CAPÍTULO 63 (excertos do Tao Te Ching)
Ação através da não-ação
Atividade através da não-atividade
Sabor através do não-sabor
Grande como pequeno, muito como pouco
Retribuir injustiça através da Virtude
Planejar o difícil a partir do fácil
Realizar o grande a partir do pequeno
Sob o céu
A difícil atividade se realiza certamente a partir da fácil
A grande atividade se realiza certamente a partir da pequena
Promessas levianas certamente carecem de confiança
Excesso de facilidades certamente traz excesso de dificuldades
Sendo assim,
O Homem Sagrado assemelha-se ao difícil
E, por isso, até o fim, não tem dificuldades
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Processos oníricos?
Não estou conseguindo me lembrar muito bem dos meus sonhos e isto certamente me entristece muito(adotei um tom dramático no final para aproveitar este trecho nos textos pós-modernos anatolianos-vasilianos). Além disso, não sei se há alguma relação, mas estou acordando enjoado há algumas semanas(deve ser a maldita rinite, capiti). Pode ser psicosomático também, mas eu duvido muito, pois isto seria um tanto quanto melodramático. A madrugada é que insiste em me manter acordado, enquanto as aulas não começam... E eu tento ocupar minha mente com a idéia de um emprego. Teóricamente, não estou produzindo nada. Apenas lendo o Zaratrusta e saboreando de vez em quando a história dos Incas, dos Siouxes e de outras questões indígenas. Ah, lendo Jung também. Quero dizer, fuçando os Jungianos. Por falar nisso, fiz uma camisa do Nietzsche engraçadinha. E por falar nisso também, devo dizer que o cara nem é isso tudo que pensam. Um banho gelado deve resolver a situação, enquanto os processos oníricos não chegam ao consciente.
Marcadores:
cansaço,
espasmos aleatórios
sábado, 24 de fevereiro de 2007
Momento do vício pequeno-burguês
É impressionante como conseguimos tanta lucidez depois de alguns copos de vodka, contini e sex on the beach. Cervejas no posto não contam, mas fazem a cabeça doer.
Marcadores:
anarquismo,
catarse,
espasmos aleatórios,
sem importância
De quando ele escreveu bêbado
Não há resistência, há resistentes; como problemas ignóbeis, problemas. Cervejas estragadas. Cervejas sem ritmo, sem vida. E eu posso talvez, lembrar-me das mesóclises, das tentativas vãs. das tentativas gramáticas. das esgrogues possibilidades dso protozoários literários. Das ist.
É isto Vasilli vazio. Mas eu sou um crepe. Eu sou um crepe. E que inferno estou fazendo aqui. Eu não quero estar durante muito tempo aqui.
E talvez. E durante um talvez perfeito. Um perfeito, tchau, uma onomatopéia espúria, eu consiga dizer duas palavras com sentido. duas. Apesar de preferir o nove. Nove razões. Nove metáforas.
Duas. Eu chutei. Escolhi. Escolhi. E não me culpem por isso. Eu queria gritar "a projeção do meu pavor apareceu" como meu grande amigo, mas eu faço alguns barulhos e isso é bom. Grandes crises.
Uma doença perfeita. Perfeita.
Desculpe-me; é tudo pra você. Negros cabelos. É tudo para você. Saboreie. Não importa o depois. Sei que fracassei e não fui tão possívelmente sincero; perdi, admito. E é você que verá isto.
Talvez não entenda. E talvez continue não entender. A escolha é sua não minha. Eu já perdi. Eu me fudi com o Anatole e o Vasilli. Eu perdi toda graça. Eu fui ao nirvana sem buda.
Não ache que são lágrimas. São lágrimas.
A verdade só vem com o tempo e com a sinceridade. Sei que errei(e ainda posso errar) e todo ser humano erra, você acha que não é você, mais é. Acha que eu sou algo que eu não fui. Sintético. Garoto sintético. Não sou. Melhor do que isto, só nesta prática sem nobreza da vida.
Te espero. Apesar do que, acho que não olharás mais pra mim. Desejo-te um momento. Olho no olho e te dizer o que penso. Contudo sei que pensarás ser uma armadilha.
Não tenho vocação para maquiavel.
Laura e você são muito parecidas.
É isto Vasilli vazio. Mas eu sou um crepe. Eu sou um crepe. E que inferno estou fazendo aqui. Eu não quero estar durante muito tempo aqui.
E talvez. E durante um talvez perfeito. Um perfeito, tchau, uma onomatopéia espúria, eu consiga dizer duas palavras com sentido. duas. Apesar de preferir o nove. Nove razões. Nove metáforas.
