segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Despido dos censores

Quando tinha uma má idéia, costumava andar sem rumo pelo centro da cidade ou evocando um espírito indômato já derrotado, sentava na janela e observava a lua, as nuvens ou algo que se se assemelhava ao seu céu.

Não obstante acabava cansando; cansava-se por que insistia em inserir um outro inexistente naqueles momentos que eram só e tão particularmente seus.

Inseria esta presença invisível, este olhar oculto que fazia-o sentir-se patéticamente superficial.

E não era deus, pois seu ateísmo não-praticante apesar de disperso, não lhe permitia transformar seu ego humano em pura metafísica.

Vez ou outra, aqueles momentos acabavam assim, vencidos por este persecutor invisível.

Um carrasco que só existia nos meandros da sua mente, mas que concretamente sabia agir como um bom censor: condenava o que outrora era profundo à mera e pobre superficialidade.

Transformava um ato de fé em frivolidade, um exercício de introspecção em coisa rasa, uma dor profunda, em mero capricho, de gente que não tem nem o direito nem os motivos certos para sofrer.

A dor só era mais vítrea e a angústia mais honesta, quando o outro morria sem lutar, quando a presença invisível evitava confronto e o censor jazia morto sob uma lágrima sem motivo aparente, mas completamente honesta.

Era aí, e somente aí, que podia começar a escrever, sonhar ou amar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Toda vez que venho aqui sinto vontade de montar um blog.
Mas quando lembro como escrevo mal logo desisto.

Mais barato que terapia, mais estético que chute na cara...
isso diz tudo, é a descrição perfeita para esse lugar.

raph. disse...

Porque só nos importa nossa própria dor.

Eliza (Biii) disse...

Me deu vontade de dizer que está lindo pq no final fala de amor. Mas o resto é tão não amor, é tão maior e mais denso. Não sei direito não, é o tipo da coisa que eu precisaria ler várias vezes mais do que duas.