Agora que leio, e sinto, entre uma janela fechada ou uma terceira encomenda e carta depositada no destinatário errado, que possuo apesar da incapacidade intríseca de percorrer estações sem me molhar e quando chove a capacidade de andar e amar despretensiosamente pelos paralelepípedos amarelos; uma capacidade incrível de renovar todas e minhas esperanças.
Sim, eu possuo; e como se fosse o azul do céu que não anda tão perdido mas entretanto observa-se com mais exatidão, quando dorme, seja no ponto de ônibus, no metrô, na água salgada que envolve o sono mais profundo, eu prossigo... E caminho, eu caminho e crio esperanças, umas por detrás das outras, como formigas, singelas, e agradáveis, que andam às centenas pelo meu quarto, despretensiosamente ordinárias e felizes.
Sim, eu possuo; e como se fosse o azul do céu que não anda tão perdido mas entretanto observa-se com mais exatidão, quando dorme, seja no ponto de ônibus, no metrô, na água salgada que envolve o sono mais profundo, eu prossigo... E caminho, eu caminho e crio esperanças, umas por detrás das outras, como formigas, singelas, e agradáveis, que andam às centenas pelo meu quarto, despretensiosamente ordinárias e felizes.
Não tão especial, eu abandono, abandono-me, abandono-a nos sonhos para resgatá-la na realidade, que se não é tão especial, aparenta pelos acasos, dizer-me algo que as contra-capas e as vaidades e belezas pessoais procuram ocultar.
Flanqueio-a e ela nem vê, mas agora percebo-a, com mais exatidão à princípio, como aguardasse um afago que nunca virá, sem esmero, sem destino, sem naturalidade, cheio de mesóclises irredutíveis e inúteis com suas trouxas inesperadas.
Lembro-me do seu cheiro, da poesia que eu nunca recitei, do encontro que não houve, mas haverá, das flores, da conversa, do futuro, haverá! Lembro-me, lembro-me de tudo o que eu disse.
Lembro-me dos contos e amores inacabados, como se postam e se conservam ao mar.
E lembro das memórias dos sonhos. Da praia que tudo carrega. Do amor que tudo leva. Da paixão que tudo conquista. Do abraço que tudo desmorona.
E aí esqueci de mim mesmo, como uma janela fechada, que por amar despretensiosamente andou às centenas no quarto, e com cheiro de poesia, de naturalidade, fez-se no beijo e na surpresa daquele amor platônico agora concreto, irresistível, porém ainda abstrato. Pois sozinho, lhe cabem esperanças, e da mesma forma de que tudo leva, aqueles olhos ainda haverão de encontrar os seus, que conservados ao mar fizeram-se tão inacabados, sem ela.
[...]
E hoje acordei assim, normal, com vontade de passar o dia costurando sonhos. Peguei tudo o que tinha, um cigarro, meia caixa de fósforo, uma mochila, vergonha e quatro camisas, um caderno verde; saí sem princípios e isto foi até o meio-dia.
Na mesinha de centro o relógio apitava, e não era meu. A geladeira jazia ligada e o fundo da casa, acrescia-se de uma água-furtada, que ligada pelos tijolos e pelas insônias dos anos anteriores faziam dos cômodos pasárgadas.
E ela, ela que nem me lembrou, mas que eu fingi esquecer depois do almoço, na minha imaginação dormia, dormia sob as águas-furtadas que incriminavam metade de mim, cujo esboço feito de esmero e efêmero era pura vodka-estraga-poemas.
E quanto mais eu me deteriorava, podia ver o mundo deteriorando-se. E o mundo deteriorava não só enquanto eu me deteriorava, mas era algo além, pois minha deterioração estava aquém, e sim eu sabia, sabia quando nos piores dias percebia, que mesmo que eu não me deteriorasse haveria algo ou alguém para se acabar no finito do mundo. Pois o mundo se acaba sem mim. E isto era uma tragédia extremamente narcísica... Eu adorava.
A instituição imaginária da sociedade convivia bem consigo mesma, mas eu, parte disto tudo, não me encaixava, e tentava seguir as velhas fórmulas, os antigos esquemas e isto implicava em manter a esperança.
Algo real e concreto começou a germinar, irrompendo as cascas e forçando o solo e as desilusões acomodarem-se sob o novo quadro: a luz, o orvalho perante às cascas, folhas, no céu da verdade empírica e esmagadora dos fatos; fatos que se faziam só, eu nascia ali, na esquina da morte, que não fazia peso, pois era parte do todo e das cinzas do novo, reciclando no final dos finais. Era a morte cotidiana.