Duas. Eu chutei. Escolhi. Escolhi. E não me culpem por isso. Eu queria gritar "a projeção do meu pavor apareceu" como meu grande amigo, mas eu faço alguns barulhos e isso é bom. Grandes crises.
Uma doença perfeita. Perfeita.
Desculpe-me; é tudo pra você. Negros cabelos. É tudo para você. Saboreie. Não importa o depois. Sei que fracassei e não fui tão possívelmente sincero; perdi, admito. E é você que verá isto.
Talvez não entenda. E talvez continue não entender. A escolha é sua não minha. Eu já perdi. Eu me fudi com o Anatole e o Vasilli. Eu perdi toda graça. Eu fui ao nirvana sem buda.
Não ache que são lágrimas. São lágrimas.
A verdade só vem com o tempo e com a sinceridade. Sei que errei(e ainda posso errar) e todo ser humano erra, você acha que não é você, mais é. Acha que eu sou algo que eu não fui. Sintético. Garoto sintético. Não sou. Melhor do que isto, só nesta prática sem nobreza da vida.
Te espero. Apesar do que, acho que não olharás mais pra mim. Desejo-te um momento. Olho no olho e te dizer o que penso. Contudo sei que pensarás ser uma armadilha.
Não tenho vocação para maquiavel.
Laura e você são muito parecidas.
Marcadores:
cansaço,
catarse,
contos,
sobre efeito pesado de cerveja
sábado, 17 de fevereiro de 2007
De quando o carnaval começou
Uma cerveja e uma caminhada pelo centro. O bloco passa, a vida passa. Eu leio Buda, Zaratrusta e escuto Velvet Ünderground enquanto sinto o gosto do carnaval passar.
Tempo o suficiente para tomar decisões. Trabalhar com os fatos, não com o futuro ou o presente.
Sofrimento é inevitável diz Buda. Precisamos do übermensch, entoa Zaratrusta(música do uma Odisséia ao espaço segundo meu pai), precisamos da iluminação responde Buda. Dharma. Essência, dharma.
Dualismos a parte, um belo horizonte, um gosto de sal na boca e uma maresia que resseca as mãos e um pouco do espírito, diga-se de passagem.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
De quando ele quebrou a cabeça
Estávamos lá, sentados lado a lado, enquanto eu a olhava meio cabisbaixo. Não. Eu não, em algum momento pensei em fechar os olhos enquanto recitava o tao te ching em tom de deboche. Ela estava lá. Eu não cheirei sua beleza. Não. Não a provoquei como de costume, por que isto seria fácil, seria fácil como ler sua face estampada de decisão. Ela me disse estar confusa e eu jurei expor isto aqui. Na verdade não jurei nada, apenas me pareceu mais nobre, escrever algo que eu não entendia ao invés de pensar. Eu não sei quem eu seria, se Vasilli, se Anatole ou se eu seria o autor dos dois. Brincar de deus, de criatura era tão fácil quando se conseguia dominar tais frágeis letras...
Ficar confuso era mais frágil ainda. Eu lembrei da menina do saxofone, que supostamente iria me acompanhar até me curar, não falo de amor eterno, esta inverdade eu fiz questão de abandonar há alguns anos atrás. Minha cabeça estava sangrando. Eu tropecei durante segundos o suficiente para me esforçar em procurar uma sutura bem dada e o médico repetiu, "tome mais cuidado, você ainda tem toda uma vida pela frente".
Eu jurei repensar e aceitar o amor temporário, que existe tempo o suficiente pra acabar, e também não podia aceitar o véu e a grinalda fictícia, que desmancham durante anos sob a hipócrita farsa da monogamia moderna. Contudo, meu coração pedia clemência, vida, clemência. Fiz questão de frisar a clemência no hospital: "Não tem clemência doutor? Que rasgo enorme na cabeça e o sr. me trata como se eu fosse um acidentado comum..., Não tem vergonha?"
Por que falar de sua beleza? Ela era linda, perfeitamente linda. E era isto que me cansava. Cansava-me, desgastava frágeis ossos de indecisão, conturbava percepções, fazia do criador, doce criatura e da criatura, doce criador.
Eu remendei o passado. Este era bom. Bom o suficiente para fornecer-me material fresco para meia-dúzia de contos. Meu passado era um tratamento inacabado, que funcionava.
Enquanto a enfermeira pegava o algodão, eu olhei para os Arcos da Lapa, onde eu deixei parte do meu sangue lá, na rua Riachuelo, na parte onde eu olhava para as pessoas ao meu redor, onde tinha ido procurar Laura, pois esta óbviamente não achou meu sangue engraçado, e encaminhou-me ao furgão do doutor paramédico gentileza.
