sábado, 23 de dezembro de 2006

Caravela do amor

Odeio traduzir poesias... mas esta fala de paciência, de deixar as coisas fluírem sem acomodar-se no entanto, de esperar e agarrar os momentos certos. O amor não chega num porto como um barco e nem está parado numa ilha. Ele apenas acontece com o movimento do mar e do marinheiro.

No horizonte interminável e pleno da vida
O marinheiro solitário embarca seus sonhos
Pelos olhos fixos despejados
Na moldura profusa do amanhecer despido
Dos quentes grãos de areia da praia das ilusões

O lenço vermelho e negro, esvoaçante
Amarrado nas velas da corveta da liberdade
Aponta obtusos caminhos dos cardeais
Do sol, do norte, do sul, do oeste
O viajante entediado e ansioso
Por soprar suas velas
Ao primeiro porto que o aguarda
Com o tempo rígido das navegações
Aprende que não é o navegante jocoso que dita o mar
O capricho do céu fluido do líquido da vida
É que dá ao pesqueiros e a pesca os tomados fachos da sorte

Aguarda que ela vem, velho guerreiro!
Navega sem pensar que o mar te pertence
Navega sem pensar que a terra te aguarda
Ou que o vento está contra ou a favor de tua pessoa
O mar, o ar e a terra apenas são
Apenas seja
E quando mal perceberes
Tua caravela do amor girará a estibordo
Para enfim com um sorriso do sol te buscar

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

...

Hoje eu olhei para o espelho e só vi cansaço. Talvez seja por que o negativo do retrato apareça mais do que o resto das coisas boas, da poesia e do cheiro de flores. Não que eu pense nisso a maior parte do tempo, mas na verdade eu posso sentir a pressão explodir metade dos meus ombros enquanto eu cito os mesmos aforismas emoldurados pelo cíclico conjunto de forças do ser humano.

Dormir em colchões de plástico não resolverão metades dos meus problemas enfeitados com metáforas redigidas sob sete copos de cerveja gelados.

Talvez eu possa mentir em tom de eufemismos filosóficos, porém isto me cansa, e o que me cansa me traz coisas tristes, contudo cotidianas. Laura está morta, e a paixão e a dúvida convivem nesse meu túmulo de esperança enquanto eu sinto o cheiro das rosas dominarem a trilha da mudança.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Deslize

Sem tempo para postar... então só me resta deslizar até o final do ano.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Prometo mudar este layout dos infernos. Em breve, mais sem pressa por que estou meio enrolado.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Você é responsável pelo seu mundo

Você é responsável pelo seu mundo. Não podemos ficar neutros num trem em movimento. Algumas pessoas acreditam que "nada mudará", que a pobreza existe "desde que o mundo é mundo" e que a mudança política e social independem da sua ação. Cada pequeno passo é um acontecimento, cada peão que reage a opressão desencadeia o prisma da mudança, cada sem-terra assassinado, cada ser humano massacrado, vilipendiado é produto direto de nossa passividade e ignorância. Ou agimos como solitários em faroleiros(escondidos atrás de luzes vindas do alto) ou tomamos consciência de que somos uma classe, estamos(somos) oprimidos e temos de reagir.

Cotovia de Stephen ou seria "somos responsáveis pelo nosso mundo"?

A cotovia-da-Ilha-Stephen (Xenicus lyalli) era uma ave passeriforme não voadora da família Acanthisittidae, que vivia exclusivamente na Ilha Stephen, no Estreito de Cook e que se extinguiu em 1894. A Ilha Stephen, com apenas 2,5 km2 de área, foi a distribuição geográfica mais reduzida registada para uma espécie de ave.

A cotovia-da-Ilha-Stephen era uma ave de pequeno porte, com cerca de 10 cm de comprimento. A sua plumagem era de cor verde-azeitona, salpicada de pontos amarelados no corpo e riscas da mesma cor nas asas. O vago dimorfismo sexual da espécie manifestava-se pelo facto de as fémeas serem de cor mais baças. O bico curto e as patas altas eram castanho-claro. As asas tinham cerca de 4,5 cm de comprimento e demasiado reduzidas para permitir o voo. A cotovia da Ilha Stephen era o único membro da ordem Passeriformes que não conseguia voar.
Pouco se sabe a respeito dos seus hábitos para além de que era um animal crepuscular, mas a sua trágica extinção está bem documentada.
Originalmente, a cotovia-da-Ilha-Stephen estava distribuida por toda a Nova Zelândia, incluindo Ilha do Sul e do Norte. A chegada dos Maori há cerca de 1000 anos atrás provocou perturbações no ecossistema das ilhas e teve um impacto negativo na biodiversidade das ilhas com a extinção de várias espécies, por exemplo a moa. Para a cotovia-de-Stephen, não voadora, o factor decisivo foi a introdução do rato-do-pacífico (ou kiore), uma espécie invasora que dizimou as populações desta pequena ave. Pouco tempo depois, a cotovia extinguia-se em 99% do seu habitat original, conservando-se apenas na diminuta Ilha Stephen, desconhecida do mundo científico. Em 1893, foi instalado um farol na ilha, que passou a ter pela primeira vez ocupação humana. Com o faroleiro David Lyall chegou um gato doméstico chamado Tibbles, apenas um mas o suficiente para provocar uma hecatombe. Ao longo dos meses seguintes, o gato caçou e matou todas as cotovias, que como não voavam, não lhe conseguiam fugir. O gato trouxe várias das suas presas ao dono, que achou graça aos passarinhos e vendeu cerca de nove corpos ao Barão Walter Rothschild, um ornitólogo que os identificou como espécie única. Era tarde demais, pois a voracidade do gato já tinha feito o seu trabalho.
A extinção das cotovias-da-Ilha-Stephen passou à margem da opinião pública na altura e a única polémica que está associada à espécie é uma acesa discussão entre Lord Rothschild e Sir Walter Buller (outro ornitólogo) sobre os direitos de prioridade na sua descrição. Houve num entanto um jornalista neo-zelandês que comentou na sua coluna que, de futuro, os faroleiros deviam ser proibidos de ter gatos.
O desaparecimento da cotovia da ilha Stephen é o único exemplo de uma extinção resultante das ações de um único indivíduo. Curiosamente, um felino e não um humano.
Pequenas ações, grandes reações, lembre-se disto.