quarta-feira, 30 de maio de 2007

O tratado definitivo sobre a empatia e suas implicações

Para questões de esclarecimento, eu preferia ter escrito esta carta mais cedo. Contudo, quando você partiu naquela noite de passos apressados, eu sabia exatamente que correr atrás de você só tornariam as coisas mais hilárias do que já estavam.

Deixei você ir embora deliberadamente, por que não tenho a paciência medíocre para iniciar esses jogos de demanda e oferta emocional, que eu naturalmente(e você sabe disto) detesto.

Quanto a Anatole, ele ficou feliz com sua partida, por que eu quebrei o círculo que ele tanto se esmerou a construir e ele sabia exatamente, que isto seria um excelente motivo para ele me torturar durante algumas semanas, ou simplesmente sumir, como tentativa de me punir em conjunto.

Eu simplesmente não me sinto adaptado com estas mudanças. E ultimamente estou numa fase estúpida. Não estou mais aqui. Estou não estando. Você deve ter sentido isto alguns dias atrás é claro, mulheres tem excelentes percepções(sei que você odeia generalizações do tipo, mas voilá isto é empíricamente provado!), do tipo que assustam, algumas devo confessar(por mais que eu sempre negue) parecem verdadeiras paranormais de tão exatas e intuitivas que conseguem ser.

Não estar significa, que esta realidade me parece tão estúpida, que prefiro empreender uma bela dança sob meu espelho vazio de sentido. E desconstruir algumas coisas é fácil demais, reconstruí-las é que me parece um trabalho hérculeo, um trabalho cansativo, que me vence, da maneira mais morna possível.















Eu joguei dominó com aquele monge taoísta(eu perdi todas as partidas é claro) que você falou, ele me encontrou fuçando alguns livros na livraria do templo e resolveu conversar comigo, pois alguém(você) deve ter falado pra ele que eu era o seu problema. O seu problema em tempo integral.

Ele foi muito amável e sincero. Coisa que eu detestei a princípio, pois pessoas que amam a religião se obrigam a ser amáveis e sinceras, o que é particularmente ridículo, mas eu tive que me desarmar, e contei para ele que não te amava tanto assim. Claro que ele não te disse isto. As coisas fluíram e eu mesmo contei. Contei agora.

É claro que eu estou mentindo. Eu te amo. Não posso amar algo que não é concreto, isto é verdade. Anatole diz que eu digo exatamente o contrário do que eu quero dizer em determinadas situações, mas segundo ele, eu consigo manter o jogo fechado e é a única coisa misteriosa em mim que vale a pena ser observada. Mas metade do mundo faz isto: e esta metade se orgulham.

O puto teve que tomar dois copos de vodka e um whisky sem gelo para criar coragem de falar isso e mais um pouco, mas poderia ser pior, ele poderia fazer uma festa de aniversário, há pretextos muito piores.

E ele foi além da conversa habitual, falou que eu não te merecia, e no jogo torto da vida, atenção demais gera repulsão(decepções do Anatole que não estão demasiadamente erradas, apesar do seu pouco tato para este tipo de coisa).

Mas até que ele está certo em grande parte. É impressionante como é que eu deixei de amar muitos possíveis amores quando recebi atenção em demasiada e como é que eu amei quando não recebi(sei que pode parecer estranho mas impressionantemente funciona desta maneira). É claro que há todo um equilíbrio, e quem sabe lidar com esta brincadeira acrobática, consegue sustentar um(a) idiota apaixonado durante toda uma vida(como eu por exemplo). É claro que depois de um tempo não tão curto, você conseguirá manter o(a) idiota preso(a) demais para tentar se desvencilhar tão fácilmente e dependendo da sua habilidade(é uma habilidade inconsciente para os honestos e consciente para os sórdidos) a coisa se desenrola em três ou quatro meses(experts fazem em dois, por experiência própria).