Laura me olhou com ódio, um ódio seletivo é verdade, mas que transparecia uma certa verdade de seu coração vermelho. Eu a olhei com a carência propícia que a situação exigia, enquanto a enfermeira preparava a injeção com olhares de "talvez estejam discutindo a relação".
Mas não havia relação. Ela era um fantasma. Uma acompanhante perdida. Nenhuma me amou, pensei com os lábios, mas isto era tão loser, tão perdedor, tão fatídicamente esgrogue, que eu fiz uma careta e comecei a rir, cantando uma música equatoriana que um velho amigo me ensinara em sete noites atrás. Ela sorriu, passou as mãos sobre parte da minha nuca que não estava dominada pelas hemáceas e disse um tchau tão delicioso, seguido de um beijo estalado no rosto, que eu aceitei toda a situação, apesar do choque inicial.
Peguei o metrô, tentando esconder as gazes, mas era tarde demais. As feridas estavam aí, expostas.
Pensei nela novamente e com uma das mãos escoradas no ferro do vagão, olhei para o maracanã e tive a impressão que a vida era um jogo. E eu ainda estava na segunda divisão.
Ficar confuso era mais frágil ainda. Eu lembrei da menina do saxofone, que supostamente iria me acompanhar até me curar, não falo de amor eterno, esta inverdade eu fiz questão de abandonar há alguns anos atrás. Minha cabeça estava sangrando. Eu tropecei durante segundos o suficiente para me esforçar em procurar uma sutura bem dada e o médico repetiu, "tome mais cuidado, você ainda tem toda uma vida pela frente".
Eu jurei repensar e aceitar o amor temporário, que existe tempo o suficiente pra acabar, e também não podia aceitar o véu e a grinalda fictícia, que desmancham durante anos sob a hipócrita farsa da monogamia moderna. Contudo, meu coração pedia clemência, vida, clemência. Fiz questão de frisar a clemência no hospital: "Não tem clemência doutor? Que rasgo enorme na cabeça e o sr. me trata como se eu fosse um acidentado comum..., Não tem vergonha?"
Por que falar de sua beleza? Ela era linda, perfeitamente linda. E era isto que me cansava. Cansava-me, desgastava frágeis ossos de indecisão, conturbava percepções, fazia do criador, doce criatura e da criatura, doce criador.
Eu remendei o passado. Este era bom. Bom o suficiente para fornecer-me material fresco para meia-dúzia de contos. Meu passado era um tratamento inacabado, que funcionava.
Enquanto a enfermeira pegava o algodão, eu olhei para os Arcos da Lapa, onde eu deixei parte do meu sangue lá, na rua Riachuelo, na parte onde eu olhava para as pessoas ao meu redor, onde tinha ido procurar Laura, pois esta óbviamente não achou meu sangue engraçado, e encaminhou-me ao furgão do doutor paramédico gentileza.
Laura me olhou com ódio, um ódio seletivo é verdade, mas que transparecia uma certa verdade de seu coração vermelho. Eu a olhei com a carência propícia que a situação exigia, enquanto a enfermeira preparava a injeção com olhares de "talvez estejam discutindo a relação".
Mas não havia relação. Ela era um fantasma. Uma acompanhante perdida. Nenhuma me amou, pensei com os lábios, mas isto era tão loser, tão perdedor, tão fatídicamente esgrogue, que eu fiz uma careta e comecei a rir, cantando uma música equatoriana que um velho amigo me ensinara em sete noites atrás. Ela sorriu, passou as mãos sobre parte da minha nuca que não estava dominada pelas hemáceas e disse um tchau tão delicioso, seguido de um beijo estalado no rosto, que eu aceitei toda a situação, apesar do choque inicial.
Peguei o metrô, tentando esconder as gazes, mas era tarde demais. As feridas estavam aí, expostas.
Pensei nela novamente e com uma das mãos escoradas no ferro do vagão, olhei para o maracanã e tive a impressão que a vida era um jogo. E eu ainda estava na segunda divisão.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Mastigando letras / Resenhas
O Jogo da Amarelinha / Julio Cortázar
SOBRE O AUTOR
Nasceu por acaso em Bruxelas, em 1914. De pais argentinos, voltou à Argentina aos quatro anos de idade. Formou-se professor e lecionou em algumas cidades do interior do país, inclusive na Universidade de Cuyo, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência. Em 1951, Cortázar partiu para Paris (França), onde trabalhou como tradutor da Unesco e viveu até a sua morte, por leucemia, em 1984. A influência do existencialismo em sua obra é nítida, Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up foi baseado no conto As Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).
