Era na décima faixa de seu cd preferido que ficava e permanecia bêbado pois era a música que o tocava, e não o inverso.
Era no meio da semana que a casa e ele desorganizavam-se, juntos, com as meias, os medos, os sussuros sem dono e os vazios que insistiam em gritar dentro de si mesmo, reclamando presença.
Era no quarto, e no quarto trecho de conversa que desanimava ou lembrava de uma piada engraçadíssima que não compartilhava com ninguém - ia embora meio bêbado, meio feliz, meio deprimido, com cinco aspirinas no bolso.
Desperdiçava-se dentro do ônibus, com os trocados e as tristezas sendo entregues assim, sem culpa, e esparramadas pelo cotidiano, com sua pequena história de vida vendida à preço barato; o trocador, o motorista, e a mulher semi-nua do banco da terceira fila à esquerda: não se importavam.
A paisagem ia mudando, mas havia uma solução completamente radical: um afago, pois um afago verdadeiro, um de quinze minutos, resolveria tudo.
Resolveria completamente; mas afagos verdadeiros não se compram à metro... Afagos não se vendem à quilo; afagos não são como pombos que sempre retornam ao estado original(...) , afagos sinceros são bilhetes de loteria, moedas marcadas, poesias em livros rasgados...
Afagos verdadeiros, sinceros e honestos são como algo que resolvesse jamais pensar, algo que resolvesse apenas sentir, como árvores, e que definitivamente, por ser um afago sincero, não resolvesse nascer em árvores.
E ele sabia, sabia disto com uma dedicação semi-profissional, sabia, quando fazia a barba no espelho quebrado e cortava-se acidentalmente, e de tão só em um apartamento vazio, completamente vazio, costumava pensar o que ela, desconhecida e oculta, pensaria quando ele se cortasse.... Talvez diria algo ou reagiria, ou resolveria acariciar seus olhos sem alguma fé.
(...)
No canto da casa algo se comovia.
Era na terceira ilusão que resolvia caminhar, sem rumo. Como deus, que resolvesse observar sementes de girassol largadas num terreno pantanoso ou barrento, ela acreditava. E acreditava, a ponto de colocar falsas expectativas, que eram tão verdadeiras a ponto de ela se permitir acreditar naqueles filhos da puta em série.
Filhos da puta. E ela, que mesmo assim, aparentemente desgraçada, dava as boas vindas e convidava-os à perdição... mas quem perdia, e no fim do jogo, era sempre ela, sempre.
Possuía um mundo-homem que não concordava. Possuía um mundo macho, violento, viril e que nos finais de semana fingia empatia e estabilidade, com rosas e cartas de amor encomendadas.
Possuía-se sem se conhecer.
A maquiagem borrada, batom sujo no vidro, ela e a cinta-liga negra dormindo naquele calor infernal, com a cama assim, tão completa e vazia, cuja fé fingia um orgasmo sincero mas não romântico naquele amor de quinze minutos...
E ele, tão homem, que não se comovia e vendido à quilo pelo preço do mercado, ia embora no dia posterior, com o mundo todo sobre seus ombros, com a cinta-liga negra, com o amor de encomenda, com a terceira ilusão e com o que sobrou da expectativa dos afagos sinceros, e desaparecia, com ela na borda, emoldurando o prazer daquele filho da puta egocêntrico e narcísico.
Goza primeiro seu merda!
Ela, que cozinhava e cozinhava-se, e carregava no peito Eros e Thanatos, a vida, o prazer e a morte, na caixinha de música movida à corda, com a bailarina no topo com um imã mal fixado, jurava, jurava que aquela gravidez não era amor, não, não era, e sabia disso naquela noite mal dormida.
Quando parou no espelho para ajeitar os cílios, teve vontade de chorar, botou a culpa nos hormônios e parou, parou assim; completamente honesta.
(...)
Não se conheciam, essas duas almas gêmeas indômitas e indiferentes. Faltava destino, faltava um esbarrão no metrô.
Indiferentes, ele e ela precisavam de sorte para fazerem jus aos seus nomes e expectativas; precisavam de um pouco de destino e um ponto de apoio confortável para que os afagos sinceros pudessem alavancar o mundo.
Bastavam-se, mas precisavam se encontrar. Precisavam se encontrar, como sementes de girassol, sementes jogadas no mundo.