Renascia sob o tom da dúvida; o sal e o tempero eram só meus, naquele momento íntimo do paladar, algo meu.
O mundo terminava em mim, era uma fronteira possível mas que odiava o outro em si mesmo, na água-furtada, no poema do outro que feito para mim, me escolhia sem que para isto eu tivesse esmero. Todavia guardara empatia.
E demasiadamente empática, empático, nos assemelhávamos, mesmo assim, largados na avenida ordinária do mundo.
Flanqueio-a e ela nem vê, mas agora percebo-a, com mais exatidão à princípio, como aguardasse um afago que nunca virá, sem esmero, sem destino, sem naturalidade, cheio de mesóclises irredutíveis e inúteis com suas trouxas inesperadas.
Lembro-me do seu cheiro, da poesia que eu nunca recitei, do encontro que não houve, mas haverá, das flores, da conversa, do futuro, haverá! Lembro-me, lembro-me de tudo o que eu disse.
Lembro-me dos contos e amores inacabados, como se postam e se conservam ao mar.
E lembro das memórias dos sonhos. Da praia que tudo carrega. Do amor que tudo leva. Da paixão que tudo conquista. Do abraço que tudo desmorona.
E aí esqueci de mim mesmo, como uma janela fechada, que por amar despretensiosamente andou às centenas no quarto, e com cheiro de poesia, de naturalidade, fez-se no beijo e na surpresa daquele amor platônico agora concreto, irresistível, porém ainda abstrato. Pois sozinho, lhe cabem esperanças, e da mesma forma de que tudo leva, aqueles olhos ainda haverão de encontrar os seus, que conservados ao mar fizeram-se tão inacabados, sem ela.
[...]
E hoje acordei assim, normal, com vontade de passar o dia costurando sonhos. Peguei tudo o que tinha, um cigarro, meia caixa de fósforo, uma mochila, vergonha e quatro camisas, um caderno verde; saí sem princípios e isto foi até o meio-dia.
Na mesinha de centro o relógio apitava, e não era meu. A geladeira jazia ligada e o fundo da casa, acrescia-se de uma água-furtada, que ligada pelos tijolos e pelas insônias dos anos anteriores faziam dos cômodos pasárgadas.
E ela, ela que nem me lembrou, mas que eu fingi esquecer depois do almoço, na minha imaginação dormia, dormia sob as águas-furtadas que incriminavam metade de mim, cujo esboço feito de esmero e efêmero era pura vodka-estraga-poemas.
E quanto mais eu me deteriorava, podia ver o mundo deteriorando-se. E o mundo deteriorava não só enquanto eu me deteriorava, mas era algo além, pois minha deterioração estava aquém, e sim eu sabia, sabia quando nos piores dias percebia, que mesmo que eu não me deteriorasse haveria algo ou alguém para se acabar no finito do mundo. Pois o mundo se acaba sem mim. E isto era uma tragédia extremamente narcísica... Eu adorava.
A instituição imaginária da sociedade convivia bem consigo mesma, mas eu, parte disto tudo, não me encaixava, e tentava seguir as velhas fórmulas, os antigos esquemas e isto implicava em manter a esperança.
Algo real e concreto começou a germinar, irrompendo as cascas e forçando o solo e as desilusões acomodarem-se sob o novo quadro: a luz, o orvalho perante às cascas, folhas, no céu da verdade empírica e esmagadora dos fatos; fatos que se faziam só, eu nascia ali, na esquina da morte, que não fazia peso, pois era parte do todo e das cinzas do novo, reciclando no final dos finais. Era a morte cotidiana.
Renascia sob o tom da dúvida; o sal e o tempero eram só meus, naquele momento íntimo do paladar, algo meu.
O mundo terminava em mim, era uma fronteira possível mas que odiava o outro em si mesmo, na água-furtada, no poema do outro que feito para mim, me escolhia sem que para isto eu tivesse esmero. Todavia guardara empatia.
E demasiadamente empática, empático, nos assemelhávamos, mesmo assim, largados na avenida ordinária do mundo.
3 comentários:
com vontade de quero mais
Parece até que você adivinhou.
Eu estava mesmo precisando ler um texto desse.
Pura sintonia. Esse nao eh como os outros q eu me se desapontava em ler ou entao, talvez, uma nova perspectiva tenha me feito entender. A da mudança. Acho q posso ter, pela primeira vez completamente e ter calçado seus sapatos de forma integral. Até quando existe essa esperamça até entao por mim desconhecida. Obrigada mais 1 vez.
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