quarta-feira, 30 de maio de 2007

"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos". (Nietzsche)


Feliz é o destino da inocente vestal
Esquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno da mente sem lembrança!

(Alexander Pope)


O tratado definitivo sobre a empatia e suas implicações

Para questões de esclarecimento, eu preferia ter escrito esta carta mais cedo. Contudo, quando você partiu naquela noite de passos apressados, eu sabia exatamente que correr atrás de você só tornariam as coisas mais hilárias do que já estavam.

Deixei você ir embora deliberadamente, por que não tenho a paciência medíocre para iniciar esses jogos de demanda e oferta emocional, que eu naturalmente(e você sabe disto) detesto.

Quanto a Anatole, ele ficou feliz com sua partida, por que eu quebrei o círculo que ele tanto se esmerou a construir e ele sabia exatamente, que isto seria um excelente motivo para ele me torturar durante algumas semanas, ou simplesmente sumir, como tentativa de me punir em conjunto.

Eu simplesmente não me sinto adaptado com estas mudanças. E ultimamente estou numa fase estúpida. Não estou mais aqui. Estou não estando. Você deve ter sentido isto alguns dias atrás é claro, mulheres tem excelentes percepções(sei que você odeia generalizações do tipo, mas voilá isto é empíricamente provado!), do tipo que assustam, algumas devo confessar(por mais que eu sempre negue) parecem verdadeiras paranormais de tão exatas e intuitivas que conseguem ser.

Não estar significa, que esta realidade me parece tão estúpida, que prefiro empreender uma bela dança sob meu espelho vazio de sentido. E desconstruir algumas coisas é fácil demais, reconstruí-las é que me parece um trabalho hérculeo, um trabalho cansativo, que me vence, da maneira mais morna possível.















Eu joguei dominó com aquele monge taoísta(eu perdi todas as partidas é claro) que você falou, ele me encontrou fuçando alguns livros na livraria do templo e resolveu conversar comigo, pois alguém(você) deve ter falado pra ele que eu era o seu problema. O seu problema em tempo integral.

Ele foi muito amável e sincero. Coisa que eu detestei a princípio, pois pessoas que amam a religião se obrigam a ser amáveis e sinceras, o que é particularmente ridículo, mas eu tive que me desarmar, e contei para ele que não te amava tanto assim. Claro que ele não te disse isto. As coisas fluíram e eu mesmo contei. Contei agora.

É claro que eu estou mentindo. Eu te amo. Não posso amar algo que não é concreto, isto é verdade. Anatole diz que eu digo exatamente o contrário do que eu quero dizer em determinadas situações, mas segundo ele, eu consigo manter o jogo fechado e é a única coisa misteriosa em mim que vale a pena ser observada. Mas metade do mundo faz isto: e esta metade se orgulham.

O puto teve que tomar dois copos de vodka e um whisky sem gelo para criar coragem de falar isso e mais um pouco, mas poderia ser pior, ele poderia fazer uma festa de aniversário, há pretextos muito piores.

E ele foi além da conversa habitual, falou que eu não te merecia, e no jogo torto da vida, atenção demais gera repulsão(decepções do Anatole que não estão demasiadamente erradas, apesar do seu pouco tato para este tipo de coisa).

Mas até que ele está certo em grande parte. É impressionante como é que eu deixei de amar muitos possíveis amores quando recebi atenção em demasiada e como é que eu amei quando não recebi(sei que pode parecer estranho mas impressionantemente funciona desta maneira). É claro que há todo um equilíbrio, e quem sabe lidar com esta brincadeira acrobática, consegue sustentar um(a) idiota apaixonado durante toda uma vida(como eu por exemplo). É claro que depois de um tempo não tão curto, você conseguirá manter o(a) idiota preso(a) demais para tentar se desvencilhar tão fácilmente e dependendo da sua habilidade(é uma habilidade inconsciente para os honestos e consciente para os sórdidos) a coisa se desenrola em três ou quatro meses(experts fazem em dois, por experiência própria).

Mas ruiva, mudando radicalmente de assunto você devia ter visto a cara das pessoas hoje. Um cara se suicidou no metrô. Muita gente faz isso, e tem gente que se mata pagando em prestações parceladas, mas o metrô escondeu, abafou a situação. É um tema muito delicado, a mídia não fala, existem manuais de ética sobre isso.

Não fale sobre suicídios garoto, isso pode motivar as pessoas a se matarem e isto criaria um problema de saúde para nós e seria mal por que teríamos de contar aos nossos filhos por que as pessoas estão caindo de prédios como no crack da bolsa em 29 sem própriamente termos uma crise econômica para justificar esta "exceção". O fato é que este mundo cinza, não consegue mais dar felicidade ou sentido para as pessoas. Nos países pobres há apenas opressão e miséria, nos ricos ilhas de consumo, playstation, mac donald's, viagra, prozak e consumo, mais consumo, em ritmos fora do normais.

O mais interessante é que quando alguém se mata numa linha de metrô ou tem as pernas amputadas na melhor das hipóteses, há algo que particularmente costuma gerar uma tensão que necessita ser resolvida com o depoimento de dois ou três "profissionais" da saúde. Estes lubrificadores de engrenagem são uma parte funcional e essencial do sistema que precisa reforçar a "anormalidade" presente em todos os casos. Anormais se jogam da plataforma e pessoas normais trabalham doze horas por dia até envelhecerem. E aí a engrenagem volta a funcionar.

Sobre isto evidentemente você sabe, sabe com vigor e profundidade, por que nós lutamos juntos para mudar toda esta merda; merda instalada em todos os âmbitos, em todos os buracos, onde apertamos, onde esprememos a merda espirra, escorre e se espalha.

Mas chega de política, eu te mandei esta carta para falar de nós. Falar em "nós" é simplista e de uma certa maneira estúpido, por que estamos separados por milhas de distância enquanto eu escuto aquelas músicas covardes que você tanto detesta. É incrível como as pessoas acham que lhe conhecem profundamente, mas há momentos em que elas não são mais suficientes ou a empatia(ou a paciência) delas começa a denegrir-se de maneira tão visível, que é hora de trocar os estepes e conhecermos pessoalmente aquele duende que corre, dança e ironiza-se entre nós.

Anatole não tem ou atingiu esta capacidade, por que ele nunca foi empático o suficiente, ele não tenta ser empático, é rude quando e normalmente precisa, e não vai perder algo que nunca teve.

É o velho abismo. O velho abismo ruiva... Que nós mesmos alimentamos, mas são necessidades civilizacionais. Dizer tudo deveria ser proibido. Quem é covarde o suficiente para não se encarar desta maneira ruiva?

Eu vou continuar esta carta, mas a minha necessidade de ser exposto como um melão numa feira de sábado a tarde é mais preemente e visível que a minha suposta modéstia em me abastecer e me ver necessário comigo mesmo e meus duendes, ou chame do que quer chamar estas partes de mim que eu ora rejeito ora acolho em meus braços.

Continuarei. Acho eu.

Beijos do seu não-ruivo de cabelos, olhos, negros, castanhos.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A lascividade do último encontro

Convidou Amanda para o bar não por que precisasse conversar própriamente, mas porque gostaria de soltar meia dúzia de frases de efeito e ter algum material fresco para colocar suas idéias literárias em prática.

Isso era egoísmo, mas pelo menos ele era um egoísta sincero. No caminho o egoísmo dava lugar a um sentimeno altruísta muito ocasional. Na verdade era um disputa interna entre suas múltiplas faces. Quando atravessou a faixa de pedestres, prometeu que seria atencioso e carinhoso com Amanda tempo o suficiente para embebedar-se com seis ou sete cervejas.

Não houve muito tempo.

Amanda em alguns momentos era uma filha da p#$@ egocêntrica. Ele a adorava, mas ela insistia em ser egocêntrica nas ocasiões erradas e isso tornava tudo a partir daí muito mais difícil e intricado.

Amanda lera seus poemas? Jamais! Amanda o visitou quando ficou doente? Nunca! Amanda esqueceu de seu aniversário? Duas vezes! Afinal, o que era Amanda além de um ser miserável, imprestável, que não merecia sua atenção!?

Mas lá estava ele! Como um Gandhi moderno, uma madre teresa de Calcutá contemporânea ouvindo as aflitas lamentações/considerações de Amanda. O casaco perdido, a díficil situação financeira dos seus pais, sua rotina extenuante de estudos, o caso mal resolvido com seu antigo affair... Deus, a lista era enorme. Amanda falava, gesticulava, apontava e decidia onde a conversa iniciava, onde as palavras delimitavam mudanças de tema, ela avaliava quais piadas eram realmente interessantes, quais considerações importantes e quais lamúrias ela estaria efetivamente interessada em escutar.

- A partir do momento em que parei de girar a sociedade em torno do meu umbigo, respondeu a Amanda com um gole de cerveja pontuando a frase, eu consegui me tornar mais nobre, mas muito mas infeliz.

Amanda sorriu, era um sorriso que revelava que ela não estava muito inclinada a entender, apenas a esperar sua vez de falar. A maioria das pessoas funcionava sob esta lógica.

E foi assim, até que ela foi embora para suas luzes de neon; um mundinho micro fascista chamado boate, que vendia ambientes geométricamente perfeitos que simulavam alguns sonhos e realidades, das quais muito chamavam de diversão.

Antes disso a ruiva tinha chegado, cumprimentaram-se enquanto ele esperava a fase da qual as confluências, ou seja, o acordo mútuo entre qual seria o eixo temático da conversa básicamente surgisse. Mais a Ruiva era uma artista dedicada e sincera diga-se de passagem, que conseguia transitar por todos os terrenos, entrar e sair por todas as portas como uma lady inglesa, não com a mesma falsidade, claro.

Amanda despedira-se como de habitual, com um toque de honestidade que sempre acabava salvando a impressão de que ele guardaria para o resto da noite.

Após o "como você está" mais insoso que ele já ensaiou com a ruiva ele resolveu repetir as mesmas palavras para ver se a convencia a entrar em um delicioso jogo filosófico que só ela sabia fazer.

- A partir do momento em que parei de girar a sociedade(...) repetiu.

- Como assim? Você não está sendo claro.

Respirou fundo.

-Essa cidade parece ser uma junção de pessoas sem propósito. E quando eu resolvi falar menos e ouvir mais eu quebrei uma merda de uma lógica. E agora isso fica tão brilhante que eu consigo ver esse amontoado de egocentrismo espirrar por todos os lados dos meus dias.

-Seja mais direto.

- Essa é a questão. A linguagem está presa, condicionada por esse tempo cínico e cruel em que vivemos. Não há tempo para desenvolver as idéias, por que o nosso comportamento de apertadores cíclicos de botões nos encaixou em modelos opressivos de comunicação. Se desenvolvo uma idéia com mais profundidade sou interrompido. Se falo algo curto, a princípio sou aceito, mas estão apenas esperando sua vez de falar. Obrigam-me a ser sintético.

- Eu olho para uma formiga na parede do meu quarto e aprendo mais com ela do que com os discursos de bar. Esses discursos de bar são uma merda.

- Você tem razão... mas eu gostaria de lembrar que as pessoas são diferentes. São como...

- Amanda?

- Sim. São como ela.

- Eu não quero desenvolver meu senso antropofágico de relação social, você sabe que eu não sou assim, mas eu gostaria de um interesse mais transparente na maior parte das vezes.

- É... todos queremos... Pontuou a ruiva.

Ela abaixou a cabeça, o olhar se perdeu, algumas imagens de outras situações e bares lhe ocorreram, mas ele tinha concentração o suficiente para concluir. O pensamento de ambos começava a se encontrar.

