Anatole caminhava por entre os ladrilhos gigantes da praça vermelha, aguardando um sentimento de furor o invadir ou qualquer emoção intensa que valesse a pena perder uns quatro ou cinco minutos divagando deliciosamente meia dúzia de paradoxos filosóficos baratos.
Ele não tardaria a descobrir que a oposição entre as cores e as matizes, concordavam em lhe aplicar um golpe seco de dúvida que iluminava os caminhos ao seu redor, algo em torno de trinta ou sessenta centímetros, mas que no geral costumavam ofuscar as pessoas e os objetos mais distantes. Eram entre seis e sete da manhã, e esse era o período perfeito para saborear alguns quitutes metafísicos enquanto os passos apressados dos transeuntes e as lanchonetes lotadas do paço imperial esfriavam o clima quente que soçobrava em lençóis escuros os quadros recortados do cotidiano. Mas quem o enganava? Anatole nunca acordaria este horário...
Anatole via-se diante de problemas profusos, invasivos, pois afetavam toda a cadeia triste do jogo social/antisocial dos dominós humanos, olhar para o próximo naqueles momentos era refletir-se num espelho vazio de dó. E como se sentia tão tolo, ao visualizar a linha limítrofe do seu conhecimento; que atacasse a sociedade, a pirâmide injusta, os poderes podres do poder!, mas mesmo asssim Anatole não conseguia imbuir-se de medo ou respeito, apenas complacência; uma complacência tola, um tanto quanto viril em desmascarar todo a arquitetura da desigualdade por partes, mas sem o "punch" exato para golpear de cima para baixo.
Sua voz nada podia fazer, do que esboçar meras reclamações orto-dinâmicas, que emudeciam-se diante do barulho, do clarão intrépido de sons que caíam em volta de seus eventuais silêncios introspectivos.
Não podia mais obedecer, além do que sofrer por antecipação lhe causava uma úlcera estomacal que nem o mais cartesiano dos gastrointerologistas poderia corrigir sem reportar-se ao velho jargão: "Afinal, qual é o seu problema?". Afinal, qual é o seu problema velho Anatole? Qual é, perguntava-se no final daquele gole de ar engasgado que pontuava suas segundas-feiras, por pura maldade é claro.
A complexidade, a velha complexidade, emendou antes de sentar e observar os pombos digladiando-se por um pedaço de pão no meio da praça morta de cimento. Com pombos, seria mais fácil. Muito mais. Resolveu sair dali, era simplório e patético demais. A sua complexidade tornava um café de fim de tarde mais difícil do que o habitual.
Já era tarde e o velho Vasilli ainda não tinha chegado, seu atraso era sempre pontual, desde que acompanhasse um inusitado acontecimento sensorial que envolvia sua falta de horário ou uma nova descoberta perceptiva sobre problemas senso-comum do qual parecia ter elucidado. Era sempre óbvia a sua falta de dialética tradicionalmente obscurecida por algum comentário vivo. Vasilli costumava dar vida aos seus comentários e fazia com que eles dançassem ao lado dos raciocínios abstratos compartilhados por um pedaço de barulho às quatro e quarenta e cinco de uma segunda feira ao lado do sarcasmo estridente dos Arcos da Lapa. Uma vez atrasou cinqüenta minutos pois resolveu achar o umbigo do centro da cidade quando passeava na Rua da Alfândega.
Mas o pulha talvez não viesse. E Anatole decidiu escutar os passos da música e caminhar por aí até ver o que faria.
O que faria Anatole? O que faria?
São tantas escolhas... É uma soma de forças contraditórias... há um norte, isto é verdade, contudo sinto-me impelido por tantas questões... saudades de determinados lugares e momentos, pessoas, mas vejo que muita coisa passou, a estrada que eu cruzo não é a mesma estrada e nem eu sou a mesma pessoa após cruzá-la... É o velho devir heraclitiano, o caminho do todo escondido em bordas de alegria, de ódio, e de profunda exaltação diante do duvidoso, do desconhecido, do absurdo. E onde estaria o velho Vasilli? Perdido em suas execrações? Ou buscando novas formas de prazeres cotidianos? No fundo no fundo, Vasilli é um hedonista. Um hedonista movido a detalhes...
