segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Espaços Vazios em Grandes Salas Cheias

Não há muita criatividade. Apenas um cheiro de chuva que me faz observar os pingos respingarem no paralelepípedo. Dá pra sentir-se satisfeito, com aquele calor irritante se esvaindo na primeira pancada de chuva. As nuvens anunciam, há um pequeno estrondo e pronto, a mágica está feita.

Há um móvel novo na sala. Perto da cadeira branca. É nela que estou sentado, de frente àquela janela grande, do qual cnsigo observar todos sem que me observem. Há um senhor apressado de terno correndo com um jornal cobrindo a fronte enquanto a chuva o alcança; há uma senhora firme de si, desfilando com um grande guarda-chuva que antecipa as pancadas mais fortes.

A janela começa a embaçar e eu me canso dessa brincadeira a toa. Tento me concentrar, mas meu pensamento flutua livre pelas barreiras geográficas, me sinto pequeno.

Há um espaço vazio demasiado cheio de sentido dentro daquela sala minúscula. É difícil explicar, mas sinto que sem aquele vazio, não conseguiria obter reflexões como as dos dias chuvosos.

Geralmente, espero alguém ligar e aí inicio um jogo gestáltico de figura e fundo, onde as coisas se interpelam. Telefone-fundo, paisagem-figura, figura-telefone, fundo-paisagem, tudo depende de quem liga e das flutuações sempre inconstantes do meu humor temporal.

Há dias reservei alguns dias na agenda para preencher lacunas criativas como esta. Habituar o escritor e o leitor há sentir o vazio. Era preciso ter uma sala com poucos móveis. Uma cadeira bastava. E tinha de ser branca. Uma mesa de mogno, uma escrivaninha e poucas pilhas de papéis davam a tônica final.

Fora disso, havia apenas uma necessidade de me silenciar mais, sobre tudo um pouco. Era mais do que uma necessidade, era quase uma sobrevivência.

Um comentário:

Anônimo disse...

não sei pq, mas isso me deu uma sensação muito boa de conforto. mais ou menos o que sinto em certos dias de chuva (não todos!).