- As pessoas me cansam, por que elas se cansam delas próprias e acabam tornando seus amigos, conhecidos ou diabos um bando de espelhos. Às vezes me sinto acorrentado com uma arma nos córneos sendo obrigado a assistir um stripper ou uma operação cirúrgica das entranhas do egocentrismo. Tome este órgão doutor, segure o bisturi, segure meu fígado, tome meu rim, feche meu ferimento. Que grande merda! Assista isso! Minha mãe, meu estudos, meu eu, meu namorado, minha vida, meu eu, meu ego, meu meu meu meu... Tudo bem! Um pouco de reciprocidade é positivo, mas isso está tomando proporções muito perigosas.

- Você bebe demais.

Ele riu. Era um ótimo corte. Da melhor forma que só a ruiva poderia oferecer.

-Se eu falar "tá bom vamos falar de outra coisa" isso não seria extremamente unilateral? Não é um pedido, essa merda é uma ordem! As pessoas fazem isso todo o tempo.

- Dizem. Fazem isso cotidianamente. É como vestir luvas de auto-indulgência para com seus próprios erros.

A inteligência da ruiva merecia um comentário a parte. Uma inteligência emocional fantástica que o fascinava.

- Vamos dançar. Ela provocou.

Ele não precisou convencer-se, já estava; quando aquele olhar fascinante, aqueles belos cabelos vermelhos, e aquela camisa cinza baby look(pensou o quão americanizada era esta palavra em todos os sentidos do termo) que ressaltava seus belo seios, o seduziam e o negavam não necessáriamente nesta mesma ordem.

- Vamos.

E dirigiram-se sem darem as mãos uns aos outros(ele estava na fase de odiar esses ritos) e ela pensou que não seria agradável despertar muitas certezas, certezas estragavam quaisquer surpresas e ele com certeza ficaria surpreso por que tudo já estava decidido na cabeça dela e aquele seria um teste de fogo. Não como cigarros queimados nos pulsos, mas doeria muito mais diga-se de passagem.

Andaram... caminharam pela praia, emendaram em algumas ruas escondidas, e pegaram o ônibus rumo a destinos semelhantes, mas tão diversos dentro da dinâmica em que os dois se envolveram.

Não houve conversa durante a viagem. Estavam mais preocupados em certificarem-se cada um à sua maneira e sua expectativa o tamanho do estrago que iriam causar.

E o estrago começou no elevador do prédio dela, quando ele resolveu brincar com seus cabelos vermelhos enquanto ela fingia que não ligava ele se diminuiu a ponto de planejar quantos minutos ele demoraria para deixar ela no apartamento, tomar uma dose de gim e voltar para o ponto de ônibus a procura de um taxi.

Mas isso não ocorreu e não poderia ocorrer, por que neste dias ambos estavam sintonizados, e foi só ela parar na porta do quarto com um ar lascivo sorrir e entrar porta a dentro com seus cabelos vermelhos cuidadosamente desgrenhados que ele largou a cerveja perto do sofá e atirou-se descuidadamente em sua direção. As bocas se encontravam num ritmo febril, uma necessidade, como um vício, uma dependência mútua que encontrava ali seu auge mais explícito.

Enquanto ela dava alguns passos para trás ele jogava-a na cama com uma violência tão sutil que os olhos da ruiva reviraram enquanto ela tateava o rádio a procura do botão que desencadearia a trilha sonora do que seria talvez, o último encontro carnal dos dois.

A música do corpo, as peles se encontravam, os toques as reações, os gemidos lentamente construídos sobre a moldura do prazer, tudo se esquadrinhava em volta do grande erro que cometiam, um delicioso erro, um delicioso erro, que comprometia parte do juramento que fizeram juntos. O perfeito não existia, não existira, era apenas uma imagem ideal da realidade, mas não seria heresia nenhuma chamar isolar aquele momento e chamá-lo de perfeito. De maneira alguma... pois eles se permitiam tal luxúria...

Microconto: O problema de Eduardo


Eduardo tinha um problema. Seu problema chamava-se Joana.

E nas quintas-feiras o problema acenava ou dava-lhe bom dia antes das aulas de metodologia do ensino aplicado II.

O temperamento outrora translúcido de Eduardo dava lugar a um sorriso oco e a uma expressão vaga de pena. Pena de si mesmo.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Da grande porca que sobrevivera

Todos os porcos são iguais. Mais há porcos mais iguais que os outros.