SOBRE O LIVRO
SOBRE O AUTOR
Nasceu por acaso em Bruxelas, em 1914. De pais argentinos, voltou à Argentina aos quatro anos de idade. Formou-se professor e lecionou em algumas cidades do interior do país, inclusive na Universidade de Cuyo, mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência. Em 1951, Cortázar partiu para Paris (França), onde trabalhou como tradutor da Unesco e viveu até a sua morte, por leucemia, em 1984. A influência do existencialismo em sua obra é nítida, Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up foi baseado no conto As Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).
SOBRE O LIVRO
Devo afirmar que este grande clássico contemporâneo fora a peça de quebra-cabeça que faltara na minha parca literatura. A primeira coisa que eu pensei após ler Cortázar foi: "como eu não o conheci antes?" Uma sensação estupefata que faz total sentido. Cortázar é um verdadeiro craque, um camisa 10, um maradona das letras que domina a gramática como ninguém, brinca com ela subverte-a, aguça e instiga o leitor, convida-o para a partida e sabe exatamente o que faz. Talvez pela sua genialidade, padeça do defeito que todos os grandes craques da bola ou das letras possuem, em alguns momentos é marrento, abusado!, no melhor sentido que a palavra possa ter, diga-se de passagem. Seus personagens são densos, o livro, um verdadeiro clássico universal, um fla-flu das letras, tem uma dinâmica estritamente particular, que me lembrou dos livros-jogos produzidos por editoras de RPG(e digamos que me roubou idéias que eu nem mereci ter...). A estética de Cortázar é pós-moderna, flexível, fluida, seus personagens chegam a nós como irreversíveis tsunamis existenciais. Suas firulas são densas, seus dribles desconcertantes, o que poderia transparecer uma arrogância que ele talvez não possua. O fato é que o homem joga com as letras, faz delas o que bem quer e com muita, muita qualidade. Um clássico universal. Genial.
Letras Mastigadas - 2007
1- O jogo da Amarelinha / Julio Cortázar
Letras Mastigadas - 2007
1- O jogo da Amarelinha / Julio Cortázar
domingo, 11 de fevereiro de 2007
Dos Metafísicos Triângulos Amorosos
O quarto fedia a incenso barato. Anatole chegara às três e meia da manhã, com o maço de cigarros amassados no bolso, enquanto ouvia a vizinha entoar um Guantanamera sofrível que lhe dava vontade de espancar a velha do quarto 18 para talvez incentivar a cubana sofrida a abandonar a carreira amadora de cantora de cortiço 153. Claro, eram só elucubrações, Anatole era o homem das idéias, Vasilli o homem da ação, este sempre citava sua coragem em tom de ridicularização, o que não agradava decerto Anatole, mas o fazia queixar-se consigo mesmo dentro de sua posição no tabuleiro do jogo. Mastigava amendoins vendidos por um peruano insistente, enquanto imaginava Vasilli esbaldar-se com Laura durante toda a noite, este Anatole, um perdedor necrofágico, imaginava Laura, lassiva e potente com seus cabelos vermelhos metamorfoseados pelo seu humor tão brilhante, rolando como dados na noite, envolver o velho Vasilli, digo Anatole, digo Vasilli, num balé de auto-destruição e vontade orgástica. Quantas vezes assistiu Vasilli lubridiá-la em troco de trocos metafísicos. O puto escrevia e falava com o estômago, por que Anatole nunca reparara que Laura era o ácido clorídrico que faltava neste monólogo profano e vazio, que enciumava-o pelo fato dela ser uma deliciosa amante... uma amante metafísica é verdade... mas era uma deliciosa visão, enxergar aquela mulher dançar, dançar, dançar em torno de joelhos lassivos, olhares perniciosos que faziam os marmanjos de bar(mesmo acompanhados) ensaiarem olhadelas fugazes em torno de propagandas invisíveis, só para compartilharem(não tão bem quanto ele compartilhava diga-se de passagem) um pouco daquela sacro-santa beleza.
Uma beleza culpada.
Uma beleza que não armava-se na mera artificialidade dos anéis do destino, era simplesmente uma aura de lassividade e luxúria vermelha que contaminava os ambientes... Vasilli era um fraco, um perdedor nato para o joguete competitivo do mundinho reduzido dos "homens de bem", dos filhos da puta bem sucedidos, dos "escolhidos", "the chosen one', etecetera, etecetera, etecetera.
Entretanto lá estava o puto, divagando em russo seus sonhos, alimentando Laura com espasmos de sinceridade que acompanhavam fragmentos perdidos. Emoldurava frases de Baudelaire em polonês ou alemão, isso fazia Laura impressionar-se, momentâneamente(que sacana! ele poderia fazer melhor se tivesse todo o despreendimento suicida de Vasilli). Enquanto Anatole, o pobre Anatole, filho da senhora Justine, vendedora de Nabos-farmacêutica-prostituta-suicida, não nesta mesma ordem, este pobre ser que sonha, que ilude-se com este triângulo que não existe, demora a perceber, a se "aperceber" que o lítio que o dr. avental branco recomendou durante as últimas semanas não deslocou a intrigante e deliciosa vontade de entender e usufruir deste amor doentio que só o pobre-rico Vasilli poderia às três e trinta e cinco dominar. Na verdade, sua coluna dói, sua melhor aproximação hormonal fora um olhar a trinta e cinco graus no ônibus que rodopiava a avenida rio branco, como quem gira e escapa em torno do passado... com as carruagens, com os coxeiros e o "boulevair" improvisado que o fazia lembrar a velha paris, em distintíssimos momentos diga-se de passagem.
Acendeu um cigarro e olhou para a janela, sua visão era privilegiadamente desonesta, um prédio com uma tênue luz no terceiro andar, refletia aquela decadência usual do centro da cidade.
E Vasilli, Laura, os dois, envolvidos como tumores... divisões de células não apropriadamente habituais.
Anatole pois bem, e seu cigarro, pensavam que as analogias coercitivas eram parte de um processo intenso que o levavam até a velha monografia "les configurations allemandes dans l'exécution du sade principal", era um dia quente e o decanato de literatura o observava como leões em arenas romanas.
Quanto tédio. O cigarro no fim. Laura e um orgasmo vermelho. Vasilli na cama lendo Gutiérrez ou talvez Schopenhauer antes de emendar um soneto barato que ele escrevera num momento de fleuma. Impressionismo barato.
Anatole imaginava demais. Demais. E quem pensa demais, citava-se, "precisa dormir cedo", expirou em tom de desabafo. Precisa dormir cedo.
Uma beleza culpada.
Uma beleza que não armava-se na mera artificialidade dos anéis do destino, era simplesmente uma aura de lassividade e luxúria vermelha que contaminava os ambientes... Vasilli era um fraco, um perdedor nato para o joguete competitivo do mundinho reduzido dos "homens de bem", dos filhos da puta bem sucedidos, dos "escolhidos", "the chosen one', etecetera, etecetera, etecetera.
Entretanto lá estava o puto, divagando em russo seus sonhos, alimentando Laura com espasmos de sinceridade que acompanhavam fragmentos perdidos. Emoldurava frases de Baudelaire em polonês ou alemão, isso fazia Laura impressionar-se, momentâneamente(que sacana! ele poderia fazer melhor se tivesse todo o despreendimento suicida de Vasilli). Enquanto Anatole, o pobre Anatole, filho da senhora Justine, vendedora de Nabos-farmacêutica-prostituta-suicida, não nesta mesma ordem, este pobre ser que sonha, que ilude-se com este triângulo que não existe, demora a perceber, a se "aperceber" que o lítio que o dr. avental branco recomendou durante as últimas semanas não deslocou a intrigante e deliciosa vontade de entender e usufruir deste amor doentio que só o pobre-rico Vasilli poderia às três e trinta e cinco dominar. Na verdade, sua coluna dói, sua melhor aproximação hormonal fora um olhar a trinta e cinco graus no ônibus que rodopiava a avenida rio branco, como quem gira e escapa em torno do passado... com as carruagens, com os coxeiros e o "boulevair" improvisado que o fazia lembrar a velha paris, em distintíssimos momentos diga-se de passagem.
Acendeu um cigarro e olhou para a janela, sua visão era privilegiadamente desonesta, um prédio com uma tênue luz no terceiro andar, refletia aquela decadência usual do centro da cidade.
E Vasilli, Laura, os dois, envolvidos como tumores... divisões de células não apropriadamente habituais.
Anatole pois bem, e seu cigarro, pensavam que as analogias coercitivas eram parte de um processo intenso que o levavam até a velha monografia "les configurations allemandes dans l'exécution du sade principal", era um dia quente e o decanato de literatura o observava como leões em arenas romanas.
Quanto tédio. O cigarro no fim. Laura e um orgasmo vermelho. Vasilli na cama lendo Gutiérrez ou talvez Schopenhauer antes de emendar um soneto barato que ele escrevera num momento de fleuma. Impressionismo barato.
Anatole imaginava demais. Demais. E quem pensa demais, citava-se, "precisa dormir cedo", expirou em tom de desabafo. Precisa dormir cedo.
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Eufemismos baratos
Vasilli. O puto Vasilli. O vazio Vasilli. Algo que se mexe como um amontoado de funções biológicas que insiste em manter-se vivo. O puto Vasilli. O merda Vasilli. Algo como um pedaço de fezes, que estrebucha neologismos contrários a gramática oficial só para se fazer de um ignóbil aspirante pseudo-letrista. Seis aulas por semana. Francês. O filho da puta do Anatole falara francês sem colocar os adjetivos pueris que ligavam os prosaicos perdedores prolixos pernósticos pró-prealumbações. O puto era um francês nato. Eufemismo ridículo. Torre eifell, cafés parisienses e pombos no brasil imitando praças francesas. Pragas urbanas. Eram todas parte de problemas urbanos.
-Vasilli.
-Diga, francês.
-Estamos aqui há exatos trinta minutos discutindo filosofia aristotélica. Não achas que minha entonação medieval significa que devemos levantar e dormir em algum colchão antes que eu começe cantar a marselhesa em português?
- Vasilli diz que suas terceiras pessoas não me endossam as labaredas metafísicas Vasilli diz que Vasilli dirá que tudo o que você pensa está recheado de um ódio francês barato.
- Trinta pesetas.
- Hahahahaha.... riu anatole...
- Você é um puto... fala em símbolos... (demorou mais do que o habitual pra xingar o puto em símbolos)
-Deveras... deveras... meu caro... chutou Vasilli, antes de tragar a garrafa de tequila até 1/4 do original.
- Deveras...
-Mas pense bem... quando eu finjo-me de inteligente... você cospe buracos vazios... nadas metafísicos... plágios argentinos... e coisas do tipo... não sei...
Noticiar o ambiente, fazia bem aos dois malandros. Os blocos passavam na avenida Rio Branco... A presidente vargas estava recheada de confetes, enquanto os dois jogados nas escadarias da igreja da candelária... ensaiavam uma marchinha de 1969. "Olha a cabeleira do zezé... será que ele é... será que ele é..."
-Não é 1969... seu estúpido! É 1979.
-Hahaha... Estás errado meu caro medievalista. O ano certo... digo correto... pelos proseadores...
-É algo em torno.. de...
Súbitamente, Anatole levantara e vomitou com força sobre o segundo degrau,
Vasilli entendeu a promessa. Tentou escapar, mas se viu naquele momento e respeitou Anatole por tudo que significava aquela escadaria, o bloco passando, os confetes, a solidão e tudo parte do" algo" não identificado, dos brinquedos metafísicos, das egrégoras, dos súbitos desmaios filosóficos que deixavam aquela situação mais ridícula.
-Ciências sociais ou história, Anatole?
- Os dois. Respondeu Anatole, ainda cuspindo parte da bílis enquanto o refrão por mais que motivado a contradizer os dois... inseria na cabeça de Vasilli uma derrota... do mestre Cartola.
- Deixe me ir... preciso andar... vou por aí... a procurar...
Sorrir, pra não chorar.
-Vasilli.
-Diga, francês.
-Estamos aqui há exatos trinta minutos discutindo filosofia aristotélica. Não achas que minha entonação medieval significa que devemos levantar e dormir em algum colchão antes que eu começe cantar a marselhesa em português?
- Vasilli diz que suas terceiras pessoas não me endossam as labaredas metafísicas Vasilli diz que Vasilli dirá que tudo o que você pensa está recheado de um ódio francês barato.
- Trinta pesetas.
- Hahahahaha.... riu anatole...
- Você é um puto... fala em símbolos... (demorou mais do que o habitual pra xingar o puto em símbolos)
-Deveras... deveras... meu caro... chutou Vasilli, antes de tragar a garrafa de tequila até 1/4 do original.
- Deveras...
-Mas pense bem... quando eu finjo-me de inteligente... você cospe buracos vazios... nadas metafísicos... plágios argentinos... e coisas do tipo... não sei...
Noticiar o ambiente, fazia bem aos dois malandros. Os blocos passavam na avenida Rio Branco... A presidente vargas estava recheada de confetes, enquanto os dois jogados nas escadarias da igreja da candelária... ensaiavam uma marchinha de 1969. "Olha a cabeleira do zezé... será que ele é... será que ele é..."
-Não é 1969... seu estúpido! É 1979.
-Hahaha... Estás errado meu caro medievalista. O ano certo... digo correto... pelos proseadores...
-É algo em torno.. de...
