformava padrões em padrões e tirava o significado oculto das coincidências, um milhão e setecentas mil coincidências ocorridas em uma semana sem explicações, transformadas em simples acaso, em simples "fora das probabilidades", "exceções". Ciência e estatística de merda.
A mesma que insistia em negar o mistério do desconhecido em prol de uma lógica moribunda, acabava com o abismo e trazia-lhe uma colher, um relógio ou uma aparelho de endoscopia importado da Coréia do Sul.
A ciência era um burro com uma cenoura amarrada, que jamais consegue alcançar-se! Eis a ciência contemporânea. Perdida em vazios que ela mesmo criou. Perdida em sua própria ansiedade.
E nem me fale em ansiedade. Vasilli contava seus trocados e esboçava profundidade em divagações, cigarros e sorrisos; todos óbviamente de duvidosa qualidade.
- A ansiedade é doença da modernidade. É da modernidade, esta merda de modernidade!
- Filha legítima!
Gritava, mas ninguém escutava, fantasmas e murmúrios desfilavam por entre os goles de cerveja.
A música lhe irritava, era uma mistura mal-sucedida de uma tentativa abrasileirada de um pop inglês de baixa qualidade, que o levou a tragar todo o resto da aguardente com vigor de um bêbado semi-profissional. Meu equipamento mental está totalmente viciado - assumia.
Somos viciados. Estamos condicionados como ratos, vagando por cidades sujas, respirando merda, sim respirando merda flutuante, exalada por fábricas imundas, símbolos fálicos flamejantes com rodas e outras porras com néon. Plástico, neon, essas merdas, que constróem templos do dinheiro, do consumo, reunindo cada vez mais ratos, que se aglutinam em torno de luzes, como aquelas vespas estúpidas que rodeiam luzes em dias de verão.
Templos do dinheiro, templos de deuses que vendem cocô misturado com amianto, seguidores mentecaptos, ovelhas e pastores, estética, estética, estética. Gritada, vociferada, por sob os escombros da roda, roda suja de sangue, engrenagens de um vazio: um vazio dinheiro.
Há uma ânsia por destruir, por construir.
A ânsia destruidora é uma ânsia criadora. Com explosivos o suficiente eu explodiria um prédio na avenida central, um templo do consumo durante a noite e evitar-ia milhares de moscas rodearem edifícios semelhantes por no mínimo cinquenta dias com otimismo, um tempo necessário para a mídia construir e instituir novos medos, vender, e enlatar sessenta e cinco ou sessenta e oito produtos pús-modernos que não precisamos. Riu da última divagação: era raivoso demais e ele nunca viu nada mais explosivo do que óleo diesel ou gás de cozinha, talvez até fogos de artifício, mas lhe sobrava ímpeto e a volúpia guardada pelos outréns.
Mais uma garçom!
Lembrara e observava com desdém, alguns atores baratos, criaturas suburbanas que vagueavam fantasiados de revoltados demodé. Não há nem mais romantismo nessa cultura urbana! A cultura urbana fracassou!, está morta. Enterrou-se sozinha. E estamos lutando para dividir seus espólios. O funeral no entanto, não acabou!
A rebeldia não está na imagem, na imagem só há ficção. Com polietileno, metal ou gel de cabelo eu conseguiria atrair todo o ódio de uma festa de primeira comunhão no bairro de Laranjeiras.
Escoteiros se ofendem até com caretas.
Sem as células, sem a porra das células, o tecido já estaria morto. Sem a merda da organização vamos vaguear como bostas. Riu de si mesmo, por que tudo fora do contexto poderia parecer realmente pior do que era, foi por issso que acendeu o segundo cigarro e pediu uma cachaça sabor-banana para fechar seu apetite de vez e torcer para que o sono viesse no princípio do terceiro trago. O garçom evidentemente não gostava, e ele deixava claro quando demorava, ou ignorava os sinais, os gritos, os sussurros inertes, porque cachaça segundo a episteme da gloriosa casa-receptora-de-droga-legalizada-pelo-governo é a que é feita de cana, a de açúcar, a de cinquenta escravos fugidos queimando a casa, o senhor do e o próprio engenho em 1793, antes das Antilhas fuderem a porra toda. Mas ainda restava o Haiti que era um exemplo corajoso; não racionalizaria novamente, se o garçom por princípios epistemológicos obrigasse-o a racionalizar alguma coisa, apenas diria que a cana possui um passado vergonhoso, mas no fundo no fundo o que estava na ponta dos culhões era dizer que a cachaça de maçã era mais gostosa.