Era no meio da semana que a casa e ele desorganizavam-se, juntos, com as meias, os medos, os sussuros sem dono e os vazios que insistiam em gritar dentro de si mesmo, reclamando presença.
Era no quarto, e no quarto trecho de conversa que desanimava ou lembrava de uma piada engraçadíssima que não compartilhava com ninguém - ia embora meio bêbado, meio feliz, meio deprimido, com cinco aspirinas no bolso.
Desperdiçava-se dentro do ônibus, com os trocados e as tristezas sendo entregues assim, sem culpa, e esparramadas pelo cotidiano, com sua pequena história de vida vendida à preço barato; o trocador, o motorista, e a mulher semi-nua do banco da terceira fila à esquerda: não se importavam.
A paisagem ia mudando, mas havia uma solução completamente radical: um afago, pois um afago verdadeiro, um de quinze minutos, resolveria tudo.
Resolveria completamente; mas afagos verdadeiros não se compram à metro... Afagos não se vendem à quilo; afagos não são como pombos que sempre retornam ao estado original(...) , afagos sinceros são bilhetes de loteria, moedas marcadas, poesias em livros rasgados...
Afagos verdadeiros, sinceros e honestos são como algo que resolvesse jamais pensar, algo que resolvesse apenas sentir, como árvores, e que definitivamente, por ser um afago sincero, não resolvesse nascer em árvores.
E ele sabia, sabia disto com uma dedicação semi-profissional, sabia, quando fazia a barba no espelho quebrado e cortava-se acidentalmente, e de tão só em um apartamento vazio, completamente vazio, costumava pensar o que ela, desconhecida e oculta, pensaria quando ele se cortasse.... Talvez diria algo ou reagiria, ou resolveria acariciar seus olhos sem alguma fé.
(...)
No canto da casa algo se comovia.
Era na terceira ilusão que resolvia caminhar, sem rumo. Como deus, que resolvesse observar sementes de girassol largadas num terreno pantanoso ou barrento, ela acreditava. E acreditava, a ponto de colocar falsas expectativas, que eram tão verdadeiras a ponto de ela se permitir acreditar naqueles filhos da puta em série.
Filhos da puta. E ela, que mesmo assim, aparentemente desgraçada, dava as boas vindas e convidava-os à perdição... mas quem perdia, e no fim do jogo, era sempre ela, sempre.
Possuía um mundo-homem que não concordava. Possuía um mundo macho, violento, viril e que nos finais de semana fingia empatia e estabilidade, com rosas e cartas de amor encomendadas.
Possuía-se sem se conhecer.
A maquiagem borrada, batom sujo no vidro, ela e a cinta-liga negra dormindo naquele calor infernal, com a cama assim, tão completa e vazia, cuja fé fingia um orgasmo sincero mas não romântico naquele amor de quinze minutos...
E ele, tão homem, que não se comovia e vendido à quilo pelo preço do mercado, ia embora no dia posterior, com o mundo todo sobre seus ombros, com a cinta-liga negra, com o amor de encomenda, com a terceira ilusão e com o que sobrou da expectativa dos afagos sinceros, e desaparecia, com ela na borda, emoldurando o prazer daquele filho da puta egocêntrico e narcísico.
Goza primeiro seu merda!
Ela, que cozinhava e cozinhava-se, e carregava no peito Eros e Thanatos, a vida, o prazer e a morte, na caixinha de música movida à corda, com a bailarina no topo com um imã mal fixado, jurava, jurava que aquela gravidez não era amor, não, não era, e sabia disso naquela noite mal dormida.
Quando parou no espelho para ajeitar os cílios, teve vontade de chorar, botou a culpa nos hormônios e parou, parou assim; completamente honesta.
(...)
Não se conheciam, essas duas almas gêmeas indômitas e indiferentes. Faltava destino, faltava um esbarrão no metrô.
Indiferentes, ele e ela precisavam de sorte para fazerem jus aos seus nomes e expectativas; precisavam de um pouco de destino e um ponto de apoio confortável para que os afagos sinceros pudessem alavancar o mundo.
Bastavam-se, mas precisavam se encontrar. Precisavam se encontrar, como sementes de girassol, sementes jogadas no mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário