segunda-feira, 5 de março de 2007

Da série: ficção e realidade

O método era científico. Consistia em apertar alguns parafusos emocionais, beber meia dúzia de cervejas e esperar que ela chegasse. Uma película amarelada, o ônibus cruzava a avenida Brasil, antes, porém, tudo fora muito mais real.

Domingo. Nunca imaginei que poderia ver ruas tão vazias. Ruas cariocas vazias. Tudo bem que da Lapa à cinelândia era apenas uma questão de puro pragmatismo, alguns passos fortes e eu podia ver a estação de metrô fechada; lembrei-me do consulado americano, das passeatas, e de mais alguma coisa que não me recordo. Apertei o passo, cruzei umas ruas até o largo da carioca, os prédios cinzas estavam bonitos, não havia ninguém; ninguém mesmo, além de uma cabine distante da polícia militar e o clássico ponteiro do relógio, histórico do largo da carioca. Senti-me um personagem vivo, de algum conto do ano passado, antes de entrar na rua da carioca. Passei em frente a um caixa eletrônico e as idéias insurrecionistas me acometeram de coragem, mas que cidade, que cidade, seguranças discretos, eram os olhares, e não estávamos ainda sob as asas do "grande irmão". Minha mente ocidental, repleta de vícios, e eu ainda estava galgando estágios, me descondicionando, quando eu olhei para o belo eclipse lunar da noite anterior. De tão simples, o caminho, o curso revelou-me minha própria natureza. Uma árvore no quintal me deu explicações bem melhores do que meus sete ou nove livros de psicologia em cima da estante.

Horas antes, eu passava no Museu de Arte moderna, no Flamengo, com um amigo meu, bons papos, apesar de curtos, não assisti os filmes neo-realistas, mas consegui voltar e olhar para aquela fonte de água, era o curso/caminho se revelando novamente, tão suscinto, sempre esteve aqui, e acolá, como se desejasse me surpreender. Eu tentei escrever durante toda semana, mas me senti vigiado, observado. A tecnologia eliminou toda privacidade. Tudo tem de ser compartilhado, vigiado. Talvez seja o momento de colocar o velho plano da reclusão em prática. Do desapego, da transitoriedade. Podendo entender o vazio, o cheio, esta independência se revela muito mais confortante. As respostas que eu não encontrei na ação, mas na não-ação. Um amigo para cada fase. Eu estou muito inclinado a tomar medidas radicais, mas sempre pensei no equilíbrio como uma forma polida de comunicar-me com o mundo e dizer "está tudo bem". É pura política no final das contas. Da última vez que senti sua presença, ela me encheu de medo. Eu escrevia, e ela me olhava no fundo do quarto(a parede da esquerda ainda não era verde). Eu pirei naquele dia.

Que me mandasse mensagens pelos sonhos; assim era assustador demais. Comecei a sentir medo, quando pensei na possibilidade de poder enjoar em transformar minha própria vida em letras, contos, letras. Os desastres não chegavam, e não dava a possibilidade de argumentar, embasar boa parte de toda a figuração dramática que eu tão bem encenava. Eu não conseguia mais compartilhar a indefinição com ninguém. O caminho tornou-se muito complexo, a ponto, de eu desistir sistemáticamente a me expor sempre que assim a vontade me toma. É um caminho inverso. A introversão virou extroversão e agora reclama sua natureza novamente, está voltando. Efeito bumerangue, em breve, terei de resolver todos os problemas internos completamente só, a estrada é uma preparação. É bom se preparar garoto. Quando Laura chegar, ela vai pedir o que lhe é devido. E é bom estar preparado. Você fala muito no passado, ouvi ela me dizer, chegarei nos seus sonhos, por que apesar de irreal, eu estou mais presente do que todas já estiveram. Você pode fazer sexo de olhos fechados e acender um cigarro num sábado a noite, mas saiba que quando eu lhe domino, nem seus dedos conseguem saber exatamente o caminho a tomar. Amanhã conversamos melhor.

Tá bem. Apesar de incompleto e prematuro. Estava tudo bem... tudo bem..

Um comentário:

Mr. Durden Poulain disse...

Ninguém comenta. Então Durden Poulain faz seu trabalho. Para marcar um dia triste e feliz.