Numa caixa um segredo, num segredo uma caixa.
Ele não conseguia escrever, mas num dia específico, tentou se matar às duas e dezenove em cima de um viaduto cinza e alto, e aí, aquele ser de asas apareceu.
As pernas balançavam naquele parapeito improvisado, era dezembro e o mundo estava triste, mas as pernas moviam-se felizes entre o abismo de concreto e o concreto abismo que havia, fazia, dançava e carregava dentro de si.
Ele cantava uma música solitáriamente; não havia coral e ele não estava bêbado. Estava feliz por ter se decidido. Mas o pior era a angústia. A felicidade da decisão superava seu podre resultado prático. Decidir livrava-o do peso do espelho perfeito do mundo.
A música não.
A música não escolhia, mesmo com os poucos acordes que lhe faziam suficiente; ela se fazia naquele lábio gelado de final de noite, ou por sob o concreto quente do parapeito. Talvez teria de se haver a tocar em algum táxi no canto mais desagradável da cidade.
O anjo ao contrário, se entristecera. Apagar o último cigarro levara-o à pura e simples melancolia e estagnação. Ajudar um infeliz no domingo à noite não era um trabalho de anjo, era um trabalho sujo, mal remunerado.
Fizeram um acordo. Ele não diria para ninguém que conversou durante quarenta e cinco minutos com um anjo imaginário; até por que não acreditariam, e o anjo, este pedaço de imaginário vivo, resolveria o problema sob o molho da modernidade, ou seja, enfatizaria o desperdício do tempo perdido.
No final do cigarro - enfatizou com uma voz grave de insônia e pigarro - , você pula!, ou desce essa porra de viaduto comigo!
Era um anjo com os culhões escaldados, na verdade se as minúcias e os pormenores afetivos permitissem, levaríamos a crer que era um anjo bem filho da puta: um anjo de segunda, ou terceira categoria. Um delicioso e desperdiçado gigolô cristão.
O primeiro que achar sua caixa, avisou o anjo com repreensão nos olhos, descobre o seu segredo e o caminho que leva a uma artéria complicada, que liga os fatos da vida ao coração. Portanto tenha cuidado.
Ele não conseguia escrever, mas num dia específico, tentou se matar às duas e dezenove em cima de um viaduto cinza e alto, e aí, aquele ser de asas apareceu.
As pernas balançavam naquele parapeito improvisado, era dezembro e o mundo estava triste, mas as pernas moviam-se felizes entre o abismo de concreto e o concreto abismo que havia, fazia, dançava e carregava dentro de si.
Ele cantava uma música solitáriamente; não havia coral e ele não estava bêbado. Estava feliz por ter se decidido. Mas o pior era a angústia. A felicidade da decisão superava seu podre resultado prático. Decidir livrava-o do peso do espelho perfeito do mundo.
A música não.
A música não escolhia, mesmo com os poucos acordes que lhe faziam suficiente; ela se fazia naquele lábio gelado de final de noite, ou por sob o concreto quente do parapeito. Talvez teria de se haver a tocar em algum táxi no canto mais desagradável da cidade.
O anjo ao contrário, se entristecera. Apagar o último cigarro levara-o à pura e simples melancolia e estagnação. Ajudar um infeliz no domingo à noite não era um trabalho de anjo, era um trabalho sujo, mal remunerado.
Fizeram um acordo. Ele não diria para ninguém que conversou durante quarenta e cinco minutos com um anjo imaginário; até por que não acreditariam, e o anjo, este pedaço de imaginário vivo, resolveria o problema sob o molho da modernidade, ou seja, enfatizaria o desperdício do tempo perdido.
No final do cigarro - enfatizou com uma voz grave de insônia e pigarro - , você pula!, ou desce essa porra de viaduto comigo!
Era um anjo com os culhões escaldados, na verdade se as minúcias e os pormenores afetivos permitissem, levaríamos a crer que era um anjo bem filho da puta: um anjo de segunda, ou terceira categoria. Um delicioso e desperdiçado gigolô cristão.
O primeiro que achar sua caixa, avisou o anjo com repreensão nos olhos, descobre o seu segredo e o caminho que leva a uma artéria complicada, que liga os fatos da vida ao coração. Portanto tenha cuidado.
Não deixe esta caixa em domínio de alguma mortal.
Qualquer um(a) que domine tal artéria, pode lhe colocar em maus lençóis. Transformar-lhe de corpo físico à memória, de parênteses à parágrafo. Não dê a caixa para ninguém, avisou o anjo.Você não é um neurocirurgião, avisou.
Jezebel nunca tentou se matar, mas suas roupas e sua música preferida, seu comportamento cínico diziam, matava-a pouco a pouco, mesmo sem anjos e também assassinava seus amigos, que odiavam ver seus espelhos. Tinha um corpo esguio; magro. Preto eram seus cabelos e branca sua alma, alma que interessou de imediato o mesmo anjo sem asas que procurou-a com a mesma convicção e cinismo com que procurara o desperdiçado à beira do viaduto.
Jezebel mentia para si própria. Jezebel bebia gim, fumava erva, e namorava um conhaque nas terças-feiras. Jezebel conhecia o segredo dos outros mas não de si própria, permanecendo obscura conseguia preservar exatamente a artéria que ligava o coração a si própria.
O anjo, este ser mal remunerado e infeliz, reprovara-a; mas nesta noite estava completamente bêbado e sofria de um amor platônico mal resolvido. Anjos também sofrem. Amém.
Mais Jezebel sobrevivera, sobrevivera mesmo sofrendo uma peça pregada por deus, o todo poderoso. Sobrevivera a ponto de convencer o anjo à uma segunda conversa e este dizia, dizia, dizia, e falava, e exclamava com as mãos, algo que para ela, parecia-lhe natural e augusto.
A intocável artéria proporcionava-lhe voôs sem asa, ou na linguagem terrena, orgasmos simples, porres de cerveja, uma carreira de pó certificada pelo INMETRO e sim, aquele esbarrão pretensioso, no viaduto cinza, no babaca de preto, no idiota, o da caixa de segredos, que por um motivo ou outro insignificante, resolvera se matar próximo à Jezebel, e que por fim trazia-lhe algum sentido sobre o parapeito muito pretensioso.
E aí Jezebel, a ingênua degenerada, como assim lhe cabe a história, procurou em quarenta minutos a caixa de segredos. A caixa de segredos que estava em seu bolso, súbitamente revelada por um sorriso de canto de boca, não evitou o salto do artista, mas possibilitou que o anjo e ela, pudessem conversar sobre surrealismo e sofrimento durante grande parte da noite.
A intocável artéria proporcionava-lhe voôs sem asa, ou na linguagem terrena, orgasmos simples, porres de cerveja, uma carreira de pó certificada pelo INMETRO e sim, aquele esbarrão pretensioso, no viaduto cinza, no babaca de preto, no idiota, o da caixa de segredos, que por um motivo ou outro insignificante, resolvera se matar próximo à Jezebel, e que por fim trazia-lhe algum sentido sobre o parapeito muito pretensioso.
E aí Jezebel, a ingênua degenerada, como assim lhe cabe a história, procurou em quarenta minutos a caixa de segredos. A caixa de segredos que estava em seu bolso, súbitamente revelada por um sorriso de canto de boca, não evitou o salto do artista, mas possibilitou que o anjo e ela, pudessem conversar sobre surrealismo e sofrimento durante grande parte da noite.
E assim entendiam da natureza humana. Jezebel, Anatole, Jezebel, Anatole. Anatole, Anatole.
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