atualizado em 29/01/2008
Havia aquele som, aquele som inaudível e incoerente, cujas vozes famintas, ampliavam-se, mas que completamente imperceptíveis para mim, me faziam sentir, e sentir era algo obscuro ou inédito demais, como em um estado de overdose sânscrita, assim espalhado pelo canto do ônibus ou quando num gesto brusco, sob uma folha largada, cujo desespero secreto e particular impelia ao silêncio, apenas buscava no outro a sua própria imagem.
E assim, demasiadamente empático e largado pelo mundo e o mundo era justamente uma instituição, um aglomerado de gente sem sentido, gente nos ônibus com seus próprios e distintos propósitos e que se definiam por si mesmos; este mundo largado, de gente e de propósitos largados, costumava mover-se, segundo definições ocultas e inexpressivas, peças no tabuleiro misterioso.
Consciosamente a vida cotidiana reproduzia o fato que era mais psicológica do que própriamente metafísica: deus existia; e sempre com ironia.
Desconectado, o meu amor, aquele que nunca nascia de manhã, durante o beijo calado, mas que irrompia sozinho, largado no canto do quarto, entre quatro ou seis latas de cerveja, nascendo sob sua motivação, e que encontrava apenas a mim...
E eu transformava-me sem mudar definitivamente nada. Eu modificava-me, e apenas encontrava um amor sem par, uma paixão sem destinatário, uma flor cujo terreno argiloso, produzia um belo espécime temporal.
Eu amava sozinho.
No ritual medíocre do si-mesmo e cujo soluço permitia uma reflexão, desejava, desejava, com todas as forças que apenas dois sentimentos pudessem apoderar-me do "si próprio", os muito fortes ou os demasiadamente fracos.
Amor e tristeza, espalhados num copo de conhaque num dia de semana normal, pareciam acabar com o fígado, mas sustentavam verdadeiramente era o espírito. E era aí, na terceira golada, que acompanhava a espera, quase interminável, que o espírito forte, e o espírito fraco apresentavam-se: era o espetáculo da possessão.
Eu fingia não sentir absolutamente nada, e enquanto escrevia, algo se modificava, e era necessário suportar todo este peso, absolutamente familiar, mas nem por isso íntimo, pois apresentava-se estranho à mim mesmo em todas suas formas cotidianas. E era o que eu fazia, olhando cartas velhas, abrindo geladeiras novas, bebendo cerveja sem gosto.
Um homem que triste e é só não incomoda, pois decerto algo se ajusta neste parâmetro categorizável, a sociedade compreende a tristeza de ser só e rápidamente há um acordo tácito entre o indivíduo e o corpo social; surgem os amigos, as companhias, o terapeuta ou por fim, os remédios psicoterápicos, mas quando encontramos, e é neste caso específico que os poderes curiosamente não podiam de nenhuma forma me localizar, um homem que ama e é sozinho,(e eu Román Soto Mayor fui o primeiro a ser encontrado neste terrível ponto) tal fato descortina uma exceção perigosa, que compromete todo o sistema encadeado.
Como amar sozinho? Como tornar-se apaixonado sem um objeto de paixão? Se alguém ama a si mesmo, chamaríam-no de narcísico, mas este não é o caso, se fosse verdadeiramente o caso, estaria não encolhido diante do mundo, porquanto se estivesse olhando para a face no lago, amaria-me e desprezaria todo o cotidiano; não era o caso. E poderiam me acusar de não amar ninguém, e se alguém não ama nada nem ninguém, haveria de esconder uma fraqueza, ou uma amargura fixada no canto do olho; mas deste quadro não faço parte, a minha fraqueza decerto era revelar-me, e não esconder sentimento ou idéia nenhuma, coisa que tanto desaprovava.
E amo algo! Amo! Amo um alguém oculto! Algo que oculto faz-me sofrer exatamente por permanecer oculto, mas que ainda por isto, carrega uma febre, um aglomerado de sintomas dos quais não consigo me livrar.
Carrego o sintoma dos apaixonados, enquanto eles amam e deliciam-se no conforto e na segurança que o amor proporciona ao futuro, concretizado por uma mão tenra, um abraço resoluto, um olhar justo, eu cá estou, com os sintomas da febre, incontrolável e voraz, mas sozinho, cuja mesma febre dos que se apaixonam pelo outro, pela outra convivem em mim. Mas cá comigo, descobri da maneira bruta, que amo algo que definitivamente não existe. Não pode ser tocado nem visto. Não está, nunca esteve. Não me aparece, pois não é.