O sono não veio. Algumas coisas temos de provocar, não é mesmo? Pensou, antes de observar o terceiro ou quarto grupo de revoltados demodé desfilar por entre as esguias calçadas(seguida de um brinde e um olhar carinhoso para a demodé da terceira fila apesar de Vasilli não estar vestindo a fantasia adequada para o intento afetivo).
Algumas das fantasias usavam óculos quadrados, vestiam roupas encomendadas, americanas, européias, rebeldia vestida; desfilavam-se, costuravam-se cheios de couraças.
Devem cagar Almodóvar no café da manhã. Riu solitáriamente da própria piada, o garçom entenderia, pois era engraçado, ele e a piada. Começou a enumerar o que deveria fazer na próxima semana: estava cheia, cheia de compromissos, vamos mudar o mundo!, dizia em silêncio, vamos, vamos mudá-lo, vamos, vamos correr, e aí ofegava, e parecia um miliciano da guerra civil espanhola, deslocado do tempo e do espaço, e aí bebia a cerveja com mais vigor, era aí, e exatamente aí que uma descarga de adrenalina percorria os brônquios que dilatavam, e aí, lembrava-se de Kafka, Bukowski, Cortázar, Neruda, Pessoa; e a cerveja vinha com mais força e aí, especificamente aí, os sobrenomes de algumas aftas emocionais apareciam por tabela.
Enforquem metade dos publicitários e já teremos um bom começo. Pensou baixo, por que atacar pessoas não era seu intento, gostava de esmagar posições, falemos baixinho - mas ninguém resiste a uma misantropia de vez em quando, é algo de tão bom tom em qualquer situação, desde que se consiga parecer irônico, mesmo com uma péssima má fama.
Odiava os misantropos que levavam sua misantropia realmente a sério, pois eram os primeiros a pedirem abraços em dinâmicas de grupo de psicoterapia; era tão óbvio quanto os ratos se aproximando das luzes de neon, dos óculos quadrados, das calçadas esguias e de todo aquele padrão e aquela fantasia criada apenas para incentivar perfis de consumo e torná-los "especiais".
"Para incentivar perfis de consumo." Falou alto, repetiu mentalmente, bebeu o último gole, amassou o cigarro na mesa de ferro, deixou alguns trocados na mesa e partiu.
Espreguiçou-se mentalmente: "Perfis de consumo... e é apenas isto."
Partiu rumo a um desconhecido, um desconhecido que se ele não apetecia, tornava-se pela força dos fatos insuportávelmente óbvio.
Cruzara a Gomes Freire com a esquina da Mem de Sá, desviando-se de calçadas ruidosas e pedestres silenciosos que contornavam os carros estacionados, contornavam a si mesmos já vencidos pelo fazer-se pragmático e prático dos atores urbanos.
"Velhos problemas, velhas soluções", comentou consigo mesmo em tom fatalista.
O nome do bar era "Casa da Cachaça", históricamente falando tinha lá sua importância, tal como a Rua Tonelleros; e qualquer merda de rua possue importância se algum burocrata do MEC ou da prefeitura entram em conluio, assim como a rua Carlos Lacerda, aquele filho da puta de extrema direita, de extrema direita sim, que Vasilli era obrigado a passar próximo às terças e quintas.
