"A insônia pode ter causas orgânicas e psíquicas. Pesquisas apontam a produção inadequada de serotonina pelo organismo e o estresse provocado pelo desgaste quotidiano ou por situações-limite como causas mais importantes."
-Há. Fala sério. Onde está lendo isto?
- Numa reader digest.. seleções...
- Reader digest! É claro...! Este tipo de lixo é vendido em clínicas de eutanásia e assinada por aspirantes a suicidas... você deveria se envergonhar...
- Isso é muito consolador. Você já tomou chá preto?
- Chá-preto? Em uma semana ruim. Achei que conseguiria trocar a vodka por essa bosta, mas não foi possível a longo prazo, expirou Vasili a fumaça.
Enquanto a ruiva ia marcando o jogo de palavras cruzadas sob a luz furtada que iluminava o carpete da mesa de sinuca, Vasili ia simulando aproximações sinuosas, tomava tragos de cerveja, e parecia rabugento, mas estava feliz por passar aquele final de semana com a ruiva, esbanjando serotonina, trocando suor, saliva, e deixando-se seduzir por toda a imagem de vida selvagem e uma "freak" cidadania urbana que ambos se esmeraravam a construir.
Tempos bons.
Sentado no sofá, pensava que não havia muito sentido em permanecer por mais tempo na espelunca que ele chamava de lar, de templo.
A ruiva se foi. Eu já encomendei meu recomeço, e parte deste lugar está infestado de pó de estrela vermelho. Não é justo.
O fantasma da ruiva ainda caminhava por entre os quartos, enquanto Vasili lutava para não deixar a idade mascarar sua covardia.
- Você é auto-destrutivo.
-O que disse Anatole?
- Auto-destrutivo. Não como um masoquista. Mas você clama por auto-destruição.
-Sério? Perguntou nos dias de melhores ingenuidades.
-Sério.
Anatole, profuso e confuso Anatole, mestre das retiradas estratégicas, fundamentalmente uma boa companhia, mas um homem que não sabia usar pontos e vírgulas, ou era muito seco ou demasiadamente esquivo, normalmente contrariando o que a situação exigia, certamente.
-Estou com problemas de respiração Vasili.
-Como assim? Rinite?
- Não sei, não consegui entrar no banco semana passada. Travei na porta giratória. Passei mal. Não foi algo como a claustrofobia, por que mesmo após caminhar uns 50 metros até a estação do metrô, eu não consegui parar de respirar.
- Fume charutos. Resolverão seu problema.
Foi grosseiro o comentário dos charutos, mas eu estava tentando animar o velho "Tole". Ele ria das piores situações. Por que chegaria a fazer como a ruiva, sumir?
Sinto saudades daquele puto.
Sinto amplas saudades como o mesmo brincava com a ruiva. Era um trio perfeito. Mas por que diabos ele resolveu amá-la. Eram problemas demais. A situação não permitia naquele momento um maldito caso de amor livre. Era arriscado e perigoso demais.
Um karma. Nós tentamos Tole... tentamos...
Abriu a geladeira, só haviam cervejas, uma tônica pela metade e umas maçãs desintegrando-se na gaveta inferior.
- Pela metade. Você faz as coisas pela metade Anatole.
- E o que isso tem haver com ser auto-destrutivo me diga?
Ah... tem haver, escapou Vasili usando o abridor com destreza. Você não se formou, jamais terminou nenhum de seus, quantos mesmo?, treze livros?, e além de tudo escuta meus cds de jazz pela metade.
Isso não é verdade... russo maldito.., protestou Anatole, com um pseudo-banho de cerveja no casaco marrom de Vasili.
- Sabe Anatole...
- Diz merda.
- A vida é algo muito esquisito. Um grande banco de dados de clichês.
- Aliás, pegue outra cerveja que hoje eu vou tentar dormir.
- Eu juro. Pensar enloquece.
-Há. Fala sério. Onde está lendo isto?
- Numa reader digest.. seleções...
- Reader digest! É claro...! Este tipo de lixo é vendido em clínicas de eutanásia e assinada por aspirantes a suicidas... você deveria se envergonhar...
- Isso é muito consolador. Você já tomou chá preto?
- Chá-preto? Em uma semana ruim. Achei que conseguiria trocar a vodka por essa bosta, mas não foi possível a longo prazo, expirou Vasili a fumaça.
Enquanto a ruiva ia marcando o jogo de palavras cruzadas sob a luz furtada que iluminava o carpete da mesa de sinuca, Vasili ia simulando aproximações sinuosas, tomava tragos de cerveja, e parecia rabugento, mas estava feliz por passar aquele final de semana com a ruiva, esbanjando serotonina, trocando suor, saliva, e deixando-se seduzir por toda a imagem de vida selvagem e uma "freak" cidadania urbana que ambos se esmeraravam a construir.
Tempos bons.
Sentado no sofá, pensava que não havia muito sentido em permanecer por mais tempo na espelunca que ele chamava de lar, de templo.
A ruiva se foi. Eu já encomendei meu recomeço, e parte deste lugar está infestado de pó de estrela vermelho. Não é justo.
O fantasma da ruiva ainda caminhava por entre os quartos, enquanto Vasili lutava para não deixar a idade mascarar sua covardia.
- Você é auto-destrutivo.
-O que disse Anatole?
- Auto-destrutivo. Não como um masoquista. Mas você clama por auto-destruição.
-Sério? Perguntou nos dias de melhores ingenuidades.
-Sério.
Anatole, profuso e confuso Anatole, mestre das retiradas estratégicas, fundamentalmente uma boa companhia, mas um homem que não sabia usar pontos e vírgulas, ou era muito seco ou demasiadamente esquivo, normalmente contrariando o que a situação exigia, certamente.
-Estou com problemas de respiração Vasili.
-Como assim? Rinite?
- Não sei, não consegui entrar no banco semana passada. Travei na porta giratória. Passei mal. Não foi algo como a claustrofobia, por que mesmo após caminhar uns 50 metros até a estação do metrô, eu não consegui parar de respirar.
- Fume charutos. Resolverão seu problema.
Foi grosseiro o comentário dos charutos, mas eu estava tentando animar o velho "Tole". Ele ria das piores situações. Por que chegaria a fazer como a ruiva, sumir?
Sinto saudades daquele puto.
Sinto amplas saudades como o mesmo brincava com a ruiva. Era um trio perfeito. Mas por que diabos ele resolveu amá-la. Eram problemas demais. A situação não permitia naquele momento um maldito caso de amor livre. Era arriscado e perigoso demais.
Um karma. Nós tentamos Tole... tentamos...
Abriu a geladeira, só haviam cervejas, uma tônica pela metade e umas maçãs desintegrando-se na gaveta inferior.
- Pela metade. Você faz as coisas pela metade Anatole.
- E o que isso tem haver com ser auto-destrutivo me diga?
Ah... tem haver, escapou Vasili usando o abridor com destreza. Você não se formou, jamais terminou nenhum de seus, quantos mesmo?, treze livros?, e além de tudo escuta meus cds de jazz pela metade.
Isso não é verdade... russo maldito.., protestou Anatole, com um pseudo-banho de cerveja no casaco marrom de Vasili.
- Sabe Anatole...
- Diz merda.
- A vida é algo muito esquisito. Um grande banco de dados de clichês.
- Aliás, pegue outra cerveja que hoje eu vou tentar dormir.
- Eu juro. Pensar enloquece.
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