Entendeu?

Gritou; estava bêbado.

Jogara as chaves por cima da mesa, uma mesa de madeira patéticamente solitária, uma madeira de baixa qualidade, em cima apenas a porca, um cinzeiro cheio de guimbas e um bloco de papel com rascunhos quaisquer. A porca estava parcialmente manca, fruto de um derrubão que lhe arrancara parte da pata esquerda. Culpa da maldita cuba libre. Gritou um merda tão vivaz, que assustou o gato que resolvera circular toda semana passada pelo apartamento.

Ainda tateara alguns segundos para apagar o interruptor e acender o abajour de centro que comprara na feira de antiguidade aos sábados da Praça XV e não-se-sabe o porquê mas o vendedor resolveu limpar os dentes enquanto resolvia convencê-lo de que o valor do abajour era justo a princípio, coisa que de fato convenceu-o com um virar de costas teatral que definiu toda a futura barganha.

Pensou o quão classe média era. Estava dominado, recheado dos trejeitos e sonhos típicamente pequeno-burgueses que tanto fazia questão de rejeitar, ou diria projetar... projetar...

Sentou com a garrafa de cerveja próxima a cadeira, olhou para a porca, a admirou antes de encher o copo e tragar a espuma, a cerveja e parte das decepções. Botou a porca olhando para a parede oposta a da janela e pensou que escrever contos pequeno-burgueses era uma sina sua. Jamais conseguiria escrever contos que lhe trariam realmente um pouco de dignidade, por que era necessário um tom de sobriedade que não obtia durante os dias de semana quando resolvia confrontar-se com si próprio. Não era um Máximo Górki muito menos um Lima Barreto, era um arremedo de Kafka com umas pitadas repetitivas de um Badeulaire de quinta-categoria.

Nesses dias, era apenas emoção e fundos falsos. Parava para recolher pedaços durante seus introspectivos quartos vazios. Vazios de si próprio.

Pegou a porca novamente, alisou-a como uma lâmpada mágica, como um objeto parado poderia lhe dizer tanto? Como?

E dizia. Dizia sem abrir lábios que nem tinha. Dizia com as lembranças, com o simbólico, com o imaginário não-lido, com a falsa impressão dos sorrisos, com os encontros e desencontros dos dias finais da semana; dizia tanto que faltava chorar. Mas ela não tinha olhos, nem pupilas, apenas buracos em paredes de barro. Quando olhava para a porca lembrava dos mesmos olhares brilhantes que o castigavam com a indiferença. A indiferença, o desprezo é o oposto do amor, não o ódio. O ódio é parceiro. Falara isso numa situação esdrúxula é verdade, chovia, e era o dia dos conselhos errados. Conselhos errados era a data que quatro campeões se reuníam para construir uma meta-filosofia da desgraça. Era engraçado. Um axioma antigo que o reconfortava.

Pois sempre precisava falar, falar entre algumas mesas de bar era fundamental para ver se conseguia exorcizar a porca, o passado, o símbolo e o diabo a quatro! Mas não era tão fácil.

Não era tão fácil por que quando acordava tinha a porca para lembrar da ruiva, da maldita ruiva e quando dormia, os sonhos se encarregavam de mostrá-lo o quanto podia ser cruel essa tal de memória. Evitar não é o remédio. Confrontar é a solução. Não é um tratamento homeopático, mas mesmo assim é algo corajoso a se fazer.

A temática não era lá essas coisas. Mas isso resolveria nos próximos meses.

terça-feira, 22 de maio de 2007

"Nunca vi tantas bandeiras negras na minha vida!"

Entrevista interessante... sobre o i07... encontro em Paris....

"Nunca vi tantas bandeiras negras na minha vida!"

Nesta entrevista, Rafael, da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), nos conta um pouco como foi sua participação e impressão do encontro internacional i07, que aconteceu entre 28 de abril e 1 de maio, em Paris, na França, juntando delegações de várias partes do mundo: Bangladesh, Camarão, Irlanda, Espanha, Nova Zelândia, Mali, Suécia, Polônia, Colômbia, Argentina, Alemanha, Costa do Marfim, Palestina, Marrocos, Argélia, Burkina Faso, Portugal, Grécia, Benin, Reino Unido, Estados Unidos, México, Brasil...