Súbitamente, Anatole levantara e vomitou com força sobre o segundo degrau,
Vasilli entendeu a promessa. Tentou escapar, mas se viu naquele momento e respeitou Anatole por tudo que significava aquela escadaria, o bloco passando, os confetes, a solidão e tudo parte do" algo" não identificado, dos brinquedos metafísicos, das egrégoras, dos súbitos desmaios filosóficos que deixavam aquela situação mais ridícula.
-Ciências sociais ou história, Anatole?
- Os dois. Respondeu Anatole, ainda cuspindo parte da bílis enquanto o refrão por mais que motivado a contradizer os dois... inseria na cabeça de Vasilli uma derrota... do mestre Cartola.
- Deixe me ir... preciso andar... vou por aí... a procurar...
Sorrir, pra não chorar.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
O blog está meio parado
Enfim, aguardando algumas definições para voltar a produzir algumas coisas interessantes...
Carioca só trabalha depois do carnaval mesmo...
Carioca só trabalha depois do carnaval mesmo...
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
Anatole e suas decisões
Anatole caminhava por entre os ladrilhos gigantes da praça vermelha, aguardando um sentimento de furor o invadir ou qualquer emoção intensa que valesse a pena perder uns quatro ou cinco minutos divagando deliciosamente meia dúzia de paradoxos filosóficos baratos.
Ele não tardaria a descobrir que a oposição entre as cores e as matizes, concordavam em lhe aplicar um golpe seco de dúvida que iluminava os caminhos ao seu redor, algo em torno de trinta ou sessenta centímetros, mas que no geral costumavam ofuscar as pessoas e os objetos mais distantes. Eram entre seis e sete da manhã, e esse era o período perfeito para saborear alguns quitutes metafísicos enquanto os passos apressados dos transeuntes e as lanchonetes lotadas do paço imperial esfriavam o clima quente que soçobrava em lençóis escuros os quadros recortados do cotidiano. Mas quem o enganava? Anatole nunca acordaria este horário...
Anatole via-se diante de problemas profusos, invasivos, pois afetavam toda a cadeia triste do jogo social/antisocial dos dominós humanos, olhar para o próximo naqueles momentos era refletir-se num espelho vazio de dó. E como se sentia tão tolo, ao visualizar a linha limítrofe do seu conhecimento; que atacasse a sociedade, a pirâmide injusta, os poderes podres do poder!, mas mesmo asssim Anatole não conseguia imbuir-se de medo ou respeito, apenas complacência; uma complacência tola, um tanto quanto viril em desmascarar todo a arquitetura da desigualdade por partes, mas sem o "punch" exato para golpear de cima para baixo.
Sua voz nada podia fazer, do que esboçar meras reclamações orto-dinâmicas, que emudeciam-se diante do barulho, do clarão intrépido de sons que caíam em volta de seus eventuais silêncios introspectivos.
Não podia mais obedecer, além do que sofrer por antecipação lhe causava uma úlcera estomacal que nem o mais cartesiano dos gastrointerologistas poderia corrigir sem reportar-se ao velho jargão: "Afinal, qual é o seu problema?". Afinal, qual é o seu problema velho Anatole? Qual é, perguntava-se no final daquele gole de ar engasgado que pontuava suas segundas-feiras, por pura maldade é claro.
A complexidade, a velha complexidade, emendou antes de sentar e observar os pombos digladiando-se por um pedaço de pão no meio da praça morta de cimento. Com pombos, seria mais fácil. Muito mais. Resolveu sair dali, era simplório e patético demais. A sua complexidade tornava um café de fim de tarde mais difícil do que o habitual.
Já era tarde e o velho Vasilli ainda não tinha chegado, seu atraso era sempre pontual, desde que acompanhasse um inusitado acontecimento sensorial que envolvia sua falta de horário ou uma nova descoberta perceptiva sobre problemas senso-comum do qual parecia ter elucidado. Era sempre óbvia a sua falta de dialética tradicionalmente obscurecida por algum comentário vivo. Vasilli costumava dar vida aos seus comentários e fazia com que eles dançassem ao lado dos raciocínios abstratos compartilhados por um pedaço de barulho às quatro e quarenta e cinco de uma segunda feira ao lado do sarcasmo estridente dos Arcos da Lapa. Uma vez atrasou cinqüenta minutos pois resolveu achar o umbigo do centro da cidade quando passeava na Rua da Alfândega.
Mas o pulha talvez não viesse. E Anatole decidiu escutar os passos da música e caminhar por aí até ver o que faria.
O que faria Anatole? O que faria?