Entre insônias e cigarros acesos, debruçei-me por sobre este problema existencial. Miserável e terrívelmente existencial - homem que ama sem amar, nebulosa contradição, ama sem ver, ama sem ter .
Em um ponto mais adiante, aceitei parte de meu problema e de seus desejos, fiz a respiração baixar, a calma e o silêncio cresceram. A partir daí me viam com mais frequência, no canto do bar, nas filas quase vazias de espetáculos que ninguém queria assistir, ou simplesmente dormindo na última sessão e fila de cadeiras do cinema, vazio.
Espalhado no canto do ônibus, ou deitando bruscamente na cama como quem busca afeto, eu tervigersava, eu caminhava sem sair do mesmo lugar, eu esticava os pés mas não o espírito, eu não me bebia como possível, pois eu tinha desistido. Desistido das mudanças cotidianas, que pareciam todas iguais, do futuro, das possibilidades do inédito, que nunca se apresentavam, e enquanto a desistência me dominava, o ponteiro dos anos acelerou, e a espera tornou-se verdadeiramente um perigoso jogo de armar que me colocavam alguns mais paradigmas insolúveis.
Aceitá-los, implicaria em esperar, aguardar um milagre, um milagre do deus metafísico, e aí sim, poder com justiça e direito, amar com a febre dos ébrios. Recusar os horizontes dos milagres, implicaria em um movimento extremamente cuidadoso e que me posicionava diante do limiar do absurdo e do particular, cuja opção desassistida, era o deus psicológico, que se fazia vivo diante das expectativas, dos desejos, e da esperança alimentada sorriso após sorriso.
Meu nome era Román Soto Maior, o homem que diziam, amava alguém, amava alguém, que mantinha-se oculto.
Meticulosamente envolvido e imbricado pelos meus sentimentos, aguardava uma mudança, um som, um beijo ou aceno que modificasse tudo, mas no meu canto, e um canto que bastava-se tão só, me sobrava apenas um som inaudível e incoerente, um desespero secreto, algo que não se resolvia de imediato, e convertia-se sob meus passos, num delicioso e solitário jogo de armar.
Havia aquele som, aquele som inaudível e incoerente, cujas vozes famintas, ampliavam-se, mas que completamente imperceptíveis para mim, me faziam sentir, e sentir era algo obscuro ou inédito demais, como em um estado de overdose sânscrita, assim espalhado pelo canto do ônibus ou quando num gesto brusco, sob uma folha largada, cujo desespero secreto e particular impelia ao silêncio, apenas buscava no outro a sua própria imagem.
E assim, demasiadamente empático e largado pelo mundo e o mundo era justamente uma instituição, um aglomerado de gente sem sentido, gente nos ônibus com seus próprios e distintos propósitos e que se definiam por si mesmos; este mundo largado, de gente e de propósitos largados, costumava mover-se, segundo definições ocultas e inexpressivas, peças no tabuleiro misterioso.
Consciosamente a vida cotidiana reproduzia o fato que era mais psicológica do que própriamente metafísica: deus existia; e sempre com ironia.
Desconectado, o meu amor, aquele que nunca nascia de manhã, durante o beijo calado, mas que irrompia sozinho, largado no canto do quarto, entre quatro ou seis latas de cerveja, nascendo sob sua motivação, e que encontrava apenas a mim...
E eu transformava-me sem mudar definitivamente nada. Eu modificava-me, e apenas encontrava um amor sem par, uma paixão sem destinatário, uma flor cujo terreno argiloso, produzia um belo espécime temporal.
Eu amava sozinho.
No ritual medíocre do si-mesmo e cujo soluço permitia uma reflexão, desejava, desejava, com todas as forças que apenas dois sentimentos pudessem apoderar-me do "si próprio", os muito fortes ou os demasiadamente fracos.
Amor e tristeza, espalhados num copo de conhaque num dia de semana normal, pareciam acabar com o fígado, mas sustentavam verdadeiramente era o espírito. E era aí, na terceira golada, que acompanhava a espera, quase interminável, que o espírito forte, e o espírito fraco apresentavam-se: era o espetáculo da possessão.
Eu fingia não sentir absolutamente nada, e enquanto escrevia, algo se modificava, e era necessário suportar todo este peso, absolutamente familiar, mas nem por isso íntimo, pois apresentava-se estranho à mim mesmo em todas suas formas cotidianas. E era o que eu fazia, olhando cartas velhas, abrindo geladeiras novas, bebendo cerveja sem gosto.