Agência de Notícias Anarquistas > Podemos começar essa conversa com você contando sua impressão sobre o encontro internacional i07 em Paris. Sua avaliação é positiva?

Rafael Viana < style="font-weight: bold;">ANA > E você participou efetivamente de algum tema específico? Foste como delegado da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)?

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Já tive a oportunidade de ouvir uma fala desta jovem companheira de Atenco, e me impressionou a força nas suas palavras... Nessa oportunidade, em Paris, ela falou com um facão na mão, não? Vi fotos... (risos)

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Ficou articulado alguma campanha entre os grupos latinos? Li algo sobre se criar uma Coordenação Anticapitalista Internacional...

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Também esteve na passeata do 1° de Maio? Imagino que tenhas ficado emocionado em ver tantos libertários juntos, não? (risos)

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Alguma coisa te chamou a atenção nessa passeata? Por exemplo, a presença de negros? Gente de várias idades...

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Apesar de tudo, da apatia geral, das coisas serem tão difíceis para nós anarquistas, e longe de querer cair num otimismo estéril, podemos dizer que o anarquismo se expande por todos os lados? Que ele continua carregado de sentidos?

Rafael < style="font-weight: bold;">ANA > Quer acrescentar algo para finalizar?

Rafael < style="font-style: italic;">Enfiou os dedos na terra, plantou uma semente e dormiu.

Microcontos - Jane Zandonade

domingo, 20 de maio de 2007

A princesa negra visitou-me.

Cat Power e cerveja.

sábado, 19 de maio de 2007

Exatamente como eu me sinto





Pyramid Song - Radiohead

I jumped in the river and what did I see?
Black-eyed angels swam with me
A moon full of stars and astral cars
All the things I used to see
All my lovers were there with me
All my past and futures
And we all went to heaven in a little row boat
There was nothing to fear and nothing to doubt

I jumped into the river
Black-eyed angels swam with me
A moon full of stars and astral cars
And all the things I used to see
All my lovers were there with me
All my past and futures
And we all went to heaven in a little row boat
There was nothing to fear and nothing to doubt

There was nothing to fear and nothing to doubt
There was nothing to fear and nothing to doubt


Eu pulei no rio e o que eu vi?
Anjos de asas negros nadando comigo
Uma lua cheia de estrelas e carros astrais
Todas as figuras que eu costumava ver
Todas os meus amores estavam lá comigo
Todo o meu passado e presente
E todos nós fomos para o paraíso num pequeno barco

Não havia nada a temer e nada do que se duvidar

Eu pulei no rio
Anjos de asas negros nadando comigo
Uma lua cheia de estrelas e carros astrais
Todas as figuras que eu costumava ver
Todas os meus amores estavam lá comigo
Todo o meu passado e presente
E todos nós fomos para o paraíso num pequeno barco
Não havia nada a temer e nada do que se duvidar

sexta-feira, 18 de maio de 2007

zzzzzzzz.....


Dormirei... Os sonhos eu deixo para quando acordar.

Eu lírico em dia de fúria

Eram muitos rascunhos. Eu estava atolado de rascunhos, entulhos poéticos que não me servem de nada!, eu gritei! Nada estão me escutando!, gritei na janela para metade dos vizinhos ouvirem.

Um gato fugiu. Preto, esquálido, deve ser mau agouro! Mau agouro! Pensei com meus botões. E eu estava de pijama...

Todo homem tem seu vício. O meu é de beber cervejas e escrever contos. Alcoolizo-me e ponho a beber. Cada homem, cada mulher, cada alienígena com seu fardo, com sua cruz! Converso com meus personagens(é mentira) a noite inteira, xingo minhas vozes interiores(continua mentindo...) e me faço poético como um bom fingidor que sou(parafraseando Fernando Pessoa para demonstrar erudição literária).

