quinta-feira, 3 de maio de 2007

Um bilhete para ruiva escrito no avião

Andando de bicicleta à margem do sena, costurando a praça da bastilha pelo lado oposto ao da Biblioteca Forney, comendo uma baguete perto do cemitério de Perry lachaise eu me senti vivo novamente, pulsante como uma lua ao som da velha torre Eiffel enquanto um sonho ruim da noite anterior, a noite do quarto do sótão de Vitry Sur Seine trazia você para mim ruiva, aos meus passos de caracol e ao meu cheiro de uva, de vinho de bordeaux, eu soprava seus sonhos em formato de bolhas de sabão-maduro e conseguia dentro dos bolsos do meu casaco azul, contar quantos motivos eu tinha para cansar-me de esperar você chegar naquele banco de madeira que nós costumávamos nos entregar em Montparnasse.

Mas não, eu até podia imitar alguns hermanos gênios literários da argentina(e isso eu sabia fazer muito bem até você chegar) que com isso nunca seria tão original a ponto de produzir sensações de empatia nas pessoas que resolviam não sei por que motivo, ler o amontoado de bobagens que eu chamava de poesia; em seu nome, tudo em seu nome ruiva.

Quando o avião partiu, eu vi a cidade diminuir, mas meu coração parecia cada vez maior e alguns disseram-me que você não existia, o garoto do Pub de Buzenval, o garçom embriagado dos Arcos da Lapa e até mesmo o entediante vendedor de livros de Buenos Aires. Mas ninguém convenceu-me que parece ser mais apropriado apenas espantar esses devaneios metafísicos em troca de uma noite de sono segura.

Não darei esta chance a eles nem a você, por que há um universo de coisas dentro de mim, e você é todo o elo que une este mundo interno aos frangalhos esfarrapados de realidade que eu consigo ver.

Fugir não foi um bom caminho ruiva.

Não foi um bom caminho.

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