quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A Ruiva e os paralelepípedos amarelos


No fundo musical... Cat Power

Ah Ruiva. Como eu queria que você estivesse comigo quando eu subi aquela rua de paralelepípedos tão extensos. Pude sentir você sussurrando em meus ouvidos: chore, vai, chora... você precisa disso... E eu pude perceber na terceira, ou na quarta casa de tijolos amarelos, que meu caminhar, minha respiração estavam tão carregados Ruiva. E aí eu resolvi brecar ruiva.

Parar tudo. A revolução, as caminhadas, o esforço ruiva. Tudo tem de parar, antes que eu me perca, o que aliás é falso; já estou completamente perdido.

O horizonte estava cinza, ontem eu dormi no chão do meu quarto ruiva, ontem eu tinha visto alguns ratos imaginários correndo pelo piso do quarto. Ontem eu respirei um céu pesado, dobrei meus joelhos; minhas pupilas doíam, mas mesmo assim eu acordei e fui para aquela praça que você adora ruiva, uma praça singela, bonita, insignificante demais para ser percebida no subúrbio, mas eu cheguei lá ruiva. Fumei meu maldito cigarro, depois resolvi comprar um café bem forte pra me manter acordado.

Perambulei pela Biblioteca Nacional, pelo centro da cidade, vaguei até encontrar um banco vazio dentro de um prédio público. Eu deitei lá, com a cabeça para cima, com minha mochila servindo de travesseiro e tentei cochilar um pouco... Fui em busca de mais livros, tive que tratar com aquele idiota que vende livros na central do Brasil, mas foi por uma boa causa, consegui almoçar e ainda me restaram alguns trocados que me fizeram conseguir comprar as malditas pilhas recarregáveis que eu tanto procurava.

Jejuei de noite, só pra me sentir mais iluminado e próximo do quê eu não sei ruiva, mas eu estava próximo de alguma coisa que transcende a minha simples existência.

Enquanto eu cochilava, eu sentia meus pés flutuarem, e um pouco de esgotamento. Não aguento mais ruiva, não aguento mais viver das sobras, do resto. No início até parece divertido viver com esta neo-pobreza material e de espírito(espírito não, é melhor dizer destino), mas no balanço final não há muito o que comemorar. Eu envelheci demais, apesar do que a contagem do tempo se estagnou, o tempo definitivamente não é um bom aliado.

Aprendi nas últimas semanas que um dia mediano é um dia bom, na verdade um dia mediano é um dia excelente. Sei que você sempre sorria destas minhas metáforas baratas, e quando você fazia isto, eu me sentia mais motivado a repetí-las, mesmo que para isso eu conseguisse te deixar irritada de propósito, num paralelepípedo amarelo no centro da cidade, às duas ou três da manhã. Era fácil acabar com sua irritação. Eu normalmente te agarrava com força, e te beijava a exaustão contra sua vontade, você fingia que não queria me beijar, mas me deixava cada vez mais perto, e no final nos beijávamos intensamente; e era quando você começava a sorrir e normalmente me chamava de maluco. Maluco, bobo. Eram sempre as mesmas frases. E eu as adorava, por que tinha certeza que o plano tinha funcionado. Adorava olhar para seus lábios e seus olhos, aqueles olhos amendoados enquanto você repetia, bobo, chato, maluco...

E me deixava envolver neste joguete, enquanto algumas idéias malucas iam voando por entre os paralelepípedos. E aí eu estava. Sozinho caminhando por entre os mesmos paralelepípedos amarelos, fuçando quartos azuis, alguns com luzes de neon roxas. Em festas vazias, cheias de gente incompleta eu me senti, me sentia inadaptado, inadaptável, inadaptável demais para conseguir aturar mais do que duas ou três horas de simulacros humanos vazios movendo-se caóticamente em torno do quê ruiva, do quê ruiva? Eu não sei. Eles não buscam. Eles são. Esta é a diferença dos fracassados para os hedonistas. Eles apenas são. Acuse-os de medíocre, sem objetivo, mas é assim que eles conseguem ser felizes sem ter de tomar seis comprimidos de valium durante 1 mês. Ou como eu não ficaria, sem precisar manter-me acordado durante 72h.

Ruiva, estes dias tem sido pesados. As lágrimas estão escorrendo de maneira mais habitual e há um pouco de iluminação nisto tudo. Diante do abismo inicial ruiva há uma nuvem negra que se aproxima em tom de deboche. Há um pouco de caos espalhado sobre a mesa do meu quarto. Indícios do prenúncio da chuva de problemas. E quando isto ocorre, eu apenas deito na cama e tento trabalhar meus sentimentos. Eu me jogo no colchão Ruiva, olho para um ponto fixo na parede branca e deixo os pensamentos fluírem livremente. Nestes momentos sinto o quão pesada, bruta e mal lapidada é a mente ocidental Ruiva.

Abandonei os copos de vodka e as cervejas nos dias de semana, por que este era o último bastião Ruiva, o último bastião da degradação parcelada. Eu juntei algumas tintas hoje e pintei um quadro que eu chamei de Fusão. Básicamente era composto de duas cores, azul e amarelo, que se entrecortavam e se chocavam gerando um terceiro elemento, um verde discreto, tímido. A verdadeira síntese. Síntese do quê exatamente eu não sei Ruiva.

Ontem, eu achei alguns livros de literatura Argentina Ruiva, foi tão emocionante. Tive sorte, pois procurava estes livros há meses e os comprei por uma verdadeira bagatela.

Ruiva eu lhe encontrei semana passada. Você não estava lá verdadeiramente, mas para mim, era você lá. Na verdade eu lhe encontrei dividida em diversas situações. Na sexta-feira de tarde eu conversei com você dentro de uma sala de aula, no sábado de manhã eu lhe carreguei até a minha biblioteca preferida, e no domingo eu esbarrei com você num sarau barato organizado por meia dúzia de literatos fracassados.

Maluco, bobo. Adorava olhar para seus lábios ruiva. Mas agora não há lábios a enxergar. Há apenas um vazio. Um vazio profundo. Que precisa ser preenchido. Não por você Ruiva. Você já teve sua chance. Nem por outra Ruiva. Eu estou me preenchendo. E obras normalmente são lentas. Ainda mais quando não sei com que tijolos iniciá-las.

É por isto Ruiva que eu escrevo cartas a você. E te agarrava com força. Te beijava a exaustão.

Redundante Ruiva, Ruiva, nuvem negra.

Pontos fixos são parte da solução. Deixar fluir. E aqueles exercícios de respiração que você me ensinou Ruiva...

Vou me indo Ruiva, vou me chocar num terceiro elemento. Vou me fundir em parte alguma de mim. vou me fundir ruiva. Fundir. Não fugir. Por que ninguém consegue fugir de si mesmo.



Um comentário:

o.t.a.v.i.o disse...

Cat power é MUITO FODA!!!!

Posso apostar que era "moonshiner"