Ele não tardaria a descobrir que a oposição entre as cores e as matizes, concordavam em lhe aplicar um golpe seco de dúvida que iluminava os caminhos ao seu redor, algo em torno de trinta ou sessenta centímetros, mas que no geral costumavam ofuscar as pessoas e os objetos mais distantes. Eram entre seis e sete da manhã, e esse era o período perfeito para saborear alguns quitutes metafísicos enquanto os passos apressados dos transeuntes e as lanchonetes lotadas do paço imperial esfriavam o clima quente que soçobrava em lençóis escuros os quadros recortados do cotidiano. Mas quem o enganava? Anatole nunca acordaria este horário...
Anatole via-se diante de problemas profusos, invasivos, pois afetavam toda a cadeia triste do jogo social/antisocial dos dominós humanos, olhar para o próximo naqueles momentos era refletir-se num espelho vazio de dó. E como se sentia tão tolo, ao visualizar a linha limítrofe do seu conhecimento; que atacasse a sociedade, a pirâmide injusta, os poderes podres do poder!, mas mesmo asssim Anatole não conseguia imbuir-se de medo ou respeito, apenas complacência; uma complacência tola, um tanto quanto viril em desmascarar todo a arquitetura da desigualdade por partes, mas sem o "punch" exato para golpear de cima para baixo.
Sua voz nada podia fazer, do que esboçar meras reclamações orto-dinâmicas, que emudeciam-se diante do barulho, do clarão intrépido de sons que caíam em volta de seus eventuais silêncios introspectivos.
Não podia mais obedecer, além do que sofrer por antecipação lhe causava uma úlcera estomacal que nem o mais cartesiano dos gastrointerologistas poderia corrigir sem reportar-se ao velho jargão: "Afinal, qual é o seu problema?". Afinal, qual é o seu problema velho Anatole? Qual é, perguntava-se no final daquele gole de ar engasgado que pontuava suas segundas-feiras, por pura maldade é claro.
A complexidade, a velha complexidade, emendou antes de sentar e observar os pombos digladiando-se por um pedaço de pão no meio da praça morta de cimento. Com pombos, seria mais fácil. Muito mais. Resolveu sair dali, era simplório e patético demais. A sua complexidade tornava um café de fim de tarde mais difícil do que o habitual.
Já era tarde e o velho Vasilli ainda não tinha chegado, seu atraso era sempre pontual, desde que acompanhasse um inusitado acontecimento sensorial que envolvia sua falta de horário ou uma nova descoberta perceptiva sobre problemas senso-comum do qual parecia ter elucidado. Era sempre óbvia a sua falta de dialética tradicionalmente obscurecida por algum comentário vivo. Vasilli costumava dar vida aos seus comentários e fazia com que eles dançassem ao lado dos raciocínios abstratos compartilhados por um pedaço de barulho às quatro e quarenta e cinco de uma segunda feira ao lado do sarcasmo estridente dos Arcos da Lapa. Uma vez atrasou cinqüenta minutos pois resolveu achar o umbigo do centro da cidade quando passeava na Rua da Alfândega.
Mas o pulha talvez não viesse. E Anatole decidiu escutar os passos da música e caminhar por aí até ver o que faria.
O que faria Anatole? O que faria?
São tantas escolhas... É uma soma de forças contraditórias... há um norte, isto é verdade, contudo sinto-me impelido por tantas questões... saudades de determinados lugares e momentos, pessoas, mas vejo que muita coisa passou, a estrada que eu cruzo não é a mesma estrada e nem eu sou a mesma pessoa após cruzá-la... É o velho devir heraclitiano, o caminho do todo escondido em bordas de alegria, de ódio, e de profunda exaltação diante do duvidoso, do desconhecido, do absurdo. E onde estaria o velho Vasilli? Perdido em suas execrações? Ou buscando novas formas de prazeres cotidianos? No fundo no fundo, Vasilli é um hedonista. Um hedonista movido a detalhes...
Nenhum comentário:
Postar um comentário