quinta-feira, 25 de setembro de 2008

As coisas que se desmontam

Normalmente olho para textos antigos, folhas de caderno soltas, envelopes abertos, para me inspirar.

Mas é tudo merda. Merda.

Quando olho para aquela parte boa, aquela parte singela e ingênua de mim que costumava acenar no domingo de sol; eu paro e digo: seja realmente rapaz, seja realmente o que você é.

Este rapaz que tenta se inspirar em folhas, e cadernos soltos. Seja o que você é.

Uma repetição. Talvez otimista.

E quando o mundo cai, e preste bem atenção, o mundo cai sempre nos finais de semana errados e nas tardes em que ninguém além de você percebe, os significados e os significantes costumam fugir pela janela do ônibus.

Com sorte há uma anomalia, um desvio padrão que obriga a dizer um ou dois palavrões.

E tudo volta.

Mas há um momento em particular, um momento bem catastrófico, apesar de interessante e comum, onde as regras do jogo parecem não ter mais sentido. Na verdade, o próprio sentido parece não explicar-se; o sentido não mais existe e o absurdo reina.

Reina dentro de você. Apenas você.

A organização das casas, o formato dos portões, a velocidade e forma dos carros, as pessoas indo de um lado ao outro, dia após dia; os botões, os livros de pós-estruturalismo, os livros que negam o pós-estruturalismo, a gramática, alguém que resolve não pensar nisso tudo, o planeta terra, as geleiras glaciais, o deus cristão, a organização da poesia, pensar sobre o caos. E você.

Café da manhã.

Não. Não há sentido. O absurdo, quando não vem enlatado em situações limite, implica serendipidade, implica desapego.

Apesar do quê. A merda do desapego é o contrário do que pretendo aqui. Pronto, falei tudo.

Não se deve falar assim, tão explícitamente explícito como um aparelho excretor em funcionamento, mas a verdade é que parte de mim não gostaria de transformar um texto tão bom num requiém gramatical. Mas mesmo assim você já transformou minha vontade na sua vontade. Teu infinito me consumiu e sim, você está certo, não há espaço para infinitos coexistirem.

O texto acaba por aqui: mas ele prossegue.

Começando do princípio, e voltando ao normal, o que eu queria dizer é que tem dias que a gente não é humano. E você sabe disso melhor do que eu. E eu não preciso me esforçar para explicar algo que o absurdo lhe contempla. Não olhe para cá, olhe para dentro de si numa noite vazia, numa sequência de dias ruins, mas isto tudo é pouco para um dia em que você resolve tomar uma boa dose de absurdo e esvaziar as garrafas de abscinto de sentido. A noite normal que nem as anfetaminas lhe dirão algo. Pois o algo já se perdeu falido no origami reproduzido sequencialmente pela eternidade.

Tem dias que a gente enlouquece e ainda produz cadernos soltos, envelopes vazios, contos ruins.

Há dias que o absurdo nos engole.

Há dias em que coisas absurdas acontecem.

E acabam. Acabam assim, como começaram, dentro de você.

3 comentários:

Anônimo disse...

pseudocontos.blogspot.com faz com que eu economize dinheiro.
O preço da terapia está pela hora da morte!

R.R. disse...

É isso.
Eis a fúria...
É assim que tem de ser.

Anônimo disse...

É como um universo paralelo