Mas ruiva, mudando radicalmente de assunto você devia ter visto a cara das pessoas hoje. Um cara se suicidou no metrô. Muita gente faz isso, e tem gente que se mata pagando em prestações parceladas, mas o metrô escondeu, abafou a situação. É um tema muito delicado, a mídia não fala, existem manuais de ética sobre isso.

Não fale sobre suicídios garoto, isso pode motivar as pessoas a se matarem e isto criaria um problema de saúde para nós e seria mal por que teríamos de contar aos nossos filhos por que as pessoas estão caindo de prédios como no crack da bolsa em 29 sem própriamente termos uma crise econômica para justificar esta "exceção". O fato é que este mundo cinza, não consegue mais dar felicidade ou sentido para as pessoas. Nos países pobres há apenas opressão e miséria, nos ricos ilhas de consumo, playstation, mac donald's, viagra, prozak e consumo, mais consumo, em ritmos fora do normais.

O mais interessante é que quando alguém se mata numa linha de metrô ou tem as pernas amputadas na melhor das hipóteses, há algo que particularmente costuma gerar uma tensão que necessita ser resolvida com o depoimento de dois ou três "profissionais" da saúde. Estes lubrificadores de engrenagem são uma parte funcional e essencial do sistema que precisa reforçar a "anormalidade" presente em todos os casos. Anormais se jogam da plataforma e pessoas normais trabalham doze horas por dia até envelhecerem. E aí a engrenagem volta a funcionar.

Sobre isto evidentemente você sabe, sabe com vigor e profundidade, por que nós lutamos juntos para mudar toda esta merda; merda instalada em todos os âmbitos, em todos os buracos, onde apertamos, onde esprememos a merda espirra, escorre e se espalha.

Mas chega de política, eu te mandei esta carta para falar de nós. Falar em "nós" é simplista e de uma certa maneira estúpido, por que estamos separados por milhas de distância enquanto eu escuto aquelas músicas covardes que você tanto detesta. É incrível como as pessoas acham que lhe conhecem profundamente, mas há momentos em que elas não são mais suficientes ou a empatia(ou a paciência) delas começa a denegrir-se de maneira tão visível, que é hora de trocar os estepes e conhecermos pessoalmente aquele duende que corre, dança e ironiza-se entre nós.

Anatole não tem ou atingiu esta capacidade, por que ele nunca foi empático o suficiente, ele não tenta ser empático, é rude quando e normalmente precisa, e não vai perder algo que nunca teve.

É o velho abismo. O velho abismo ruiva... Que nós mesmos alimentamos, mas são necessidades civilizacionais. Dizer tudo deveria ser proibido. Quem é covarde o suficiente para não se encarar desta maneira ruiva?

Eu vou continuar esta carta, mas a minha necessidade de ser exposto como um melão numa feira de sábado a tarde é mais preemente e visível que a minha suposta modéstia em me abastecer e me ver necessário comigo mesmo e meus duendes, ou chame do que quer chamar estas partes de mim que eu ora rejeito ora acolho em meus braços.

Continuarei. Acho eu.

Beijos do seu não-ruivo de cabelos, olhos, negros, castanhos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que lindooooooo esse tbmmmmmmm!!!rsrsrs Bjo*.* Thaís

Edgerunner disse...

Durden..

Você tem uma personalidade forte. Descreve sua vida num cotidiano poético e tudo mais... e eu só espero que essa mulher não exista ai na sua vida porque.. sinceramente.

Tá, é lindo sim. A ruiva deve gostar da sua carta. Tal, tal, tal,... (pensemos em palavras de mulher sensível). Reconheço.

Mas.. eu ainda sou adepto da libertinagem. Não posso evitar de dizer-lhe.

É claro que minhas meninas não sabem disso.

See ya

Edgerunner disse...

Mas tá.. vai vai..

Tá lindooooo esseeee! Muito foda brother!

Somos todos alegres.

Pirastífero disse...

Imagina ela lendo essa carta. Dentro de dentro a informação vai passando e talvez ela entenda.