Onde estão os espelhos. Chega de coisas tortas(chegando na fase terminal...). Chega, vamos ser diretos. Chega de espelhos. Chega de metáforas escrotas. Queremos ser diretos. Nós os leitores clamamos por coisas mais fáceis. Chega de escritores sofredores. De palavras incompreensíveis que só os mesmos entendem. Chega de citações arrogantes, que nos fazem perder alguns minutos em buscadores enciclopédicos a procura de seu significado. Cortázar, Saramago, Pessoa... que se vão todos! Que morram entupidos com suas galhafas(esta palavra ele inventou) poético-acrobáticas.

Não grite, não gritem, é só um espasmo, eu não quis ofendê-los, quero apenas torturá-los, matá-los aos poucos com seus próprios venenos! Não me venham com músicas! Chega de artistas. O mundo está cheio deles. Façam como Kafka, rasguem tudo o que escrevi. Não há felicidade na desgraça alheia.

Cansei. É uma pena. Vou descer e comprar veneno.

E isso tudo por um chute na bunda. Agripino era mesmo um bosta-rala, como diziam seus inimigos da academia

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Isso aqui está virando um cemitério de letras... de tão pouco comentado...

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Roberto e os impasses nucleares

Quando Roberto chegou em casa, encontrou uma barata voadora passeando dentro do seu quarto. Pegou o inseticida e alvejou a desgraçada no meio de uma acrobacia desengonçada sob a escrivaninha marrom. A bicha caiu, não voava mais, mas era capaz de rastejar de forma a irritar qualquer homen sapiens sapiens, teve que apelar para a vassoura e quase sentiu pena daquele bicho repugnante, tentando sobreviver às custas da fraqueza de armas nucleares. Sim, armas nucleares.

domingo, 13 de maio de 2007

Andar de Bicicleta é muito bom!

Hoje eu andei de bicicleta bêbado. Como um equilibrista eu desafiava os pedestres, quase os atropelava meio torpe, fingindo ser um fundo de uma paisagem urbana decadente. Descendo uma ladeira sem as mãos no guidão e abraçando o vento, a adrenalina, a vida. Cantando sozinho refrãos desconhecidos pela turba, eu quase atropelei um velho andarilho. Quanta falta de respeito, quanta falta de limites, de freio. Onde estão os padrões? Onde estão? Vontade de dormir cedo... Mas já é tão tarde e eu continuo com sono, apesar dos copos de água e dos pães com queijo.

Vamos dormir. Vamos. Até outro dia. Bis Bald pra você.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

De quando ela abriu a carta e resolveu lê-la até o final

Em certos dias eu detesto diálogos. Por isso ruiva hoje eu resolvi pintar, por que pintando eu me obrigo a ficar calado e meu dia é muito mais silencioso. Eu estava cansado da velha rotina, e quando eu voltei, desci na estação de metrô mais convencional, antes de tomar umas cervejas sozinho no bar de costume. Eu apagava um ou dois cigarros, como fazia com as letras e as vírgulas em meus dias de ociosidade, antes de partir para Les Ardoines com uma das mãos escondidas nos bolsos do meu casaco comprado no mercado das pulgas local.

Nessas horas eu às vezes me deparava com algum vazio criativo, não sem antes me lembrar as ruas tão cheias de miséria que assolavam a América do Sul. Decerto a miséria aparecia de maneiras mais sutis, como num metrô de dia de semana ou escondida em alguns bancos perto da estação de Gare Austerlitz, não tão vivaz quanto a humilhação dos catadores de papel e de lixo que lutavam para sobreviver na selva de pedra do centro da cidade do Rio de Janeiro mas o mecanismo primordial era essencialmente o mesmo: a exploração, o capital, o lucro.