O mais importante no entanto, era realmente poder sentar nas fronteiras da Lapa, na parte externa ainda sem glamour, ainda não revitalizada(e que bom) sem ser importunado por meia dúzia de conhecidos, o que particularmente costumava detestar quando desejava a paz. A ansiedade lhe corroía, e isso pareceu atrair rápidamente o garçom; e seja como for que realmente tenha acontecido, o fato importante é que pediu uma cachaça de maçã: "pra aquietar o espírito" brincou em um tom simpático e jocoso que poderia ter sido proferido por alguém, no mesmo bar, há sessenta anos atrás.
Era uma frase senso comum, corrigia-se segundo este racionalismo chato que o atacava vez ou outra, que transformava padrões em padrões e tirava o significado oculto das coincidências, um milhão e setecentas mil coincidências ocorridas em uma semana sem explicações, transformadas em simples acaso, em simples "fora das probabilidades", "exceções". Ciência e estatística de merda.
A mesma que insistia em negar o mistério do desconhecido em prol de uma lógica moribunda, acabava com o abismo e trazia-lhe uma colher, um relógio ou uma aparelho de endoscopia importado da Coréia do Sul.
A ciência era um burro com uma cenoura amarrada, que jamais consegue alcançar-se! Eis a ciência contemporânea. Perdida em vazios que ela mesmo criou. Perdida em sua própria ansiedade.
E nem me fale em ansiedade. Vasilli contava seus trocados e esboçava profundidade em divagações, cigarros e sorrisos; todos óbviamente de duvidosa qualidade.
- A ansiedade é doença da modernidade. É da modernidade, esta merda de modernidade!
- Filha legítima!
Gritava, mas ninguém escutava, fantasmas e murmúrios desfilavam por entre os goles de cerveja.
A música lhe irritava, era uma mistura mal-sucedida de uma tentativa abrasileirada de um pop inglês de baixa qualidade, que o levou a tragar todo o resto da aguardente com vigor de um bêbado semi-profissional. Meu equipamento mental está totalmente viciado - assumia.
Somos viciados. Estamos condicionados como ratos, vagando por cidades sujas, respirando merda, sim respirando merda flutuante, exalada por fábricas imundas, símbolos fálicos flamejantes com rodas e outras porras com néon. Plástico, neon, essas merdas, que constróem templos do dinheiro, do consumo, reunindo cada vez mais ratos, que se aglutinam em torno de luzes, como aquelas vespas estúpidas que rodeiam luzes em dias de verão.
Templos do dinheiro, templos de deuses que vendem cocô misturado com amianto, seguidores mentecaptos, ovelhas e pastores, estética, estética, estética. Gritada, vociferada, por sob os escombros da roda, roda suja de sangue, engrenagens de um vazio: um vazio dinheiro.
Há uma ânsia por destruir, por construir.
A ânsia destruidora é uma ânsia criadora. Com explosivos o suficiente eu explodiria um prédio na avenida central, um templo do consumo durante a noite e evitar-ia milhares de moscas rodearem edifícios semelhantes por no mínimo cinquenta dias com otimismo, um tempo necessário para a mídia construir e instituir novos medos, vender, e enlatar sessenta e cinco ou sessenta e oito produtos pús-modernos que não precisamos. Riu da última divagação: era raivoso demais e ele nunca viu nada mais explosivo do que óleo diesel ou gás de cozinha, talvez até fogos de artifício, mas lhe sobrava ímpeto e a volúpia guardada pelos outréns.
Mais uma garçom!
Lembrara e observava com desdém, alguns atores baratos, criaturas suburbanas que vagueavam fantasiados de revoltados demodé. Não há nem mais romantismo nessa cultura urbana! A cultura urbana fracassou!, está morta. Enterrou-se sozinha. E estamos lutando para dividir seus espólios. O funeral no entanto, não acabou!
A rebeldia não está na imagem, na imagem só há ficção. Com polietileno, metal ou gel de cabelo eu conseguiria atrair todo o ódio de uma festa de primeira comunhão no bairro de Laranjeiras.
Escoteiros se ofendem até com caretas.