São tantas escolhas... É uma soma de forças contraditórias... há um norte, isto é verdade, contudo sinto-me impelido por tantas questões... saudades de determinados lugares e momentos, pessoas, mas vejo que muita coisa passou, a estrada que eu cruzo não é a mesma estrada e nem eu sou a mesma pessoa após cruzá-la... É o velho devir heraclitiano, o caminho do todo escondido em bordas de alegria, de ódio, e de profunda exaltação diante do duvidoso, do desconhecido, do absurdo. E onde estaria o velho Vasilli? Perdido em suas execrações? Ou buscando novas formas de prazeres cotidianos? No fundo no fundo, Vasilli é um hedonista. Um hedonista movido a detalhes...
Ele não tardaria a descobrir que a oposição entre as cores e as matizes, concordavam em lhe aplicar um golpe seco de dúvida que iluminava os caminhos ao seu redor, algo em torno de trinta ou sessenta centímetros, mas que no geral costumavam ofuscar as pessoas e os objetos mais distantes. Eram entre seis e sete da manhã, e esse era o período perfeito para saborear alguns quitutes metafísicos enquanto os passos apressados dos transeuntes e as lanchonetes lotadas do paço imperial esfriavam o clima quente que soçobrava em lençóis escuros os quadros recortados do cotidiano. Mas quem o enganava? Anatole nunca acordaria este horário...
Anatole via-se diante de problemas profusos, invasivos, pois afetavam toda a cadeia triste do jogo social/antisocial dos dominós humanos, olhar para o próximo naqueles momentos era refletir-se num espelho vazio de dó. E como se sentia tão tolo, ao visualizar a linha limítrofe do seu conhecimento; que atacasse a sociedade, a pirâmide injusta, os poderes podres do poder!, mas mesmo asssim Anatole não conseguia imbuir-se de medo ou respeito, apenas complacência; uma complacência tola, um tanto quanto viril em desmascarar todo a arquitetura da desigualdade por partes, mas sem o "punch" exato para golpear de cima para baixo.
Sua voz nada podia fazer, do que esboçar meras reclamações orto-dinâmicas, que emudeciam-se diante do barulho, do clarão intrépido de sons que caíam em volta de seus eventuais silêncios introspectivos.
Não podia mais obedecer, além do que sofrer por antecipação lhe causava uma úlcera estomacal que nem o mais cartesiano dos gastrointerologistas poderia corrigir sem reportar-se ao velho jargão: "Afinal, qual é o seu problema?". Afinal, qual é o seu problema velho Anatole? Qual é, perguntava-se no final daquele gole de ar engasgado que pontuava suas segundas-feiras, por pura maldade é claro.
A complexidade, a velha complexidade, emendou antes de sentar e observar os pombos digladiando-se por um pedaço de pão no meio da praça morta de cimento. Com pombos, seria mais fácil. Muito mais. Resolveu sair dali, era simplório e patético demais. A sua complexidade tornava um café de fim de tarde mais difícil do que o habitual.
Já era tarde e o velho Vasilli ainda não tinha chegado, seu atraso era sempre pontual, desde que acompanhasse um inusitado acontecimento sensorial que envolvia sua falta de horário ou uma nova descoberta perceptiva sobre problemas senso-comum do qual parecia ter elucidado. Era sempre óbvia a sua falta de dialética tradicionalmente obscurecida por algum comentário vivo. Vasilli costumava dar vida aos seus comentários e fazia com que eles dançassem ao lado dos raciocínios abstratos compartilhados por um pedaço de barulho às quatro e quarenta e cinco de uma segunda feira ao lado do sarcasmo estridente dos Arcos da Lapa. Uma vez atrasou cinqüenta minutos pois resolveu achar o umbigo do centro da cidade quando passeava na Rua da Alfândega.
Mas o pulha talvez não viesse. E Anatole decidiu escutar os passos da música e caminhar por aí até ver o que faria.
O que faria Anatole? O que faria?
São tantas escolhas... É uma soma de forças contraditórias... há um norte, isto é verdade, contudo sinto-me impelido por tantas questões... saudades de determinados lugares e momentos, pessoas, mas vejo que muita coisa passou, a estrada que eu cruzo não é a mesma estrada e nem eu sou a mesma pessoa após cruzá-la... É o velho devir heraclitiano, o caminho do todo escondido em bordas de alegria, de ódio, e de profunda exaltação diante do duvidoso, do desconhecido, do absurdo. E onde estaria o velho Vasilli? Perdido em suas execrações? Ou buscando novas formas de prazeres cotidianos? No fundo no fundo, Vasilli é um hedonista. Um hedonista movido a detalhes...
Assinar:
Postagens (Atom)