Um homem que triste e é só não incomoda, pois decerto algo se ajusta neste parâmetro categorizável, a sociedade compreende a tristeza de ser só e rápidamente há um acordo tácito entre o indivíduo e o corpo social; surgem os amigos, as companhias, o terapeuta ou por fim, os remédios psicoterápicos, mas quando encontramos, e é neste caso específico que os poderes curiosamente não podiam de nenhuma forma me localizar, um homem que ama e é sozinho,(e eu Román Soto Mayor fui o primeiro a ser encontrado neste terrível ponto) tal fato descortina uma exceção perigosa, que compromete todo o sistema encadeado.
Como amar sozinho? Como tornar-se apaixonado sem um objeto de paixão? Se alguém ama a si mesmo, chamaríam-no de narcísico, mas este não é o caso, se fosse verdadeiramente o caso, estaria não encolhido diante do mundo, porquanto se estivesse olhando para a face no lago, amaria-me e desprezaria todo o cotidiano; não era o caso. E poderiam me acusar de não amar ninguém, e se alguém não ama nada nem ninguém, haveria de esconder uma fraqueza, ou uma amargura fixada no canto do olho; mas deste quadro não faço parte, a minha fraqueza decerto era revelar-me, e não esconder sentimento ou idéia nenhuma, coisa que tanto desaprovava.
E amo algo! Amo! Amo um alguém oculto! Algo que oculto faz-me sofrer exatamente por permanecer oculto, mas que ainda por isto, carrega uma febre, um aglomerado de sintomas dos quais não consigo me livrar.
Carrego o sintoma dos apaixonados, enquanto eles amam e deliciam-se no conforto e na segurança que o amor proporciona ao futuro, concretizado por uma mão tenra, um abraço resoluto, um olhar justo, eu cá estou, com os sintomas da febre, incontrolável e voraz, mas sozinho, cuja mesma febre dos que se apaixonam pelo outro, pela outra convivem em mim. Mas cá comigo, descobri da maneira bruta, que amo algo que definitivamente não existe. Não pode ser tocado nem visto. Não está, nunca esteve. Não me aparece, pois não é.
Entre insônias e cigarros acesos, debruçei-me por sobre este problema existencial. Miserável e terrívelmente existencial - homem que ama sem amar, nebulosa contradição, ama sem ver, ama sem ter .
Em um ponto mais adiante, aceitei parte de meu problema e de seus desejos, fiz a respiração baixar, a calma e o silêncio cresceram. A partir daí me viam com mais frequência, no canto do bar, nas filas quase vazias de espetáculos que ninguém queria assistir, ou simplesmente dormindo na última sessão e fila de cadeiras do cinema, vazio.
Espalhado no canto do ônibus, ou deitando bruscamente na cama como quem busca afeto, eu tervigersava, eu caminhava sem sair do mesmo lugar, eu esticava os pés mas não o espírito, eu não me bebia como possível, pois eu tinha desistido. Desistido das mudanças cotidianas, que pareciam todas iguais, do futuro, das possibilidades do inédito, que nunca se apresentavam, e enquanto a desistência me dominava, o ponteiro dos anos acelerou, e a espera tornou-se verdadeiramente um perigoso jogo de armar que me colocavam alguns mais paradigmas insolúveis.
Aceitá-los, implicaria em esperar, aguardar um milagre, um milagre do deus metafísico, e aí sim, poder com justiça e direito, amar com a febre dos ébrios. Recusar os horizontes dos milagres, implicaria em um movimento extremamente cuidadoso e que me posicionava diante do limiar do absurdo e do particular, cuja opção desassistida, era o deus psicológico, que se fazia vivo diante das expectativas, dos desejos, e da esperança alimentada sorriso após sorriso.
Meu nome era Román Soto Maior, o homem que diziam, amava alguém, amava alguém, que mantinha-se oculto.
Meticulosamente envolvido e imbricado pelos meus sentimentos, aguardava uma mudança, um som, um beijo ou aceno que modificasse tudo, mas no meu canto, e um canto que bastava-se tão só, me sobrava apenas um som inaudível e incoerente, um desespero secreto, algo que não se resolvia de imediato, e convertia-se sob meus passos, num delicioso e solitário jogo de armar.
2 comentários:
Me lembrou um trecho de uma música do Cazuza: "não amo ninguém/parece incrível/e é só amor que eu respiro"
No mais, estava escrevendo algo ontem que falava sobre desistência e uma enorme perda de apetite pelo mundo, me fez lembrar tb.
Não sei o que escrever... Ultimamente eu nunca sei o que escrever... Mas queria que vc soubesse que eu li, e que me fez mto bem, por pura questão de identificação. Poderia citar trechos, fazer comentários, mas vou só deixar meu rastro aqui, nada mais. Bjus...
Thaís
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