Sem as células, sem a porra das células, o tecido já estaria morto. Sem a merda da organização vamos vaguear como bostas. Riu de si mesmo, por que tudo fora do contexto poderia parecer realmente pior do que era, foi por issso que acendeu o segundo cigarro e pediu uma cachaça sabor-banana para fechar seu apetite de vez e torcer para que o sono viesse no princípio do terceiro trago. O garçom evidentemente não gostava, e ele deixava claro quando demorava, ou ignorava os sinais, os gritos, os sussurros inertes, porque cachaça segundo a episteme da gloriosa casa-receptora-de-droga-legalizada-pelo-governo é a que é feita de cana, a de açúcar, a de cinquenta escravos fugidos queimando a casa, o senhor do e o próprio engenho em 1793, antes das Antilhas fuderem a porra toda. Mas ainda restava o Haiti que era um exemplo corajoso; não racionalizaria novamente, se o garçom por princípios epistemológicos obrigasse-o a racionalizar alguma coisa, apenas diria que a cana possui um passado vergonhoso, mas no fundo no fundo o que estava na ponta dos culhões era dizer que a cachaça de maçã era mais gostosa.
O sono não veio. Algumas coisas temos de provocar, não é mesmo? Pensou, antes de observar o terceiro ou quarto grupo de revoltados demodé desfilar por entre as esguias calçadas(seguida de um brinde e um olhar carinhoso para a demodé da terceira fila apesar de Vasilli não estar vestindo a fantasia adequada para o intento afetivo).
Algumas das fantasias usavam óculos quadrados, vestiam roupas encomendadas, americanas, européias, rebeldia vestida; desfilavam-se, costuravam-se cheios de couraças.
Devem cagar Almodóvar no café da manhã. Riu solitáriamente da própria piada, o garçom entenderia, pois era engraçado, ele e a piada. Começou a enumerar o que deveria fazer na próxima semana: estava cheia, cheia de compromissos, vamos mudar o mundo!, dizia em silêncio, vamos, vamos mudá-lo, vamos, vamos correr, e aí ofegava, e parecia um miliciano da guerra civil espanhola, deslocado do tempo e do espaço, e aí bebia a cerveja com mais vigor, era aí, e exatamente aí que uma descarga de adrenalina percorria os brônquios que dilatavam, e aí, lembrava-se de Kafka, Bukowski, Cortázar, Neruda, Pessoa; e a cerveja vinha com mais força e aí, especificamente aí, os sobrenomes de algumas aftas emocionais apareciam por tabela.
Enforquem metade dos publicitários e já teremos um bom começo. Pensou baixo, por que atacar pessoas não era seu intento, gostava de esmagar posições, falemos baixinho - mas ninguém resiste a uma misantropia de vez em quando, é algo de tão bom tom em qualquer situação, desde que se consiga parecer irônico, mesmo com uma péssima má fama.
Odiava os misantropos que levavam sua misantropia realmente a sério, pois eram os primeiros a pedirem abraços em dinâmicas de grupo de psicoterapia; era tão óbvio quanto os ratos se aproximando das luzes de neon, dos óculos quadrados, das calçadas esguias e de todo aquele padrão e aquela fantasia criada apenas para incentivar perfis de consumo e torná-los "especiais".
"Para incentivar perfis de consumo." Falou alto, repetiu mentalmente, bebeu o último gole, amassou o cigarro na mesa de ferro, deixou alguns trocados na mesa e partiu.
Espreguiçou-se mentalmente: "Perfis de consumo... e é apenas isto."
Partiu rumo a um desconhecido, um desconhecido que se ele não apetecia, tornava-se pela força dos fatos insuportávelmente óbvio.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Temas sobre a insônia: Contatos com o Interior
Hoje passei no Largo do Machado. Precisava de 40 minutos de completo ócio, mas é mais fácil preencher espaços vazios com movimento e caoticidade na maior parte das vezes do que com reflexão. A própria geografia urbana não propicia este tipo de tomada de decisão. Resolvi comprar livros, que nada mais são do que uma soma de árvores mortas se formos pensar por um outro ângulo, o que inevitávelmente nos conduz à discussão de que não existe a separação vida x morte. Não chamaríamos a vida de vida e a morte de morte se ambas não fossem no fundo, uma coisa só.
