A pista de dança, fútil e silenciosa, assim tão temporária, envergonhava-se no puro silêncio de dois corpos. Dois corpos justos.
Os ruídos e a festa de ambos apagavam pessoas, tornadas meras paisagens desnecessárias, juntavam-se às luzes, luzes que como se fossem candelabros tímidos, celebravam caladas, assim, como num culto de amor próprio em que ambos decidiam-se sem um perdão ir até o final, forjavam um quase sempre curto, e completamente viral naquele balé de expectativas; de esperanças.
Ela, a ruiva, passava as mãos naquele cabelo liso, até oleoso, despretensioso e abusado, mas ele a olhava com um soslaio fingido, sincero, que respirava tão sensualmente; ela acariciava-o sem pressa sob o ritmo frenético do sábado, ele mordia os lóbulos de sua orelha, ela jogava a cabeça e o orgulho para trás, ele beijava todo o seu pescoço, ela pressionava seu ventre ao dele... E tudo era tão bom.
Tão bom.
Ela mordiscava-o com fome, e o obrigava a agir, a sair daquela toca, daquele culto desinteressado, à segurar seu cabelo curto esquecendo aquele niilismo emocional que era na verdade medo, e assim ela gritava no oculto: me pega porra, me suga com tesão, me fode agora com força!
Me puxa sem futuro, sem medo, e deixa essa dor se misturar ao prazer do teu corpo, ao teu cheiro, à tua fronte, ao teu gosto.
Deixa eu gritar um amor de instantes!
Na cama, o lençol apartado jazia ao lado da garrafa vazia, o corpo nu, encontrado entre as paisagens desnecessárias cultuava dois corpos calados.
No final tudo resolvia se encontrar.
A dor, o gozo, as palavras. Que vão remendando tudo, assim, tão abusadas.
O mundo, dizia depois do grito de minerva, era um grande amontoado de coisas, que não existia se pensássemos como um algo coerente e unido. Mas o mundo, e ressaltava após o terceiro gole de cerveja e com os dedos apontados para as nuvens que cobriam o planeta, o mundo, foi dividido, num espólio desigual entre pessoas. Cada um guardava um pedaço de mundo dentro de si; uns recebiam mais pedaços e que guardados sob segredos nem sempre solitários, acabavam por desfrutar mais do que deveriam desse acordo. Uns gastavam mais, outros menos.
Acabava por desfrutar de um instante que era o eterno, aquele instante abusado, explícito, necessário.
Enfatizavam o óbvio.
Um comentário:
Coragem! para acender o fósforo...
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