quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Modelo de carta de amor volume 05 - Livre para Usar e Abusar

Por sob a fachada, há um homem não tão complexo, que busca algo não tão requintado, e que diante da simplicidade de um beijo, de um abraço, ou de algo que se assemelhe ao mais próximo da sinceridade refugia-se em torno de desejos efetivamente simples.

Olhar as nuvens acompanhado, beijar a fronte enquanto ela pensa ou diz outra coisa concentrada, e é delicioso desconcentrá-la; piquenique com formigas e paixão, uma andar que emoldura um delicioso jogo de esgrima sem vencedores e vencidos, um rascunho de poesia num guardanapo, cócegas no parque.

O toque das mãos, o olhar sem promessas e defesas, o abraço que engole o mundo encolhido diante do beijo, as línguas que se tocam e fervem algo que é muito mais do que um amontoado de células nervosas; a fé no circuito simples da vida.

O cheiro de grama molhada, a chuva que encara o casal, o desafio sobreposto em manuscritos com recortes de cartolina vermelha, a vontade, o desespero de permanecer sozinho junto da multidão, das flores.

Nas instruções de uso, as da página 27 que colorem o contrato de garantia do eletrodoméstico comprado por cinco maldosas prestações, há uma cláusula escondida e colocada por um bon vivant do setor de arrecadações, e que diz respeito à como os amantes devem se portar nos dias da semana, e uma delas diz que os beijos devem ser medidos por intensidade, pressão e desejo.

Devoluções do manual não são aceitas, todos os que tentaram e foram poucos os que fizeram, ganharam beijos e devolveram-se estupefatos por sobre o balcão.

Num estado desconhecido de um país vizinho da Birmânia, os homens e as mulheres que se apaixonam são obrigados à conviverem com pacientes terminais uma vez por semana e se comportarem nos dias restantes como se a doença fosse contagiosa e não houvesse vacina, vergonha, ou saída.

Nas salas de embarque de um país da América do Sul, há um setor específico para os mais apaixonados. Os que entram precisam provar sua paixão e convencer metade da fila do embarque. Ganham rosas, café da manhã e um embarque e destino à esmo; o coração é o que os guia.

Enquanto isso, na Península Ibérica, alguém, fumando um cigarro em uma varanda, completamente fria e molhada pelo tempo, sofre por um amor não-correspondido. Há vida, e não só flores.

Numa estrada do interior do sul da Itália, alguém carrega flores, sem saber que mãos irão recebê-las, nunca sabemos; o processo de colher as flores não é tão apaixonante, são treze trabalhadores informais, sem direitos trabalhistas e que quando apaixonam-se, por razões ocultas ou óbvias não desejam ver flores, querem filhos e casas.

O ritual de venda na urbe já desapaixonante tampouco seduz: e é por isso, que os verdadeiros e verdadeiras apaixonadas, roubam as flores ao invés de comprá-las no mercado local.

Alguém persegue um ladrão de flores, ele se esconde na esquina e o vigia que nunca amou ninguém desiste do intento.

O ladrão, que apesar de não estar amando ninguém(mas pretende), guardou a flor e a história para ela, ela mesmo, que ainda nem chegou na sua vida, mas que está oculta por uma profunda intuição, uma história e um destino bonito, que se fez mesmo em literatura.

Colocou a rosa e a idéia em cima da escrivaninha, apagou a luz, e prometeu escrever e ler tudo aquilo para ela, e quando chegasse o momento, ela saberia, quando ele resolvesse ler tudo aquilo, desde o início, que é apenas o coração que os guia.

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