Pois bem, voltando ao assunto dos livros, encontrei uma bela musa de cabelos cor ferrugem, era quase uma ruiva, se talvez levássemos em conta que só descobre-se uma ruiva quando se geralmente está a ponto de perdê-la. É um paradoxo interessante.
Bem, na verdade não podemos chamá-la de quase ruiva, por que era uma mera projeção. O fato é que fui comer um quibe de legumes com muito mais animação que o habitual. O Largo do Machado é cheio de vida e situações emocionalmente carregadas. Assistir uma apresentação de folclore por exemplo faz parte desta situação. Normalmente em época de reis, ou algo assim, nunca fui bom em datas. Coisa que não ocorreu hoje foi algum folclore; teria sido muito mais recompensador, do que comer quibes árabes.
Marco minhas datas com lembranças marcantes. Catarses individuais, situações limite e cartas mal lapidadas, voilá, meu calendário é algo entre isso tudo. Há um quê de passagem no Largo do Machado, algo que é o caminho mas torna-se o fim. É o mesmo com Madureira, porém indubitávelmente com psico-tensões geográficas extremamente particulares.
Há praças do Largo do Machado que ainda são verdadeiramente praças, apesar de dominadas por tipos conservadores e prédios e condomínios que os induzem a esta postura.
Quando a falsa ruiva se foi, eu tive vontade de chorar. Não era um choro própriamente dito. Talvez um insight, uma recordação malquista ou um neurônio e uma sinapse mal-sucedida, o fato é que foi algo tão curto, que não desencadeou nada, particularmente e absolutamente nada.
O que não é uma tentativa pessoal de negação do sentimento. Lembranças surgem é claro. O fato é que como um sentimento pode surgir em milisegundos a ponto de desaparecer em seguida? O que para mim, "ficou na metade", é parte de um gerador, de um verdadeiro gerador de sentimentos novíssimos, e isso é bom.
O fato em si é; transbordar quando assim lhe aprouver. Determinados ambientes podem trazer isto a tona mediante uma relação causal e casual de esforço cognitivo. Isto passa por estar sintonizado consigo mesmo a partir de relações que podem proporcionar este aumento de contato interior. Um contato com o gerador, um gerador de emoções completamente novas.
Talvez um sonho iniciático sufi lhe seja suficiente.
É preciso ter um pó de estrelas dentro de si. É preciso saber que não há sentimento ruim. A tristeza não é ruim. A felicidade não é algo bom. A tristeza também não é boa e muito menos a felicidade seria algo ruim.
Mas elas estão lá. E isso dever ser intensamente aproveitado(e apropriado).
Quando isso for compreendido, o contato estará estabelecido. E será possível viajar por entre o self.
Não faço idéia(racional) do que escrevi exatamente, mas há uma luz que deseja coexistir com a sombra que começa a fazer total sentido para mim(como eu não faço a mínima idéia, aliás, o que é particularmente e cada vez mais interessante).
Pois bem, voltando ao assunto dos livros, encontrei uma bela musa de cabelos cor ferrugem, era quase uma ruiva, se talvez levássemos em conta que só descobre-se uma ruiva quando se geralmente está a ponto de perdê-la. É um paradoxo interessante.
Bem, na verdade não podemos chamá-la de quase ruiva, por que era uma mera projeção. O fato é que fui comer um quibe de legumes com muito mais animação que o habitual. O Largo do Machado é cheio de vida e situações emocionalmente carregadas. Assistir uma apresentação de folclore por exemplo faz parte desta situação. Normalmente em época de reis, ou algo assim, nunca fui bom em datas. Coisa que não ocorreu hoje foi algum folclore; teria sido muito mais recompensador, do que comer quibes árabes.
Marco minhas datas com lembranças marcantes. Catarses individuais, situações limite e cartas mal lapidadas, voilá, meu calendário é algo entre isso tudo. Há um quê de passagem no Largo do Machado, algo que é o caminho mas torna-se o fim. É o mesmo com Madureira, porém indubitávelmente com psico-tensões geográficas extremamente particulares.
Há praças do Largo do Machado que ainda são verdadeiramente praças, apesar de dominadas por tipos conservadores e prédios e condomínios que os induzem a esta postura.
Quando a falsa ruiva se foi, eu tive vontade de chorar. Não era um choro própriamente dito. Talvez um insight, uma recordação malquista ou um neurônio e uma sinapse mal-sucedida, o fato é que foi algo tão curto, que não desencadeou nada, particularmente e absolutamente nada.
O que não é uma tentativa pessoal de negação do sentimento. Lembranças surgem é claro. O fato é que como um sentimento pode surgir em milisegundos a ponto de desaparecer em seguida? O que para mim, "ficou na metade", é parte de um gerador, de um verdadeiro gerador de sentimentos novíssimos, e isso é bom.
O fato em si é; transbordar quando assim lhe aprouver. Determinados ambientes podem trazer isto a tona mediante uma relação causal e casual de esforço cognitivo. Isto passa por estar sintonizado consigo mesmo a partir de relações que podem proporcionar este aumento de contato interior. Um contato com o gerador, um gerador de emoções completamente novas.
Talvez um sonho iniciático sufi lhe seja suficiente.
É preciso ter um pó de estrelas dentro de si. É preciso saber que não há sentimento ruim. A tristeza não é ruim. A felicidade não é algo bom. A tristeza também não é boa e muito menos a felicidade seria algo ruim.
Mas elas estão lá. E isso dever ser intensamente aproveitado(e apropriado).
Quando isso for compreendido, o contato estará estabelecido. E será possível viajar por entre o self.
Não faço idéia(racional) do que escrevi exatamente, mas há uma luz que deseja coexistir com a sombra que começa a fazer total sentido para mim(como eu não faço a mínima idéia, aliás, o que é particularmente e cada vez mais interessante).
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sexta-feira, 2 de novembro de 2007
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Top 5 - Álbuns Introspectivos
Um top 5 é difícil, convenhamos, há inúmeros cd's introspectivos que eu escolheria, mas estes 5 são definitivamente os que entrariam na lista a partir de questões estritamente particulares. Não sei por que a idéia de me fazer um top 5 me ocorreu(sempre o faço, peguei este maldito cacoete após o filme Alta Fidelidade, eu confesso, mas nunca públicamente).
Confesso que o sr. Buckley entrou a partir de um pega pra capar feio com o Animals do Pink Floyd.
1 - Radiohead - Amnesiac
2 - Cat Power - Dear Sir
3 - Sonic Youth - Washing Machine
4 - Nirvana - Unplugged in New York
5 - Jeff Buckley - Grace
o 5º é honroso ao sr. Buckley, talvez pela frequência com que eu o escute e pelos seus angustiantes agudos, sua biografia confusa, fugaz e suas letras clichês que tanto me agradam. o 4º lugar é merecido, apesar de batido, este cd ainda me traz algumas lembranças incômodas, que cimentaram toda a metade dos anos 90. É um marco nos cds introspectivos, foi aí que tudo começou. Em 3º lugar temos o poderoso Sonic Youth, apesar deste cd ser normalmente desmerecido pelos fãs em geral do S. Youth, o acho de um brilhantismo exasperado, uma fase do Sonic Youth que provávelmente não se repetirá jamais, o que já é digno de figurar entre os três primeiros. E aquela voz sussurrante da Kim está completamente arrasadora. As guitarras sintetizadas, enfim, perfeição! Escolher algum disco da Cat Power também não foi tarefa fácil, o que lhe confere sem esforços o segundo lugar, numa fase em que a mulher exalava tristeza e melancolia, o Dear Sir será(anotem isto) uma exceção dentro dos próximos trabalhos de uma Chan Marshall mais soul e digamos feliz(o que fez questão de afirmar no Tim Festival deste ano). Cds angustiantes e profundos como o Dear Sir talvez tornem-se mais raridade...
E the winner is...
Inevitávelmente algum cd do Radiohead entraria, eu pensaria em mais dois nesta lista; Kid A e Ok Computer, contudo determinei a regra de 1 cd por banda, para tornarem as coisas mais justas. Talvez me perguntem por que não coloquei a perfeição dos anos 90, o aclamado Ok Computer. Sinceramente, sempre gostei muito de material outside dessas bandas. No caso do Radiohead isto é virtualmente impossível, mas é fácil eleger o Amnesiac como a coisa mais angustiante e introspectiva que já ouvi na vida pelas condições(O novo In Rainbows ainda não foi suficientemente digerido para isso).
Experimente morrer de frio numa aclamada viagem em homenagem aos aninhos do movimento punk(isto há seis anos atrás), dormir no chão de um ateliê sujo, estar completamente imbuído do espírito hardcore do evento e ainda assim escutar Amnesiac pela primeira vez e simplesmente pirar. Foi isso que me aconteceu(Há dois momentos em minha vida, A. A e D.A, Antes de Amnesiac e depois de Amnesiac). E por esses e outros motivos, AMNESIAC ganha indiscutívelmente seu posto no top 5. E você? Qual é o seu top 5?
Confesso que o sr. Buckley entrou a partir de um pega pra capar feio com o Animals do Pink Floyd.
1 - Radiohead - Amnesiac
2 - Cat Power - Dear Sir
3 - Sonic Youth - Washing Machine
4 - Nirvana - Unplugged in New York
5 - Jeff Buckley - Grace
o 5º é honroso ao sr. Buckley, talvez pela frequência com que eu o escute e pelos seus angustiantes agudos, sua biografia confusa, fugaz e suas letras clichês que tanto me agradam. o 4º lugar é merecido, apesar de batido, este cd ainda me traz algumas lembranças incômodas, que cimentaram toda a metade dos anos 90. É um marco nos cds introspectivos, foi aí que tudo começou. Em 3º lugar temos o poderoso Sonic Youth, apesar deste cd ser normalmente desmerecido pelos fãs em geral do S. Youth, o acho de um brilhantismo exasperado, uma fase do Sonic Youth que provávelmente não se repetirá jamais, o que já é digno de figurar entre os três primeiros. E aquela voz sussurrante da Kim está completamente arrasadora. As guitarras sintetizadas, enfim, perfeição! Escolher algum disco da Cat Power também não foi tarefa fácil, o que lhe confere sem esforços o segundo lugar, numa fase em que a mulher exalava tristeza e melancolia, o Dear Sir será(anotem isto) uma exceção dentro dos próximos trabalhos de uma Chan Marshall mais soul e digamos feliz(o que fez questão de afirmar no Tim Festival deste ano). Cds angustiantes e profundos como o Dear Sir talvez tornem-se mais raridade...
E the winner is...
Inevitávelmente algum cd do Radiohead entraria, eu pensaria em mais dois nesta lista; Kid A e Ok Computer, contudo determinei a regra de 1 cd por banda, para tornarem as coisas mais justas. Talvez me perguntem por que não coloquei a perfeição dos anos 90, o aclamado Ok Computer. Sinceramente, sempre gostei muito de material outside dessas bandas. No caso do Radiohead isto é virtualmente impossível, mas é fácil eleger o Amnesiac como a coisa mais angustiante e introspectiva que já ouvi na vida pelas condições(O novo In Rainbows ainda não foi suficientemente digerido para isso).
Experimente morrer de frio numa aclamada viagem em homenagem aos aninhos do movimento punk(isto há seis anos atrás), dormir no chão de um ateliê sujo, estar completamente imbuído do espírito hardcore do evento e ainda assim escutar Amnesiac pela primeira vez e simplesmente pirar. Foi isso que me aconteceu(Há dois momentos em minha vida, A. A e D.A, Antes de Amnesiac e depois de Amnesiac). E por esses e outros motivos, AMNESIAC ganha indiscutívelmente seu posto no top 5. E você? Qual é o seu top 5?
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