A exclusão, o cinismo dos coniventes com parte deste sistema maldito e a depravação social com que parte deste darwinismo social era encarado eram apenas faces tímidas de um liberalismo que podia ser muito mais cruel na África ou em parte da América Central, mas que continuavam a me encher de ódio ruiva, de ódio e de vontade de construir um novo mundo. Sei que mesmo afastada de mim você estaria fazendo o mesmo, por que desde que nosso plano conjunto deu errado, eu vez ou outra achei que iria desistir de tudo por alguns momentos e projetei essa minha fraqueza em minhas falsas intuições que diziam que você foi tomar algum chá de erva na Bolívia enquanto despedia-se da face mais agressiva da luta contra este sistema maldito, mas eu estava errado, eu sinto que estava completamente equivocado e efetivamente eu usei mais sinais do que poderia para mostrar que você ainda estava viva em meu coração.

Sei que você está lutando contra este sistema maldito e inundando as pessoas e os locais que você deve estar se envolvendo com otimismo e força de vontade para mudar senão a totalidade, mas parte desse cotidiano sofrido. Pintar parte da realidade sempre foi nosso propósito, mesmo que vez outra tivéssemos recorrido à maneiras não muito convencionais de colorir o mundo, podemos dizer que nós tentamos. Fomos Chiapas, Paris no primeiro de maio, um pouco dos sindicalistas na Colômbia e dos professores de Oaxaca. Fomos um pouco de tudo. Andamos e falamos como os palestinos em noites de tristeza ou quando a lua insistia em nos perseguir éramos nós mesmos.

Sei que isso não fará sentido para muitas pessoas, mas decerto consegui remover muito da dor que é não estar ao teu lado, pensando que de alguma maneira estamos mais conectados que muitas pessoas estariam, apesar do que não físicamente.

Falamos a mesma língua, apesar de nem sempre o mesmo idioma. Somos parte de uma resistência que tímida como uma flor que nasce no asfalto prefere não se expor totalmente, mas arisca, insiste em não retroceder frente ao mundo plástico que a rodeia.

Não há muito para falar. A poesia da revolta ainda me seduz com uma excitação tão nova e contagiante, que escrever esta carta é apenas parte do processo.

Caso não nos encontremos mais, como você mesmo dizia.... Nos vemos no arco-íris da história, nos vemos no céu colorido da esperança...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

De volta a terra de Santa Cruz

Voltei! 10 dias longe de casa! Lar doce Lar. Depois conto minhas desventuras na cidade luz. Por enquanto concedo aos leitores um pseudo-conto fresquinho.

Um bilhete para ruiva escrito no avião

Andando de bicicleta à margem do sena, costurando a praça da bastilha pelo lado oposto ao da Biblioteca Forney, comendo uma baguete perto do cemitério de Perry lachaise eu me senti vivo novamente, pulsante como uma lua ao som da velha torre Eiffel enquanto um sonho ruim da noite anterior, a noite do quarto do sótão de Vitry Sur Seine trazia você para mim ruiva, aos meus passos de caracol e ao meu cheiro de uva, de vinho de bordeaux, eu soprava seus sonhos em formato de bolhas de sabão-maduro e conseguia dentro dos bolsos do meu casaco azul, contar quantos motivos eu tinha para cansar-me de esperar você chegar naquele banco de madeira que nós costumávamos nos entregar em Montparnasse.

Mas não, eu até podia imitar alguns hermanos gênios literários da argentina(e isso eu sabia fazer muito bem até você chegar) que com isso nunca seria tão original a ponto de produzir sensações de empatia nas pessoas que resolviam não sei por que motivo, ler o amontoado de bobagens que eu chamava de poesia; em seu nome, tudo em seu nome ruiva.

Quando o avião partiu, eu vi a cidade diminuir, mas meu coração parecia cada vez maior e alguns disseram-me que você não existia, o garoto do Pub de Buzenval, o garçom embriagado dos Arcos da Lapa e até mesmo o entediante vendedor de livros de Buenos Aires. Mas ninguém convenceu-me que parece ser mais apropriado apenas espantar esses devaneios metafísicos em troca de uma noite de sono segura.

Não darei esta chance a eles nem a você, por que há um universo de coisas dentro de mim, e você é todo o elo que une este mundo interno aos frangalhos esfarrapados de realidade que eu consigo ver.

Fugir não foi um bom caminho ruiva.

Não foi um bom caminho.